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IMPLICAÇÕES PARA O CURSO DE LICENCIATURA EM ELETROMECÂNICA Podemos apresentar alguns encadeamentos a partir do estudo realizado, não somente na

PERSPECTIVAS E DESAFIOS DE UMA LICENCIATURA PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.2 IMPLICAÇÕES PARA O CURSO DE LICENCIATURA EM ELETROMECÂNICA Podemos apresentar alguns encadeamentos a partir do estudo realizado, não somente na

pesquisa de campo - entrevistas e questionários aplicados, mas também a partir da literatura corrente.

Em primeiro lugar, defendemos a tese de que a formação de professores para a educação profissional no Curso de Licenciatura em Eletromecânica deve ser de dupla saída, formando licenciados e tecnólogos – Curso de Licenciatura e Superior em Tecnologia em Eletromecânica. Esta é uma possibilidade levantada pelas propostas de Machado (2008) e de Moura (2014) para cursos de licenciatura para EP, que apresentamos no capítulo 4.

O que esta pesquisa apresenta de adicional à literatura corrente, é a comprovação destas propostas por meio do estudo de caso. Foi possível constatar que, apesar de existir a identidade profissional docente construída por meio do currículo do CLEM, os estudantes desejam ou entendem que é possível também trabalhar na indústria por meio dos conhecimentos adquiridos no curso. Deste modo, sugerimos que sejam realizadas alterações no currículo do CLEM a fim de conjugar em um único processo formativo as duas formações.

A maneira que essas alterações serão realizadas depende de reuniões com o colegiado do curso e o NDE. No entanto, há de se pensar que, um técnico em eletromecânica de nível médio tem ao longo de toda a sua matriz curricular, já computadas as disciplinas técnicas, básicas e complementares, 1.200h e um egresso do CLEM tem o total de 1.245h somente de disciplinas técnicas. Deste modo, este último também tem conhecimento suficiente para trabalhar na indústria, quiçá até superior ao do primeiro profissional. O principal ingrediente ausente, mas que deverá ser incluído no currículo do CLEM para proporcionar a dupla formação, é o estágio técnico na área de eletromecânica.

Entendemos também que os problemas atuais de baixa demanda e evasão elevada podem ser contornados e mitigados caso haja a saída do curso em duas graduações. A lacuna de políticas educacionais e a não exigência de formação do docente para atuar na EP (apresentado no capítulo 2) e a consequente existência de uma crise de identidade do profissional docente (explicada no capítulo 5) desencadeiam baixa motivação e desânimo nos

estudantes que desejam se tornar professores para a educação profissional. Se abrirmos a possibilidade de obtenção de duas formações no CLEM, é possível que essa realidade se modifique, pois os egressos terão notório saber e experiência técnica, possibilitadas por ambas formações.

Podemos também citar outras duas vantagens da dupla formação: 1. o profissional formado terá seu campo de atuação ampliado e melhor absorção no mundo do trabalho e 2. melhora da sua atuação como professor. A primeira está relacionada com o problema relatado na pesquisa sobre a dificuldade de conseguir emprego após formado, julgamos que isto pode ser atenuado, na medida em que este profissional terá mais opções de trabalho. Quanto à segunda, acreditamos que este professor formado no CLEM, ao conjugar o magistério com a experiência na indústria como tecnólogo, deverá melhorar o seu desempenho como docente e sua empatia com os alunos dos cursos técnicos, pois terá a vivência prática no meio em que esses irão trabalhar.

Em segundo lugar, observamos que apesar do ineditismo do curso ser apontado como um ponto positivo, principalmente pela iniciativa ousada de formar professores para a área da engenharia, a falta de interdisciplinaridade entre a elétrica e a mecânica se constui um obstáculo a ser superado. Entendemos que a abrangência do CLEM em duas engenharias se constitui um fator positivo no que diz respeito à dificuldade para organizar licenciaturas para as inúmeras formações técnicas existentes (como foi descrito no capítulo 2). Julgamos também que essa relação entre os ramos do conhecimento seja difícil, devido os professores terem o conhecimento de apenas um desses ramos, em sua formação básica no bacharelado. Outro aspecto de difícil solução é a definição de que disciplinas o egresso do CLEM poderá ensinar, sendo o curso tão abrangente.

A fim de atenuar esses entraves, sugerimos realizar grupos de trabalho com os professores das duas engenharias para fazer alterações no currículo. Imaginamos que isso terá implicações na redução de carga horária de conteúdos repetidos ou desnecessários, e também, na redução de pré-requisitos de disciplinas (um fator negativo constatado na pesquisa). Outra possibilidade, seria focar em apenas um dos ramos do conhecimento – elétrica ou mecânica, mas esse não é o desejo dos sujeitos pesquisados.

Em terceiro lugar, na literatura sobre o currículo de uma licenciatura para a educação tecnológica, autores como Kuenzer (2006), Moura (2014) e Machado (2008) defendem que a carga horária das disciplinas pedagógicas destes cursos deva ser de 800h. No entanto, no CLEM essa carga horária é de 360h, o que para a maioria dos sujeitos pesquisados, é suficiente e, acreditam ainda, que existe um equilíbrio entre os conhecimentos técnicos e pedagógicos do

curso. Propomos que algumas disciplinas pedagógicas sejam inseridas no currículo, a exemplo de metodologias ativas, que foi sugerida por dois professores durante a pesquisa. Contudo, julgamos que 800h de disciplinas pedagógicas estão muito acima do possível, principalmente, porque o CLEM aceita alunos sem uma formação técnica anterior, daí a necessidade de maior conteúdo técnico no curso.

Por último, mas não menos relevante, devemos ter em mente a importância do CLEM no cenário atual, por seu caráter inovador e, principalmente, pela formação de professores da área técnica para a educação profissional. Deste modo, as sugestões e implicações sobre o curso pretendem a sua sustentabilidade e melhor incorporação de ganhos sociais e educacionais pretendidos.