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3. CAMINHOS INVESTIGATIVOS: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.5 O CURSO DE PEDAGOGIA: DA IES LOCUS DA PESQUISA

A partir do referencial teórico sobre o curso de Pedagogia, é possível fazer uma análise do curso em que os interlocutores desta pesquisa atuam como docentes, a fim de compreender mais sobre o contexto em que atuam, por meio das reformas educativas e as transformações e evoluções pedagógicas no Brasil. É importante mencionar que esta análise leva em consideração principalmente os dados estudados que foram retirados do Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia (PPP/2009). Para Nóvoa (1997, p. 32):

As reformas educativas e as evoluções pedagógicas dos últimos anos encerram, no entanto, contradições várias que é preciso desvendar. Por um lado, a retórica política da profissionalização tem conduzido a uma menor autonomia dos professores; mas, por outro lado, há uma consciência mais exacta da necessidade de incrementar práticas de cooperação inter-pares que dêem corpo a uma nova profissionalidade docente.

O curso de Pedagogia analisado tem aproximadamente 35 anos, iniciou suas atividades na década de 80. Uma época de debates intensos sobre a formação de professores, em que muitas universidades começaram a organizar suas reformas curriculares (BRASIL, 2005), após a abertura política com o fim da ditadura. É importante destacar que essa abertura política teve como finalidade o reconhecimento dos direitos sociais, na busca de promover a educação como um dos direitos que envolvem a sociedade brasileira, em um patamar de democratização do país, já que este pensamento foi intensificado com a publicação da CF de 1988 e após com a LDB de 1996.

Segundo Silva (1999), ao considerar sua própria trajetória no curso de pedagogia, menciona que a constituição neste curso no Brasil pode ser dividida em 3 etapas, a primeira que corresponde de 1966 a 1969, período em que é destaque a questão sobre a falta de identidade do curso, que para muitos era considerado apenas um curso para formar ‘especialistas em generalidades’. Já a segunda etapa na década

de 70 a autora “[...] tomada de consciência da questão da identidade do curso de Pedagogia”. (SILVA, 1999, p. 3) E a terceira etapa na década de 80 “[...] consistiu na compreensão da questão da identidade do curso de Pedagogia no contexto dos cursos superiores de formação do educador”. (SILVA, 1999, p. 13).

A estrutura curricular do curso investigado quando iniciou suas atividades, estava organizada para a oferta de duas habilitações que segundo o PPP/2009 eram regulamentadas pelo Parecer de nº 252/69 e a Resolução nº 02/69 do Conselho Federal de Educação. Desta forma, o curso de Pedagogia se destinava a formação de administradores e supervisores escolares.

É importante retomar que o Parecer nº 252/69, de 1969 do Conselho Federal de Educação possibilitou a oferta de habilitações, em consequência o pedagogo formado poderia atuar como: Supervisor Escolar, Orientador Escolar e Administrador e Inspetor Educacional, atendendo a demanda da época. Já que os cursos Normais eram destinados a formação de professores para os anos iniciais do ensino fundamental – denominado na época como 1º grau. E a educação infantil no Brasil, infelizmente mantinha um status de apenas ‘cuidado’ sem um viés pedagógico para a formação e o desenvolvendo integral na infância.

Já a Resolução nº 02/69 tratou de fixar os conteúdos mínimos e a duração que os cursos deveriam ter como referencial em sua organização (Silva, 1999). Na tentativa de minimizar [...] insatisfações dos estudantes e profissionais ligados a esse campo [...] (SILVA, 1999, p. 43).

Ao analisar o PPP/2009 do curso, foi destacado que só após a publicação da LDB/1996, o curso de Pedagogia passa por uma reformulação para atender a demanda de formação inicial para professores, da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. É considerado também, que após a LBD/96 ganham as pautas discussões que envolvem a flexibilidade curricular, processo de formação de professores, a gestão democrática, por consequência a organização acadêmica das instituições de ensino por meio dos projetos políticos pedagógicos e também a expansão do ensino a distância.

E é principalmente após a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais de 2006 do curso de Pedagogia, que se aprova na instituição locus desta pesquisa a estrutura de um currículo para formação de profissionais para atuarem como docentes

na educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, houve então a reformulação de sua estrutura curricular extinguindo as habilitações, ao reorganizar o curso para a docência com aprofundamento também em gestão dos processos educativos e na educação de jovens e adultos.

Assim, quanto à estrutura curricular - o currículo, segundo o PPP/2009 do curso é organizado como um ‘espaço’ político de produção cultural, a partir da visão de que se corporifica na articulação entre saber, poder e identidade, que deve estar envolvido de todos os sujeitos que fazem parte do processo educativo da instituição.

E no Regimento da IES (2005), é afirmado que os currículos devem estar fundamentados pelas DCN, de acordo com cada curso, por meio de uma organização curricular que permita experiências de aprendizagens articuladas à um programa de estudos coerente e integrado, de maneira que promova um ensino interdisciplinar, transdisciplinar e a indissocialidade entre: ensino, pesquisa e extensão. E também no Regulamento de Ensino e Graduação 2007 (REG/2007), é destacado que o currículo deve ser a representação das ideias que fundamentam o Projeto Político Pedagógico do curso.

Ao considerar a DCN/2006 a organização curricular do curso está disposta para a oferta de duas grades de disciplinas, uma para um curso matutino e outra para um curso noturno. As disciplinas são divididas de três núcleos: estudos básicos, aprofundamento diversificação de estudos e estudos integradores; com mais os estágios supervisionados e o trabalho de conclusão do curso. Esta organização é disposta em 3.210 horas distribuídas em no mínimo nove períodos para o curso matutino o que representa quatro anos e meio de curso. E para o curso noturno no mínimo em dez períodos o que corresponde a cinco anos de curso.

No PPP/2009 do curso a justificativa sobre as áreas de aprofundamento se dá em consideração e reconhecimento das demandas da comunidade local, como também o contexto social, cultural e econômico em que está localizado o campus. Ao considerar o contexto regional em que os alunos estão inseridos como futuros profissionais do campo de trabalho, relembro as palavras de Freire (1988, p. 31) em que destaca “A cultura consiste em recriar e não em repetir. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz de captar o mundo e transformá-lo”.

As indicações teóricas do curso perpassam pela finalidade de formar profissionais capazes de aprender e compreender criticamente a realidade plural, multifacetada e diversificada em que vivem e estarão atuando como pedagogos, no reconhecimento da formação como um processo contínuo. Citam alguns autores como: Freire, Schon, Contreras, Nóvoa, Tardif e Pimenta ao considerar a importância de uma formação crítico reflexiva. A pesquisa como princípio educativo a partir da atuação de um professor pesquisador fundamentado em: Zeichener e Gerald.

Há uma preocupação evidente a partir da análise deste documento (PPP/2009), com uma formação vinculada a teoria e prática, como um processo constante no curso de Pedagogia, fundamentada em uma visão humanista, na formação de um egresso crítico-reflexivo, que tenha a pesquisa como princípio educativo, para reconhecer a importância da sua profissionalidade “[...] A formação do educador deve instrumentalizá-lo para que ele crie e recrie a sua prática através da reflexão sobre o seu cotidiano” (FREIRE, 2005, p. 80)

O PPP/2009 afirma que para esse egresso atuar em seu campo profissional consciente de seu papel social, é preciso uma formação que incentive e estimule uma postura autônoma, ética, ativa e interdisciplinar, tanto para sua atuação na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, como também na educação de jovens e adultos e/ou na gestão democrática na escola, considerando ainda os múltiplos locus de atuação: formal ou não formal em que podem estar atuando esse egresso como pedagogo(a) ou professor(a). O que remete os estudos de Nóvoa (1992, p. 27) que menciona sobre importância de uma formação para os professores:

A formação pode estimular o desenvolvimento profissional dos professores, no quadro de uma autonomia contextualizada da profissão docente. Importa valorizar paradigmas da formação que promovam a preparação de professores reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento profissional [...]

Já quanto a avaliação do projeto político pedagógico do curso conforme o PPP/2009 é um processo contínuo, podendo ser avaliado anualmente, seguindo os seguintes os aspectos: componentes curriculares considerando a avaliação de professores e alunos, avaliação do professor em uma avaliação horizontal por turma em que são considerados os conteúdos e a forma de atuação do docente, e por último a avaliação vertical da relação entre professores e alunos.

5 DIÁLOGOS COM A TEORIA E O CAMPO EMPÍRICO