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O Curso Normal de 1º Ciclo

Para formar professores que elevassem o nível intelectual e moral da população, outras congêneres da Escola Normal de Niterói surgiram em diversas províncias brasileiras. Assim, a Escola Normal foi criada em Minas Gerais em 1835 e instalada em 1940; na Bahia, em 1836 e instalada em 1941; e em São Paulo, criada e instalada em 1846. (TANURI, 2000). Da mesma forma que a Escola Normal de Niterói, essas também tiveram existências efêmeras, sendo fechadas por motivos similares. A de São Paulo, por exemplo, foi extinta em 1867, sob a alegação de precariedade no ensino e nas condições materiais, reabrindo as portas somente oito anos depois. (MONARCHA, 1999).

Tudo falta: regulamentos, uniformização de métodos didáticos, corpo de inspeção digno do nome, prédios escolares, material didático, compêndios, salários compatíveis com a importância do cargo, servidores do Estado, mestres qualificados, famílias responsáveis, discípulos dedicados. Tudo falha: o governo provincial, o professor de primeiras letras, a sociedade. Mas principalmente falha a Escola Normal, pois é incapaz de responder às urgências sociais, culturais e políticas de sua época. (MONARCHA, 1999, p. 44).

Em 1890, a Escola Normal de São Paulo passou pela reforma educacional Caetano de Campos, em pleno fervor da implantação do Regime Republicano. Nas representações de lideranças políticas e intelectuais, a instituição se erguia como um centro multiplicador de saber e de moralidade. Como parte das obras de aformoseamento e transfiguração urbana que São Paulo vivenciava, foi erguido um edifício para abrigar a Escola Normal, no espaço que se configurou, posteriormente, como praça da República. O símbolo maior da praça, o templo da formação do professor republicano, foi finalizado em 1894.

A escala monumental, a elegância severa e a sobriedade na decoração do edifício sugerem reciprocidade entre grandeza dimensional e grandeza moral: a arquitetura transforma-se em pedagogia eloquente que ensina aos indivíduos os princípios da sociedade perfeita. (MONARCHA, 1999, p. 190-191).

A Escola Normal da Praça, no período da primeira República, transformou-se em uma instituição modelar para as demais congêneres no Brasil. Nestor dos Santos Lima, diretor da Escola Normal de Natal (1911-1923) e do Departamento de Instrução Pública do Rio Grande do Norte (1924-1927), argumentava ser o ensino paulista um dos exemplos inspiradores para a organização do ensino norte-rio-grandense.

São Paulo foi e sempre será nosso Líder, nesse particular. A edificação e localização das suas escolas, o seu regime técnico, o valor das suas inovações, a intensidade dos seus esforços fazem honra aos seus estadistas e aos profissionais do seu ensino. [...] Tudo quanto São Paulo realizar é modelar, principalmente em matéria de ensino. (LIMA, 1923, p. 23).

No Rio Grande do Norte, antes de 1908, período em que a Escola Normal se consolidou no estado, várias iniciativas, medidas legais não cumpridas, aberturas e extinções haviam marcado a história dessa instituição escolar. A primeira a ser criada veio a funcionar em 1873, no prédio do Atheneu Norte Rio Grandense, e diplomou três professores, ensinando as matérias de estudo: Português, Aritmética, Geometria, Geografia, Caligrafia e Pedagogia. Em 1877, ela foi extinta sob a justificativa que não havia cumprido a função para qual havia sido implementada. Mais uma vez é reaberta para o sexo masculino, em 1896. No ano seguinte, deu início às atividades letivas, sempre nas dependências do Colégio Atheneu Norte Rio Grandense. O curso foi organizado com dezesseis matérias de estudo distribuídas em três anos. O programa de estudo mais amplo contava com a prática de ensino, a ser realizada em escola primária noturna. Mesmo assim, não logrou êxito, sendo extinta cinco anos depois, diplomando cinco professores. (AQUINO 2002; LIMA, 1927; ARAÚJO, AQUINO, LIMA, 2008).

No início da segunda metade do século XX, as instituições de formação docente, restritas às Escolas Normais de Natal e Mossoró, eram insuficientes para atender as demandas das escolas primárias norte-rio-grandenses, o que implicava a presença do mestre leigo na sala de aula. O presidente Getúlio Vargas, expondo medidas a fim de expandir os cursos de formação docente e a construção de prédios escolares, frisou que, em levantamento estatístico de 1943, dos 78.000 docentes nacionais em exercício, 31.000 não possuíam formação adequada. No Rio Grande do Norte, de acordo com a fala presidencial, 58% do magistério primário não era diplomado, sendo a situação mais intensa no do território do Acre, com 90% de mestres leigos em sala de aula. (MENSAGEM PRESIDENCIAL, 1952).

Segundo Lourenço Filho (2001, p. 75), ―mestres improvisados‖ em estados do Norte, Nordeste e Centro Oeste atingiam um percentual em torno de 70% a 80%. ―Não só em grande número de escolas primárias das zonas rurais, mas também em numerosas escolas de pequenas cidades e vilas, nessas unidades, o ensino não está entregue a pessoal devidamente

habilitado‖.

Para Campus (1956), o mestre leigo prevalecia, principalmente, nas escolas dos municípios interioranos, recônditos carentes de mestres habilitados, nos quais se concentrava

o maior percentual de analfabetismo. Na opinião de Lourenço Filho (2001), a diminuição dos índices de mestres leigos passou a se concretizar com a abertura dos Cursos Normais Regionais, criados e regulamentados pelo Decreto-Lei Federal n. 8.530/1946.

Conforme as diretrizes legais de 1946, as Escolas Normais e os Institutos de Educação ofereceriam o ensino em nível de 2º Ciclo ou Colegial, e os Cursos Normais Regionais, a formação em nível de 1º Ciclo ou Ginasial. O primeiro era feito em três anos, após a conclusão do Curso Ginasial, podendo ser realizado em caráter intensivo, em dois anos, e concedendo diploma de Professora Primária. Já o segundo, com quatro anos de duração e ingresso após o ensino primário, concedia diploma de Regente Primária. Diferente das necessidades estruturais exigidas para o funcionamento das outras modalidades de Ensino Normal, o Curso Normal Regional ou de 1º Ciclo, denominado por Nunes (2002) de versão popular para formar docentes, espalhou-se por vários estados, normalmente com custos reduzidos e instalações mais modestas.

Em 1951, funcionavam ―cento e doze Cursos Normais de 1º Ciclo no Brasil‖. (LOURENÇO FILHO, 2001, p. 81). Desse percentual, na região Nordeste, figuravam 02 em Alagoas, 02 na Bahia, 12 no Ceará, 01 no Maranhão, 08 na Paraíba, 09 em Pernambuco, 01 no Piauí e 02 no Sergipe. O Rio Grande do Norte era o único estado que não possuía essa tipologia de Ensino Normal até aquela data. Em dezembro de 1951, foram criados 14 Cursos Normais Regionais em pontos diversos do interior: Martins, Pau dos Ferros, Santa Cruz, Santana do Matos, Florânia, Nova Cruz, Angicos, Macau, Currais Novos, Alexandria, Apodi, Ceará-Mirim, Caraúbas e Assu. (LEI ESTADUAL n. 621, 1951). A iniciativa era parte de um convênio firmado entre o estado e o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) para ampliar escolas, aperfeiçoar docentes e melhorar o ensino primário.

Segundo mensagem do governador do Rio Grande do Norte, Sylvio Piza Pedroza (1951-1955), os Cursos Normais de 1º Ciclos foram de ―providência utilíssima‖ ao ensino primário.

Esses cursos, previstos em nova Lei Orgânica de Ensino, destinam-se à preparação de regentes de ensino primário, uma vez que as duas Escolas Normais existentes não resultavam elementos bastantes, por circunstâncias diversas, para as necessidade do ensino em todo o interior. Dentro de poucos anos, pela efetivação desses cursos, terão os municípios do Estado professores diplomados em número suficiente para provimento de suas escolas, atualmente, em grande maioria, regidas por professores leigos, sem o conveniente preparo. (MENSAGEM, 1952, p. 10).

O Curso Normal de 1º Ciclo nessa configuração ganhou sentido de existir para formar o magistério no interior do estado, onde a administração pública alegava dificuldades financeiras e de recursos humanos para fixar as Escolas Normais e os Institutos de Educação. De acordo com Moreira (1955, p. 165), durante o processo de elaboração do texto do Decreto- Lei Federal n. 8.530/1946 foram exatamente as diferenças de ordem econômica e cultural dos diversos espaços sociais brasileiros que ―dois níveis de ensino eram julgados necessários na

formação do pessoal docente de grau primário‖. Em cidades e distritos com maior

desenvolvimento instrucional, econômico e de atividade industrial, considerava-se adequada a abertura Cursos Normais de 2º Ciclos, enquanto para as demais localidades um Curso Normal de 1º Ciclo seria um contributo à elevação da educação popular.

A disseminação dos Cursos Normais de 1º Ciclo no interior brasileiro, conforme Caldeira (1956), esbarrava na fragilidade de recrutar professores formadores e nos seus preparos profissionais. Boa parte pouco sabia sobre o grau de ensino que lecionava, não possuía a qualificação adequada ao exercício da docência, tendo profissões liberais ou diplomas de ensino ginasial e do curso primário. Quanto mais os Cursos Normais de 1º Ciclo se localizavam em regiões longínquas, mais a preparação para ensinar encontrava entraves. (LOURENÇO FILHO, 2001; WEREBE, 1970).

Recrutar docentes com habilitação específica para o Ensino Normal poderia ser um desafio até mesmo para os estados onde a formação de professor se encontrava em condições mais privilegiadas, como o Rio Grande do Sul. Em 1955, pesquisa realizada pela Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino Médio e Elementar (CILEME), órgão do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), evidenciou que nesse estado os Cursos Normais de 1º Ciclo apresentavam fragilidades acentuadas na qualificação dos professores formadores.

Os professores das escolas normais regionais são recrutados no próprio magistério primário, mediante aproveitamento de elementos já experientes, os quais exercem cadeiras dessas escolas a título de desdobramento de horário de professor primário. É uma situação muito semelhante à que encontramos em Santa Catarina, onde os professores dos cursos normais regionais são professores em exercício nas escolas primárias próximas, recebendo gratificações pela função extra que é exercida no curso normal. (MOREIRA, 1955, p. 169).

No início da década de 1950, o estado do Rio Grande do Sul discutia um plano de reforma que permitisse preparar professores para o Ensino Normal de 1º e 2º Ciclos e adotar estratégias a fim de aumentar o número dessas instituições. (INFORMAÇÕES DO PAÍS,

1954). Os Cursos Normais Regionais nesse estado, funcionando com organização didático- pedagógica instituída pelo Decreto-lei n. 8.530/1946, foram sendo denominados de Escolas Normais Rurais, as quais, segundo Moreira (1955), passaram, com isso, por uma leve modificação nas matérias e nos procedimentos didáticos, tratando-se de um desvio no cumprimento da referida Lei Federal.

As modificações não se convertiam propriamente em um descumprimento das normas, a organização didático-pedagógica se adequava às recomendações das disciplinas de estudo, previstas na Lei, as quais poderiam estar ligadas às peculiaridades do interior do Brasil, com enfoque nas atividades de trabalho de cada região, onde os Cursos Normais de 1º Ciclo se instalavam.

Conforme Campus (1956) e Lourenço Filho (2001), os Cursos Normais de 1º Ciclo, ao adequarem a formação docente as potencialidade da região, podiam ser adaptados pelas Legislações estaduais às atividades agrícolas, às pastoris, às de mineração e de indústria extrativa vegetal, ou às peculiaridades das zonas litorâneas. ―A legislação de cada Estado poderá acrescentar outras disciplinas, se isso for julgado conveniente, e deverá, em cada caso,

definir o caráter especializado dos cursos regionais que estabeleça‖. (LOURENÇO FILHO,

2001, p. 80). Derivam dessas adaptações as denominações de Escolas ou Cursos Normais Rurais ou, simplesmente, Cursos Normais Regionais, ofertados em zonas que prevaleciam as atividades campesinas.

Os Cursos de Regentes têm-se localizado preferencialmente em zonas de atividades agrícolas, tendo em vista a necessidade de preparação técnico- agrícola dos mestres rurais, que terão a incumbência de, ao lado do ensino comum, iniciar as crianças nas rudimentares técnicas agrícolas e da defesa da saúde, pretendendo um melhor ajustamento da escola à realidade ambiente, porém sem o caráter de profissionalização do ensino primário. (CAMPUS, 1956, p. 121).

Para Campus (1956), em 1956, dois terços da população brasileira encontravam-se no interior brasileiro. O total de alunos matriculados na escola primária não representava sequer a metade do contingente apta a frequentar os bancos desse nível de ensino. Assim, a fim de corroborar o aumento das matrículas e a melhoria da qualificação docente, contabilizavam-se 214 estabelecimentos de Ensinos Normais de 1º Ciclo, 180 denominados de Cursos Normais Regionais e 34 de Escolas Normais Rurais. ―É o movimento em favor da ‗ruralização do

ensino‘ de que participam muitos educadores, contrariamente aos que a ela se opõem‖.

(CAMPUS, 1956, p. 123).

Um dessas escolas de 1º Ciclo era a Escola Normal Rural de Osório, situada no município com o mesmo nome no estado do Rio Grande do Sul. Foi instalada em 1952, em uma antiga sede da Secretária de Agricultura. Funcionava como internato e semi-internato, admitindo o regime de frequência livre aos professores em serviço que não possuíam formação para o magistério. Os docentes, dispensados das matérias de estudo e da presença em sala de aula, recebiam súmulas e exercícios mimeografados, comparecendo, posteriormente, para os exames de suficiência, e, se aprovados, recebiam o diploma de Regente de Ensino Primário. (MOREIRA1955).

Segundo Lourenço Filho (2001, p. 62), a maioria dos Cursos Normais de 1º Ciclo não

apresentava ―perfeitas condições de organização e funcionamento; muitos deles, porém, estão realizando trabalho digno de ser conhecido e analisado‖. Referia-se à Escola Normal Rural de

Juazeiro do Norte, no Ceará, e ao Curso Normal Regional, da Fazenda do Rosário, em Betim/MG. A primeira se tratava de uma experiência pioneira, fundada em 1935, que formava professores para a zona rural cearense, agregando aos programas de estudo noções de técnicas agrícolas e de educação sanitária.

A segunda experiência referendada por Lourenço Filho (2001) era o Curso Normal Regional em regime de internato, da Fazenda do Rosário, aberto em 1950. Nesse espaço formava-se professores de ambos os sexos, com ênfase em fins práticos da vida rural, como as técnicas agrícolas e a carpintaria. Era uma escola modelo para professores que iriam lecionar longe dos núcleos urbanos, com a função de fixar o homem no campo.

De acordo com Campus (1956), a interiorização dos Cursos Normais de 1º Ciclo pelos recônditos brasileiros era fruto, também, da observação de que os mestres diplomados em Cursos de 2º Ciclos manifestavam interesse em permanecer nos centros urbanos. Mesmo que fossem se fixar em cidades do interior e comunidades rurais, o preparo docente poderia vir a ser falho, por ser um desconhecedor do modo de vida daquela população. Nesse sentido, admitia que a formação do professor para o interior brasileiro, realizada em quatro anos, após o curso primário, era um caminho viável e satisfatório, permanecendo por muitos anos como a alavanca da educação primária.

O referido autor entendia que apesar de útil à população do interior, o curso de regente oferecia ―uma preparação mais modesta, incluindo-se nele materiais de cultura geral,

iniciação científica e conhecimentos de técnicas das ‗atividades econômicas da região‘‖.

(CAMPUS, 1956, p. 121). Esse último eixo de ensino formava a matéria de estudo fixada pelo Decreto-Lei Federal n. 8.530/1946 Trabalhos manuais e atividades econômicas da região. Para Lourenço Filho (2001, p. 80), ela tinha o ―papel central ou dominante‖ na formação do regente primário, conduzindo-o a conhecer ―as técnicas regionais de produção‖, os costumes e a vida da população, dando assim competência para formar regentes de ensino primário capazes de intervir na comunidade, desenvolvendo-a social e economicamente.

No Curso Normal Regional de Assu, durante a década de 1950, eram lecionadas as disciplinas previstas pela Lei estadual n. 684 de 11 de fevereiro de 1947, que normatizou o Ensino Normal do Rio Grande do Norte às diretrizes federais de 1946. A matéria Trabalhos manuais e atividades econômicas da região compunha o programa de ensino. Entre os conteúdos abordados, estavam os aspectos da atividade pecuária e da extração da carnaubeira, fontes relevantes da economia assuense, a pesca no rio Açu e em lagoas da região e os potenciais do solo do Vale do Açu. Eram exploradas ainda as atividades de bordado, de pinturas em tecido e telas, as de desenhos vazados e a mão livre. Uma formação mais voltada ao universo feminino, de acordo com os valores da época, e não para as técnicas de produção regional, como previa Lourenço Filho (MACÊDO, 2009).

Nas instalações físicas do Curso Normal Regional de Assu, enquanto prevaleceu o ensino dessa matéria, documentos escolares não mencionam a existência de oficinas, hortas e criações de animais destinadas às aulas experimentais, como ocorria em outras realidades escolares de 1º Ciclo, como, por exemplo, nas gaúchas, mineiras e cearenses.

QUADRO 1

Matérias de estudo do Curso Normal Regional de Assu (década de 1950)

Primeiro ano Segundo ano Terceiro ano Quarto ano Português Português Português Português Matemática Matemática Matemática História do Brasil Geografia Geral Geografia do Brasil História Geral Noções de Higiene Ciências Naturais Ciências Naturais Noções de Anatomia

e Fisiologia Humana

Psicologia e Pedagogia Educação Física Educação Física Desenho Didática e

Prática de Ensino Desenho e Caligrafia Desenho e Caligrafia Canto Orfeônico Desenho

Canto Orfeônico Canto Orfeônico Trabalhos manuais e atividades econômicas da região Canto Orfeônico Trabalhos Manuais e Economia Doméstica Trabalhos manuais e atividades econômicas da região

Educação Física Educação Física

Recreação e jogos Recreação e Jogos

Fontes: Livro de ponto do Curso Normal Regional de Assu (1952). Decreto-Lei Federal n. 8.530/1946; Decreto-Lei Estadual n. 684 /1947.

Arquivo da Escola Estadual Juscelino Kubistchek.

Na década de 1950, no Curso Normal Regional de Assu, assim como nos demais espalhados pelo estado, as matérias expostas no quadro permaneceram no processo de formação da professora primária. Essa constatação tornou-se possível por meio da análise de livros de ponto e das contratações provisórias de professores, publicadas no Diário Oficial do Estado, anexo ao jornal A República. As publicações do mês de maio de 1958, por exemplo, indiciam que nos Cursos Normais Regionais dos municípios de Florânia, Paus dos Ferros e Ceará-Mirim ocorreu a contratação docente para o ensino de Didática e Prática de Ensino, Trabalhos Manuais e Economia Doméstica, Desenho e Caligrafia, Ciências Físicas e Naturais, Geografia Geral, História Geral, Higiene, Educação Física, Psicologia e Pedagogia. Essas matérias formavam o programa de ensino adotado em 1952, quando os Cursos Normais Regionais passaram a funcionar no estado. (DIÁRIO OFICIAL, 1958).

A Lei Estadual n. 2.171, de 06 de dezembro de 1957, que fixou as bases da educação elementar e da formação do magistério primário do Rio Grande do Norte, estabeleceu para o Curso Normal de 1º Ciclo uma duração de 05 anos de estudo e que os planos de ensino

fossem elaborados pelo Centro de Estudos e Pesquisas do Estado, considerando o princípio da equivalência com as disciplinas da legislação federal de 1946.

A organização do programa de ensino dos cursos de regentes primários se distanciava das mudanças didático-pedagógicas que haviam ocorridas nas outras tipologias de instituição de formação docente, Escolas Normais e Institutos de Educação. Para Werebe (1970), estas duas instituições, de um modo geral, passaram a conduzir a formação com ênfase nas matérias educacionais, distanciando-se do eixo de ensino da cultura propedêutica. Geralmente, ofereciam Psicologia Educacional, Sociologia Educacional, Biologia Educacional, História da Educação, Pedagogia, Metodologia e Prática de Ensino Primário e Desenho Pedagógico – estudos subsidiados por observação e prática nas escolas de aplicação.

A autora enfoca também que o Curso Normal de 1º Ciclo, enquanto modalidade institucional para formar professores, apresentava nos programas de estudo uma base de cultura geral e de formação didático-pedagógica no último ano. As duas matérias, Pedagogia e Psicologia e Didática e Prática de Ensino, eram ensinadas de maneira condensada no estilo dois em um. Essa fusão de conhecimentos era destinada à preparação das normalistas para o exercício da sala de aula.

Para Romanelli (2005), nos Cursos Normais de 1º Ciclo, seria imprescindível mais acuidade nas matérias específicas do saber fazer em sala de aula, concedendo melhor preparo pedagógico às professoras. Conforme a autora era de se esperar que a especialização pedagógica não alcançasse o mesmo nível que a do Curso de 2º Ciclo. ―Mas não se deve esquecer do caráter eminentemente profissional desse curso: o curso normal regional, como era chamado, foi por muito tempo e em muitos locais o único fornecedor de pessoal docente

qualificado‖. (ROMANELLI, 2005, p. 164-165).

A autora ainda destaca a formação pedagógica resumida basicamente a Didática, Psicologia e Pedagogia, no último ano de formação, em confronto com a de Canto Orfeônico, oferecida nos quatro anos do curso. Menos diretiva ao ensino-aprendizagem, essa matéria poderia ter cedido espaço aos saberes mais especializados da docência.

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