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DIFERENTES CONCEPÇÕES E UMA META: a conquista da audiência através da transmissão do

3.3 Ouvindo e aprendendo

3.3.2 Curto e dinâmico

O formato de Ouvindo e aprendendo se apresentava em diálogos e se caracterizava pelo dinamismo que, por sua vez, fazia-se sentir em quase todos os scripts de Genolino Amado. O programa se inicia com uma música instrumental de ritmo acelerado, usada para chamar a atenção do ouvinte para a irradiação. A trilha sonora era compatível com a dinâmica da produção, marcada pela agilidade e pela transmissão de mensagens claras.

O texto de Ouvindo e aprendendo demonstra a intenção do autor de escapar do formato de lição, onde o professor se comporta como se estivesse em uma sala de aula. Os speakers nunca se anunciam como mestres ou intelectuais e, em vez disso assumem a identidade de uma dupla de estudantes ou simplesmente se autodesignam pelos pronomes ela e eu. Tratava- se de uma forma de aproximação do ouvinte, pois o objetivo consistia em não intimidá-lo com a presença de alguém com conhecimentos tão mais amplos. Os personagens apresentam dúvidas, pedem explicações, aparentam dificuldade de compreender determinados assuntos. Ao longo do texto, os erros são apontados com naturalidade. Ao escrever para o seu ouvinte, Genolino Amado, a partir de sua experiência como professor, tenta imaginar quais seriam suas dúvidas. Neste aspecto, o auxílio da correspondência também é muito importante.

Em um segundo momento, após a apresentação dos speakers, sempre se deixava claro que o programa residia em uma simples conversa: Todos os assuntos da vida em uma conversinha de cinco minutos ou cinco minutos de conversa com o diabo a quatro em liçõeszinhas úteis (Arquivo Rádio Nacional. Museu da Imagem e do Som).

Após este ritual de apresentação o diálogo se desenvolvia com frases curtas, possibilitando, assim um revezamento rápido entre os interlocutores.

CESAR: Colega, hoje estou muito aborrecido, sabe? AMELIA: Que pena, companheiro!E porque, hein? CESAR: Porque descobri afinal que sou um imbecil...

CESAR: Tenho que dizer, pois é a pura expressão da verdade...

AMELIA: Qual, você não está bom da cabeça!E não fale assim contra si mesmo porque muita gente pode ouvir...

CESAR: Que me importa? Quase que só serei ouvido por outros imbecis como eu... AMELIA: Que horror!Não ofenda quem está escutando nossa conversinha...

CÉSAR: mas não há ofensa nenhuma. Você se engana... Empreguei o termo na significação a que tinha no velho latim...

AMÉLIA: Que é o idiota, cretino, sem pingo de inteligência no cérebro...

CÉSAR: Não senhora! No sentido rigoroso da palavra, imbecil quer dizer apenas quem anda sem se apoiar numa bengala ou num bastão...(Arquivo Genolino Amado)

O diálogo era um formato recomendado aos radioeducadores, desde que obedecesse a alguns padrões. A primeira exigência residia na necessidade de apresentação de uma discussão didática:

Falará, por exemplo, um especialista sobre um assumpto em que seja particularmente competente. O interlocutor deverá, para desempenhar-se de sua tarefa satisfactoriamente, estar bem ao par do assumpto para evitar um desvio inútil da conversação. Deverá também conhecer a mentalidade do ouvinte e estar familiarisado com os methodos de ensino melhor adaptáveis a essa mentallidade (ESPINHEIRA, 1934, p.39).

O segundo aspecto a ser seguido pelo diálogo na radiofonia educacional consistia em proporcionar o aprofundamento gradual do tema. Este processo poderia ocorrer de duas maneiras: uma troca de pontos de vista, no decurso do qual cada interlocutor contribuirá com a sua parcella fazendo apparecer aspectos novos, ou o debate, onde a verdade, por assim dizer, deve surgir do choque de ideais. Ouvindo e aprendendo adotava esses pressupostos. O texto era objetivo e apresentava conceitos amparados na ciência. O tema era desenvolvido a partir da troca de pontos de vista. Um dos interlocutores apresentava uma dúvida, que era prontamente respondida pelo outro. Ao final, expunha-se a conclusão sobre o assunto.

O formato desta produção de Genolino Amado apresentava aspectos inovadores: o tempo e o dinamismo. A opção pela curta duração do programa mostra o olhar do autor voltado para sua audiência. Com duração de apenas cinco minutos, abrangendo a música de introdução, as

palavras do anunciante, o diálogo e a despedida, característica que a chamada do programa sempre insistia em anunciar, a atração evidenciava a concepção do autor de que o programa educacional deveria apresentar mensagens breves e objetivas. Até porque a programação era dirigida aos adultos, cujas as ocupações diárias não lhes permitiam dedicar muito tempo à sua própria instrução. Tratava-se da dona de casa, cuidando de seus afazeres domésticos com o rádio ligado, ou ainda, dos trabalhadores do comércio que também poderiam ser ouvintes em seu local de trabalho. O programa se inicia com o som de bumbo que toca três vezes, como estratégia para chamar a atenção para a especificidade da atração que iria começar. A curta duração e o teor educacional são logo anunciados.

O dinamismo é outra marca do formato do programa. Para construí-lo, Genolino Amado organizou o texto em perguntas e repostas curtas e objetivas. O acento apreciativo foi construído de maneira a que o speaker conseguisse interagir com o ouvinte ao longo da irradiação. As falas são marcadas pelas vozes masculina e feminina. Não havia marcação para intervalos ou músicas, e sugeria-se que o diálogo fosse lido de forma corrente.

- E se falarmos das invenções?

- Ótimo e como é que se lembrou disso? - Por acaso.

- E o acaso é o pai de muitas invenções.

(Arquivo Rádio Nacional. Museu da Imagem e do Som).

A última expressão lida dava o tom da resposta subsequente. Esta é uma preocupação do radioeducador em reforçar o assunto que estivesse sendo abordado, evitando que o ouvinte se perdesse na oralidade. Contrariamente ao que ocorre com o texto, a irradiação não permite recordar qualquer vocábulo que não tenha sido ouvido de maneira clara. Assim, as palavras- chave são reforçadas, evitando que o ouvinte perdesse o fio da meada e, consequentemente, não compreendesse a informação.