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Custos dos acidentes de trabalho com risco biológico

4.2 Fontes de informação e definição das variáveis

4.2.3 Custos dos acidentes de trabalho com risco biológico

Para análise das implicações económicas dos AT associados a fatores de risco biológico foram consideradas as participações dos AT efetuadas pelos profissionais à instituição de saúde em estudo no período compreendido entre 01 de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2014. A definição das variáveis processou-se através da revisão da literatura sobre os custos dos AT associados a fatores de risco biológico, do protocolo de atuação clínica após exposição ocupacional a agentes biológicos instituído na unidade hospitalar em estudo, da informação descrita no relatório do episódio de urgência e no formulário de participação dos AT. A recolha de informação foi efetuada através da análise documental dos processos dos AT e das informações fornecidas pelo departamento financeiro e de gestão recursos humanos da instituição de saúde em estudo.

Recorremos ao cálculo dos custos diretos e indiretos dos AT associados a fatores de risco biológico. Pelo facto da análise de custos destes AT dependerem de algumas variáveis, nomeadamente do tipo de exposição ocupacional, dos resultados dos controlos analíticos do doente fonte de contaminação e do funcionário e da PPE efetuada, foram estabelecidos diversos cenários hipotéticos para obter uma descrição das diferentes variáveis que poderão constituir custos para a instituição de saúde em estudo. De realçar que na instituição em estudo os AT associados a fatores de risco biológico são exclusivamente tratados e acompanhados pela própria instituição de saúde.

Para cada AT associado a fatores de risco biológico participado à instituição de saúde foram analisados os seguintes documentos:

a) o relatório do episódio de urgência; b) o modelo de participação clínica do AT;

c) o registo do estado de vacinação do profissional.

Para o cálculo dos custos diretos dos AT com risco biológico participados na instituição em estudo foram incluídos os seguintes critérios:

a) custo do episódio de urgência;

b) custo com os exames complementares de diagnóstico – controlos analíticos realizados ao funcionário e ao doente fonte de contaminação;

c) custo com o material necessário à realização da colheita de amostra de sangue, designadamente: tubos de colheita; sistema de colheita; compressas; pensos rápidos; luvas de proteção;

d) custo com as consultas de seguimento na especialidade de doenças infeciosas, sempre que necessário;

e) custo com produtos farmacêuticos: medicação antiretroviral, vacina contra o VHB, reforço vacinal ou imunoglobulina para o VHB, sempre que necessário.

Após a identificação e quantificação dos recursos, procedeu-se à alocação dos respetivos custos unitários, com base nos preços/tarifas obtidos a partir de fontes oficiais, nomeadamente do catálogo da ACSS para custos da medicação reservada a utilização em meio hospitalar, no relatório de contabilidade analítica dos hospitais para custos das consultas de especialidade, nas tabelas de grupos de diagnósticos homogéneos para custos de hospitalizações e exames complementares de diagnóstico e terapêutica para os anos de 2012, 2013 e 2014. O custo médio total do episódio de urgência, das consultas de especialidade, dos exames complementares de diagnóstico e terapêutica englobam todos os recursos afetos aos mesmos, designadamente os recursos humanos, os consumíveis, a amortização de possíveis equipamentos ou máquinas utilizados, água, eletricidade, entre outros.

Os custos indiretos foram subdivididos em custos associados ao tempo de trabalho perdido pelo profissional exposto e aos custos do tempo de trabalho perdido pelos profissionais envolvidos na gestão da exposição ocupacional tendo sido considerados os seguintes critérios:

a) o tempo de trabalho perdido na participação do AT;

b) o tempo de trabalho associado à investigação e análise do AT; c) o tempo de trabalho perdido nas consultas de seguimento;

d) o tempo de trabalho perdido na realização de amostras de sangue no, caso do seguimento do profissional na consulta de especialidade;

e) o tempo de trabalho perdido no Serviço de Urgência.

Por tempo de trabalho perdido entende-se a ausência do profissional no local de trabalho ou o tempo médio necessário para efetuar as tarefas associadas à gestão do AT.

Para calcular o tempo perdido foram recolhidas informações do sistema informático de registo da admissão e da alta dos profissionais no Serviço de Urgência e nas consultas de especialidade. O tempo de trabalho associado à participação e gestão dos AT (participação, investigação e análise do AT) foi obtido pelo tempo necessário para executar cada uma dessas tarefas. Posteriormente foram calculados os tempos médios de permanência nesses locais ou na execução das tarefas. Paralelamente, para calcular o custo do tempo de trabalho perdido pelos profissionais foram solicitadas informações ao serviço de gestão de recursos humanos da instituição de saúde, nomeadamente sobre o valor do salário médio, tendo por referência o ano de 2014, das diferentes categorias profissionais: enfermeiros, médicos, técnicos de diagnóstico e terapêutica, técnicos superiores e assistentes operacionais. Pese embora, existam diferenças salariais nos três anos do estudo, a recente conjuntura de estagnação dos salários permite, sem grandes erros, assumir uma certa constância ao longo dos 3 anos. Desta forma, foi possível calcular o custo médio por hora para cada categoria profissional. No custo do valor médio hora foram incluídos:

a) o vencimento mensal; b) o subsídio de alimentação;

c) o trabalho extraordinário e suplementar; d) o subsídio de férias e de natal;

e) outros prémios com carácter regular (por exemplo: prémio de assiduidade).

Para obter o cálculo do tempo de trabalho perdido multiplicou-se o custo médio do valor hora do salário de cada categoria profissional, pelo número de AT da respetiva categoria no ano em estudo e pelas horas de trabalho perdidas, em média, por AT.

Foram excluídos do cálculo dos custos indiretos dos AT com risco biológico alguns valores, nomeadamente o custo associado ao impacto psicológico destes AT, o custo da substituição do profissional no período de tempo associado à participação do AT, do custo de possíveis responsabilidades legais, os custos com o aumento do prémio de seguro, entre outros, devido à dificuldade de quantificação dos mesmos. Não foram igualmente calculados os custos associados à transmissão de agentes biológicos, porque no presente estudo não ocorreu nenhum caso de transmissão ocupacional do VIH, do VHB ou do VHC.

4.3 Análise estatística dos dados

Foi atribuído a cada um dos questionários de investigação e análise do AT associados a fatores de risco biológico um número de código do processo do AT. Os questionários de subnotificação dos AT foram, igualmente identificados com um número de código. Para cada um dos questionários foi elaborada uma base de dados utilizando o software Microsoft Excel onde foram registadas todas as informações. Considerando que a matriz de dados inicial continha variáveis de diferentes naturezas (haja vista as métricas em que se exprimem, por exemplo, a variável idade ou a variável categoria profissional) foi necessário assegurar a homogeneidade das variáveis através de uma prévia codificação dos dados de partida. Esta codificação, que passou pela transformação de algumas variáveis mensuráveis em variáveis ordinais subdivididas em diversas classes, revelou-se imprescindível para a utilização das técnicas estatísiticas multivariadas. O anexo V reproduz as variáveis e as respetivas modalidades (subvariáveis) do questionário de participação dos AT e do questionário da subnotitificação dos AT associados a fatores de risco biológico, com indicação do respetivo nome da variável, as designações da modalidade e as respetivas codificações (codificação da análise descritiva e inferencial e codificação da análise fatorial das correspondências (AFC).

Em termos gerais poder-se-á afirmar que as duas diferentes fontes de informação disponíveis (participações dos AT e questionários sobre a subnotificação) foram objeto de duas abordagens estatísticas que, embora diferentes nos seus propósitos, são complementares:

a) Análise estatística univariável, descritiva e inferencial;

b) Análise estatística envolvendo modelos de regressão logística;

c) Análise estatística multivariável, descritiva e interrelacional, análise factorial das correspondências.