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D PEDRO II E A ATMOSFERA NACIONALISTA NO BRASIL

CAPÍTULO 2 O BRASIL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX E A BUSCA PELA EMANCIPAÇÃO LINGUÍSTICO-CULTURAL EM

2.1 D PEDRO II E A ATMOSFERA NACIONALISTA NO BRASIL

Como dito anteriormente, nessa época, o Brasil vivia uma monarquia parlamentar constitucional regida pelo imperador D. Pedro II (1825-1891) que, nascido no mesmo ano em que Inglaterra e Portugal reconheceram a independência do país, trouxe para o Brasil avanços em diversas áreas, principalmente na educação e cultura. Assim, o saber foi apreciado, incentivado e patrocinado pelo imperador, um erudito e amigo de grandes intelectuais e filósofos europeus como Graham Bell (1847-1922), Charles Darwin (1809-1882), Victor Hugo (1802-1885), Friedrich Nietzsche (1844-1900), Richard Wagner (1813-1883), Louis Pasteur (1822-1895), Louis Agassiz (1807-1873), Jean-Martin Charcot (1825- 1893), Alexandre Herculano (1810-1877), Camilo Castelo Branco (1825-1890) e tantos outros que admiravam sua erudição e o respeitavam, como atesta Carvalho (2007, p. 174) ao relatar uma das passagens da vida do nosso Imperador, que trata de uma de suas viagens ao exterior:

Paris foi novamente o lugar onde se deteve por mais tempo, permitindo à comitiva tomar fôlego. Ficou dois meses na cidade. Assistiu a uma sessão da Academia Francesa, então presidida por

Alexandre Dumas Filho, sentando-se ao lado dos acadêmicos Daubrée e Pasteur. Feito sócio da Academia de Ciências de Paris, honra só concedida antes a dois chefes de Estado, Napoleão I e Pedro, o Grande. E realizou um de seus maiores desejos, frustrado na primeira viagem: no dia 22 de maio visitou Victor Hugo no seu endereço, na rua Clichy. O ferrenho inimigo de monarcas hesitara em visitar o imperador, mas este insistiu: se Victor Hugo não ia a Pedro II, Pedro II ia Victor Hugo. Foi nessa ocasião que o famoso escritor pronunciou a frase transcrita por Rivet e mil vezes depois repetida: “Sire, vous êtes um grand citoyen; vous este le petit-fils de Marc-Aurèle” (“Senhor, sois um grande cidadão; sois o neto de Marco Aurélio”).

Apreciador da vida intelectual, D. Pedro II foi o responsável pela criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Imperial Academia de Música e Ópera Nacional (1856), a fundação do Colégio Pedro II, entre outras escolas e, a Academia Imperial de Belas Artes, criada por seu avô, Dom João VI (1798-1834). Fundada pelo Decreto Imperial de 12 de agosto de 1816, passou a receber maior apoio, revelando-se um centro de difusão de novos ideais estéticos e educativos. Tudo isso além das bolsas de estudo para que os artistas e intelectuais pudessem estudar na Europa. Seu objetivo era criar um sentimento de identidade cultural brasileira. O país crescia e sua evolução foi responsável por um grande entusiasmo nacionalista naquela geração de brasileiros que viria a ser responsável pelas inovações e polêmicas em torno da língua que veremos mais adiante.

Além dos bolsistas que Pedro II custeava no exterior, o imperador ainda sediava bolsas para o ensino básico, médio e superior no Brasil. Desses bolsistas, destacou-se em nossa história o pintor Pedro Américo (1843-1905), autor do famoso quadro Independência ou Morte!, também conhecido como O Grito do

Ipiranga, de 1888, que hoje faz parte do acervo do Museu Paulista (CARVALHO,

2007, p. 100-101).

Dentre as mudanças que os brasileiros vivenciaram nesse período, algumas que se destacaram e promoveram o progresso do país e o crescimento na autoestima dos brasileiros foram as construções das primeiras estradas de ferro, sendo que a primeira delas foi a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, que ligava a Corte a Petrópolis, inaugurada pelo

barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), em 1854, ano em que se deu o início da iluminação a gás na cidade do Rio de Janeiro. Outra via férrea de

grande importância foi a D. Pedro II, inaugurada em 1858, com o objetivo de ligar as províncias do Brasil até a capital imperial, Rio de Janeiro. Ainda houve trilhos construídos em outras regiões brasileiras, como a Estrada de Ferro D. Tereza Cristina, inaugurada em 1864, em Santa Catarina, e a construção dos primeiros 37 quilômetros da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em 1872.

Em 1856, deu-se o início da pavimentação da primeira estrada no país, a União e Indústria, que ligava Petrópolis a Juiz de Fora e, dez anos após esse fato, o Amazonas foi aberto à navegação internacional. A pavimentação da estrada e as construções das linhas férreas trouxeram conforto para as viagens dos brasileiros, sendo que até então eram feitas apenas em chão de terra, aumentando os riscos durante o percurso. Além do conforto, essas estradas facilitavam o comércio e a agricultura, que estavam em expansão, “diminuindo a distância” entre o produtor e as principais cidades do Brasil e os portos para a exportação, principalmente a cafeicultura que, em 1860, representava 48% do valor total das exportações, daí a necessidade da criação do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras públicas. Antes das estradas de ferro, o transporte das produções agrícolas era feito utilizando mulas.

Outra marca do período é o gosto pelos empreendimentos materiais. A própria Coroa o consignou em uma Fala do Trono. Generaliza-se o gosto pela iniciativa, pelo negócio, pela realização; há cuidados com a agricultura e com a indústria, a opinião é inflamada pelo progresso. Se a Coroa o assinala, também os ministros e o parlamento o discutem e festejam, a imprensa o examina e exalta. É o que se nota, por exemplo, na Fala do Trono de 13 de maio de 1851: “Esforcemo-nos em obter o concurso de todos para o bem de todos preferindo à discussão de princípios abstratos de política à dos remédios para as primeiras e imediatas necessidades do país”. (HOLLANDA, 1997, p. 37).

Percebe-se, pela leitura que fizemos, um imperador disposto a colocar o país nos “trilhos” do progresso. Além das ferrovias e da pavimentação das estradas, começaram a ser construídos novos edifícios e construções que dariam ao país uma nova paisagem, como o Palácio do Itamarati, na cidade do Rio de Janeiro, em 1851, pelo engenheiro e arquiteto militar Jacinto Rebelo (1821-1871), também autor do pórtico do prédio da Santa Casa de Misericórdia, do Cemitério do Caju,

inaugurado em 1851, e do Palácio de Verão do imperador, hoje Museu Imperial, cuja construção teve início em 1845 e foi concluída em 1862.

Com o crescimento do país, o imperador criou, em 1872, a Diretoria-Geral de Estatística (DGE), com o objetivo de fazer um levantamento que refletisse um retrato do brasileiro, assim foi realizado o primeiro recenseamento feito no Brasil. Nesse ano, o país contava com 9.930.478 habitantes, sendo 5.123.869 homens e 4.806.609 mulheres, dos quais cerca de 80% eram analfabetos. Esse censo abordou questões como sexo, idade, escolaridade, estado civil, religião, deficiência física e se a pessoa era livre ou escrava. As regiões que contabilizavam maior número de habitantes foram o Nordeste e, no Sudeste, o eixo Minas-Rio de Janeiro- São Paulo.

Essas, entre outras realizações do poder imperial, enchiam de orgulho os brasileiros, que viam o país prosperar, aproximando-se das grandes nações mundiais. O sentimento de nacionalismo que se desenvolvia desde a chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, responsável por elevar a condição do país de colônia à sede do Reino Unido de Portugal, Algarves e Brasil, cresceu com a independência em 1822, chegando ao seu ápice na segunda metade do século XIX e com características de um nacionalismo em busca de identidade.

Para Sodré (2004, p. 130-131), o governo de D. Pedro II foi responsável por uma transformação na sociedade, pelo impulso no comércio e na lavoura, a industrialização e as navegações a vapor e ingressou em uma política internacional de novos horizontes. Seu império estava tão sólido e forte que, em 1870, quando foi escrito o manifesto republicano, ele não teve uma repercussão notável.

Sobre o desenvolvimento social, o autor também menciona as relações entre a mulher com o meio urbano, afirmando que nessa época desenvolvia-se

[...] o comércio, particularmente o externo. A vida urbana se amplia. Nela, a mulher e o estudante estabelecem condições de sociabilidade que antes não existiam. Serão parcelas mais importantes do público que, na época, acompanha as atividades culturais”. (SODRÉ, 1986, p. 45).

Outro fator importante para a formação dos debates que veremos mais à frente foi o caráter liberal do imperador, permitindo a liberdade de imprensa e mesmo que seus opositores fossem livres para opinar sobre o seu governo, pois o soberano, além de culto e sábio, como era reconhecido pela Corte e pelos líderes de outros países, era também sensato e humano a ponto de não permitir qualquer tipo de tirania contra eles, como atesta Benjamin (2015, p. 68):

Perseguições ou execuções capitais jamais foram permitidas por D. Pedro II. Perdoava sempre os crimes políticos. Persuadia‑se, com razão, de que o rebelde da véspera seria o servidor mais dedicado do dia seguinte, quando agraciado. Fez, aliás experiência desta verdade governamental que tão poucos soberanos têm o bom senso de compreender e a habilidade de praticar. Não via no rebelde senão um desencaminhado que devia voltar à razão.

O Brasil vivia sua fase áurea, pois, respirando os ares da liberdade, apresentava um notável progresso, como atesta Sodré (1986, p. 44-45):

Ao iniciar-se a segunda metade do século XIX, a economia brasileira havia superado a longa crise que a golpeara desde o declínio da mineração. A lavoura do café expandira-se no vale do Paraíba, nas províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. A produção crescera em ritmo acelerado, passando das 100.000 sacas de 1820 ao milhão de sacas de 1840, aos dois milhões de 1860.

Outra questão que colaborou ainda mais com o sentimento do brasileiro e a consolidação de um valor nacionalista foram os conflitos externos. D. Pedro II interveio nos negócios do Prata, lutando contra o ditador Juan Manuel de Rosas (1793-1877), libertando o Uruguai e restabelecendo a ordem nos países vizinhos. O conflito denominado Guerra do Prata teve início em 1851, quando Rosas declarou guerra ao Brasil, vindo terminar no ano seguinte com a derrota e fuga do tirano para o Reino Unido. O motivo que levou os países à guerra foi a condição geográfica do rio do Prata que representava uma saída de produtos para o Atlântico. Enquanto o Brasil e Uruguai queriam a livre navegação pelo Prata, as províncias do Prata, Argentina e Paraguai, impunham limites.

O governo imperial também mostrou sua força ao se impor diante da Inglaterra durante a famosa Questão Christie. Entre os fins de 1861 e início de 1862, ocorreram dois incidentes envolvendo ingleses no Brasil. Um deles foi o naufrágio de uma barca comercial na costa do Rio Grande do Sul, resultando no saque da carga pela população local, e o outro foi a prisão de dois oficiais britânicos embriagados, que estavam causando transtornos nas ruas do Rio de Janeiro. Descontente, o cônsul britânico William Dougal Christie (1816-1874) exigiu reparações que não foram atendidas pelo império brasileiro. Assim, Christie enviou ordens para que navios de guerra britânicos capturassem embarcações mercantes brasileiras como indenização. D. Pedro II preparou a marinha brasileira comprando navios e encouraçados e ordenou que atirassem contra qualquer navio de guerra britânico que atentasse contra as embarcações brasileiras. Desse modo, Christie cedeu e propôs um acordo pacífico. Após o caso, em 1863, o Brasil cortou relações diplomáticas com o Reino Unido.

No ano seguinte, em 1864 o Paraguai declarou guerra ao Brasil e, em 1865, foi formada a tríplice aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. O Paraguai, governado pelo déspota Solano Lopez (1862-1870), invadiu Corrientes, na Argentina, e Mato Grosso do Sul, no Brasil. O Uruguai, então governado por Venâncio Flores (1808-1868), sob a influência do governo imperial brasileiro, entrou no conflito ao lado de Brasil e Argentina. A guerra, que durou até 1870, foi o maior confronto armado internacional ocorrido na América do Sul. O Brasil, que teve suas forças armadas lideradas pelo duque de Caxias, saiu dele vitorioso.

No dia 7 de novembro de 1866, o jornal Diário do Rio de Janeiro publicou um texto destacando os motivos da guerra. O texto relatava que, em 12 de outubro de 1864, o Paraguai, liderado por Lopes, sem qualquer declaração de guerra, mandou apreender o Marquês de Olinda, vapor brasileiro encarregado do serviço postal entre Montevidéu e Cuiabá, no qual estava a bordo, entre os passageiros, o presidente da província do Mato Grosso. Todos foram levados a uma prisão. O mesmo aconteceria com o Salto, navio argentino apreendido em Assunção, em 1865, e a Argentina, que até então estava neutra no conflito, aderiu à Tríplice Aliança.

Uma das batalhas mais conhecidas desta guerra foi a Batalha do Riachuelo, ocorrida em 11 de junho de 1865, na qual a esquadra brasileira, comandada pelo

militar Francisco Manuel Barroso da Silva (1804-1882), derrotou a esquadra paraguaia. Esse assunto foi comentado nos jornais da época como fato realmente glorioso para o Brasil. O Jornal do Comércio deu ampla reportagem sobre o ocorrido, sendo que, em 30 de junho de 1865, publicou um relato emocionante, narrando passo a passo a atuação da esquadra brasileira e, no dia seguinte, 1.º de julho, uma matéria sobre o feito bélico, contendo, além do texto exaltando nossa esquadra, um mapa mostrando o esquema estratégico de como se deu a batalha entre brasileiros e paraguaios.

A batalha foi retratada pelo pintor Victor Meireles (1832-1903) e apresentada na 22.ª Exposição Geral da Academia Imperial, iniciada em 15 de junho de 1872. A pintura expressa um grande sentimento nacionalista do artista ao representar a glória dos brasileiros. Meireles foi o pintor preferido de D. Pedro II e fazia parte de seu programa de mecenato, trabalhando na proposta de renovação da imagem do Brasil pela criação de símbolos gloriosos visuais de sua história.

Para Sodré (2004, p. 80), a guerra do Paraguai teve efeitos positivos, pois, além de trazer consequências para a formação do sentimento brasileiro de unidade, autonomia e emancipação, ainda, possibilitou a alforria de milhares de escravos que se alistaram e se destacaram no conflito. Eles foram convocados em troca da liberdade, pois era pequeno o número de soldados no exército brasileiro e isso acelerou o processo de abolição. O autor ainda ressaltou (p. 307) que a guerra resultou em uma nova força no organismo político do país, o favorecimento da emancipação e a corroboração do processo social pela elevação do elemento negro e a contribuição para a urbanização da vida brasileira e consequente substituição da elite agrária pela elite dos letrados, que se formava lentamente nos centros urbanos e mais tarde seria responsável pela busca da identidade cultural do país.

Sendo assim, além dos campos de batalha, o Brasil foi vitorioso também no crescimento do processo político, econômico e social, assunto que nos interessa, pois os autores das críticas à obra do escritor José de Alencar analisados neste segundo capítulo tiveram motivações políticas. Esse crescimento político, todavia, levou o país a assistir a uma disputa pelo poder parlamentar entre conservadores, em princípio representantes da elite agrária, e liberais, representantes da elite dos

letrados, disputa que teve sua trégua durante a política de conciliação chefiada pelo marquês do Paraná. Segundo Sodré (2004, p. 98),

A conciliação agrupava os partidos em torno do trono. Fortalecia o centro e poupava a agitação das campanhas oposicionistas. É, justamente, a fase áurea do Império. Na curva da sua evolução, marca o instante mais alto, que se alonga até o ponto crítico da guerra do Paraguai, para iniciar, depois dela, uma fase descendente cada vez mais acelerada. No período da conciliação constroem-se as primeiras estradas de ferro. Desdobram-se as linhas de navegação a vapor. Intensifica-se o telégrafo. Caxias, Paraná, Olinda são os chefes prestigiosos dessa concentração.

Como se viu, a conciliação equilibrou as disputas políticas entre conservadores e liberais e, durante esse período de “paz política”, sem oposição, rixas políticas, clima de revanchismo e luta pela tomada de poder, o Brasil imperial viveu um momento propício ao desenvolvimento, foi quando o imperador, conseguindo facilmente o apoio do parlamento, pôde dar início às grandes obras que marcaram sua regência.

Porém, em 1858, terminava o período de “paz” entre os dois partidos e novamente recomeçavam as querelas e, com elas, as ofensas nos jornais e nos debates da câmara. Os dois partidos se alternavam no poder e, finda a conciliação, os conservadores permaneceram por quatro anos, seguidos por mais quatro dos liberais. Foi durante esse período que se deu início a guerra do Paraguai. Com Zacarias de Góis (1815-1877) no gabinete, o comando da guerra passa para Caxias e, assim, o liberal abriu caminho para mais dez anos de conservadores. A entrega do gabinete ao conservador fez com que os liberais ficassem ressentidos com o imperador.

De economia eminentemente agrária, o Brasil tinha sua riqueza concentrada nas mãos dos grandes agricultores proprietários de terra, sendo o país um grande exportador de produtos agrícolas. Em meados do século XIX, um fato importante na história da nossa economia – e que beneficiou o crescimento da atividade intelectual na capital do Império – foi a alta na produção do café em relação à decadência das lavouras tradicionais do Norte e Nordeste, produtoras de cana-de- açúcar, algodão e tabaco, pois esse fato proporcionou um deslocamento na

concentração de riquezas do país, do Nordeste para o Sul, principalmente para o eixo Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, cujo clima favorecia o plantio dessa nova cultura. De acordo com Prado Junior,

Comercialmente, orienta-se para o Rio de Janeiro, que é o porto de escoamento do produto, e por isso seu centro financeiro e controlador. Pouco depois da metade do século passado,1 esta

área representa o setor mais rico e progressista do país, concentrando a maior parcela de suas atividades econômicas. (2004, p. 162). (grifo nosso)

Como se viu, esses fatores elencados pelo autor favoreceram o crescimento econômico do Centro-Sul do Brasil, principalmente o Rio de Janeiro, pois, uma vez que já era a capital do império, também passou a ser o centro de controle da economia, levando progresso e riqueza para a região, o que acreditamos ter influenciado a vida intelectual na capital carioca. Nessa época, o café representava 70% das exportações do país e o capital estrangeiro que entrava no país possibilitou a construção de novas estradas de ferro, indústrias e portos marítimos, além de equilibrar as finanças externas.

Outro ponto da história da economia brasileira que não se pode desconsiderar foi a questão do elemento servil, pois acreditamos que a posição do político conservador José de Alencar no parlamento diante da lei do Ventre Livre viria influenciar a crítica que recebera de Franklin Távora. Vejamos, agora, algumas informações sobre a escravidão no Brasil.

No século XIX, houve uma forte campanha política e social para a abolição dos escravos e o regime escravocrata estava prestes a chegar ao fim. Sob pressão estrangeira e, principalmente, dos ingleses, que apostavam na mão de obra assalariada para comprar os produtos de sua indústria, o Brasil deu início à luta pela abolição dos escravos, contrariando a vontade dos grandes cafeicultores que representavam a elite agrária do país e utilizavam essa mão de obra em seus cafezais que, nessa época, dominava o mercado externo. Foi então que, em 1850, houve a promulgação da lei Euzébio de Queiroz, que extinguia de vez o tráfico

1 História Econômica do Brasil, escrita por Caio Prado Junior, teve sua primeira edição em 1945,

negreiro para o Brasil. Observemos nas palavras do historiador Nelson Sodré que as intenções da Inglaterra não foram humanas, mas pensadas em aumentar o número de assalariados que pudesse consumir os produtos de sua indústria.

Compreende-se perfeitamente o abandono que a nação europeia vinha estabelecer em relação ao elemento servil e compreende-se, com mais forte razão, que mais lhe convinha ainda aproveitar o africano como trabalhador assalariado [....]. A repressão marítima ao tráfico não representa, pois, uma evolução da humanidade no sentido do bem, mas uma fase da revolução industrial incompatível com o trabalho servil que era contrário aos seus interesses. (SODRÉ, 2004, p. 52).

De acordo com Sodré (2004), as exigências advindas de outros países, principalmente da Inglaterra, que ameaçava atacar os navios brasileiros que estivessem a caminho da África com a incumbência de trazer negros cativos para o comércio ilegal, não havia razões humanitárias em virtude das péssimas condições de vida oferecidas pelos senhores de terra, mas pela razão de terem assalariados que prestigiassem o produto de sua indústria.

Se a nação europeia, como afirma Sodré (2004), estava preocupada apenas com a venda de seus produtos, no Brasil havia um grande número de políticos, intelectuais e artistas que se manifestavam em prol da abolição dos escravos com o intuito de darem um desfecho para o sofrimento nas senzalas. Eram os