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A INSERÇÃO DE NOVOS VOCÁBULOS PROPOSTOS POR JOSÉ DE ALENCAR EM IRACEMA E ENCONTRADAS NAS OBRAS DE HOJE

CAPÍTULO 4 JOSÉ DE ALENCAR, A LÍNGUA PORTUGUESA E A ATUALIDADE

4.2 A INSERÇÃO DE NOVOS VOCÁBULOS PROPOSTOS POR JOSÉ DE ALENCAR EM IRACEMA E ENCONTRADAS NAS OBRAS DE HOJE

Para iniciarmos as nossas análises buscando exemplos das propostas de José de Alencar presentes nas obras escolhidas para a adequação, consideramos pertinente mostrar os argumentos que seus respectivos sujeitos usavam para justificar a realização de seus trabalhos nos textos introdutórios que acompanham suas obras, percebendo que, em seus argumentos, eles buscam na realidade brasileira demonstrar as diferenças entre PB e o PE. Assim, fazemos uma apresentação expondo os porquês de termos escolhido tais obras para compor o quadro de nossa adequação, para só depois tecermos comentários sobre as obras, fazermos as comparações com as inovações de Alencar e verificarmos se os ideais do escritor romântico se refletem nos trabalhos atuais.

Interessamo-nos em investigar a adequação na obra O português da gente:

a língua que estudamos, a língua que falamos, de Rodolfo Ilari e Renato Basso,

publicada pela editora Contexto, em 2006, por ser um livro de linguística que focaliza a história da Língua Portuguesa e a variação linguística brasileira, conforme as palavras dos autores: “Este livro é sobre a língua portuguesa que falamos no Brasil”. Dessa forma, nós o incluímos em nossa busca para averiguar se algumas das ideias relatadas na obra coincidem com as ideias expostas por Alencar em

Iracema, sobre os vocábulos falados pelos indígenas.

Os autores dividem sua obra em cinco partes, sendo elas: Um pouco de história: origens e expansão do português; O português na América; Algumas características do português brasileiro; Português do Brasil: a variação que vemos e a variação que esquecemos de ver; Linguística do português e ensino. Dessa forma, o livro tem início contando a história da língua portuguesa passando pelo seu desenvolvimento desde sua origem latina até chegar ao solo brasileiro, para depois se concentrar em mostrar as particularidades do PB.

Para os autores, o multilinguismo existente no Brasil, mesmo antes da colonização portuguesa, colaborou para a implantação do PB, pois, na época do descobrimento, “vivia no Brasil uma população nativa estimada em seis milhões de indígenas (...) falavam cerca de 340 línguas” (ILARI; BASSO, 2017, p. 60) e os portugueses precisaram aprender essas línguas por sobrevivência e para conseguirem alcançar seus objetivos de colonizadores, assim, passavam a conhecer novas palavras enriquecendo o seu léxico. Ilari e Basso (2017, p. 68) explicam que

esse enriquecimento é visível no vocabulário, sobretudo nos segmentos que dizem respeito à cultura material (jacá, pixaim, tapera, tocaia), à alimentação (mandioca, beiju), e ao conhecimento empírico da flora (embira, abacaxi, amendoim, caju, capim, cajá, sucupira, taioba), da fauna (capivara, curimatã, jaguar, jiboia, lambari, piranha, siri) e da topografia (capão, taquaral) [...]. Além disso, é de origem indígena uma parte considerável da toponímia brasileira, ou seja, têm origem indígena muitíssimos termos geográficos que designam estados, cidades, rios e montanhas, que o próprio leitor não terá dificuldade de lembrar e localizar. (ILARI; BASSO, 2017, p. 68).

Muitas das palavras de origem tupi, demonstradas como exemplos em Ilari e Basso (2017), estão registradas em Iracema, e consta do trecho seguinte retirado do capítulo VII da obra indianista: “Filha de Araken! Não assanha o jaguar!” (ALENCAR, 1865, p. 27).

Dessa forma, ao se aprofundarem no estudo do PB, Ilari e Basso (2017, p. 138) mostram em sua obra que os vocábulos das línguas indígenas enriqueceram o léxico da língua portuguesa utilizada no Brasil e isso se trata de uma peculiaridade entre as duas vertentes do português e afirmam que, no léxico do PB, há uma quantidade enorme de vozes de todas as famílias linguísticas que existiam no passado, antes da chegada dos europeus em solo brasileiro, mas que há um predomínio acentuado nas vozes de origem tupi.

Os autores ainda explicam que as palavras de origem tupi que fazem parte do léxico do PB se destacam principalmente na toponímia brasileira, pois esses substantivos descrevem a maneira como os indígenas representavam esses lugares, por exemplo: nomes como Jundiaí ou Jaguariúna aludem a rios outrora

habitados por bagres (jundiás) ou visitados por onças negras (panteras) (jaguar +

una = onça negra; jaguar + una + i = rio das onças negras) (ILARI; BASSO, 2017,

p. 147-148).

Na obra Pequena gramática do português brasileiro escrita pelos professores e pesquisadores Ataliba T. de Castilho e Vanda Maria Elias, também publicada pela editora Contexto, os autores discorrem sobre as peculiaridades da língua: fonologia, morfologia, sintaxe e texto, trazendo, ao final, um tópico sobre a história e a diversidade do PB em que demonstram a história social da língua portuguesa no Brasil e seus elementos formadores, as principais mudanças gramaticais ocorridas na língua no Brasil e a diversidade que existe na modalidade brasileira da língua.

Trata-se da primeira edição, já em sua segunda reimpressão. Essa obra é uma gramática baseada na Nova Gramática do Português Brasileiro, escrita por Ataliba Castilho, em que estão estabelecidas as bases gramaticais da língua falada, porém difere dela quanto ao caráter usual assumido pela Pequena Gramática.

Interessamo-nos em investigar o interior dessa obra na busca por elementos que demonstrem alguma influência das características observadas por José de Alencar, peculiares que diferenciam o PB do PE, pois os autores, ao apresentarem o livro a seus leitores, dizem ser dedicado aos professores de Língua Portuguesa interessados na variedade brasileira e se tratar de um material em que eles expressam seu conhecimento sobre o português brasileiro, formulando uma teoria sobre PB.

Os autores dedicam um tópico especial na obra ao estudo da contribuição das línguas indígenas para a formação de um PB, pois, segundo eles, quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia por volta de seis milhões de indígenas falando cerca de 300 línguas diferentes oriundas de dois grandes troncos linguísticos, o tronco macrotupi, falado por tribos nômades que ocupavam toda a costa brasileira, e o tronco macro-jê, falado pelos índios que ocupavam o Brasil central e não eram nômades, viviam em aldeias e ocupavam terrenos amplos. Para os autores:

A maior parte das contribuições léxicas indígenas para o português brasileiro provém do tupi, que cedeu cerca de dez mil vocábulos, constantes em sua maioria de topônimos e antropônimos, a que se somam substantivos comuns designativos de vegetais e animais. (CASTILHO; ELIAS, 2017, p. 442-443).

Percebemos, nessa afirmação, que eles têm a mesma visão dos autores da obra vista anteriormente, O português da gente, quanto ao número aproximado de palavras que existem em nosso léxico provenientes das línguas faladas pelos nativos e que, de todas essas línguas, o tupi foi a que mais contribuiu para a formação do PB. Os autores ainda expõem um quadro com as principais palavras e seus usos:

(1) Pessoas: caipira, caipora, cacique, pajé, morubixaba, curumim, cunhã. (2) Comidas: pururuca, puba, pipoca, maracujá, aipim. (3) Animais, figuras míticas: graúna, colibri, arara, acauã, sabiá, irara, sagui, pium, jaguar, jacaré, uru, urutau, urutu, tatu, jararaca, muçurana, paca, içá, boitatá, taturana, saracura. (4) Vegetais: imbira, urucu, tapioca, taquara, araçá, jenipapo, mandioca, mandi, pitanga, goiaba, taioba. (5) Moradias: tapera, tipiti, oca, jirau. (6) Topônimos e antropônimos: Iracema, Guaraciaba, Moema, Paraguaçu, Jaçanã, Maracanã, Guanabara, Canindé, Itu, Araraquara, Jaú, Butantã. (CASTILHO; ELIAS, 2017, p. 443).

O sujeito na obra considera importante a contribuição para o léxico do PB as fontes linguísticas das línguas dos nativos, destacando-se entre elas o tupi, pelo número de vocábulos que entraram para enriquecer nossa língua, algo observado e praticado pelo escritor José de Alencar. Dos vocábulos listados anteriormente, alguns estão presentes na obra Iracema, como é o caso das palavras pajé e

Iracema, que observamos no trecho seguinte da obra de Alencar: “Estrangeiro,

Iracema não pode ser tua serva. É ella que guarda o segredo da jurema e o misterio do sonho. Sua mão fabrica para o Pagé a bebida de Tupã” (ALENCAR, 1865, p. 12-13). A palavra pajé, na época em que Alencar escreveu seu romance, era escrita com a letra g.

Se hoje em dia os linguistas descrevem com naturalidade a certeza de que as línguas faladas pelos povos nativos, sobretudo as oriundas da língua tupi, são responsáveis por profundas transformações no léxico do PB, nem sempre foi assim,

como vimos anteriormente, nos textos que relataram a história da nossa língua. Nossas análises fazem refletir sobre a importância que o trabalho do escritor José de Alencar, de inserir vocábulos no uso corrente da língua utilizados pelos nativos brasileiros, tem para a nossa língua escrita, pois, além de valorizar a cultura local, ele encontrou um caminho para a nacionalização do romance ao propor uma diferenciação da língua portuguesa utilizada no Brasil em relação à língua de Portugal.

Podemos dizer que a inserção dessas palavras no léxico da língua portuguesa escrita utilizada no Brasil, conforme o uso corrente da língua, representa uma referência para os estudos sobre as diferenças entre essas duas vertentes, uma vez que, antes de Alencar, no período colonial, as palavras de origem tupi eram ensinadas apenas como fonte de conhecimento para a colonização, sendo que os portugueses as aprendiam para se comunicar com os índios a fim de que eles os levassem ao encontro das riquezas minerais.

O que havia antes do século XIX eram apenas métodos e dicionários bilíngues que tratavam de estudos dessas palavras, classificando-as como língua brasílica, tais como o Diccionario portuguez, e brasiliano, obra necessaria aos

ministros do altar, que emprehenderem a conversão de tantos milhares de Almas que ainda se achão dispersas pelos vastos certões do Brasil, sem o lume da Fé, e Baptismo, escrito por José Mariano da Conceição Veloso, publicado em Lisboa no

ano de 1795, ou, anterior a esse, a clássica gramática escrita pelo Padre Anchieta,

Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil, publicada em

Coimbra, em 1595.

Essas duas obras citadas no parágrafo anterior foram escritas para auxiliar os colonizadores em sua missão no Brasil, sendo a primeira, um dicionário e a outra um método da língua mais usada na costa brasileira, ou seja, o tupi. Portanto, essas duas obras tratam de ensinar a língua dos indígenas aos portugueses que chegavam ao Brasil para lhes facilitar o convívio com os nativos. Apesar de serem obras cujo objetivo era a colonização, de certa forma, ambas aproximaram as duas línguas, a do colonizador e a do colonizado.

Foi a partir do século XIX, após a independência do Brasil, que começaram a surgir dicionários e gramáticas com nomes nacionais em que se sugeria uma língua portuguesa renovada, ou seja, uma variedade PB. São exemplos o

Vocabulario brasileiro para servir de complemento aos diccionarios da lingua portugueza, de Braz da Costa Rubim, publicado no Rio de Janeiro, em 1856, e o Diccionario da lingua brasileira, de Luiz Maria da Silva Pinto, publicado em Ouro

Preto, em 1832. Os termos vocabulário brasileiro e língua brasileira presentes nos títulos dessas obras demonstram a vontade que os estudiosos dessa época tinham em definir uma identidade linguística para o Brasil pautada na nacionalidade cultural que promovesse o desligamento com Portugal.

Diferentemente de hoje, em que essas palavras de origem indígenas são encontradas em nossos modernos dicionários, cuja nomenclatura é Dicionário da Língua Portuguesa, o que comprova termos uma língua portuguesa de vertente brasileira em que uma das principais diferenças do PE são os vocábulos herdados da língua tupi, algo visto por Alencar e que não foi aceito por outros escritores em sua época, mas que se fazem presentes em nosso cotidiano falado e escrito.

O autor de Iracema não advogou por uma língua brasileira, mas pela liberdade na escrita, em que o escritor brasileiro pudesse se despreender de regras gramaticais e vocábulos que representavam o velho mundo, como deixou registrado no posfácio à segunda edição de seu romance Sonhos d’ouro (1872), texto intitulado Benção paterna:

O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronuncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera? (ALENCAR apud PINTO, 1978, p. 96) (grifo nosso).

Esse trecho do posfácio ilustra bem o juízo crítico do sujeito em relação à língua portuguesa utilizada pelos povos do Brasil e Portugal. Ele interroga seus críticos e adversários políticos ao comparar as possibilidades linguísticas de cada povo em relação à realidade vivida em cada país de origem, Brasil e Portugal. O sujeito utiliza, como exemplo, o nome das frutas nativas de cada país e, por isso, consumidas pelos falantes. Percebemos em nosso grifo que as frutas dos brasileiros recebem nomes das línguas dos povos nativos brasileiros, demonstrando a importância dessas línguas para a identidade do nosso português e, por isso, deveriam ser respeitadas e estudadas como defendia Alencar.

Para demonstrar que suas ideias a respeito da inclusão de novos vocábulos para o léxico da língua portuguesa utilizada no Brasil, contestáveis no século XIX como vimos, são vistas com naturalidade em nossos dias, selecionamos algumas palavras de origem tupi retiradas da obra Iracema e comparamos o seu significado explicado por Alencar em Notas do Autor, fruto de suas pesquisas, com os significados encontrados no dicionário Houaiss (2009), tendo como critério de seleção o vocábulo que simultaneamente está escrito na obra, tem seu significado explicado por Alencar em Notas do Autor e está presente no dicionário Houaiss (2009).

O intuito dessa comparação é mostrar que Alencar atingiu seu objetivo de inovar o léxico da língua escrita no Brasil diferenciando-a da língua escrita em Portugal, fruto de seus ideais políticos de ruptura cultural com a metrópole ao apresentar a floresta brasileira, o habitat natural do indígena, personagem central de sua obra, empregando palavras que os próprios indígenas utilizavam para nomear os lugares, as árvores e os animais que ali viviam. O que comprova que ele alcançou seus objetivos de ruptura cultural por meio do emprego desses vocábulos é que eles estão presentes nos dicionários de língua portuguesa corrente em nosso país no século XXI.

Para tanto, organizamos a comparação em sete grupos diferentes, segundo o campo lexical a que as palavras escolhidas pertencem. Assim, agrupamos os termos em sete quadros: quadro 1, a flora; quadro 2, a fauna; quadro 3, o indígena brasileiro; quadro 4, utensílios e instrumentos musicais; quadro 5, bebida e comida; quadro 6, costumes e, quadro 7, entes sobrenaturais. Nos quadros, transcrevemos o trecho de Iracema em que se encontra o vocábulo dado como exemplo, para em seguida compararmos seu significado segundo Alencar em Notas do Autor com o dicionário Houaiss (2009).

O primeiro e o segundo quadros de palavras pertencem ao campo lexical da flora e da fauna brasileira respectivamente. Indicam o ideal nacionalista de José de Alencar em valorizar as florestas brasileiras e os animais que nela habitam, como era seu anseio e ficou registrado em uma de suas críticas ao épico de Magalhães, que mostramos no segundo capítulo ao tratarmos de Alencar e sua obra.

Quadro 1 – Flora brasileira. Palavra retirada de Iracema (1865) Trecho de Iracema em que se encontra a palavra Significado encontrado em Notas do Autor, de José de Alencar Significado encontrado no dicionário Houaiss (2009) Oitycica (ortografia em 1865); Oiticica (ortografia atual) “Banhava-lhe o corpo a sombra da oitycica, mais fresca do que o orvalho da noite” (ALENCAR, 1865, p. 4-5). “Árvore frondosa, apreciada pela deliciosa frescura que derrama sua sombra” (ALENCAR, 1865, p. 164-165). “Árvore de até 15 m. (Licania rigida) da fam. das crisobalanáceas, nativa do Brasil (PI até BA), de folhas

alternas, flores amarelas em espigas ramosas e frutos drupáceos (...)” (HOUAISS, 2009, p. 1381). Jussara (ortografia em 1865); Juçara (ortografia atual) “(...) as agulhas da Jussara com que

tece a renda”

(ALENCAR, 1865, p. 5).

“Palmeira de

grandes espinhos, das quaes servem- se ainda hoje para dividir os fios da renda” (ALENCAR, 1865, p 165). “Palmeira de até 12 metros nativa do Brasil” (HOUAISS, 2009, p. 1136).

Guabiroba “O mel dos labios de

Iracema é como o favo que a abelha fabrica no tronco da guabiroba”

(ALENCAR, 1865, p. 32).

“Deve ler-se

Andiroba. Arvore que

dá um azeite amargo” (ALENCAR, 1865, p. 172). “ANGIOS design. Comum a diversas árvores e arbustos de frutos comestíveis” (HOUAISS, 2009, p. 993).

Fontes: Alencar (1865); Houaiss (2009).

Ao valorizar a flora brasileira como faz o sujeito em Iracema, temos marcada a oposição Brasil versus Portugal, uma vez que as florestas brasileiras eram o

habitat dos indígenas, como mencionamos. Essa valorização é característica da

estética romântica, em que o homem buscava em seu interior a fuga para a realidade, encontrando no passado heroico um cenário pitoresco e natural para suas obras. Porém, em Iracema, essa característica do romantismo ganha um

status político e de ruptura cultural com a metrópole ao abordar a oposição

colonizado versus colonizador, quando valoriza o ambiente em que vivia o índio, de modo que levou esse tema à discussão entre críticos de ambos os lados.

Quadro 2 – Fauna brasileira. Palavra retirada de Iracema (1865) Trecho de Iracema em que se encontra a palavra Significado encontrado em Notas do Autor, de José de Alencar Significado encontrado no dicionário Houaiss (2009)

Graúna “Iracema, a virgem dos

labios de mel, que tinha os cabellos mais negros que a aza da graúna” (ALENCAR, 1865, p. 4).

“é o pássaro

conhecido de côr

negra luzidia.—Seu

nome vem por

corrupção de guira pássaro e una; abreviação de piceuna, preto” (ALENCAR, 1865, p. 164). “(...) gua’ra ‘ave, ‘guará+’una preto, negro” (HOUAISS, 2009, p. 987). Jaty (ortografia em 1865); jati (ortografia atual)

“O favo da jaty não era

doce como seo

sorriso” (ALENCAR, 1865, p. 4).

“Pequena abelha que fabrica delicioso mel” (ALENCAR, 1865, p. 164).

“Abelha mosquito”

(HOUAISS, 2009, p. 1129).

Gará “Enquanto repousa

empluma das pennas do gará as flechas de seo arco” (ALENCAR, 1865, p. 5).

“Ave palludal, muito conhecida pelo nome de guará. Penso eu que esse nome anda corrompido de sua verdadeira origem que é—ig, água e ará, arara; arara d'agua,

pela bella côr vermelha” (ALENCAR, 1865, p. 165). “ave ciconiforme da fam. tresquiornitídeos (Eudocimus ruber), típica de manguezais da costa atlântica setentrional da América do Sul, encontrada em

bandos, com até 58 cm

de comprimento,

plumagem vermelha” (HOUAISS, 2009, p. 995).

Ará “A graciosa ará, sua

companheira e amiga, brinca junto dela” (ALENCAR, 1865, p. 5).

“Periquito. Os

indígenas como

augmentativo usavão repetir a ultima sillaba da palavra e as vezes toda a palavra — como

murémuré. Muré-

frauta — muremuré, grande frauta. Arara vinha a ser pois o augmentativo de ará, e significaria a espécie maior do gênero” (ALENCAR, 1865, p. 165). “(...) designação geral de aves afins da arara, do tucano do periquito” (HOUAISS, 2009, p. 170).

Boicininga “O irmão de Iracema tem o ouvido subtil que pressente a boicininga entre os rumores, da matta” (ALENCAR, 1865, p. 14). “é a cobra cascavel— de boia, cobra e cininga chocalho” (ALENCAR, 1865, p. 169). “Cascavel (...)” (HOUAISS, 2009, p. 305). Oitibó “(...) e o olhar do “(...) e o oitibó que vê melhor na treva” (ALENCAR, 1865, p. 14).

“é uma ave nocturna, espécie de coruja” (ALENCAR, 1865, P. 169).

“bacural” (HOUAISS, 2009, p. 1581).

Andira (ortografia em

1865); Andirá (ortografia atual)

“O velho Andira, irmão do Pagé, a deixou tombar, e calcou no chão, com o pé agil

ainda e firme”

(ALENCAR, 1865, p. 18).

“morcego: é em

allusão á seu nome que Irapuam dirige

logo palavras de despreso ao velho guerreiro” (ALENCAR, 1865, p. 170). “1. Morcego (...) 3. Indígena pertencente ao grupo dos andirás” (HOUAISS, 2009, p. 130).

Jandaia “A gente tupy a

chamava jandaia,

porque sempre alegre estrugia os campos

com seu canto

fremente” (ALENCAR, 1865, p. 40).

“Este nome que anda escripto por diversas

maneiras nhendaia,

nhandaia e em todas alterado é apenas um adjectivo qualificativo do substantivo ará. Deriva-se elle das palavras nheng—fallar — antan, duro, forte,

áspero, e ara

desinencia verbal que exprime o agente — nh' ant' ara; substituído o t por d — e o r por i, tornou-se nhandaia, donde jandaia, que se traduzirá por periquito grasnador. Do canto desta ave, como se vio, é que vem o nome de Ceará, segundo a ethmologia que lhe dá

a tradição” (ALENCAR, 1865, p.173). “1.2 (...) periquito rei” (HOUAISS, 2009, p.1125).

Inhuma “Foi o canto da inhuma

que accordou o ouvido

de Araken?”

(ALENCAR, 1865, p. 40).

“Ave nocturna

palamedea. A especie de que se falla aqui é a palamedea chavaria,

que canta

regularmente a meia- noite. A orthographia

melhor creio ser

anhuma, talvez de

anho, só, e anum, ave agoureira conhecida.

Significaria então

anum solitario, assim chamado pela tal ou qual semelhança do grito desagradável” (ALENCAR, 1865, p. 173-174). “m.q. Anhuma” (HOUAISS, 2009, p. 1085); “Anhuma: ave anseriforme,

paludícola, da fam. dos anhimídeos”

(HOUAISS, 2009, p. 137).

Fontes: Alencar (1865); Houaiss (2009).

Em relação à fauna, o sujeito expõe na obra vários nomes de pássaros, indicando a liberdade que o homem indígena tinha antes da chegada do europeu

em terras brasileiras. Essa liberdade é mostrada por meio da relação íntima que o