• Nenhum resultado encontrado

DA ASSISTÊNCIA

No documento Sistema prisional (páginas 32-41)

Conforme exposto no art. 10 da Lei de Execução Penal, o Estado tem o dever de dar assistência ao preso e ao internado, para que desta forma possa prevenir o crime e ressocializar o condenado.

Tal assistencialismo tem o objetivo de não discriminar e resguarda a dignidade da pessoa humana, desta forma abrange a todos os presos, sendo ele provisório ou definitivo, e também não poderia ficar de fora os internados. E outro fator importante é a garantia de assistência ao egresso do preso a sociedade, que também é garantido pelo parágrafo único do art. 10 da Lei de Execução Penal.55

3.2.1 Da Assistência Material

A assistência material está prevista no art. 12 da Lei de Execução Penal, garantindo ao condenado o fornecimento de alimentação, roupas e instalações higiênicas.

No entanto, não é só na Lei de Execuções Penais que está previsto essa assistência, ela se encontra também nas regras da ONU, e sobre a alimentação como um fator importante discorre Mirabete:

54

MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de . Manual de Execução Penal: Teoria e Prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 90.

55

Segundo as Regras Mínimas da ONU, todo preso deverá receber da Administração, nas horas usuais, uma alimentação de boa qualidade, bem preparada e servida, cujo valor seja suficiente para a manutenção de sua saúde e de suas forças (nº 20.1). O tema de alimentação nas prisões é de grande importância, não só porque o interno tem direito a uma alimentação sã e suficiente para a sua subsistência normal, podendo ressentir-se sua saúde de sua insuficiência ou baixa qualidade, mas também porque é esse um poderoso fator que pode incidir positiva ou negativamente, conforme o caso, no regime disciplinar dos estabelecimentos penitenciários. Uma boa alimentação não vai fazer um homem que está na prisão, mas evita os motins e, por isso, a alimentação não deve ser descuidada, mas, pelo contrário, escrupulosamente atendida.56

A alimentação, como já dito antes, tem um fator muito importante, pois como serve para atender uma das necessidades básicas do homem não se deve descuidar dessa responsabilidade, para desta forma evitar revoltas e motins.

Contudo, a higiene da cela ou alojamento é obrigação do condenado, o qual deve também conservar os seus objetos de uso pessoal, porém os meios para que o preso possa realizar sua higiene pessoal e do local onde se encontra recolhido tem de ser fornecidos pelo Estado.57

3.2.2 Da Assistência à Saúde

Todo condenado possui direito a assistência à saúde, e esta assistência inclui a médica, odontológica, farmacêutica, preventiva e curativa. Conforme disposto no art. 14 da Lei de Execuções Penais.

No entanto, a realidade fática mostra que os estabelecimentos penais estão despreparados para dar tal assistência, aplicando, em virtude disto, o §2º do art. 14 da Lei de Execuções Penais, que prevê que não falta de preparo do estabelecimento o tratamento se dará em outro local com a autorização da direção do estabelecimento.58

56

MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 66.

57

MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Manual de Execução Penal: Teoria e Prática. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 94.

58

E agravando esta situação a rede pública também não consegue atender tais necessidades de saúde, de acordo com o que expõe Renato Marcão:

Ocorre, entretanto, que também a rede pública, que deveria prestar tais serviços, é carente e não dispõe de condições adequadas para dar atendimento de qualidade mesmo à camada ordeira da população que também necessita de tal assistência estatal.59

Diante de tais argumentos, nota-se o total descaso do Estado com a condição de saúde dos presos, em virtude do despreparo e falta de estrutura dos estabelecimentos prisionais.

3.2.3 Da Assistência Jurídica

A assistência judiciária como o nome já esclarece, é o direito do condenado a ter um advogado para ampará-lo juridicamente, isso ocorre, pois como se sabe a grande massa carcerária de nosso país é formado de pobres, que não possuem condições para contratar um advogado.

Quanto à situação de pobreza dos condenados Mesquita Júnior discorre sobre o tema:

Quando estudamos a assistência material, mencionamos a conclusão do CNPCP no sentido de que 95% dos presos são pobres. Tal conclusão decorreu da constatação de que somente 5% do total dispunha de advogados particulares, enquanto os demais são assistidos por defensores públicos e advogados dativos. Com efeito, a maioria dos condenados são pobres, mas essa realidade decorre naturalmente da péssima situação econômica do povo brasileiro.60

59

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 53.

60

MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de . Manual de Execução Penal: Teoria e Prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 99.

Segundo Manoel Pedro Pimentel, os três princípios básicos da disciplina, dentro dos estabelecimentos prisionais, são as visitas, a alimentação e a assistência judiciária. Dizia o nobre jurista:

Destas três exigências comumente encarecidas pelos sentenciados, a mais importante, parece-nos, é a assistência judiciária. Nenhum preso se conforma com o fato de estar preso e, mesmo quando conformado esteja, anseia pela liberdade. Por isso, a falta de perspectiva de liberdade ou a sufocante sensação de indefinida duração da pena são motivos de inquietação, de intranqüilidade, que sempre se refletem, de algum modo, na disciplina. É importante que o preso sinta ao seu alcance a possibilidade de lançar mão de medidas judiciais capazes de corrigir eventual excesso de pena, ou que possa abreviar os dias de prisão. Para isso, deve o Estado – tendo em vista que a maior parte da população carcerária não dispõe de recursos para contratar advogados - propiciar a defesa dos presos.61

Dentro do que pensa o doutrinar que acima expôs seus ensinamentos, percebe-se que, para o preso, a assistência jurídica seja mais importante do que todas as outras, pois o que mais anseia qualquer condenado é recuperar a sua liberdade, tendo na assistência judiciária o amparo necessário para abreviar seu tempo de cárcere, assim como a informação sobre o que se procede com o seu processo.

3.2.4 Da Assistência Educacional

A educação é um direito de todos, inclusive dentro da prisão. No entanto, isso não é uma realidade perante a comunidade internacional de educação, mesmo quando iniciativas são tomadas, quem trabalha para criação de atividades educacionais dentro das instituições penitenciarias são organizações não-governamentais e alguns governos.62

E ainda, como agravante desta situação, a grande maioria dos condenados possui um nível de educação abaixo da média nacional, Mayer concorda com este fato em seus dizeres: “E podemos dizer que aqueles que estão na prisão são pobres, são economicamente

61

PIMENTEL apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 73.

62

MAYER, Marc. Na prisão existe a perspectiva da educação ao longo da vida? Alfabetização e Cidadania. Revista de Educação de Jovens e Adultos. N. 19. Brasília, 2006, p. 21.

pobres e freqüentemente (auto) excluídos da escola formal ou nunca tiveram oportunidade de acesso a ela”.63

Apesar da realidade não conseguir atingi-los, os objetivos da assistência a educação teriam uma relevância muito grande na ressocialização do preso, como se observa na explicação de Renato Marcão:

A assistência educacional tem por escopo proporcionar ao executado melhores condições de readaptação social, preparando-o para o retorno à vida em liberdade de maneira mais ajustada, conhecendo ou aprimorando certos valores de interesse comum. É inegável, ainda, sua influência positiva na manutenção da disciplina do estabelecimento prisional.64

3.2.5 Da Assistência Social

A Lei de Execução Penal trata da Assistência Social e chama a atenção para os profissionais dessa área que devem manter uma postura crítica, uma vez que nesse ambiente atuarão em busca de condições carcerárias que dêem aos presos, dignidade, respeito aos direitos humanos e dando condições para que cumpram sua pena tendo seus direitos e deveres preservados, para que futuramente reintegrem-se à sociedade mantendo seus vínculos familiares. E também, promover discussões sobre uma consciência política e por condições sociais mais justas para todos.

E ainda, para salientar a importância de tal assistência observemos os ensinamentos de Mirabete:

Verifica-se a grande importância da figura do assistente social no processo de reinserção social do condenado, já que a ele cabe procurar estabelecer a comunicação entre o preso e a sociedade da qual se encontra temporariamente afastado. Os meios para que essa comunicação seja estabelecida estão previstos no art. 23 da Lei de Execuções Penal.65

63

MAYER, Marc. Na prisão existe a perspectiva da educação ao longo da vida? Alfabetização e Cidadania. Revista de Educação de Jovens e Adultos. N. 19. Brasília, 2006, p. 21.

64

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 56.

65

De tal modo, nota-se a grande responsabilidade da assistência social ao preso, buscando tornar menos sofrido o cumprimento da sanção penal e contribuindo para a reintegração do condenado a sociedade.

3.2.6 Da Assistência Religiosa

Os condenados possuem direito a exercer sua religião dentro dos estabelecimentos penais, respeitando as regras estabelecidas pela Lei de Execução Penal, e esta, assim como as outras, também tem sua importância.

Sobre a assistência religiosa ensina Mirabete:

Na atualidade, a assistência religiosa no mundo prisional não ocupa lugar preferencial nem é ponto central dos sistemas penitenciários, tendo-se adaptado às circunstâncias de nossos tempos. Não se pode desconhecer, entretanto, a importância da religião como um dos fatores da educação integral das pessoas que se encontram interessadas em um estabelecimento penitenciário, razão pela qual a assistência religiosa é prevista nas legislações mais modernas. Em pesquisa efetuada nos diversos institutos penais subordinados à Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo por um grupo de trabalho instituído pelo então Secretário Manoel Pedro Pimentel, conclui-se que a religião tem, comprovadamente, influência altamente benéfica no comportamento do homem encarcerado e é a única variável que contém em si mesma, em potencial, a faculdade de transformar o homem encarcerado ou livre.66

Contudo, algumas autoridades mostram certa resistência em aceitar esse tipo de assistência dentro dos estabelecimentos penais, conforme expõe Rogério Greco:

Algumas autoridades têm certa resistência em permitir a assistência religiosa, sob o falso argumento de que a segurança daqueles que iriam pregar a palavra de Deus dentro dos estabelecimentos carcerários correria risco. Motins e rebeliões podem acontecer a qualquer momento, sabemos disso. Não só o pregador corre risco,como

66

também os amigos e parentes dos presos que vão visitá-los nos dias permitidos. Mas, embora sem o apoio do Estado, esse trabalho não pode cessar.67

Mais o diante do que Rogério Greco disse acima, nota-se que tal preocupação com a segurança só se da quanto aos que vão pregar a palavra e não aos parentes e visitantes.

3.3 DO TRABALHO DO CONDENADO

O trabalho dentro dos estabelecimentos prisionais já foi abordado inicialmente quando analisamos os diretos dos presos, contudo agora retomaremos esse assunto com o foco voltado para a Execução Penal.

O trabalho para o preso pode se dividir em duas espécies: o trabalho interno (dentro do estabelecimento penal) e o trabalho externo (fora do estabelecimento penal), os quais serão analisados a seguir.

3.3.1 Do Trabalho Interno

No que diz respeito ao trabalho realizado dentro dos estabelecimentos penais, devem ser respeitadas as aptidões, idade, habilidade, condição pessoal, capacidade e necessidades futuras dos condenados quando exercerem alguma atividade laboral, tendo como observação importante a faculdade desses para os presos provisórios, diante do princípio da inocência.68

Quanto à jornada de trabalho que poderá realizar o preso Renato Marcão assim ensina:

A jornada normal de trabalho não será inferior a seis, nem superior a oito horas, com descanso nos domingos e feriados, podendo ser atribuído horário especial de

67

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 7. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 555.

68

trabalho aos presos designados para serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal (art. 33 da LEP), tais como os que desempenham atividades de “faxina”, na administração, em enfermarias etc.69

Contudo, para Mesquita Júnior, os presídios não estão aparelhados de maneira correta para garantir a eficácia da lei e a grande maioria dos presos não possui classificação para o trabalho, estando desta forma fragilizado o direito do condenado ao trabalho, que tem como objetivo a sua reintegração social.70

3.3.2 Do Trabalho Externo

Quanto ao trabalho externo Mesquita Júnior explica o seguinte:

A LEP preceitua que o trabalho externo é admissível para o condenado que se encontra no regime fechado, enquanto o CP estabelece que o trabalho externo é admissível aos condenados que se encontrarem nos regimes fechado e semi-aberto. A noção de trabalho externo, ou atividade externa, não importa unicamente no trabalho no meio social em obras privadas, mas apenas a atividade laboral extramuros, ou seja, a mesma poderá ocorrer em estabelecimentos públicos.71

Nota-se que o trabalho externo é possível tanto na esfera privada como na pública, e também que pode ser aplicada tanto no regime fechado como no semi-aberto, desde que se trate de atividade laboral.

Outra observação importante sobre o trabalho externo é a aceitação do condenado em realizar o trabalho, conforme demonstra Mirabete:

Ao contrario do que ocorre no trabalho interno, a prestação pelo preso, quando se trata de empresa privada que realiza obra pública, depende do consentimento do

69

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 61 - 62.

70

MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de . Manual de Execução Penal: Teoria e Prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 115.

71

MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Manual de Execução Penal: Teoria e Prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 116.

condenado (Art. 36, §3º). Evita-se que o preso se veja obrigado ao trabalho para entidade que tem precipuamente o intuito de lucro, com a utilização inclusive do trabalho prisional, o que poderia ser visto por ele como tendo sentido de exploração econômica. A concordância do preso para este trabalho e para empresa privada elimina, ao menos em parte, essa característica em relação ao preso que o aceita.72

Além da vontade do preso em trabalhar, também é necessária uma autorização e esta pode ser revogada a qualquer momento, Renato Marcão comenta sobre isto em seus dizeres: “concedido o benefício, se o preso praticar fato definido como crime ou for punido com falta grave, ou, ainda, se faltar com o dever de disciplina e responsabilidade, será revogada a autorização de trabalho externo”.73

72

MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 107.

73

4 SISTEMA PRISIONAL: RESSOCIALIZAÇÃO OU ESCOLA DO CRIME

A prisão, hoje em dia, tornou-se um mal necessário à nossa sociedade, diante de sua evolução histórica ao invés de se extinguir ela se modificou, frente a tantas mudanças, criou-se um descrédito na pena de prisão, visto que em apenas dois séculos se constatou a sua falência em relação às medidas preventivas e retributivas. Outro fato relevante constatado foi o de que a prisão reforça os valores negativos dos detentos, motivo pelo qual, atualmente, luta-se contra penas de curta duração. 74

No documento Sistema prisional (páginas 32-41)

Documentos relacionados