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DO ESTIGMA ATRIBUIDO AOS CONDENADOS

No documento Sistema prisional (páginas 52-58)

Como vimos a pena de prisão não é muito eficaz na ressocialização dos condenados, e quando o preso cumpre sua pena e quer levar uma vida social sem delinquir, ele se depara com uma sequela deixada pela prisão, o estigma de ex-detento.

Quanto a esse estigma, Molina diz o seguinte:

A pena não ressocializa, mas estigmatiza não limpa, mas macula, como tantas vezes se tem lembrado aos expiacionistas; que é mais difícil ressocializar a uma pessoa que sofreu uma pena do que outra que não teve essa amarga experiência; que a sociedade não pergunta por que uma pessoa esteve em uma prisão, mas tão somente se lá esteve ou não.99

Inegavelmente, depois de cumprida a pena, o estigma da prisão se prende ao condenado, acompanhado-o e isolando-o durante sua vida. Não há quase oportunidades de emprego para um ex-detento, ainda mais na economia competitiva. Quanto mais tempo permanecerem encarcerados, mais distante do convívio social os condenados ficarão.100

O estigma que leva o ex-detento é tão forte que, muitas vezes, ele mesmo se sente abaixo do resto da sociedade, se sub-julgando e se auto-intitulando como marginalizado, motivo este que geralmente o leva a reincidir.

Goffman ensina sobre o assunto:

Tende a ter as mesmas crenças que os “normais”, podendo confundir-se sobre a sua normalidade, pois os padrões que ele incorporou da sociedade maior tornam-no intimamente suscetível aos que os outros vêem como seu defeito, levando-o inevitavelmente, mesmo que em alguns poucos momentos, a concordar que, na verdade, ele ficou abaixo do que realmente deveria ser. 101

99

MOLINA apud BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas Penas Alternativas. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 5-4.

100

CARVALHO FILHO, Luís Francisco. A prisão. São Paulo: Publifolha. 2002, p.70-71.

101 GOFFMAN apud BISSOLI FILHO, Francisco. Estigmas da criminalização: dos antecedentes à reincidência

Enquanto o povo continuar a lembrar, ou enquanto existir a expressão “ex- presidiário”, na frente de qualquer qualidade do egresso, por mais excelente que está seja, continuará a ser visto como um condenado socialmente, não tendo qualquer condição que favoreça à sua reinserção social. 102

102

SÁ, Matilde Maria Gonçalves de. O egresso do sistema prisional no Brasil. São Paulo: Paulistanajur, 2004, p. 50.

5 CONCLUSÃO

Após a realização da pesquisa, com a análise das informações obtidas, através de leituras, análise de números e tabelas chegou-se as seguintes conclusões apresentadas a seguir.

O problema da criminalidade vem aumentando a cada dia e as providências tomadas até o momento se mostraram ineficazes para a diminuição da mesma.

É preciso compreender os fatores externos que determinam este alto número de infrações, conseqüentemente a lotação do sistema carcerário, bem como o número de reincidentes na prática criminosa.

A precariedade do sistema carcerário, com a superlotação em todos os presídios do Brasil dificulta ações concretas, no sentido de introduzir um novo modelo de sistema prisional, onde haja a ocupação integral do tempo do detento em funções como: artesanato, marcenaria, carpintaria, panificação entre outros, profissionalizando este detento, capacitando para o mercado de trabalho, com oportunidades iguais aos que estão no mercado de trabalho atual.

Outro caminho necessário é a escolarização, visto que o número de detentos sem escolaridade é enorme, dificultando sua capacitação.

Fica evidente que como está, atualmente, o sistema prisional do país, não há muitas perspectivas de recuperação e ressocialização do detento.

Políticas públicas e o envolvimento da sociedade são necessários para a promoção de mudanças no sistema vigente, pois só através de trabalho laboral, associação á educação e conscientização da possibilidade de mudança é o que a situação poderá ser revertida.

Uma outra questão muito importante a ser levada em conta, é da função de ressocialização da pena de prisão, ponderando-se que a eficácia tão falada não se constata por vários problemas, como a superlotação, a falta de assistência, dentre outras. Com isso nem o mercado de trabalho absorve os ex-apenados nem os números de reincidências diminuíram.

Pela negligencia do Estado, estamos frente a um sistema deficiente, que não resolve os principais problemas da sociedade atual: a criminalidade.

Não observando as considerações críticas relacionados ao próprio conceito de “ressocialização”, é impossível segregar pessoas e obter sua reintrodução à sociedade, numa lógica parodoxa de enclausurar para reintegrar.

Todo um processo re-educacional deve resultar em ressocialização. E como todo fim, é preciso que o Estado ofereça condições para uma mudança de comportamento. A assistência religiosa, a assistência educacional, a assistência familiar, a assistência da comunidade ajudam a criar na mente do apenado, novos ideais quanto a profissão, existência e até de vida, que ajudam na transformação do comportamento. No entanto, é preciso que condições mínimas sejam oferecidas para isso, iniciando por melhores aplicação e gerenciamento das verbas para estes fins destinadas.

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No documento Sistema prisional (páginas 52-58)

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