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DA CRISE DA PENA DE PRISÃO

No documento Sistema prisional (páginas 41-44)

A pena de prisão trouxe esperança para a sociedade quanto à eficácia de seus objetivos, que durou por vários anos. No entanto, atualmente tal otimismo desapareceu, dando lugar a uma atitude pessimista, a qual não possui esperança sobre os resultados que se podem conseguir com a prisão tradicional. Cezar Roberto Bitencourt traz claramente tal situação em sua doutrina:

Quando a prisão converteu-se na principal resposta penológica, especialmente a partir do século XIX, acreditou-se que poderia ser um meio adequado para conseguir a reforma do delinqüente. Durante muitos anos imperou um ambiente otimista, predominando a firme convicção de que a prisão poderia ser meio idônea para realizar todas as finalidades da pena e que, dentro de certas condições, seria possível reabilitar o delinqüente. Esse otimismo inicial desapareceu e atualmente predomina certa atitude pessimista, que já não tem muitas esperanças sobre os resultados que se possam conseguir com a prisão tradicional. A crítica tem sido tão persistente que se pode afirmar, sem exagero, que a prisão está em crise. Essa crise abrange também o objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade, visto que grande parte das críticas e questionamentos que se faz à prisão refere-se à impossibilidade – absoluta ou relativa – de obter algum efeito positivo sobre o apenado. 75

74

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência das Penas de Prisão: Causas e Alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 1-2.

75

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência das Penas de Prisão: Causas e Alternativas. 2. ed. São Paulo: Saraiva,, 2001, p. 154.

Como já citado acima por Bitencourt, atualmente paira um pensamento pessimista sobre a pena de prisão, em virtude desta não atingir seu objetivo da forma como vem sendo aplicada.

Shecaira e Corrêa Junior trazem o seguinte sobre a crise na pena de prisão:

Essa crise advém de um pessimismo e até certo descrédito na possibilidade de efetivação do objetivo ressocializador da prisão. Considera-se o ambiente carcerário, em virtude de sua antítese com a comunidade livre, um obstáculo natural à persecução de resultados positivos em relação ao condenado. Chega-se, inclusive, a posições radicais que afirmam a inutilidade das reformas na pena privativa de liberdade, já que suas contradições e paradoxos fundamentais hão de permanecer. 76

Diante do que foi dito, chega-se a um entendimento de que a pena de prisão não consegue atingir seus objetivos, pois o ambiente carcerário onde os condenados cumprem as suas penas acaba se tornando um obstáculo, isso ocorre pelas más condições e o descaso das autoridades quanto a esses estabelecimentos, chegando à conclusão de que as reformas penais não conseguiram adequar às penas, uma vez que a própria pena de prisão se contradiz com seus objetivos.

4.1.1 Dos Efeitos Criminógenos da Prisão

Quando tratamos da crise da pena privativa de liberdade, devemos voltar as atenções ao efeito criminógeno que a prisão causa aos condenados. Grande parte dos estudiosos afirma que o cárcere, em vez de ressocializar os presos, deixa-os mais propensos a voltar à criminalidade.

Bitencourt assim entende:

Um dos argumentos que mais se mencionam quando se fala na falência da prisão é o seu efeito criminógeno. Muitos autores sutentam essa tese, que, aliás, já havia sido defendida pelos positivistas e que se revitalizou no II Congresso Internacional de Criminologia (Paris, 1950). Considera-se que a prisão, em vez de frear a

76

SHECARIA, Sérgio Salomão; CORRÊA JUNIOR, Alceu. Teoria da Pena. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 157.

delinqüência, parece estimulá-la, convertendo-se em instrumento que oportuniza toda espécie de desumanidade. Não traz nenhum benefício ao apenado; ao contrário, possibilita toda a sorte de vícios e degradações. 77

Devido ao fator criminógeno das prisões, elas acabam por se tornar verdadeiras escolas do crime, vêem isso nessa citação de Hibber:

Fui enviado a uma instituição para jovens com a idade de 15 anos e saí dali com 16 convertidos em um bom ladrão de bolsos - confessou um criminoso. Aos 16, fui enviado a um reformatório como batedor de carteiras e saí como ladrão. Como ladrão, fui enviado a uma instituição total onde adquiri todas as características de um delinqüente profissional, praticando desde então todo tipo de delitos que praticam os criminosos e fico esperando que a minha vida acabe como a de um criminoso. 78

Esse trecho citado acima mostra a realidade de nossa sociedade, onde a pena privativa de liberdade não passa de um curso de especialização para criminosos, onde a cada vez que passam pelos estabelecimentos penais saem com mais experiências e novas técnicas para a prática de delitos.

Segundo Bitencourt, classificam-se em três espécies de fatores que imprimem ao condenado um caráter criminógeno, sendo eles o material, o psicológico e o social.

Quanto ao fator material, as péssimas condições da prisão propiciam nefasto efeito sobre a saúde dos condenados, facilitando o surgimento de diversas doenças, tendo como uma das mais comuns a tuberculose. Ademais, a distribuição do tempo feita de maneira errada, produz inegáveis danos às condições físico-psíquicas dos internos.

Já sobre o fator psicológico, por sua vez, está no fato de que a prisão, por sua própria essência, é um local onde a dissimulação e a mentira é rotineira, criando desta forma uma astúcia automática com o costume de mentir. Facilitando a aparição de uma consciência coletiva que supõe a estruturação do amadurecimento do criminoso.

E por último o fator social, é neste que está a principal deficiência do cárcere. Isso pois, não é admissível o fato de tentar ressocializar o condenado lhe retirando da vida social, ou seja, a retirada de uma pessoa do meio social onde vive ocasiona uma marca tão profunda que resulta na dificuldade em conseguir a reinserção social deste indivíduo.79

77

BITENCOURT, CEZAR ROBERTO. Falência das Penas de Prisão: Causas e Alternativas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 157.

78

HIBBER apud BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência das Penas de Prisão: Causas e Alternativas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 158.

79

BITENCOURT, CEZAR ROBERTO. Falência das Penas de Prisão: Causas e Alternativas. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 158-159.

No documento Sistema prisional (páginas 41-44)

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