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Da Superlotação Erro! Indicador não definido.

No documento Sistema prisional (páginas 44-51)

4.2 DA FALÊNCIA DO SITEMA PRISIONAL

4.2.1 Da Superlotação Erro! Indicador não definido.

A superlotação carcerária é um problema muito comum e que já existe há muito tempo. Para Thompson, a capacidade populacional carcerária extrapola o permitido na maioria das vezes. Ainda sustenta que, onde o ideal é cinco camas por alojamento, utilizam-se beliches e o número de presos alojados é aumentado para doze, ou para vinte e seis, quando todos os mobiliários são retirados e em seu lugar utilizado um estrado inteiro, sistema utilizado no Presídio de Água Santa, no Estado do Rio de Janeiro. Outra situação é a que ocorria no antigo “Galpão”, hoje Instituto Presídio Evaristo de Morais com capacidade para cinqüenta alojamentos, com dez presos em cada um, passou a abrigar mil e quinhentas ou duas mil pessoas, em razão das autoridades terem cercado a área com arame farpado, fazendo com que os residentes se amontoassem, dormindo no chão puro. 81

Com isso notamos que a superpopulação carcerária é um grave problema que leva a muitos outros, além de prejudicar a ressocialização dos condenados, e quanto a isso Lima relata o seguinte:

A superlotação é talvez o mais grave e crônico problema que amargura o sistema prisional brasileiro. Há mais de uma década, autoridades prisionais do Brasil estimaram que o país necessitasse de 50.934 novas vagas para acomodar a população carcerária existente. Desde então, embora alguns esforços tenham sido realizados para resolver o problema, a disparidade entre a capacidade instalada e o

80

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência das Penas de Prisão: Causas e Alternativas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 157.

81

número atual de presos tem apenas aumentado. Até o ano de 1997, com crescimento do número de presos, o déficit na capacidade instalada dos presídios era oficialmente estimada em 96.010. Em outras palavras, para cada vaga nos presídios, havia 2,3 presos.

A capacidade real de uma prisão é difícil de ser objetivamente estimada e, como resultado disso, é fácil de ser manipulada. [...] Como todos os administradores prisionais sabem, prisões superlotadas são extremamente perigosas: aumentam as tensões, elevando a violência entre os presos, estimulam tentativas de fuga e ataques aos guardas. Não é surpresa que uma parcela dos incidentes de rebeliões, greves de fome e outras formas de protesto nos estabelecimentos prisionais do país sejam diretamente atribuídos à superlotação.82

Diante disto, nota-se que a superlotação é um problema comum e muito prejudicial ao sistema, vez que pode ocasionar motins e rebeliões, que muitas vezes resultam em fugas.

4.2.2 Da Falta de Pessoal e Profissionais Preparados

Outro grave fator é a falta dos profissionais e de preparo para aqueles que são designados a dar assistência aos presos, como por exemplo: os agentes prisionais, médicos, assistentes sociais entre vários outros que trabalham ou deveriam estar trabalhando junto aos detentos.

Sobre o assunto, ensina Goulart:

Modernamente, não subsiste qualquer dúvida de que os funcionários dos estabelecimentos prisionais podem ser agentes muito eficazes na reeducação dos condenados, pela estreita convivência que com eles mantém, e se acreditarmos nisso chegaremos à conclusão que nem os programas mais elaborados, nem os estabelecimentos mais perfeitos, poderão obter essa reforma sem um pessoal devidamente preparado. 83

No entanto, sobre o panorama brasileiro, Goulart diz o seguinte:

82

LIMA, FABIO BASTOS. Realidade Prisional Gaúcha. Ensino Jurídico e Realidade Prisional: impressões dos acadêmicos de Direito do UniRitter sobre presídios gaúchos. Porto Alegre: UniRitter, 2005, p.36-37.

83

A preparação do pessoal encarregado das prisões [...] é setor dos mais importantes, não mereceu ainda, no campo brasileiro, a atenção que se faz mister. Não contamos com centros de formação ou seleção, quer no plano federal, quer no estadual, para especialização ou profissionalização do pessoal de que tanto necessitamos.84

Complementado tal pensamento, dentro do entendimento de Thompson, o fracasso dos estabelecimentos prisionais, em qualquer lugar do mundo, quanto à ressocialização do condenado, acontece em virtude do número deficiente de profissionais (médicos, psicólogos, educadores, assistentes sociais) e o despreparo dos guardas, pois é dada mais importância à segurança e disciplina do estabelecimento do que ajudar ao preso a se reabilitar.85

4.3 DA RESSOCIALIZAÇÃO E DA REINCIDÊNCIA

Não passa de ilusão de o legislador crer que a pena é um meio de neutralizar a atividade criminosa e que possibilita a ressocialização e o retorno do delinqüente à sociedade. A realidade apresenta um índice de 75% de reincidência dos presos, e prova que a intimidação da pena não é a mais adequada. 86

A eficácia da ressocialização só será alcançada quando o controle da atividade administrativa ocorrer comissivamente pelo Poder Judiciário, cobrando do Poder Executivo o respeito à dignidade dos presos, suprindo suas carências e respeitando sua individualidade.87

84

GOULART, Henny. Penologia I. São Paulo: Editora Brasileira de Direitos, 1975, p. 140.

85

THOMPSON, Augusto. A Questão Penitenciária. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 17.

86

FARIAS JUNIOR, João. Manual de Criminologia, Rio de Janeiro: Empresa editora Carioca [s/d] p.233.

87

4.3.1 Da Dificuldade de Retorno do Condenado a Sociedade

Vários são os fatores que dificultam o retorno do condenado à sociedade, como por exemplo, o medo de voltar a delinqüir, o receio de ser tratado como criminoso, a dificuldade de se relacionar com as pessoas da sociedade, devido ao tempo que permaneceu enclausurado, entre outros temores que juntamente a falta de orientação dos estabelecimentos prisionais, resulta na dificuldade de inserção social.

E, nesse sentido, entende Falconi:

Inquestionável que se vive, nesta quadra do tempo, uma situação ímpar, onde homens julgam homens, olvidando, entretanto, que, apesar dos crimes que estes hajam praticado, são pessoas humanas. Se quisermos a reinserção social desse contingente humano, ou pelo menos de parte dele, teremos que, como primeira e principal providência, devolver-lhe o respeito que lhe tem sido subtraído. Falta-se- lhe com o respeito sob todas as formas e de todos os matrizes. 88

Contudo, Bitencourt defende que a responsabilidade para reintegrar o preso a sociedade, não deve ser apenas das disciplinas penais, mas também da sociedade, através de programas sociais com o objetivo ressocializador, assim como a assistência da família, da escola, da igreja entre outros que podem ajudar. Sendo assim, percebe-se que a reinserção social do condenado transcende os aspectos puramente penais e penitenciários. 89

4.3.2 Do Retorno à Criminalidade

Muitos fatores influenciam a reincidência, sendo um deles a já citada dificuldade da reinserção social, assim como, a falta de estrutura da família, o descaso do Estado no regresso do detento. Todos estes fatores e muitos outros não citados têm sua parcela de responsabilidade na volta da prática delituosa pelos condenados.

88

FALCONI, Romeu. Sistema presidial: reinserção social. São Paulo: Ícone, 1998, p.105.

89

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 10. Ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 157.

Newton Fernandes e Valter Fernandes relatam a nossa realidade:

Apenas servem, essas prisões, para que novos crimes sejam ali aprendidos, planejados para o futuro e arquitetados, quase á perfeição, face ás experiências trocadas pelos colégio de marginais, dos mais diferentes crimes, que sem nenhuma racionalização são agrupados em expiação a seus delitos. A cadeia, então, ao invés de instrumento de custódia para recuperação de presos, passa a ser verdadeira escola de graduação e, não raro, pós-graduação, para o cometimento de toda espécie de delituosidade.90

Diante de nossa realidade, da até para pensar que as prisões não servem para ressocializar ou corrigir os condenados, mas sim como uma verdadeira escola do crime, onde os criminosos passam um período de suas vidas, enclausurados, aprendendo novos delitos e tramando novos crimes, para ao retornar à sociedade colocá-los em prática.

Seguindo este pensamento, Oliveira frisa:

O desejado sentido ressocializador da pena, na verdade, configura fantástico discurso retórico para manter o sistema, o que traduz, na realidade, um evidente malogro, desperdício de tempo para o preso e gasto inútil para o Estado, que retira da sociedade um indivíduo por apresentar comportamento desviante e o transforma num irrecuperável, pois a reincidência atinge ao alarmante índice de mais de 70% no país, e mais de 80% no mundo. Daí dizer-se, a prisão fabrica o reincidente. O preso primário de hoje será o reincidente de amanhã, fechando-se o circulo irreversível da prisão, que tem como conseqüência o custo do delinqüente em si e da delinqüência que produz. 91

De acordo com Oliveira, a prisão é uma fabrica de reincidentes, pois os presos primários se transformarão em reincidentes, formando assim um circulo vicioso, onde a prisão serve apenas como um meio de passagem e de aliciamento para o delinqüente.

Ainda, os presos que cumprem pena privativa de liberdade acabam perdendo os seus vínculos com o mundo exterior, adaptando-se à vida dentro do sistema prisional. E quando ganham a liberdade, sentem-se como se estivessem fora de seu mundo e, em virtude disso, voltam a reincidir.

Nesse sentido, entende Siqueira:

90

FERNANDES, Newton, FERNANDES Valter. Criminologia integrada. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 82.

Ao sair do cárcere, após o cumprimento de uma pena mais ou menos longa, o sentenciado nada mais tem em comum com o mundo que se o segregou: seus valores não são idênticos, como diversas são suas aspirações, os seus interesses e objetivos. A volta a prisão funciona como retorno ao lar, e assim se perpetua o entra e sai da cadeia.92

Por fim, vê-se que a grande maioria dos presos voltam a praticar crimes, por vários motivos, seja pela falta de amparo social, seja pelas condições precárias em que vivem, ou até mesmo por não conhecerem outra forma de vida, tendo no mundo do cárcere e da criminalidade como sua realidade fática. Mas, em um ponto os doutrinadores citados concordam, que a pena privativa de liberdade, grande parte das vezes, não impedem os condenados de reincidirem quando retornam ao convívio social.

4.4 DO DESCASO DO ESTADO

O descaso com a falta da prestação dos direitos básicos dos presos, as situações negligentes a que são submetidos, indicam que estes são totalmente esquecidos pelos nossos governantes e legisladores.

Em relação a este fato, FALCONI é bastante critico:

Entre nós, ninguém está verdadeiramente preocupado com a reeducação, ou com qualquer outra atividade que diga respeito à reinserção do condenado. Apenas estão preocupado, ou dizem que estão, em aumentar o número de prisões, na elaboração de leis cada vez mais virulentas e arrestos humanos cada vez maiores.93

Ao retirar a liberdade daquele que cometeu um crime, o Estado também recebe a responsabilidade por este, que não pode mais suprir suas necessidades básicas sozinho. Desta forma, o Estado assume a custódia do preso e também o dever de atender as necessidades deste, no entanto, o que acontece não é isso, o Estado retira a liberdade do condenado e o

92

SIQUEIRA, Jailson Rocha. O Trabalho e a Assistência Social na Reintegração do Preso à Sociedade. Revista Serviço Social & Sociedade, n. 53, ano XVIII, Mar. 1997. Ed. Cortez, p. 69.

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deixa sem amparo, pois não cumpri as leis e conseqüentemente não assegura a sua dignidade humana.

Nesse sentido, entende NUCCI:

Naturalmente, quando o Poder Executivo deixa de cumprir a lei, não assegurando ao preso a dignidade merecida como pessoa humana, largando-o em situação deplorável, colocando em celas insalubres, superlotadas e sem condições mínimas de sobrevivência, está arranhando preceito constitucional, que prevê o respeito à integridade física e moral do preso (art.5º, XLIX, CF), além do que é nitidamente cruel essa forma de reprimenda (art. 5º, XLVII, “e”,CF).94

O Estado demonstra apenas o interesse em construir mais estabelecimentos prisionais, para comportar o excessivo numero de presos, tal atitude soluciona apenas temporariamente o fator da superlotação, pois quando a Lei não é aplicada efetivamente não há como se almejar a tão procurada ressocialização.

Vejamos o que Teles diz sobre o assunto:

A história de nosso sistema penitenciário é essa, avançada na legislação, atrasada na prática. Cresce o país, a população, desenvolvem-se as cidades, a economia galga estágios de desenvolvimento, as péssimas condições de vida da maior parte do povo se agravam, aumentam a miséria e a fome, com elas a criminalidade, constroem-se penitenciárias e quantidade e qualidade insuficientes para atender à demanda, não restando ao legislador senão apresentar novas e modernas soluções, especialmente diante do descaso do Poder Executivo em todos os níveis. 95

Diante disto, não há como exigir comportamentos não discriminadores em relação aos apenados da sociedade, pois os próprios legisladores não se importam com a situação do sistema prisional, ignorando os problemas visíveis e sem oferecer nenhuma solução.

94

NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da pena. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 270-271.

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No documento Sistema prisional (páginas 44-51)

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