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DA FUNÇÃO COMPENSATÓRIA

CAPÍTULO 3 – FUNÇÃO SOCIAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL

3.2. DA FUNÇÃO COMPENSATÓRIA

Etimologicamente, a palavra compensar (do latim, compensare) significa

contrabalançar, equilibrar, ou ainda, “reparar o dano, o incômodo, etc., resultante de;

contrabalançar, contrapesar".65

Dessa forma, o chamado efeito compensatório revela não uma pretensão propriamente ressarcitória no sentido de se recompor ao estado originário tudo aquilo que a vítima perdeu (em termos patrimoniais), mas sim, proporcionar-lhe uma forma de satisfação que possa amenizar suas perdas e suas dores em razão da ocorrência da conduta danosa.

Por esse motivo, a compensação se vincula propriamente aos danos de caráter não patrimonial que, por sua abstração e subjetividade, não permitem uma reparação no sentido de recomposição ao status quo ante, ou seja, ao estado anterior, como se o dano nunca tivesse existido.

Sob esse aspecto, a função compensatória busca “satisfazer”, de alguma forma aqueles sujeitos que tiveram o seu núcleo do “ser como pessoa” atingido, isto é, ofensa à

sua esfera extrapatrimonial.

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CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 44.

65

Assim, a responsabilidade civil, por intermédio de sua função compensatória, busca viabilizar à vítima, que sofreu um dano subjetivo, alguma forma de satisfação idônea a compensar o mal sofrido.

Como afirma Clayton REIS:

“(...) o efeito compensatório não possui função de reparação no sentido lato da palavra, mas apenas e tão-somente de conferir à vítima um estado d‟alma que lhe outorgue a sensação de um retorno do seu animus ferido á situação, à semelhança do que ocorre no caso de ressarcimento dos danos patrimoniais. é patente que a sensação aflitiva vivenciada pela vítima, decorrente das lesões sofridas, não se recompõe mediante o pagamento de uma determinada indenização, mas apenas sofre um efeito de mera compensação ou satisfação.”

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Saliente-se que a compensação a ser fixada pelos danos extrapatrimoniais deve ser adequada e compatível com as dores sofridas pela vítima, à semelhança dos danos patrimoniais.

No entanto, como antes verificado, diferentemente do que ocorre no campo dos danos extrapatrimoniais, nos danos patrimoniais a equivalência entre o prejuízo e a indenização é aferível sem maiores problemas, na medida em que os bens materiais são suscetíveis de recomposição ao seu estado originário e, ainda assim, caso não seja possível a recomposição in natura, sempre será viável determinar-se o seu equivalente pecuniário.

Desse modo, conclui-se que a função compensatória, não obstante as dificuldades em se determinar uma adequada satisfação à vítima que corresponda ao dano sofrido, atende o objetivo estabelecido pelo legislador para o direito da responsabilidade civil no sentido de que se viabilize a restauração do equilíbrio jurídico rompido pelo cometimento do dano.

3.2.1. A Função Compensatória e o Princípio da Equivalência

O princípio da equivalência está consagrado em nosso ordenamento no art. 944 do

Código Civil, segundo o qual “a indenização mede-se pela extensão do dano”. Neste sentido, “indenizar significa tornar indene a vítima, reparar todo o dano por ela sofrido. Por

isso, mede-se a indenização pela extensão do dano, ou seja, há de corresponder a tudo

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aquilo que a vítima perdeu, ao que razoavelmente deixou de ganhar e, ainda, ao dano

moral”.67

A restauração integral daquilo que se perdeu é um dos principais motivos (senão o principal) do processo reparatório, propiciando à vítima a plena satisfação em razão da conduta lesiva.

Nada obstante o fim almejado no sentido de uma reparação integral, em se tratando de danos extrapatrimoniais, os critérios de aferição do prejuízo causado pelo dano são reconhecidamente diversos daqueles estabelecidos no âmbito dos danos patrimoniais.

Para a aferição dos prejuízos de ordem patrimonial “a medição da extensão do

prejuízo se faz de forma técnica, ou seja, mediante a utilização de padrões de medida, peso, qualidade do produto, valor usual no comércio, dimensões e outros de natureza

científica”.68

Assim, o princípio da equivalência entre o dano e a indenização, objetivando o atendimento ao princípio da restituição integral, é perfeitamente adaptável aos danos patrimoniais, em razão de uma avaliação objetiva que toma por base o patrimônio da vítima antes e depois da lesão.

Diferentemente, no âmbito dos danos extrapatrimoniais, estabelecer-se critérios seguros para a fixação da compensação devida de acordo com a extensão da dor sofrida pelo ofendido se mostra tarefa das mais difíceis.

Parte da doutrina69 sustenta a inaplicabilidade da regra da equivalência para as hipóteses de danos extrapatrimoniais, afirmando que “a regra da simetria do art. 944, caput, do Código Civil, incide só em danos patrimoniais, pois não há como mensurar

monetariamente a “extensão” do dano extrapatrimonial: nesse caso, o que cabe é uma

ponderação axiológica, traduzida em valores monetários.” 70

A compensação “não consiste em uma avaliação econômica absoluta dos danos

imateriais, senão na atribuição de um valor econômico por estimativa, que não possui

67

DIREITO, Carlos Alberto Menezes e CAVALIERI FILHO, Sérgio. Comentários ao novo Código Civil. Volume XIII (arts. 927 a 965), Da responsabilidade civil, das preferências e privilégios creditórios. 2ª ed., rev. e atual., Rio de Janeiro: Forense, pp. 331-332.

68

REIS, Clayton. Ob. cit., p. 188.

69

Nesse sentido, Judith MARTINS-COSTA, Yussef Said CAHALI, Caio Mário da Silva Pereira dentre outros. Em sentido contrário, posiciona-se Clayton REIS: “Na esfera dos danos extrapatrimoniais, a compensação dos danos imateriais vem, ao encontro do sentido de equivalência pretendido pelo legislador,

situação presente nos danos patrimoniais”. Os novos rumos da indenização do dano moral, Op. cit., p. 185. 70

MARTINS-COSTA, Judith e PARGENDLER, Mariana Souza. Usos e abusos da função punitiva. Revista CEJ, Brasília, v.9, n. 28, p. 15-32, jan./mar.2005, p. 22. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/revista /numero28/artigo02.pdf> (acesso em 28/03/2010).

função de equivalência real, mas, a contrario sensu, de estabelecer um quantum indenizatório proporcional à magnitude do dano e que possa produzir no espírito da vítima a sensação de satisfação pela indenização recebida.” 71

Sob esse aspecto, os danos extrapatrimoniais são objeto de uma compensação pecuniária, utilizando-se, de um modo geral, critérios de razoabilidade e proporcionalidade, a partir de uma ponderação valorativa a ser realizada pelo magistrado.

A solução do problema relativo à equivalência está longe de ser alcançada por via de raciocínios simplistas, sobretudo quando se percebe que a questão envolve a análise de valores imateriais atinentes à pessoa. Desta forma, qualquer que seja o fundamento adotado no caso analisado (indenização de um dano patrimonial ou compensação de um dano extrapatrimonial), deve-se procurar atender a equivalência pretendida pelo legislador entre o dano e a reparação, objetivando uma reparação justa, proporcionando à vítima a mais ampla satisfação possível.