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DA FUNÇÃO PREVENTIVA

CAPÍTULO 3 – FUNÇÃO SOCIAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL

3.3. DA FUNÇÃO PREVENTIVA

Por esta função, a responsabilidade civil também deve ser instrumento de dissuasão a comportamentos anti-sociais, possuindo caráter de exemplaridade e, conseqüentemente, preventivo.73

Em que pese a pacificação, no Brasil, quanto à reparação dos chamados danos extrapatrimoniais (embora não haja consenso quanto aos critérios para a sua quantificação), há grande controvérsia quanto à possível inserção de uma função pedagógica nas indenizações, tanto extrapatrimoniais quanto patrimoniais.

Apesar de não possuir expressa previsão legislativa no Brasil, tal função se justifica como forma de dissuasão de condutas ilícitas e anti-sociais por meio da aplicação de uma sanção de cunho civil ao ofensor e parece que tem sido aplicada de maneira implícita pelos nossos tribunais.

Aliás, a prevenção, a cada dia que passa, tem sido a principal objetivo da sociedade, já que, muito raramente, a compensação ou a reparação recebida têm

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conseguido alcançar o statu quo ante, não só patrimonial como extrapatrimonial, sem fazer menção, ainda, ao desgaste provocado pelos longos processos judiciais

Conforme leciona a professora Teresa Ancona LOPEZ:

“Em suma, as principais funções da responsabilidade civil são a função de reparação e a função de prevenção de danos. A função de precaução, que é um tipo de prevenção que tem por objeto os riscos “incertos”, será, neste século, colocada como uma nova função da responsabilidade civil. ”74

Enquanto a reparação trata de corrigir algo que ocorreu no passado, as funções fundamentadas na prevenção e precaução procuram evitar os danos futuros, atendendo assim, aos princípios constitucionais da solidariedade social e segurança (grifos nossos).75

Em relação ao princípio da precaução, ainda segundo os ensinamentos da professora Teresa Ancona LOPEZ,

“é aquele que trata das diretrizes e valores do sistema de antecipação de riscos hipotéticos, coletivos e individuais, que estão a ameaçar a sociedade ou seus membros com danos graves e irreversíveis e sobre os quais não há certeza científica; esse princípio exige a tomada de medidas drásticas e eficazes com o fito de antecipar o risco suposto e possível, mesmo diante da incerteza.” 76

Ele surge, expressamente, no Princípio 15 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento77, em 1992, se irradiando, a partir daí, para os outros ramos do Direito onde a incolumidade física e a saúde dos indivíduos são objeto de proteção (direito médico, hospitalar, do consumidor, sanitário, etc).78

Para Roberto GRASSI NETO, esse princípio encontra-se implícito no artigo 225 da Constituição Federal, além de lembrar que o mesmo está explicitado no artigo 1º, da Lei 11.105/05 (Lei de Biossegurança).79

74

LOPEZ, Teresa Ancona. Princípio da Precaução e Evolução da Responsabilidade Civil. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 75.

75

LOPEZ, Teresa Ancona. Ob cit., pp. 75-76.

76

LOPEZ, Teresa Ancona. Ob cit., p. 103.

77Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. “Princípio 15: Com o fim de proteger o meio

ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.” Disponível em http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea /documentos /convs/ decl_rio92.pdf (acesso em 27/11/2010).

78

LOPEZ, Teresa Ancona. Ob cit., p. 98. 79

GRASSI NETO, Roberto. Princípios de Direito do Consumidor: Elementos para uma Teoria Geral. Tese apresentada para obtenção do título de Doutor na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2002, p. 175.

3.3.1. Diferença entre o Princípio da Prevenção e o Princípio da Precaução De acordo com Édis MILARÉ:

“Prevenção é substantivo do verbo prevenir, e significa ato ou efeito de antecipar-se, chegar antes; induz uma conotação de generalidade, simples antecipação no tempo, é verdade, mas com intuito conhecido. Precaução é substantivo do verbo precaver-se (do Latim prae = antes e cavere = tomar cuidado), e sugere cuidados antecipados, cautela para que uma atitude ou ação não venha a concretizar-se ou a resultar em efeitos indesejáveis. A diferença etimológica e semântica (estabelecida pelo uso) sugere que a prevenção é mais ampla do que precaução e que, por seu turno, precaução é atitude ou medida antecipatória voltada preferencialmente para casos concretos.” 80

Deste modo, prevenção significa “ver primeiro”, “ver antes de acontecer”. Assim,

prevenção é ver o mal que está para acontecer e agir para impedir que o mesmo ocorra.

Já a precaução, tem o significado de “acautelar-se antes”. Cautela é prudência,

cuidado. Então, precaução é ter cuidado, agir prudentemente, de modo a evitar um mal ou um dano que ainda não se sabe se irá ocorrer ou não.

Essa, portanto, é a diferença entre o princípio da prevenção e o princípio da precaução: no primeiro se presume o conhecimento do mal ou dano em face de determinada situação e age-se para que ele não ocorra. Por exemplo: sabemos que, se um rio não tiver matas ciliares em suas margens, ocorrerá o assoreamento do mesmo. Então, aplicando-se o princípio da prevenção, evitamos que seja suprimida a mata ciliar, a fim de que o dano não aconteça.

No caso do princípio da precaução, não sabemos se, ocorrendo determinada situação, poderá advir algum mal ou dano. Então, evitamos, por cautela, a ocorrência da situação. Por exemplo: sabemos que os alimentos transgênicos são resultados de uma modificação antinatural, que poderá ou não causar algum dano ao organismo humano. Assim, aplicando-se o princípio da precaução, evitamos o plantio desses alimentos, para que não ocorra um possível dano aos consumidores.

Saliente-se que devemos aplicar o princípio da precaução com os devidos cuidados, sob pena de impedirmos o desenvolvimento social e econômico da sociedade.

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MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina – jurisprudência – glossário. 4ª ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 165.

CAPÍTULO 4 – DOS INSTITUTOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO