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PROTEÇÃO CONTRATUAL

CAPÍTULO 4 – DOS INSTITUTOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO

4.7. PROTEÇÃO CONTRATUAL

Os contratos pressupõem duas pessoas que, por livre e espontânea vontade, decidem sobre os seus interesses. Mas a realidade nos contratos de consumo é bem diferente, o consumidor se encontra em posição de hipossuficiência em relação ao fornecedor, ou seja, ele está em uma posição de vulnerabilidade. No geral, ele possui muito menos informações sobre o produto ou serviço do que o fornecedor, e por isso ele fica a mercê da boa fé deste.

Com o intuito de atenuar as distorções derivadas desta relação vertical prejudicial ao consumidor, o CDC estipula um conjunto de normas-princípios e normas-regras de ordem pública que são insuscetíveis de alteração pelas partes ou de derrogação pela legislação civil e comercial, garantindo que os direitos dos consumidores sejam respeitados sem a possibilidade de se abrir mão deles.

São alguns princípios: da preservação do contrato, envolvendo tanto a igualdade de contraprestações (equivalência) como a proteção do consumidor hipossuficiente; a relativização da intangibilidade contratual, na qual há possibilidade de revisão contratual por excessiva onerosidade; consagração da boa-fé; efeito vinculante da oferta; execução específica; é exigida dos contratos linguagem simples, em letras de um tamanho que permita a leitura fácil e com destaque nas cláusulas que restrinjam os direitos do consumidor.

4.7.1. Princípios

A seguir serão feitos algumas considerações a respeito dos cinco princípios mais importantes.

4.7.1.1. Da irrenunciabilidade de direitos102

São nulas as cláusulas contratuais que importem, tácita ou expressamente, renúncia dos direitos que são legalmente assegurados ao consumidor, ainda que assinadas pelo consumidor. São alguns exemplos de aplicação do princípio: nulidade da desconsideração do direito de optar pelo reembolso da quantia paga, quando autorizado por

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lei; vedação da transferência de responsabilidade; impossibilidade de inversão do ônus da prova em detrimento do consumidor; imposição de arbitragem necessária; e invalidade de cláusulas em desacordo com o sistema legal de proteção ao consumidor. 103

4.7.1.2. Do equilíbrio contratual

Para que os consumidores não fiquem em situação desigual a do fornecedor, não é permitida qualquer oneração excessiva, para que haja equidade e consequentemente proteção contratual. Dessa forma, são nulos: o estabelecimento de faculdades ao empresário que não sejam correspondentes às reconhecidas aos consumidores; as disposições contratuais que autorizam o empresário, unilateralmente a alterar as condições do negócio; as cláusulas com exigências injustificáveis por parte do empresário.

O CDC garante assim, através do equilíbrio contratual, que a disparidade entre as partes não ocorra, ou que pelo menos sejam diminuídas, aproximando-se, dessa forma, da proteção dos direitos dos consumidores.

4.7.1.3. Da transparência

É um princípio básico que busca atender a equiparação do consumidor ao fornecedor em relação às informações do contrato. Assim sendo, o consumidor deve ter acesso prévio a toda extensão das obrigações assumidas por ele e pelo empresário, em decorrência do contrato. Não vinculará o consumidor o que não lhe for dada ciência prévia, ou então se o contrato for redigido de modo a dificultar a compreensão. O legislador deixa claro que os contratos devem ser escritos de forma clara e de fácil compreensão, elaboradas com destaque para as cláusulas limitativas de direitos do consumidor. Esse princípio impede que o consumidor celebre um contrato ignorando parcialmente as obrigações ou os direitos assumidos. Por outro lado, as mensagens publicitárias transmitidas por qualquer meio de comunicação, que possuam informações precisas, integram o contrato.

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4.7.1.4. Da interpretação favorável ao consumidor

Na tentativa de anular um ato de má-fé do fornecedor, que tentar enganar o consumidor, o CDC estabelece que a interpretação do contrato deve favorecer o consumidor, pois sendo o contrato um instrumento elaborado unilateralmente pelo fornecedor, a lei quer tornar eficaz eventual tentativa de redação ambígua ou obscura do contrato.

4.7.1.5. Da execução específica dos contratos de consumo

Os contratos de consumo comportam execução específica, ou seja, o juiz pode viabilizar a conclusão do efeito concreto pretendido pelas partes, através de qualquer medida que for necessária.

A maior parte dos contratos de consumo se resolve em perdas e danos. Somente por opção do autor da demanda ou por impossibilidade material da tutela específica ou de resultado prático correspondente. A mesma proteção é garantida a toda manifestação escrita de vontade, recibos e pré-contratos. É importante ressaltar que tanto o empresário quanto o consumidor se encontram sujeitos a essa regra.

4.7.2. Cláusulas Abusivas

A seção II, do capítulo VI, do CDC trata das principais formas de abuso realizadas pelo fornecedor contra o consumidor. São elas: impossibilitar, exonerar ou atenuar a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou implicar renúncia ou disposição do direito do consumidor; deixar de reembolsar ao consumidor a quantia já paga, nos casos previstos; transferir responsabilidades a terceiros; estabelecer obrigações consideradas abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, incompatíveis com a boa-fé ou com a eqüidade; estabelecer a inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; determinar a utilização compulsória da arbitragem; impuser representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; deixar a opção ao fornecedor de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; permitir ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação unilateral do preço, juros, encargos, forma de pagamento ou atualização monetária; obrigar o

consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; autorizar o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato após a sua celebração; infringir normas ambientais ou possibilitar sua violação; possibilitar a renúncia ao direito de indenização por benfeitorias necessárias; restringir direitos ou obrigações fundamentais à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar o seu objeto ou equilíbrio contratual; onerar excessivamente o consumidor; determinar, nos contratos de compra e venda mediante pagamento em prestações, ou nas alienações fiduciárias em garantia, a perda total das prestações pagas, em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resilição do contrato e a retomada do produto alienado, ressalvada a cobrança judicial de perdas e danos comprovadamente sofridos; anunciar, oferecer ou estipular pagamento em moeda estrangeira, salvo nos casos previstos em lei; cobrar multas de mora superiores a 2%, decorrentes de inadimplemento de obrigação em seu termo; impedir, dificultar ou negar ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros, encargos e demais acréscimos, inclusive seguro; elaborar contratos, inclusive o de adesão, sem utilizar termos claros, caracteres ostensivos e legíveis, que permitam sua imediata e fácil compreensão, destacando-se as cláusulas que impliquem obrigação ou limitação dos direitos contratuais do consumidor, inclusive com a utilização de tipos de letras e cores diferenciados, entre outros recursos gráficos e visuais; por fim, impedir a troca de produto impróprio, inadequado, ou de valor diminuído, por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, ou restituição imediata da quantia paga, com correção, ou fazer abatimento proporcional do preço, a critério do consumidor.