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DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR

CAPÍTULO 4 – DOS INSTITUTOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO

4.3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR

O fornecedor, tanto do produto quanto do serviço, respondem objetivamente, ou seja, independentemente da existência de culpa (conforme já visto no tópico 2.4). Essa obrigação está expressa nos artigos 12 e 14 do Código de Defesa do Consumidor, os quais estudaremos a seguir.

A única exceção à responsabilidade objetiva é aquela prevista artigo 14, § 4º, que prevê que, para se responsabilizar os profissionais liberais, se faz necessária a comprovação da culpa dos mesmos (responsabilidade subjetiva).

4.3.1. Da Responsabilidade pelo Fato do Produto

Respondem objetivamente, pelo fato do produto, o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador, independentemente da existência de culpa (responsabilidade objetiva), pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. 93

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Art. 3º, § 2º, do CDC.

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Em princípio, a responsabilidade do comerciante é subsidiária, assumindo, porém, a responsabilidade direta, se:

a) O fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser

identificados;

b) O produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,

construtor ou importador;

c) Não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

O produto é considerado defeituoso quando não oferece a segurança que dele se espera, levando em consideração a sua apresentação, o uso, os riscos previstos naturalmente e a época em que foi colocado em circulação. Contudo, não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

4.3.2. Da Responsabilidade pelo Fato do Serviço

O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre a sua fruição e riscos.94

O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor pode dele esperar. Portanto, para que haja responsabilidade do fornecedor de serviços, basta que se mostre o defeito no serviço e o dano que tenha sido por aquele causado. É importante observar que não é defeituoso o serviço pela adoção de novas técnicas.

Excepcionalmente, a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais autônomos será apurada mediante a verificação de culpa, ou seja, permanece subjetiva.

4.3.3. Da Responsabilidade pelos Vícios do Produto e do Serviço

Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por

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aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, da rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir substituição das partes viciadas. 95

Se o vício não for sanado no prazo máximo de trinta dias, ou voltar a apresentar o vício, ou se a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou característica do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial, o consumidor pode exigir, alternativamente e à sua escolha:

a) A substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições

de uso;

b) A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem

prejuízo de eventuais perdas e danos; c) O abatimento proporcional do preço.

No caso de fornecimento de produto in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato (comerciante), exceto quando identificado claramente seu produtor.

São considerados produtos impróprios ao uso e consumo: a) Aquele que o prazo de validade esteja vencido;

b) Os deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos,

fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos

c) Aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação,

distribuição ou apresentação;

d) Os que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se

destinam.

Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, da rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: o abatimento proporcional do preço; a complementação do peso ou medida; a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, em perfeitas condições; a

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restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. 96

Quando se tratar especificamente de serviços, o fornecedor responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; o abatimento proporcional do preço. 97

Os serviços são impróprios quando se mostrarem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam às normas regulamentares de prestabilidade. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. No caso de descumprimento, total ou parcial, das obrigações por parte dos órgãos públicos, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados. 98

A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, sendo vedada a exoneração contratual do fornecedor. 99

4.3.3.1. Fornecimento Perigoso

A informação dada de maneira errada pelo fornecedor ao consumidor, a respeito da utilização dos produtos ou serviços, colocando-o sob um risco desnecessário, é caracterizado como fornecimento perigoso.

Se o produto não possui defeito e ocorre um dano, conclui-se que esse dano é conseqüência de má utilização por parte do consumidor, ocasionada pela falta de informações adequadas que deveriam ter sido prestadas pelo fornecedor. É aqui que o fornecimento perigoso se enquadra.

96 Art. 19, do CDC. 97 Art. 20, do CDC. 98 Art. 20, § 2º, do CDC. 99 Art. 24, do CDC.

Atente-se, porém ao fato de que o fornecedor está isento de alertar os consumidores quando os riscos são amplamente conhecidos pelas pessoas em geral, ou seja, são previsíveis. O exemplo citado por Fábio Ulhoa Coelho100é de um fabricante de facas que não precisa informar sobre o potencial letal do produto, pois esta informação já está difundida entre os consumidores.

Por exemplo, se um produto, normalmente, não causa problemas aos consumidores, mas tem a possibilidade de ser nocivo para as pessoas sensíveis a um certo tipo de alergia, então, o fornecedor tem a obrigação de comunicar o risco de ocorrência desse tipo de nocividade, seja no rótulo, seja na embalagem.

A prestação correta das informações, acerca dos possíveis riscos, descaracteriza o fornecimento perigoso. Assim, não é qualquer característica intrínseca da mercadoria ou do serviço que irá torná-los menos seguros, mas sim a insuficiência e inadequação das informações prestadas pelo fornecedor, que responde objetivamente pelos danos decorrentes de fornecimento perigoso.

4.3.3.2. Fornecimento Defeituoso

Se o produto ou serviço causa algum dano ao consumidor, em virtude de defeito, e não por razão de má utilização do produto ou serviço ocasionada pela falta de informação adequada sobre os seus riscos, estamos diante de um fornecimento defeituoso.

Sendo assim, por mais cauteloso que seja o fornecedor, por mais que invista na melhoria da tecnologia da sua empresa, alguma margem de defeito sempre existe. Deve, portanto, indenizar o consumidor pelos danos decorrentes do fornecimento defeituoso.

O que ocorre muitas vezes, é que, como o fornecedor tem conhecimento dessa margem de defeito que existirá em seus produtos, ele acaba embutindo a possível indenização nos custos dos mesmos. É por causa dessa socialização dos custos que o empresário responde objetivamente pelos danos causados.

4.3.3.3. Fornecimento Viciado

É aquele que não causa dano considerável ao consumidor, não causa prejuízo. Quando ocorre tal vício de fornecimento, o consumidor pode optar pelo desfazimento do

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negócio, com a devolução dos valores já pagos, sendo eles devidamente corrigidos (ação redibitória); pelo abatimento proporcional do preço (ação estimatória); ou pela substituição do produto ou execução do serviço, eliminando-se o vício (ação executória específica).

4.3.3.3.1. Vício de qualidade

É uma espécie de fornecimento viciado, em que o produto é impróprio para o consumo, ou seja, tem impropriedade que lhe reduz o valor ou quando há disparidade entre a sua realidade e as informações do fornecedor, bem como se estiver vencido o seu prazo de validade, se existir adulteração, alteração, avaria, falsificação, inobservância de normas técnicas ou se, por qualquer motivo, não atender às finalidades a que se destina.

O artigo 18 garante, ao fornecedor, a chance de solucionar a impropriedade, mas esse direito não existirá se for um produto ou serviço essencial ao consumidor ou se a eliminação do vício comprometer a eficácia, característica ou valor do bem ou serviço.

Há vício de qualidade específico de serviço quando este é inadequado para o fim que dele se espera, ou quando ocorre inobservância de normas regulamentares de prestabilidade.

4.3.3.3.2. Vício de quantidade

Também é uma espécie de fornecimento viciado. Decorre da disparidade do conteúdo real do produto e da indicação constante da rotulagem, embalagem ou publicidade, salvo as variações próprias de sua natureza. Diante de tal vício, o consumidor pode exigir o seu saneamento, realizado pela complementação do peso ou medida, além da ação redibitória e estimatória.