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3 Fotografia e Ciência da Informação

3.2 Da Informação a informação na fotografia

A dificuldade de definir informação está no seu caráter polissêmico e flutuante. Polissêmico porque existem diferentes definições do termo e flutuante porque em cada área de conhecimento adquire diferentes facetas.

Floridi afirma:

Informação é notoriamente um fenômeno polimorfo e um conceito polissêmico que, como um explicandum, ele pode ser associado a diversas explicações, dependendo do nível de abstração adotado e do grupo de requerimentos e desideratos que orientam a teoria. (FLORIDI, 2009, p.13)

Para Wersig e Nevelling (1975) a informação não é uma certeza: sendo um termo inevitável, mas marcado por ambiguidade e polissemia, é preciso “deixar claro, a todo instante, o que significa”.

No contexto brasileiro, Pinheiro (2004) afirma que: “Todos os campos do conhecimento alimentam-se de informação, mas poucos são aqueles que a tomam por objeto de estudo e este é o caso da Ciência da informação”.

Na Ciência da Informação estudamos a informação sob diversos aspectos e abordagens, para além da documentação e da biblioteconomia:

(...) de fato, a informação de que trata a CI, tanto pode estar num diálogo entre cientistas, em comunicação informal, numa inovação para indústria, em patente, numa fotografia ou objeto, no registro magnético de uma base de dados ou em biblioteca virtual ou repositório, na Internet (PINHEIRO, 2004).

Diante da dificuldade de definir o conceito de informação, Buckland (1991, p. 351), baseando-se em definições léxicas, desenvolve três formas de informação:

1. Informação-como-processo: Quando alguém é informado, aquilo que conhece é modificado. Nesse sentido “informação” é “o ato de informar [...]; comunicação do conhecimento ou “novidade” de algum fato ou ocorrência; a ação de falar ou o fato de ter falado sobre alguma coisa”; 2. Informação-como conhecimento: “Informação” é também usado para

denotar aquilo que é percebido na “informação-como-processo”: o “conhecimento comunicado referente a algum fato particular, assunto, ou evento; aquilo que é transmitido, inteligência, noticias”. A noção de

que informação é aquela que reduz a incerteza poderia ser entendida como um caso especial de “informação-como conhecimento”. Às vezes informação aumenta a incerteza.

3. Informação-como-coisa: O termo “informação” é também atribuído para objetos, assim como dados para documentos, que são

considerados como “informação“, porque são relacionados como sendo informativos, sendo a qualidade de conhecimento comunicado ou comunicação, informação, algo informativo.

Sua terceira definição, informação-como-coisa, foi criticada por tornar a informação como qualquer expressão, descrição ou representação. Só assim seria possível comunicá-la, expressá-la, descrevê-la ou representá-la de alguma maneira física, como um sinal, texto ou comunicação. (BUCKLAND, 1991, p. 352)

Seguindo a estrutura do que é tangível e intangível, Buckland desenvolve o conceito dos quatro aspectos da informação, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Quatro aspectos da Informação.

Intangível Tangível Entidade 2 - Informação-como-conhecimento Conhecimento 3 - Informação-como-coisa Dado, documento Processo 1 - Informação-como-processo Tornar-se informado 4 – Processamentos de Informação Processamento de dados Fonte: BUCKLAND, 1991, p. 352

Diferentemente do conceito físico de informação-como-coisa citamos a definição de Belkin e Robertson (1976, p.198): “Informação é aquilo que é capaz de transformar estrutura”.

Para construir esta definição de cunho estruturalista, os autores desenvolveram a ideia de um espectro da informação, na qual criam uma tipologia de informação e os tipos de informação objeto de estudo da Ciência da Informação. (Quadro 2)

Quadro 2 - O espectro da Informação

Fonte: Baseado em Belkin e Robertson (1976, p. 198)

Diante das categorias de informação em seu espectro, Belkin e Robertson explicam como se dá a transformação de estruturas. Partindo do organismo (informação infra-cognitiva) para o mundo (informação meta-cognitiva), o espectro estrutura as etapas ao pressupor a importância do texto e a figura do emissor. Os dois conceitos básicos da Ciência da Informação são:

 O texto – coleção de sinais propositalmente estruturada por um emissor com intenção de mudar a imagem-estrutura de um receptor;

 A informação – estrutura de qualquer texto que é capaz de mudar a imagem-estrutura de um receptor. (BELKIN; ROBERTSON, 1976, p.201)

Teóricos da CI, Capurro e Hjörland, utilizam a teoria da significação de Wittgenstein para explicar a polissemia do termo informação e, consequentemente, a impossibilidade de definir como algo físico, como sugere Buckland ou buscar a transformação de estrutura na mente do receptor, sem levar em consideração fatores subjetivos, como em Belkin e Robertson. Para os autores:

O uso ordinário de um termo como informação pode ter significados diferentes de sua definição formal, significando que visões teóricas conflitantes podem surgir entre as definições científicas explícitas e as definições implícitas de uso comum. Em função disto, devemos não apenas comparar diferentes definições formais, mas também considerar o significado de uma palavra como informação, tal como é usada em relação a outros termos, por exemplo, a busca de informação, sistemas de informação e serviços de informação (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p.151). hereditariedade cr es ime n to sof is tic a do e com plex o d os co nc ei tos de info rma çã o infra-cognitivo incerteza percepção cr es ime n to sof is tic a do e com plex o d os co nc ei tos de info rma çã o in for m ão p/ CI cognitivo individual formação de conceito individual

comunicação inter-humana

cognitivo social estruturas conceituais sociais

meta-cognitivo conhecimento formalizado

cr es ime n to sof is tic a do e com plex o d os co nc ei tos de info rma çã o in for m ão p/ CI

A informação contida na fotografia se torna visível na comunicação. Imagens fotográficas são expostas em revistas e jornais, em galerias de arte ou na rede virtual das diversas comunidades da Internet. A comunicação é o conceito que interliga informação, fotografia e Ciência da Informação.

Segundo Capurro e Hjörland:

Quando usamos o termo informação em CI, deveríamos ter sempre em mente que informação é o que é informativo para uma determinada pessoa. O que é informativo depende das necessidades interpretativas e habilidades do indivíduo (embora estas sejam frequentemente compartilhadas com membros de uma mesma comunidade de discurso).

CAPURRO, HJÖRLAND, 2007, p.154)

Em sua proposta de nova abordagem da Ciência da Informação Capurro (2010) sugere um novo conceito derivado do grego angellein e angelia, definido por angelética: “[...] designa, ao contrário angelologia, o estudo do fenômeno das mensagens e mensageiros, independentemente de sua origem divina, ou melhor, estuda esse fenômeno dentro dos limites da condição humana”.

Para Capurro e Hjorland:

Informar (aos outros ou a si mesmo) significa selecionar e avaliar. Este conceito é particularmente relevante no campo do jornalismo ou da mídia de massa, mas, obviamente, também em CI. [...] O conceito moderno de informação como comunicação de conhecimento, não está relacionado apenas à visão secular de mensagens e mensageiros, mas inclui também uma visão moderna de conhecimento empírico compartilhado por uma comunidade (científica). A pós-modernidade abre este conceito para todos os tipos de mensagens, particularmente na perspectiva de um ambiente digital (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p.173).

A fotografia é uma mensagem. Barthes (2000, p.326), descrevendo a fotografia jornalística, afirma que esta não é uma estrutura isolada pois comunica com outra estrutura, o texto, a legenda:

A totalidade da informação é pois suportada por duas estruturas diferentes (das quais uma é linguística); essas duas estruturas são convergentes, mas como suas unidades são heterogêneas, não podem se misturar; aqui (no texto) a substância da mensagem é constituída por palavras; ali (na fotografia), por linhas, superfícies, tonalidades. (BARTHES, 2000, p.326)

A mensagem fotográfica para Barthes (2000, p.338) está ligada ao seu complexo conteúdo como referente direto do objeto fotografado. Esta presunção de objetividade criou, e ainda cria problemas dos quais o mais comentado, e ainda vivo no senso comum, é a objetividade da imagem fotográfica. É preciso, a todo momento, especificar que tipo de mensagem a fotografia é.

O caráter informativo da fotografia, analógica e digital, será desenvolvido com mais detalhes no capítulo 9. Por enquanto, é preciso afirmar que a fotografia é uma informação objeto da Ciência da Informação como tantos outros conceitos e documentos.