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No início do século XX, o desaire da política colonial do país, depois do Ultimatum (1890) que humilhou profundamente a consciência nacional, bem como os acordos secretos entre a Alemanha e a Inglaterra (Convenção de Londres, 1898), sobre a projectada divisão administrativa e de controle político-económico de Angola, de Moçambique e de Timor, tendo como pretexto servir de caução a um futuro empréstimo financeiro pedido pelo Governo Português, contribuiu para o descrédito do regime monárquico na razão inversa em que aumentava a popularidade do Partido Republicano.

A maioria dos intelectuais, mesmo aqueles que não eram afectos à ideologia republicana preconizavam a decadência total do país até ao seu desaparecimento por inclusão na Espanha ou como colónia da Inglaterra: Oliveira Martins, Cesáreo Verde, António Nobre, Latino Coelho, Manuel de Arriaga, Sampaio Bruno, Antero de Quental e Eça de Queirós, quase todos eles fizeram parte de uma geração desencantada com o regime monárquico, mas que raramente

se identificavam com os ideais da república de matiz socializante, pequeno-burguesa e urbana que ingloriamente viu terminar os seus sonhos na Revolta de 31 de Janeiro de 1891.

Numa posição mais radical, propondo a mudança do regime como uma solução para todos os problemas que este enfrentava, estavam intelectuais como Teófilo Braga, , Basílio Teles, Guerra Junqueiro e Pinheiro Chagas, que viam na república um regime redentor, capaz de conduzir o país a um futuro glorioso no contexto político internacional.

A instauração do novo regime contou mais com a apatia e a descoordenação das forças fiéis à Monarquia do que com a adesão da componente militar, que se exceptuarmos a esquadra fundeada no Tejo66 se reduzia a algumas unidades de Lisboa, onde era notório o número de

sargentos e praças em detrimento dos oficiais de patente média ou alta. As organizações civis semi-clandestinas como a Carbonária não tiveram um papel decisivo no triunfo da revolução, apenas saindo para a rua e entrincheirando-se no Alto da Rotunda quando a vitória parecia já pertencer definitivamente aos republicanos. Podemos pois afirmar que a República foi implantada devido à mudança de mentalidade das classes urbanas - de que o exército não era excepção - sem vinculação ao rei mas sim ao meio social a que pertenciam.

Nesta primeira década do século, ser republicano já não significa o mesmo que cinquenta anos atrás em que republicano - socialistas se fundamentavam nos ideais de Henrique Dias Nogueira, Oliveira Marreca e José Fontana, mas com a originalidade, que supomos ser especificamente portuguesa de preconizarem uma descentralização administrativa, já expressa por Alexandre Herculano, de um neo-municipalismo renovador. Num dos primeiros Congressos do Partido Republicano Português, ainda no último quartel do século XIX, Elias Garcia e Oliveira Marreca chegaram a propor a ideia de Portugal Continental e Ilhas adjacentes(?) constituírem um «Estado Federado», dividido em províncias autónomas, com uma capital federal estabelecida alternadamente entre Lisboa e o Porto, que por sua vez se integraria no conjunto de Estados que constituiriam a Federação Ibérica..

Esta ideia foi posta de parte após a realização dos Congressos Luso Hispano- Americanos promovidos em 1890-92 pela Real Sociedade Geográfica de Madrid onde se manifestaram os propósitos de exploração conjunta das colónias portuguesas, bem como o conhecimento das ideias integracionistas de Afonso XII e Afonso XIII, sobretudo este último que, pelo menos até 1920, não escondeu as suas ideias, (talvez pensando conseguir os seus propósitos ao apoiar as incursões monárquicas de 1911/1912 e a Monarquia do Norte em

1919).

Depressa os dirigentes republicanos, mesmo antes de representarem o Poder admitiram que a ideologia e a estrutura político-administrativa teria de ser mais realista. O moderado Teófilo Braga (1843-1924) nas obras Soluções Positivas da Política Portuguesa (Lisboa, 1879), História das Ideias Republicanas em Portugal (Lisboa, 1880) e no Manifesto e

Programa do Partido Republicano Português, põe de parte os princípios do ideário socialista

optando por uma vaga democracia parlamentar, que afinal já existia no regime monárquico - constitucional, apenas definindo como certezas o anticlericalismo e a laicização da sociedade. Mesmo Basílio Teles (1856-1923) talvez o principal teorizador dos ideais republicanos,

Foi entre o cruzador D. Carlos e a cidadela de Cascais fizeram-se em 1902,as primeiras experiências de T.S.F. em Portugal.

pugnava por uma república com representatividade dos municípios, mas em que o poder executivo tivesse amplos poderes, na pessoa do Presidente da República.67

Pelo contrário, a maioria dos seus correligionários pretendiam um governo centralizador, com a supremacia dos amplos poderes legislativos centralizados no Parlamento, levando desde os primeiros anos da República à proliferação de partidos políticos. Dividiam-se em termos de regime, mais na questão ideológica do que verdadeiramente na forma: entre uma república demo-liberal conservadora (José Relvas, Pinheiro Chagas, António José de Almeida ou Brito Camacho) e um republicano-socialismo (Afonso Costa, Domingues dos Santos, Raul Proença, António Sérgio) não haveria manifestamente grande contradição.

Abolida a Carta Constitucional em vigor no regime monárquico, o país regia-se pôr decretos ditatorialmente emanados do Governo Provisório até à promulgação da Constituição Republicana (1911) e a convocação de eleições para os órgãos legislativos.

A Constituição do novo regime, recebeu influências da Constituição Brasileira (1891), no que respeita à formação de um Parlamento bicamaralista, mas também das Constituição Francesa e Suíça respectivamente nos direitos e garantias individuais, na atribuição dos poderes presidenciais e na descentralização dos poderes municipais.

Apenas alguns anos após a implantação da República, entrava-se num período de instabilidade devido à grave crise sócio-económica que a participação numa guerra para a qual o país não estava preparado, ao contrário do que se afirma, em 1914 nenhum país, com a excepção da Alemanha, tinha as forças militares e a prontas para uma guerra moderna, em moldes diferentes das anteriores.

A participação efectiva de Portugal no conflito, não aconteceu por imposição directa da França ou da Inglaterra mas resultou apenas da vontade expressa do Governo português, constituído na União Sagrada e desejoso de ver reconhecido o seu prestígio internacional numa Europa onde o número de repúblicas era muito reduzido (Portugal, França e Suíça) em comparação com os regimes monárquicos.

O argumento perante a opinião pública para o envio do Corpo Expedicionário Português para França e de contingentes para as Colónias, tinha motivações que se prendiam directamente com aspectos de Geopolítica. A eventual perda das Colónias em futuras negociações diplomáticas internacionais, derivado aos acordos Germano-Ingleses (1912-1913) tendentes a repartir entre si as colónias de Angola e Moçambique, confinantes respectivamente com as possessões alemãs dos Sudoeste Africano e do Tanganica onde já se tinham dado escaramuças entre as tropas coloniais portuguesas e germânicas.

A manifesta impreparação das divisões portuguesas para a prolongada guerra nas trincheiras, a falta de material logístico e de renovação dos contingentes de soldados, bem como na sociedade civil a escassez dos produtos alimentares mais básicos e a subida generalizada do

Teófilo Braga com uma formação ideológica e filosófica superior aos seus contemporâneos doutrinadores na Ia

República, foi talvez o primeiro a ver em mais clarividência que o regime em vez de discursos inflamados no Parlamento precisava era de um Governo que pudesse pôr em prática uma série de medidas de fomento através do progresso científico, permitindo a implementação de infraestruturas que obstassem à miséria terrível que se fazia notar particularmente na proliferação da mendicidade nas cidades, ou no abandono e ruína do meio rural, (sobretudo no norte do país), cuja realidade conhecia melhor. Esperanças infundadas de pôr em prática as grandes reformas que tinha em mente, levaram-no a apoiar quase todos os governos que pareciam querer fazer algo de novo, desde o Governo da União Sagrada até à ditadura de Sidónio Pais. Como as suas ideias fossem pouco escutadas e muito menos concretizadas, morreu solitário na sua casa de Matosinhos.

custo de vida, com a inflação a atingir valores muito elevados, provocam tumultos nas ruas de Lisboa com a participação activa de soldados e civis, resultando na breve ditadura de Pimenta de Castro (1915) que haveria de ser seguida por uma outra mais duradoura e original.

Aproveitando este descontentamento generalizado, bem como a ausência do Presidente da República, Bernardino Machado e a falta de contigentes de tropas leais ao Governo de Afonso Costa, o major de artilharia e lente de cálculo integral na Universidade de Coimbra, Sidónio Pais prepara um golpe de Estado, que eclode em 5 de Dezembro del917. Ainda não estava triunfante o movimento, já este recebia adesões dos mais díspares sectores, desde os radicais e «históricos» republicanos como Machado dos Santos, aos «situacionistas-conservadores Brito Camacho, António José de Almeida e Egas Moniz (partido Evolucionista e Unionista), aos monárquicos de Alfredo Pimenta, passando pelos Socialistas e até pelos anarquistas da União Operária Nacional, sob a pessoa de Alexandre Vieira. A base de apoio tão ampla que Sidónio conseguiu, foi justamente porque o seu programa governativo, sem grande conteúdo político e ideológico assentava em três pontos principais, de consenso generalizado: 1 - Repatriar, ou caso não fosse possível, proibir o envio de mais contigentes do Exército para o teatro de operações da Flandres, que foi aliás a política adoptada daí em diante; 2 - Lutar contra o açambarcamento dos géneros essenciais, bem como travar o aumento acentuado da inflação que se traduzia naquilo que comunmente o homem da rua designava por «crise das subsistências»; 3 - Retirar a supremacia política ao Partido Republicano Português, que depois de meia dúzia de anos no poder era acusado algo exageradamente de clientelismo e de corrupção generalizada.

Apesar do Sidonismo ter durado tão pouco tempo e por conseguinte não se saber ao certo quais as reais intenções do Presidente, parece-nos apressado que este visasse instalar uma ditadura militar como o fez logo a seguir Primo de Rivera em Espanha, ou ainda menos podemos concordar com a frase tantas vezes repetida de que Mussolini considerava Sidónio um percursor das experiências fascistas na Europa.

Torna-se difícil fazer um balanço e muito menos um, prognóstico das alterações no relacionamento diplomático resultantes da curta vigência do Sidonismo. Mesmo assim, nesse curto espaço de tempo registaram-se algumas alterações significativas: foram restabelecidas as relações diplomáticas com a Santa Sé, normalizado o entendimento diplomático com a Espanha, a par da demissão compulsiva dos principais representantes consulares nas legações mais significativas, geralmente ligados ao P. R. P. ou a algum dos outros dois partidos políticos componentes da União Sagrada como o afastamento de Manuel Teixeira Gomes e de Norton de Matos.

Apesar de tudo, podemos tout court encontrar algumas analogias entre o Sidonismo e o Salazarismo, a vontade de criar um partido «acima de todos os outros», a concessão de poderes mais extensos ao executivo, ou seja ao Presidente da República, o que só veio a acontecer na Constituição de 1933. O segundo aspecto comum prende-se com uma república que em ambos os casos iria quase de certeza conduzir à Monarquia Constitucional.

O Integralismo poderá procurar as suas origens na ideologia de um pequeno partido, o Centro Nacional Católico (Porto, 1898). Este partido político pouco influente, tinha os seus fundamentos na «democracia cristã» tal como tinha sido enunciada pelo papa Leão XIII, na encíclica Rerum Novarum. Em 1902, surge o Partido Nacionalista (teve como militante Barros Gomes), baseado num catolicismo mais direitista, com um nacionalismo mais vincado,

fundamentado na ideia do Zentrum alemão, isto é, a religião e o Estado (?) factores de unificação e eventual expansão da Nação.

O seu principal doutrinador Jacinto Cândido, afirma no Congresso Nacionalista de Braga (1903) que a ideologia do partido se baseava no conceito superior do nacionalismo. Encontramos carácter mais científico no nacionalismo exposto por Hipólito Raposo, muito mais agressivo e já com muitos dos conceitos que iriam ser utilizados pelo Integralismo e mesmo aproveitados pelo fascismo, em que parece estar implícito no raciocínio dos nacionalistas a ideia de superioridade da Nação e da razão do Estado sobre o indivíduo, mesmo talvez a ideia de uma certa superioridade biológica de uma élite monárquica, a quem seria entregue a chefia do Estado monárquico- conservador porque nacionalista.

O Integralismo, segundo Pequito Rebelo, apresenta uma estrutura mais elaborada e precisa, embora os princípios não sejam muito diferentes dos apresentados anteriormente, os conceitos ideológicos dependem dos seus doutrinadores, que estavam longe de ter uma homogeneidade de linha de raciocínio e de acção, principalmente das diferenças entre as gerações que elaboram a sua ideologia: se para a primeira geração a questão de opção pelo regime monárquico é clara, ela já não se afigura assim tão transparente para a geração mais nova, que de um modo geral se acomodará ao regime republicano, fosse ele o salazarismo ou não. Não se podendo considerar apenas mais um movimento, ou sequer um partido idêntico aos outros vigentes no quadro de uma república demo-liberal, surgiu (1913) quando do exílio dos seus primeiros teorizadores, Aires de Orneias, Paiva Couceiro, Luís de Almeida Braga, Alberto de Monsaraz e Rolão Preto.68 O desterro dos seus membros noutros países europeus foi a

opção própria por discordarem frontalmente do regime republicano, publicando alguns escritos sobre o fundamento desta nova ideologia política.

Na mesma altura (1914), surgem artigos na publicação Alma Nacional (1912), posteriormente na Nação Portuguesa (1914) e no jornal Monarquia (1917), para além de conferências proferidas na Liga Naval (1915) proferidas por quem viria a ser o principal mentor e doutrinador do movimento, o bacharel em direito ensaísta e poeta António Sardinha, tendo sido especialmente a série de conferências proferidas naquela instituição que nos permite conhecer a posição dos Integralistas sobre o relacionamento com Espanha. No título A Questão

Ibérica, rejeitam liminarmente o Federalismo ou qualquer entendimento no sentido da união

com o país vizinho. A. Sardinha em colaboração com João do Amaral, Hipólito Raposo e Pequito Rebelo apresentam um campo de acção - que ambos queriam doutrinário - inteiramente novo, que apreenderam quando do exílio em Paris em contacto com os membros da Action Française , adaptando-o à realidade portuguesa. Em traços muito gerais eram adeptos de "uma monarquia orgânica tradicionalista e antiparlamentar"69 Dentro de um campo filosófico, talvez

possamos classificar a concepção de Sardinha como Tomista, isto é baseada no primado do espírito sobre a razão, ou seja transpondo para um suporte ideológico-políttico, a experiência das instituições e não a sua racionalidade que conduz à prosperidade e engrandecimento da Nação e, por inerência, ao ressurgimento do próprio Estado. O agente determinante deste élan vital é a própria Raça, que por sua vez é em grande parte influenciada pelas características

Que a este propósito escreve: "Eu estava em Lovaina e ia muitas vezes a Paris antes da primeira guerra. Visitava a Action Française, na Rue Rome onde conheci Charles Mauras, Bainville, Pujo, Léon Daudet" J. Medina et alia, 1990 - A, p. 97

naturais e humanas do Meio em que se desenvolve. Uma ideologia que em certos aspectos, retirando a componente religiosa, faz lembrar as teorias deterministas de adaptação e condicionalismo do Meio. Em Geografia Política é demasiadamente parecido com os princípios fundamentais dos postulados Ratzelianos.

Para António Sardinha, a originalidade do nacionalismo português explica-se porque "Cada país se concretiza na individualidade incomunicável do seu determinismo, não se sobrepõe ao passado de uma raça o passado de outra raça"70.No entanto, quer queiramos quer

não, a influência nacionalista francesa Maurrasiana existiu sempre no Integralismo português, mais até, ter-se-á acentuado com o decorrer do tempo, principalmente após a morte de António Sardinha (1925). Segundo este o "nacionalismo não poderia pela sua própria essência, deixar de ser nacional. As semelhanças, que os diversos movimentos nacionalistas podem apresentar entre si, provêm apenas, da identidade das situações: um organismo nacional, ameaçado na sua substância, reage por uma afirmação da sua individualidade. "71.Como podemos afirmar a

originalidade do Integralismo Lusitano face às influências Maurrasianas? Quanto a nós a resposta está nas suas características específicas, entre as quais lembraríamos as que consideram o espaço geopolítico nacional num óptica do municipalismo, enquanto que a nível internacional se pugnava por uma aproximação com os regimes políticos mais conservadores.

Regresso às «condições naturais» estruturantes de Portugal, por ordem crescente a Família, o Município, a Corporação, a Província, a Pátria e o Estado. Depois de reconstituída a família - agrupamento base e orgânico da Nação - esta terá expressividade no Município (paróquias organizadas em concelhos), nas Corporações (agrupamentos de profissionais independentes e /ou sindicatos afins). A implementação de um sistema administrativo específico do caso português, como seja o municipalismo concelhio. As paróquias organizadas em concelhos formam a(s) diversa(s) Província(s), que mais não são do que parcelas da Pátria ou se quisermos, da Nação, que será organizada no sentido do culto das tradições, características inerentes a uma Raça e a um Meio em que as instituições são sólidas e estáveis porque fruto da experiência, ou melhor, do tradicionalismo e do desenvolvimento, ambos inerentes a um Estado monárquico-conservador. As instituições enunciadas só podem ter cabimento num regime monárquico, mas este é determinado pela personalidade e acção do Rei, através dos seus órgãos governativos próprios.

A aplicação do Integralismo, tinha para A. Sardinha uma importância fundamental quer para o tornar uma ideologia válida de organização da Nação face ao republicanismo existente, como para o tornar credível aos olhos dos seus conterrâneos, condição essencial de adesão dos meios sociais elevados. Em alguns estratos jovens da alta burguesia tornou-se moda adoptar o Integralismo como ideologia política como quem compra um adereço de vestuário de alto preço, como mordazmente escrevia na Seara Nova o seu director Raul Proença. Refira-se que nesta altura, primeiros anos da década de vinte, a questão do regime já era um aspecto secundário para Sardinha, nisto estava já próximo de personalidades integralistas mais novas, como Raul Esteves, Conde de Monsaraz, Marcelo Caetano ou Rolão Preto, que acabarão por aderir ao regime de Salazar.

7. D'Assac, 1962, p. 316

Um dos problemas que a República teve de enfrentar, como aliás já o tivera de fazer em parte a Monarquia Constitucional, foram as constantes ameaças, mais ou menos veladas do desmembramento das possessões coloniais portuguesas por parte da Alemanha, da Inglaterra e mesmo da França. Só conhecimento por parte do Governo português desses acordos destinados a dividir as Colónias e o início da Primeira Guerra Mundial permitiram que tal facto não se concretizasse.

A Constituição de 1911 preconizava que as Colónias faziam parte integrante da Nação portuguesa com o mesmo estatuto jurídico-administrativo das Províncias metropolitanas. O Governo da República apercebeu-se logo nos primeiros meses após a institucionalização do novo poder da importância Geopolítica das possessões ultramarinas não só pela valorização das matérias-primas exóticas, mas também pelo prestígio entre as demais Nações europeias que advinha da posse de vastos territórios onde a soberania portuguesa estava implantada.

Logo a partir da sua fundação que o Ministério das Colónias (1911) adoptou uma estratégia tendente à valorização dos recursos endógenos das Colónias (agropecuária e exploração de matérias-primas), a par de um esforço para a modernização das infraestruturas (transportes marítimos e ferroviários), comunicações (rede rádio-telegráfica e telefónica) que atraíssem pelo menos uma parte dos contingentes migratórios destinados ao Brasil, para a colonização das áreas litorais e de algumas áreas planálticas do interior de Angola e dos vales das bacias fluviais em Moçambique. Não obstante os esforços tendentes a angariar colonos para povoar essas áreas, o número de europeus não ultrapassava as escassas dezenas de milhares de indivíduos no início da década de vinte.

A tímida descentralização administrativa proposta pela Ia República (1914 e 1917) para

as Colónias, com a nomeação de Altos Comissários,72 não visava conceder autonomia

administrativa mas antes controlar mais eficazmente as finanças das possessões ultramarinas, aplicando os réditos provenientes da própria exploração dos recursos naturais, bem como a