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3 Amorim Girão e a Geopolítica na Escola de Coimbra 3.1 A biografia e o percurso científico de Aristides de Amorim Girão

Tendo sido convidado para Assistente pelo seu Mestre Ferraz de Carvalho, responsável pelos estudos geográficos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a quem veio aliás a suceder no cargo, Amorim Girão (Fataúnços, 1895-Coimbra, 1960) conservou toda a vida uma componente ruralista de interesse pela observação e estudo da paisagem, que teria repercussões na formação e evolução do seu próprio conceito de Geografia, enquanto em termos políticos sempre foi um conservador, de profundas convicções religiosas.

Desde cedo, ainda estudante, deu mostras de grande interesse pela Geografia, ao publicar ainda aluno, os seus dois primeiros trabalhos (1914 e 1915), uma compilação (?) das prelecções do seu professor. No final do curso evidenciando as suas capacidades científicas deu à estampa Geografia moderna, Evolução, Conceito, Relações com outras ciências. Ensaio de

síntese (1917), que seria a sua Tese de licenciatura. Seguiram-se em breve duas obras de grande

qualidade. A primeira foi A Bacia do Vouga. Estudo geográfico (1922), considerando ser H. Lautensach "«(...) a primeira vez que um território português foi objecto de estudo geográfico digno desse nome»."260 Foi a sua dissertação de doutoramento. Publicou em seguida Viseu. Estudo de uma aglomeração urbana (1925), destinado ao concurso para Assistente na

Licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas: "Nomeado professor de Ciências Geográficas, apesar da diversidade de cadeiras que tinha de reger, nunca deixou de se interessar pelas ciências afins, como seja a pureza da linguagem geográfica." 261

As publicações de Amorim Girão iam-se sucedendo, testemunhando trabalhos de maior fôlego, que pelo seu rigor haveriam de sobrepujar o domínio restrito do meio científico, tornando-se mesmo conhecidas do grande público. Entre elas destacaram-se Geografia de

Portugal, (1941) com 3 edições posteriores, o Atlas de Portugal, (1941) e 2a edição em 1960, Geografia Humana (1946), a par de diversos trabalhos sobre os problemas do povoamento

português, da divisão administrativa do território nacional, etc."262

Idem, 1983, p. 69. C. Morais, 1962, p. 4. I. Amaral, 1982, p. 136.

Nas actividades académicas e científicas sobressai pelo " (...) pioneirismo, o esforço de sistematização, a fidelidade aos princípios metodológicos, a sua preocupação - enquanto as forças lho permitiram - de observar (,..)",263 mas também pelas obras e diversos artigos em

jornais regionais {Tribuna de Lafões) e de âmbito nacional {Novidades e Voz ), embora também tenha colaborado em diversas revistas, sobressaindo as nacionais. A. Girão foi um dos principais mentores da Biblos e o fundador do Boletim do Centro de Estudos Geográficos (1950-1967), sendo esta última publicação o corolário do seu velho sonho de autonomizar progressivamente a Geografia, ou mais correctamente dentro da sua linha de acção, conseguir para a Geografia um lugar de destaque no meio das outras ciências que eram cultivadas na Universidade de Coimbra. Para tal desde cedo pugnou pela fundação do Centro de Estudos Geográficos (1942), tendo mesmo afirmado que "(...) a todos deve impor-se a necessidade da criação de um Instituto de Geografia, onde possam preparar-se em regime de seminário os futuros investigadores (,..)"264, com o objectivo de incrementar a investigação teórico-prática em

Geografia, e em simultâneo, conseguir a publicação dos diversos trabalhos dos alunos e professores, tendo em mente uma projecção internacional através da reciprocidade de publicações e do convite a professores estrangeiros para darem cursos ou proferirem palestras, bem como a instituição dos Cursos de Férias ou de Verão para jovens universitários de outros países. Todos estes sonhos se concretizaram ainda em vida de.. Amorim Girão, que terminou após o "desfecho da doença final inacreditada, a 7 de Abril de 1960 (...) morriam com o Mestre, não só o homem simples, digno e bom , mas, quer se queira quer não, um capítulo importante, um capítulo de mudança, na história do pensamento geográfico português e uma atitude pedagógico-didáctica e de investigação científica verdadeiramente universitárias."265 A

comunidade científica internacional, com ligações a Portugal, noticiou o falecimento de A. Girão, como foi o caso do geógrafo alemão Hermann Lautensach, que publicou na revista

Petermans Mitteilungens em 1961(?) um artigo biográfico em homenagem ao seu ilustre colega

e amigo da Faculdade de Letras da Universidade Coimbra.

O conceito de Geografia para Amorim Girão é inicialmente determinista e naturalista, inspirado nas ideias ratzelianas de superioridade do Meio sobre o Homem, sendo profundamente influenciado pelas obras de Ellen Semple e do próprio Ratzel. No entanto, e é o próprio que o diz, a partir do início da década de vinte, o seu interesse desvia-se para a conceptualização da escola regionalista francesa de que adopta os princípios vidalianos, em particular a partir de Lucien Febvre e da obra de Jean Brunhes, La Géographie Humaine, estudo maior deste último autor que tomou o lugar que anteriormente tiveram as Influences of Geographic Environment, de Ellen Semple. Dentro desta corrente de pensamento geográfico preconizada principalmente por La Blache e Brunhes, surge a Escola de Geografia Regional, contrapondo-se ao determinismo naturalista da Escola Alemã. "A realidade é demasiado complexa e não pode ser expressada apenas por conceitos das ciência físicas. A região passa a ser objecto de estudo da Geografia, e é a essa escala que se vão combinar os fenómenos de

J. Oliveira , 1985 p. 140. A. Girão, 1950-A,p. 10. J. Oliveira, 1994, p. 122.

carácter físico e humano." ' O que em parte explica a sua aversão (encapotada..) a todas as formas de manifestação da Geografia Política e principalmente da Geopolítica.

A faceta do conceito de Geografia para Amorim Girão é-nos transmitida de um modo diferente, naturalmente mais rigoroso e mais realista, por quem de perto privou com Amorim Girão, referimo-nos ao Prof Pereira de Oliveira, que afirma: "Em 1918, mais correctamente quatro anos antes, segundo diz já sentia ser uma «impossibilidade harmonizar as diversas maneiras de vêr» dos Autores com cujas ideias se ia familiarizando e, em particular, as que registaram sobre a natureza do saber geográfico no questionamento do seu carácter científico ou não: Geografia, descrição; Geografia, explicação; Geografia, descrição explicativa. Mas não deixava de estar aberto e crítico às novas correntes e às novas concepções. Esse facto espelha- se na estrutura que deu ao seu pequeno trabalho de 1960: A) Geografia descritiva; B) Geografia explicativa e, claramente inovador em Portugal, e reflexo do seu acompanhamento; C) Geografia Aplicada. Esta nova perspectiva do ensino da Geografia aparece-lhe pois uma espécie de reconhecimento da legitimidade da contribuição do saber geográfico para a melhoria das condições de existência dos homens na lição das trágicas consequências da II Guerra Mundial. Aparece-lhe aceitável, como uma nova vertente, uma nova linha de desenvolvimento que lhe permite quase um estatuto de «instrumento» técnico, que crescentemente é solicitado pela sociedade e, por conseguinte, deve merecer um ensino apropriado" 267

Será no entanto incontestável que o conceito de Geografia para Amorim Girão nunca foi estático e menos ainda ultrapassado. Sem entrar numa análise exaustiva das suas obras, basta indicar algumas das citações retiradas do Boletim do Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra para constatar isso mesmo. Far-se-á uma análise do seu conceito de geografia, para que não suscite dúvidas. Logo no primeiro número da publicação, em Junho de 1950, refere que: " Os trabalhos apresentados à Faculdade de Letras de Coimbra têm carácter mais acentuadamente prático, demonstrando especial predilecção pelas monografias regionais, que constituem a característica dominante da escola francesa de Vidal de La Blache."268 Podemos comparar as Lições de Geografia Humana (1936), em que a influência

do pensamento de Ratzel e de Semple é bem manifesta, com a Geografia Humana (1948), onde se observa a preocupação clara de dar maior ênfase à acção do Homem sobre o Meio, provavelmente tendo em atenção a evolução epistemológica da geografia no post Segunda Guerra Mundial em que se rejeitava o neo-determinismo ratzeliano que e teria estado na origem da Geopolítica alemã cujas concepções legitimaram o expansionismo alemão.

O pendor de A. Amorim Girão para o espírito de síntese epistemológica das ciências e a admiração pela metodologia utilizada na Geografia regional estão bem patentes nos comentários elogiosos à obra geográfica da escola francesa, especialmente ao Atlas Général de Vidal de La Blache (1894) em que sublinha a correcta sobreposição cartográfica da divisão político-administrativa com os fenómenos geográficos sejam eles de natureza humana ou física.

Numa análise mais aprofundada sobre aspectos básicos da ciência geográfica em A. Amorim Girão, referimos que este apresenta inicialmente o objecto de estudo da Geografia em geral, destrinçando particularmente a própria Geografia Humana das sociedades de que ela faz parte, separando-a devido à sua especificidade da História, muito embora reconheça que ambas

M. Almeida, 1997, pp. 59 -60. J. Oliveira, 1994, p. 122. A. Girão, 1950-A, p. 9.

têm afinidades comuns: " A geografia, até mesmo a geografia humana, é ou deve ser, sempre e só, «ciência da terra»: nada tem que ver com o estudo das sociedades humanas. Do homem deve interessar-lhe apenas o que ele acrescenta à superfície terrestre. E, como ciência da terra, apenas poderá contribuir para o melhor conhecimento dos homens na medida em que estes, pelas suas obras, se retratam na mesma terra, e lhe dão por isso uma fácies especial (..) Embora intimamente relacionadas, e de tal maneira que uma delas nunca poderá dispensar os serviços da outra, a história e a geografia têm campos de investigação, princípios de método e pontos de vista diferentes (...) História social e geografia humana podem prestar serviços recíprocos e é necessário que os prestem. Tanto os historiadores como os geógrafos só têm a lucrar com essa colaboração."269 Como corolário, apresenta uma definição muito pormenorizada sobre os conceitos, objectivos e evolução da Geografia enquanto ciência.

No ano seguinte, na mesma publicação e na impossibilidade de citar tudo aquilo que nos pareceu indicador da definição do autor para a Geografia em Geral e para a Geografia Humana em particular, daremos relevância apenas aos aspectos que consideramos ser os mais significativos: "Também nós cremos, diga-se aqui em parêntese, que a geografia humana possa revelar o homem a si mesmo; mas apenas - importa acentuar bem - até ao ponto em que ele se retrata, pelas suas obras, na face da terra (...) importa regressar às mais genuínas fontes da geografia humana digna desse nome. E estas não são as de Ratzel, naturalista e zoólogo, que, assentando as bases científicas do estudo geográfico do Homem num século em que as atenções se tinham voltado por completo para a Terra e para a Matéria, e vendo apenas entre o ser humano e o animal inferior uma diferença de grau na escala biológica, veio a dar-nos uma concepção demasiadamente unilateral das suas relações com o meio.(..) A geografia, como Ciência da Natureza que é fundamentalmente gê, terra, embora seja alguma coisa mais do que isso, tem efectivamente, de preocupar-se sobretudo com os aspectos naturais da superfície terrestre; mas não pode desconhecer também os novos aspectos que o homem nela introduz, «tant en son fond et matière, qu'en ses fruits et en sa figure» (...) A completar e coroar a geografia física ou natural, vem por isso a geografia artificial, ou melhor, a geografia humana.(...) O homem, marcando a sua presença na superficie da terra como uma «nova esfera» do complexo geográfico (...) é um «facto geográfico» como o são os outros animais que povoam o nosso planeta. A geografia tem de estudar a sua distribuição, as suas relações com o meio e não pode desconhecer também as influências que o meio exerce sobre ele. É isto que constitui propriamente a Geografia do Homem ou, se quisermos, a Antropogeografia à maneira de Ratzel. Disciplina do Homem. Por outras palavras: método geográfico aplicado às ciências do homem, a cujo domínio tem a geografia de recorrer (...) O homem não marca, nestas condições, o seu lugar com a simples presença à superfície da terra: modifica-a também à sua imagem, acrescenta-lhe alguma coisa de novo. Dá origem ao «quarto estado da matéria»(Vallaux), a um «espaço construído» (Dardes), que todo ele é às vezes obra humana. A geografia não pode ignorar os aspectos resultantes dessa actividade modificadora da face da terra, muitos dos quais, ao fim de longos períodos de tempo, poderiam mesmo atribuir-se aos factores naturais. E é isto - não mais! - que em nosso entender constitui a Geografia Humana: ciência da terra, quer dizer, dos aspectos «humanos» da superfície terrestre. Noutros termos: estudo das modificações e acrescentos feitos pelo homem na face do planeta."270

Idem, 1957-B, pp. 98-99. Idem, 1952-1, pp. 1-19.

Como vemos, de uma concepção estritamente determinista, passou a admitir uma geografia mais possibilista, admitindo por conseguinte uma influência muito mais determinante do Homem sobre o Meio; mas mesmo assim não deixa de colocar algumas reticências à importância exclusiva da Geografia Humana como aquela cuja estrutura lhe permite uma melhor compreensão das transformações operadas na superfície terrestre.

3.2 - A Geografia Política e a Geopolítica na Obra de A. Girão

Não foi fácil escolher entre a numerosa bibliografia de A. Amorim Girão, duas ou três obras que constituíssem referências marcantes para a temática em estudo. Optou-se assim por seguir uma metodologia de escolha das obras baseada em três aspectos: 1-Uma obra que marcasse uma decisiva intervenção política do autor, embora feita em meios restritos; 2-Uma outra que constituísse uma referência essencialmente académica; 3-Finalmente, um título que fosse uma obra de referência sobre o trabalho científico do autor, destinado não só aos meios universitários como também ao público em geral.

Em face da conjuntura política, em que a consolidação do Salazarismo era já um facto, que se prolongaria até 1940, com a comemoração de diversos eventos históricos, fará sentido recordar o seguinte discurso que marcou a abertura oficial do ano escolar na Universidade em 1935. Talvez não por acaso tenha sido escolhido um geógrafo para fazer a «Oração de Sapiência», por ser quem naturalmente estaria em melhor situação para abalizar "(...) o problema sempre tão palpitante da nossa autonomia política, em face da geografia humana que «outra coisa não é senão a história no espaço, e em face da história que, por seu lado, outra coisa não é também senão a geografia no tempo»(Réclus)."271

O objectivo deste discurso é avaliar as condições geográfico-históricas que estiveram na origem da autonomia de Portugal, com evidentes propósitos políticos internos, com a exaltação do nacionalismo, mas também com uma função Geopolítica evidente, de afirmação do regime português perante os outros países europeus, particularmente a Espanha, onde a instauração de um regime republicano de esquerda, em que predominava a ideologia socialista, não agradava em nada ao governo português, que via nesse facto um factor de instabilidade, receoso mesmo de uma invasão ou ajuda aos grupos oposicionistas da Ia. república que se encontravam exilados

na pátria de Ramón y Cajal. Razão tem pois Amorim Girão ao firmar que um dos propósitos do seu discurso é precisamente: "Nesse mundo novo que se avizinha, mas cujo travejamento ainda não é possível imaginar com segurança, qual será o melhor arranjo da carta política da Ibéria?

<*272

O facto de Portugal ser um dos Estados mais antigos e com fronteiras estáveis desde há vários séculos, constitui um dos aspectos Geopolíticos mais interessantes na génese dos diversos países Europeus. As condições da autonomia de Portugal, quer dizer da sua afirmação enquanto Estado livre e soberano, conduziram muitos investigadores a inferir que a formação do Estado Português seria facilitada em extremo, senão mesmo a resultante da sua posição geográfica, no extremo ocidental da Península Ibérica. Significa isto que as condições naturais de Portugal, quase o condenavam a ser independente, uma espécie de determinismo político, quando a verdade é precisamente outra: O Estado e a Nação formaram-se por vontade própria

1 Idem, 1935-A, p. 8. 2 Ibidem, p. 9.

das populações que aqui habitavam, desde as planícies do litoral às montanhas do interior, todos tiveram a consciência de pertenceram a uma unidade colectiva - a Nação - cuja independência era preciso preservar através de lutas constantes para primeiramente alargar e depois manter a fronteira do Estado português.

A diversidade de condições naturais e humanas, será para outros razão não de uma união política de facto dos Estados Peninsulares, mas para a instauração de uma Confederação Ibérica, em que as diversas regiões adquiririam um maior desenvolvimento desde que a nível político e sócio-economico coordenassem esforços entre si, como salientou Gonçalo de Reparaz: "A geografia fez da Península um conjunto de regiões diversas que se completam e não podem fundir-se em uma nem separar-se. Estas regiões diversas e inseparáveis produziram nacionalidades históricas com caracteres, línguas, literaturas e tradições diversas. Os nossos antepassados resolveram o problema confederando-se. Aproveitemos a lição e tornemos a confederar-nos." 273

Poderíamos então deduzir que Portugal não terá em termos económicos viabilidade para continuar a ser um país independente, visto não existirem no seu território nacional recursos suficientes para que o Estado português possa ser autónomo, e como querem alguns, não tenha ainda sido absorvido pela Espanha devido ao apoio político e económico do Reino Unido, que subjugaria o nosso país, não passando este de um simples protectorado mais ou menos disfarçado, com algumas veleidades políticas. Mas quais são as condições político-económicas para que um Estado possa ser independente? Segundo Amorim Girão, a diversidade de recursos naturais constitui, com efeito, uma condição que muito favorece a diferenciação política, segundo a teoria de Vallaux, na qual podem considerar-se meios favoráveis à eclosão e ao desenvolvimento dos Estados, aquelas regiões em que no menor espaço se encontrarem reunidas as mais diversas formas da vida terrestre e humana. Como exemplos, A. Girão cita o caso dos países mais estáveis e prósperos da Europa, a saber: a Inglaterra, a França, a Bélgica, a Alemanha e a Suíça, constituídos cada um deles por diversas regiões que do ponto de vista natural e económico se complementam entre si.

Introduz um elemento inovador na Geografia Política portuguesa, ao considerar como Paiva Boléo, essencial a existência de um centro político-administrativo, que seja ao mesmo tempo um pólo económico com o respectivo hinterland, capaz de enquadrar a população num quadro geográfico individualizado, que desde cedo manifestou vontade e capacidade de autonomia, tornando-se assim o pólo aglutinador do novo Estado. Muitas vezes esse desenvolvimento económico é de si mesmo resultante de condições naturais vantajosas, como a proximidade do mar num litoral recortado: "Conforme escreveu Kirchoff, «o mar assegura a um Estado três dos seus dons mais preciosos e mais indispensáveis: a independência, a unidade e o poder»." O último factor condicionante da existência de um Estado é aquele que se prende com a vontade humana de vencer num meio adverso, mas que se complementa com o factor religioso ou espiritual, cimento da unidade nacional.

Para A. Girão, a formação dos Reinos Ibéricos, ficou a dever-se às condições naturais bem como à situação geográfica da Península Ibérica, situada no extremo ocidental da Europa e muito próxima do Norte de África, constituiu desde sempre um local de passagem quando não de fixação de uma diversidade de povos (onde sobressaem os Lusitanos que não considera os

Ibidem, pp. 11-12.

antepassados directos dos Portugueses) os quais se fixaram no litoral, onde as condições de vida seriam menos penosas do que no interior montanhoso.

A formação de Portugal para o geógrafo de Coimbra, que neste particular tem uma posição muito idêntica à de Oliveira Martins, resultou da vontade política de uma parte da nobreza e não da acção colectiva da Nação, que não existiria como tal. Mesmo o próprio Estado apresentava limites ainda mal definidos, expandindo-se segundo as áreas de menor oposição política na impossibilidade de conquistar territórios para oriente onde "(...) a existência doutro poder político igualmente forte e animado de igual tendência de expansão limitava o avanço português, que ainda se deteve nas linhas de água que lhe protegiam o flanco: