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de identificar a dependência de álcool. Já o ASSIST (Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test ou questionário de triagem de álcool, tabaco e outras substâncias), também criado pela OMS, avalia o uso de álcool e outras drogas, bem como problemas relaciona- dos. Para a triagem da população adolescente, o DUSI (Drug Use Screening Inventory ou inventário de triagem de uso de drogas) e o Teen-ASI (Addiction Substance Index ou escala de gravidade de dependência), ambos validados por pesquisadores brasileiros, anali- sam o uso de álcool e outras drogas.

Assim, a triagem é o primeiro passo para a avaliação do consu- mo de álcool e/ou outras drogas e de problemas relacionados. Além disso, vários estudos mostram que a triagem pode representar grande oportunidade para abordar, junto ao usuário, os diferentes aspectos do consumo, assim como para aumentar sua motivação para mudança de comportamento.

Ao avaliar ou investigar o consumo de álcool e/ou outras drogas, é importante identificar a disposição ou motivação da pessoa para o tratamento ou intervenção. Para isso, o indivíduo deve sentir-se à vontade para falar sobre si mesmo, sobre os problemas que está vivendo e sobre a relação destes com o uso de drogas. Muitos usuários não acham que o uso que fazem de álcool e/ou outras drogas lhes traga problemas e, por essa razão, mostram-se pouco ou mesmo nada motivados a receber intervenção. Alguns, entretanto, percebem os problemas decorrentes do uso de substâncias, mostrando-se motiva- dos a receber intervenção.

De acordo com pesquisadores que trabalham com a técnica da entrevista motivacional, a motivação é um estado de prontidão ou disposição para mudança, que pode variar de tempos em tempos ou de uma situação para outra. Esse é um estado interno, mas pode ser influenciado (positiva ou negativamente) por fatores externos (sejam pessoas ou circunstâncias).

Tal prontidão ou disposição para mudança foi descrita pelos psicólogos James Prochaska e Carlo DiClemente por meio dos chamados estágios de mudança. A identificação do estágio em que o usuário se encontra permitirá que você avalie quanto ele está disposto a mudar seu comportamento de uso de substâncias ou seu estilo de vida. Com base nessa identificação, será possível saber como se posicionar durante a intervenção.

1. Estágio de pré-contemplação

O usuário não encara seu uso como problemático ou causador de problemas, tampouco considera algum tipo de mudança. Em geral, não busca tratamento voluntariamente, e sim por causa dos pais, família, escola, trabalho ou por encaminhamento judiciário. O indiví- duo nesse estágio:

• não está consciente de que seu comportamento está causan- do problemas a si ou a outros;

• acredita estar imune às consequências adversas do uso (ex.: acredita que não se tornará dependente ou que tem controle sobre o uso);

• resiste ou nega as consequências trazidas pelo uso de drogas; • não manifesta a intenção de parar ou reduzir o consumo.

2. Estágio de contemplação

O indivíduo se mostra ambivalente em relação a seu uso. Em geral, reconhece o problema, mas procura justificar ou minimizar seu comportamento. Por exemplo, à pergunta “Você percebe que seu consumo está bastante elevado e que isso pode estar relacionado aos problemas que vem apresentando no trabalho?”, ele responde: “Sim, percebo; mas não é sempre que isso acontece/não é bem assim”. Isso

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reflete que parte dele quer mudar e parte não. Muitos usuários ficam bastante tempo nesse estágio.

3. Estágio de ação

Para atingir esse estágio, é necessário que o indivíduo: • perceba que seus problemas têm solução;

• acredite que é capaz de mudar;

• desenvolva um plano de ação, que pode significar reduzir ou parar o consumo.

4. Estágio de manutenção

É o mais importante e difícil estágio de mudança. Para perma- necer nele, muitas vezes o indivíduo tem de reorganizar seu estilo de vida, desenvolver habilidades de enfrentamento de dificuldades e procurar se engajar em outras atividades sociais e recreacionais. Isso, muitas vezes, não é fácil, pois requer que ele parta para outro grupo de amigos, outro modo de vida, ou seja, comece tudo de novo.

5. Recaída

Consiste no retorno ao comportamento de consumo (que pode ser problemático ou não). A recaída é frequentemente acionada por emoções, conflitos com outras pessoas, pressão dos amigos ou outros estímulos, como voltar a um lugar no qual costumava consu- mir a droga ou encontrar alguém com quem a usava. Muitas vezes, a recaída acontece porque a pessoa está confiante e acha que já pode “controlar” o uso. Ao tentar fazer esse “uso controlado”, é comum perder o controle e recair. É importante salientar que alguns deslizes e recaídas são normais e até esperados quando o usuário está tentando mudar seu padrão de comportamento.

Assim, para que mude seu comportamento, o indivíduo precisa estar pronto, disposto e sentir-se capaz de realizar essa mudança. Estar pronto e disposto a diminuir ou parar o uso depende muito da impor- tância dada pelo usuário à necessidade de mudar. Pensar em mudar é importante, mas nem sempre é suficiente para colocar a mudança em prática. Algumas vezes, uma pessoa está disposta a mudar, porém não acredita ser capaz disso. Portanto, mostre ao usuário a importância e os ganhos provenientes dessa mudança e demonstre a ele quanto acredita em sua capacidade de mudar.

Miller e Sanchez (1993) propuseram alguns elementos essen- ciais ao processo de IB, reunidos na abreviação FRAMES:

F ( ): Triagem ou avaliação do uso de substância

e devolutiva ao usuário

Avaliam-se o consumo de álcool e/ou outras drogas e proble- mas relacionados a esse consumo por meio de instrumentos padroni- zados. Após essa avaliação, é dado um retorno, ou feedback, ao usuário sobre os riscos atrelados a seu padrão de consumo. Isso pode servir também de ponto de partida para convidá-lo a receber intervenção.

R ( ): Responsabilidade e metas

Nessa etapa, procura-se realizar uma “negociação” com o usuário a respeito das metas a serem atingidas: se interrupção do

consumo ou uso moderado. Enfatiza-se aqui a responsabilidade do indivíduo para atingir a meta estabelecida, mostrando que ele é o

responsável por seu comportamento e por suas escolhas sobre usar drogas ou não. A mensagem a ser transmitida pode ser algo do tipo: