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Os programas de tratamento eficazes para abuso e dependên- cia de drogas tipicamente incorporam muitos componentes, cada um direcionado a um aspecto particular da doença e suas consequências.

Existe extensa evidência de que o tratamento para dependência de drogas é tão eficaz quanto os tratamentos para a maioria das condi- ções médicas crônicas. Muitos, porém, não acreditam nisso, em parte devido a expectativas irreais. Várias pessoas relacionam a dependência a simplesmente usar drogas e, com isso, esperam que o problema seja resolvido rapidamente. Se isso não ocorre, o tratamento é falho. Entretanto, visto que a dependência é uma doença crônica, o objetivo final de abstinência em longo prazo requer, frequentemente, múltiplas e repetidas tentativas de tratamento.

A seguir, apresenta-se o resumo das recomendações com substancial confiabilidade clínica da Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2006) para o tratamento de indivíduos com trans- tornos por uso de substâncias psicoativas. Essas recomendações aplicam-se perfeitamente à realidade brasileira.

1. Elementos da avaliação

A avaliação completa é essencial para guiar o tratamento do indivíduo com abuso ou dependência de drogas.

A avaliação inclui:

a) história passada e presente detalhada do consumo de drogas e efeitos destas no funcionamento cognitivo, psicológico e comporta- mental do indivíduo;

c) levantamento do histórico de tratamentos psiquiátricos prévios;

d) avaliação familiar e social;

e) testes toxicológicos para drogas de abuso, quando necessários;

f) exames laboratoriais para investigar a presença de outras condi- ções médicas frequentemente coexistentes com transtornos por uso de drogas;

g) obtenção de informações adicionais com familiares ou pessoas de seu convívio, quando autorizada pelo indivíduo.

2. Manejo psiquiátrico

O manejo psiquiátrico é primordial no tratamento de indiví- duos com abuso ou dependência de drogas.

Os objetivos específicos são:

a) motivar o indivíduo para a mudança;

b) estabelecer e manter uma aliança terapêutica;

c) monitorar o estado clínico do indivíduo;

d) tratar os quadros de intoxicação e abstinência;

e) desenvolver e facilitar a aderência à proposta terapêutica;

f) prevenir a recaída;

g) promover psicoeducação sobre abuso e dependência de drogas;

h) reduzir as doenças e sequelas relacionadas.

O manejo psiquiátrico é frequentemente associado a outras abordagens, como comunidades terapêuticas, clínicas, programas de desintoxicação, tratamentos ambulatoriais e de internação.

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3. Tratamentos específicos

As abordagens farmacológica e psicossocial são geralmente aplicadas em programas que combinam diferentes modalidades de tratamento.

• Tratamentos farmacológicos

A abordagem farmacológica é benéfica para determinados indivíduos com transtornos por uso de substâncias psicotrópicas, sendo indicada para tratamento de outras patologias associadas ou sintomas importantes causados pela dependência, como depressão, ansiedade ou quadros psicóticos. Entretanto, medicações específicas para diminuir a vontade de usar a droga ou controlar o impulso de consumi-la ainda estão em fase de desenvolvimento, com resultados controversos.

As categorias de tratamentos farmacológicos são:

a) medicações para tratar a intoxicação e os quadros de abstinência;

b) medicações para diminuir os efeitos que promovam ou facilitem a autoadministração das drogas de abuso;

c) medicações que desencorajam o uso de drogas por induzir conse- quências desagradáveis pela interação do medicamento com a droga de abuso;

d) terapia de substituição por agonistas, ou seja, medicamentos que competem pelos mesmos receptores em que age a droga de abuso;

e) medicações para tratar outros transtornos psiquiátricos associados.

• Tratamentos psicossociais

São um componente essencial no programa de tratamento dos transtornos por uso de drogas. Os tratamentos psicossociais baseados

em evidência científica incluem: terapia cognitivo-comportamental (prevenção de recaída, treinamento de habilidades), entrevista motiva- cional, técnica dos Doze Passos, terapia psicodinâmica/interpessoal, grupos de ajuda mútua, intervenções breves, terapia de grupo, terapia de casal e terapia familiar.

4. Formulação e implementação de um plano de tratamento Os objetivos do tratamento e as modalidades terapêuticas utilizadas para alcançá-los podem variar para cada indivíduo, bem como para um mesmo indivíduo nas diferentes fases da doença. Visto que a dependência é uma doença crônica, os indivíduos normalmente necessitam de tratamentos longos, embora a intensidade e os compo- nentes específicos do tratamento possam variar ao longo do processo.

O plano de tratamento inclui os seguintes componentes: a) manejo psiquiátrico;

b) estratégias para alcançar a abstinência ou reduzir os efeitos das substâncias de abuso;

c) esforços para aumentar a adesão ao programa de tratamento, prevenir a recaída e melhorar o funcionamento global;

d) tratamentos adicionais necessários para indivíduos com comorbi- dades clínicas ou psiquiátricas.

A duração do tratamento deve ser definida de acordo com as necessidades de cada indivíduo e pode variar de poucos meses a vários anos. É importante intensificar o monitoramento do uso de drogas nos períodos em que o indivíduo possa estar sob maior risco de recaída, como nos estágios iniciais do tratamento, nos períodos de transição para níveis de cuidados menos intensivos e no primeiro ano depois de o tratamento ativo ter sido cessado.

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5. Regime de tratamento

Varia de acordo com a disponibilidade de modalidades especí- ficas de tratamento, o grau de restrição de acesso às drogas, a disponi- bilidade de cuidados médicos gerais e psiquiátricos e a filosofia do tratamento a ser indicado.

Os indivíduos devem ser tratados no ambiente menos restriti- vo possível e que seja seguro e eficaz. Os regimes comumente disponí- veis para tratamento incluem hospitais, comunidades terapêuticas, hospital-dia e ambulatórios. Decisões acerca do regime de tratamen- to devem ser baseadas na capacidade do indivíduo de cooperar com o tratamento oferecido e se beneficiar dele, conter o uso de drogas e evitar comportamentos de risco, bem como na necessidade de trata- mentos específicos disponíveis somente em alguns regimes.. Os indivíduos mudam de um nível de cuidado a outro conforme os fatores acima e sua capacidade de se beneficiar dos diferentes níveis de cuidado.

6. Características clínicas que influenciam o tratamento

O planejamento e implementação do tratamento devem considerar: as condições médicas gerais e a presença de comorbidades psiquiátricas, fatores relacionados ao gênero, idade, condição social e de moradia, fatores culturais e características familiares. Dada a alta prevalência de abuso e dependência de drogas em comorbidade com outros transtornos psiquiátricos, é importante distinguir os sintomas do uso de substâncias psicotrópicas daquelas relacionadas a outros transtornos, providenciando tratamento específico, tanto farmacoló- gico como psicoterápico, para o quadro comórbido .