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Ainda que existam várias formas de tratamento nos dias atuais, nenhuma intervenção se mostrou mais efetiva que outra, pois a efetividade do tratamento depende de sua indicação adequada. Considerando que o quadro clínico e as consequências advindas da dependência de álcool e drogas dependem de (1) quem usa (indiví- duo e fase de vida), (2) em que momento usa (contexto), (3) tipo de droga consumida, (4) quantidade e (5) frequência de uso, a indicação de tratamento dependerá da avaliação minuciosa inicial. Como essas consequências variam muito, a diversidade de tratamentos existentes é benéfica, uma vez que torna possível atender a diferentes demandas de indivíduos distintos ou de um mesmo indivíduo em outra fase dessa doença crônica.

Portanto, o tratamento deve ser o mais individualizado possí- vel. Ainda que não exista um único tratamento ideal, algum tratamen- to é melhor que nenhum e, quanto mais cedo for iniciado, melhores as chances de uma resposta favorável.

Posteriormente, na Unidade 11 – Políticas de saúde para a atenção integral a usuários de drogas, serão discutidos a política de saúde brasileira e o acesso aos serviços públicos no sistema de saúde, principalmente com relação à rede assistencial para a atenção a usuários de álcool e outras drogas.

E.F.B., masculino, 18 anos, solteiro.

Desde a idade pré-escolar era tido como uma criança agitada, inquieta, que parecia estar a todo instante “ligada em 220 V”. Vivia sendo criticado por familiares por seu comportamento inadequado em vários ambientes. Mexia em tudo e não parava quieto por um minuto sequer. Era constantemente repreendido por seus pais em

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praticamente todos os lugares. Na escola, tal comportamento se mantinha e, embora tivesse facilidade para fazer amigos, também os perdia com a mesma rapidez devido a sua impulsividade. Logo nos primeiros anos na escola já havia se tornado o “boi de piranha” da turma.

Essas alterações comportamentais se mantiveram na adoles- cência, época em que, por curiosidade, experimentou maconha pela primeira vez. Gostou do efeito “relaxante” que a droga lhe causou, sentindo-se tranquilo como nunca havia se sentido. Passou a fazer uso mais frequente dessa substância e na sequência experimentou cocaína. Com essa droga, apresentou uma até então desconhecida sensação de felicidade e de poder. O consumo, que antes era restrito aos finais de semana, começou a ser mais frequente, chegando ao crack. A cocaína e o crack se tornaram suas drogas de escolha, e ele fazia uso, ainda, de maconha de forma abusiva. Em consequência disso, passou a apresentar queda do rendimento escolar, com repetências. Aos 16 anos, evadiu-se da escola, sem completar o ensino médio, e envolveu- -se com grupos desviantes. Decidiu, então, praticar atos ilícitos – inicialmente, dentro de casa, pegando dinheiro dos pais e vendendo objetos para comprar a droga; depois, na rua, praticando furtos e assaltos. Os pais não sabiam mais o que fazer e se perguntavam quando foi que perderam o filho, queixando-se das desgraças que ele trazia àquela casa. Acreditavam que o jovem já havia nascido com problemas de caráter, visto que sempre foi “encapetado”. Viam-no como um caso perdido.

O jovem apresentava um quadro grave de dependência de cocaína e crack, além de abuso de maconha. Chegou ao tratamento pela primeira vez aos 18 anos, motivado por sintomas de perseguição e alucinações visuais e auditivas que vinha apresentando havia mais de 30 dias, além de quadros de agressividade física dirigida a si e a terceiros.

Um plano de tratamento inicial possível para esse jovem seria o seguinte:

1) Tratamentos psiquiátrico e farmacológico:

• Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.

• Abuso de maconha e dependência de cocaína e crack.

• Psicose, possivelmente secundária aos efeitos das drogas de abuso.

2)Regime de tratamento:

• Primeiro, internação em hospital psiquiátrico, tanto para promoção inicial da abstinência como para tratamento dos quadros psiquiátricos comórbidos, objetivando a preserva- ção de sua integridade física e psíquica.

• Posteriormente, tratamento ambulatorial, com acompa- nhamento multidisciplinar (psicoterapia cognitivo- -comportamental, entrevista motivacional, prevenção de recaída, consultas psiquiátricas e clínicas).

3) Terapia e orientação familiar desde o início do processo de tratamento.

4) Tratamento psicológico específico para as comorbidades existentes.

5) Acompanhamento psicopedagógico objetivando a reinser- ção escolar.

6) Orientação profissional.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BURNS, J. E. O modelo Minnesota no Brasil. 2. ed., jul. 1988. Disponível em: <http://vilaserena.com.br/ventos/modminn.pdf>. Acesso em: fev. 2011.

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MILLER, W. R.; ROLLNICK, S. Motivational interviewing: preparing people to change addictive behavior. New York: The Guilford Press, 1991.

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A efetividade do tratamento depende de indicação adequada.

Considerando que o quadro clínico e as consequências advin- das da dependência de álcool e outras drogas dependem de (1) quem usa (indivíduo e fase de vida), (2) em que momento usa (contexto), (3) tipo de droga consumida, (4) quantidade, (5) frequência de uso, a indicação de tratamento dependerá da avaliação minuciosa inicial. Como essas consequências variam muito, a diversidade de tratamen- tos existentes é benéfica, uma vez que torna possível atender a dife- rentes demandas, de indivíduos distintos ou de um mesmo indivíduo em outra fase dessa doença crônica.

O tratamento deve ser o mais individualizado possível.

Na próxima aula verificaremos o papel das intervenções breves no tratamento de indivíduos dependentes.

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1. Entre os medicamentos NÃO recomendados para auxiliar no tratamento da dependência, encontram-se:

a. Medicamentos para tratar a intoxicação e a abstinência.

b. Medicamentos para diminuir os efeitos que facilitem a autoadministração de drogas.

c. Antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos.

d. Terapia de substituição com agonistas.

e. Medicamentos para tratar outros transtornos psiquiátricos associados à dependência.

2. O tratamento da dependência deve, por si só, ser o mais indivi- dualizado possível, já que as consequências decorrentes do uso de drogas variam para cada um. Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma dessas consequências:

a. Indivíduo e fase da vida.

b. Contexto.

c. Tipo de droga.

d. Quantidade de droga.

e. N.D.A.

3. Sabe-se que o regime de tratamento varia de acordo com a disponibilidade de modalidades específicas de tratamento, o grau de restrição de acesso às drogas, a disponibilidade de cuidados médicos gerais e psiquiátricos e a filosofia do tratamento a ser indicado. Assim, as principais decisões a serem tomadas em relação a esse tratamento devem ser baseadas principalmente:

a. Na capacidade do indivíduo de cooperar com o tratamento.

b. Na ineficiência da terapia.

c. No tipo de droga utilizada.

d. No tipo de abordagem psiquiátrica.

ENTREVISTA MOTIVACIONAL