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DA NARRATIVA DE DEVIOUS MAIDS: DIEGESE E REPRESENTAÇÃO

6 NO SET DE ANÁLISE: PRODUÇÃO E (REPRESENT)AÇÃO

6.2 DA NARRATIVA DE DEVIOUS MAIDS: DIEGESE E REPRESENTAÇÃO

Dando continuidade à análise do plano constitutivo da série, escolhemos como microcategorias de análise as coordenadas que fundamentam qualquer narrativa: espaço, tempo e personagens. Localizada diegeticamente na Califórnia, em Los Angeles, a série retrata especificamente o bairro de Beverly Hills, onde geralmente celebridades de diferentes níveis e áreas residem. De acordo com o censo de 2010, (CENSUS, 2010), o bairro contava com 34.109 habitantes, divididos etnicamente em brancos (63%), negros (12%) e latinos brancos (8,7%) ou de raças diversas (16,3%). Dos latinos residentes na Califórnia, em particular na região de Los Angeles e Long Beach, 78% têm origem mexicana (BROWN; LOPEZ, 2013).

Esses dados ajudam a compreender a escolha da localização para uma série sobre mulheres latinas que trabalham como empregadas, assim como explicam a divergência de origem étnica das atrizes do elenco e aquelas que assumem nas telas. Situar o enredo baseado no contato doméstico-profissional entre elite americana e trabalhadores do lar no sul dos Estados Unidos estreita os laços de verossimilhança da série, o que é atingido alternativamente a menor diversidade de grupos latinos na tela. Isto é, latinos de origem mexicana são mais numerosos na Califórnia, logo situar midiaticamente mulheres dominicanas nesses locais seria

incoerente com o conhecimento popular. Ao fazer isso, a emissora defende uma categoria étnica única para mulheres de traços físicos distintos entre si – como pode ser visto pelas feições das atrizes Ana Ortiz, Danila Ramirez e Judy Reyes.

Em Beverly Hills, os cenários podem ser divididos em externos ou internos. Os internos são as residências dos patrões americanos ricos, e a casa de Zoila Diaz (única residência das empregadas a ser inserida na trama). Os externos, por sua vez, são locais fora do ambiente doméstico por onde circulam as empregadas e que tanto auxiliam a verossimilhança do produto audiovisual, quanto são recursos para complicação do enredo. É importante salientar que ao mostrar o bairro onde a empregada Zoila mora, a Lifetime reforça o estereótipo da periferia perigosa e etnicamente marcada, criando uma cisão entre ambientes adequados para minorias e para americanos brancos.

Quanto ao tempo, Devious Maids não busca apoio em nenhuma coordenada específica de local ou época do mundo real, isto é, não encontramos referências a eventos históricos, situações políticas, celebridades ou produtos de cultural popular; da mesma maneira não vemos representados nem citados nomes de ruas, locais famosos de Beverly Hills ou instituições que aparecem na trama, como cemitérios ou hospitais. Essa higienização pode ser decorrente da mudança do local de filmagem – o qual por questões financeiras, foi alterado para o estado da Geórgia – ou um recurso do próprio estúdio para evitar questões de direitos de imagem. O resultado, porém é e ameaça a verossimilhança do produto audiovisual diante da audiência.

Para evitar que o universo diegético seja compreendido pelo telespectador como inteiramente fantasioso, alguns recursos foram utilizados para fundir parâmetros do mundo real e do fictício (JOST, 2007). Uma estratégia para isso é mencionar locais reais durante as diversas interações entre as personagens. Dessa maneira, logo em sua abertura, a série declara se passar na Califórnia, em Beverly Hills, e, no sexto episódio, o bairro de Canon Drive é pontuado como localização específica de residência das personagens de elite.

No caso específico dos cenários, os ambientes externos contribuem para a fusão de parâmetros dos mundos fictício e real, mas não envolvem eventos que influenciem diretamente a trama. Assim, quando vemos as protagonistas no cemitério, no mercado, ou penitenciária não há desenvolvimentos narrativos, mas uma reapresentação dos eventos já acontecidos.

Quadro 6 Locais externos que situam o universo diegético de Devious Maids, fundindo os mundos fictício e real. a) lanchonete; b) cemitério; c) cinema; d) bistrô;

e) penitenciária; f) escritório da advogada.

Fonte: Lifetime (2013)

Os cenários internos são os mais recorrentes, tanto por serem o local de atuação das empregadas, como por ajudarem a compor a identidade de cada núcleo narrativo. Os cenários não valem por si só, “mas só tem sentido com relação às personagens” (VANOYE; GOLIO-LÉTÉ, 2008, p.77), todavia, optamos por não descrevê-los, uma vez que se associam à construção da identidade dos patrões americanos, e apenas tangencialmente se ligam às representações sobre as mulheres latinas.

No que diz respeito a microcategoria de tempo da narrativa, em virtude das configurações do seriado enquanto formato televisivo e da mescla entre realidade e ficção propostas, Devious Maids não situa sua narrativa em nenhum ponto específico da história recente dos Estados Unidos. Entretanto, somos capazes de situar o seriado em um contexto relativamente contemporâneo pelo uso de celulares e modelos de carro que ocasionalmente aparecem nas cenas externas. A falta de coordenadas do tempo real por não construir verossimilhança é um risco para os telespectadores menos críticos: sem quaisquer indícios de que assistem a uma construção fictícia, podem entender como universais ou atemporais as situações e interações propostas na série.

Além disso, era esperado o uso de dispositivos narrativos que contribuíssem para a não-linearidade dos eventos típicos da narrativa complexa. Durante a primeira temporada, portanto, acompanhamos os episódios como se se desenvolvessem no presente, apesar de a presença implícita de um narrador já sugerir cada episódio como acontecimentos passados – aspecto particularmente importante para o episódio piloto, responsável por apresentar o “presente” da narrativa. Além disso, há uso do flashback e inversão na sequência de apresentação dos eventos em episódios específicos.

Nos voltamos, por fim, para a construção das protagonistas da série: cinco mulheres de etnia latina que trabalham como empregadas em mansões de luxo em Beverly Hills. O desenvolvimento narrativo de suas biografias, para a janela temporal compreendida na primeira temporada, está vinculado ao de seus patrões e, casualmente, entre si. Podemos organizar as biografias das empregadas e de seus patrões da seguinte maneira:

Quadro 7 Quadro dos Núcleos Narrativos da Primeira Temporada. Núcleo 1 Flora/Marisol Suarez Evelyn e Adrian Powell Núcleo 2 Zoila e Valentina Diaz Remi e Genevieve Delatour Núcleo 3 Rosie Falta Peri e Spence Westmore Núcleo 4 Carmen Luna Alejandro Rubio

Núcleo 5 Marisol Suarez Taylor e Michael Stappord Fonte: autoria própria (2017).

O núcleo 1 é o que primeiro aparece na série: a empregada Flora e seus patrões. Posteriormente, com o assassinato da empregada, o casal Evelyn e Adrian Powell irão aceitar Marisol Suarez e Rosie Falta como suas empregadas temporárias. A narrativa, ou melhor, o fim da existência narrativa de Flora envolve

todas as empregadas e duas das famílias de elite (os Powell e os Delatour), mas é também o ponto de contato entre todas as empregadas.

O segundo núcleo, Zoila e Valentina, é dividido em duas sequências narrativas que se tornam cada vez mais independentes com o progredir da temporada. Todavia, para ambas as personagens não há desprendimento da residência dos patrões: os conflitos narrativos de Valentina envolvem sua relação com Remi Delatour, enquanto a narrativa de Zoila diz respeito a como ela lida com a vida amorosa de sua filha ou a vida romântico-financeira de sua patroa.

Para Valentina, trabalhar como empregada foi a solução encontrada para as dificuldades financeiras que a impediram de se matricular na faculdade de moda. Trabalhando com a mãe na residência Delatour, ela desenvolve um interesse romântico pelo filho da patroa, Remi Delatour. Os eventos que durante a primeira temporada constituem a narrativa de Valentina tornam evidentes questões de classe

(empregada-patrão), e etnia (ao convidar o namorado para jantar em sua residência).

Os eventos da biografia de Zoila, por sua vez, são pouco detalhados nessa primeira temporada, mas sabemos que a personagem é com maior tempo de atuação profissional como empregada (quase 20 anos) e, ao contrário das demais, respeita a cumplicidade suposta entre patrões e empregadas. Em termos de sua vida pessoal, Zoila vive em função de uma decepção amorosa com o irmão de sua patroa, e não é

inteiramente satisfeita com seu casamento com Pablo Diaz (de quem não sabemos muito durante a primeira temporada). Para Zoila, a afeição de sua filha pelo jovem Remi poderia levar à repetição de sua própria decepção e, por isso, busca dificultar as investidas de Valentina. Eventualmente, ela muda de ideia quanto ao relacionamento do jovem casal e decide penhorar seus bens para pagar a faculdade de moda da filha. Nota-se, portanto, que sua narrativa envolve questões de classe

Fonte: Lifetime (2013) Figura 8 Valentina Diaz

Figura 9 Zoila Diaz

(patrão-empregada), em sua interseção com questões de gênero e etnia (mulher latina/ homem branco americano) e da maternidade (é notadamente o papel de mãe que orienta suas ações).

A narrativa de Rosie Falta é dependente quase em totalidade de seus patrões a ponto de que o conflito amoroso que engendra o desenvolvimento da personagem envolve justamente Spence Witmore, seu patrão. Uma jovem viúva cujo marido policial fora

assassinado pelo cartel de drogas no México, Rosie emigra para os Estados Unidos e começa a trabalhar como empregada para pagar o processo emigratório de seu filho Miguel. Eventualmente, Rosie se envolve com seu patrão, gerando um conflito entre seu lado amoroso e sua crença religiosa. É possível dizer, então, que os grandes eventos da narrativa de Rosie são orientados para a maternidade e sua sexualidade – levemente oposta à religiosidade.

O quarto núcleo narrativo é pouco mais desvinculado dos outros núcleos: apenas o emprego na área de Beverly

Hills e o trabalho que inicia como empregada faz com que Carmen Luna possua algo em comum com as demais empregadas. De outro modo, vemos que sua narrativa é movida, principalmente, pela ambição de se estabelecer como cantora nos Estados Unidos, ou pela relação amorosa com o motorista (Sam).

São temas estruturadores da narrativa de Carmen a independência financeira e sua sexualidade. Este segundo aspecto é afirmado tanto no liberalismo que a personagem defende em oposição à Rosie Falta, quanto à fuga de uma relação matrimonial infeliz em Porto Rico. Importante observar que, assim como Marisol Suarez, Carmen é uma recém-chegada no papel de empregada, porém, já no começo do primeiro episódio parece bem mais integrada ao modo de vida das empregadas.

Fonte: Lifetime (2013) Figura 10 Rosie Falta

Fonte: Lifetime (2013) Figura 11 Carmen Luna

Marisol Suarez, por sua vez, não é uma empregada, mas uma professora universitária que resolve se disfarçar para

investigar o assassinato de Flora e, assim, inocentar seu filho adotivo - prestes a ser condenado pelo crime. O não enquadramento de Marisol no perfil típico de empregada é, na verdade, apontado diversas vezes por seus supostos patrões, capazes de ler um comportamento

(linguístico e social) pouco condizente com aquele cargo.

Apesar do papel profissional proposto como local social protagonista da série, o desenvolvimento das personagens não se dá apenas em função de seu emprego. Na verdade, para a maioria das protagonistas, cenas fora do âmbito das atividades profissionais mostram ao telespectador aquelas personagens como socialmente situadas e dotadas de outras preocupações além da limpeza de lares alheios. Por isso, as preocupações profissionais ou familiares são desenvolvidas em paralelo a seus afazeres nas residências.

Retomando a natureza multimodal do nosso estudo, achamos pertinente discutir aqui a construção visual das mulheres latinas. Em primeiro lugar, observamos um espectro crescente de idades, com Valentina na extremidade mais jovem, ao passo que Rosie, Carmen (a única cuja idade é revelada), Marisol e Zoila são respectivamente mais maduras. Com isso, a série parace promover não somente a facilidade de qualquer mulher latina se tornar uma empregada, como de não precisar buscar outros modos de vida nos Estados Unidos.

Além disso, comentamos anteriormente que, apesar da diversidade étnica das atrizes, os papeis que as atrizes receberam estreitam as origens aos grupos mexicano (Rosie, Zoila e possivelmente Marisol) e porto-riquenho (Carmen). Ainda, Valentina, filha de Zoila, descendente de mexicanos, com Pablo Diaz (etnia não mencionada) herda os traços físicos do pai, com cabelos escuros e pele clara – o que a permite passar por uma americana. O filho de Marisol, por sua vez, adotado, também expõe a tendência de “embranquecimento” de gerações posteriores de famílias latinas já emigradas para os Estados Unidos. Isto é, a Lifetime sinaliza que além de estar no país, aprender os costumes e falar a língua, sujeitos de contextos

Figura 12 Marisol Suarez

culturais não americanos para serem aceitos como membros de tal grupo devem, também, passar por uma assimilação de traços étnicos.

Ainda sobre o físico da mulher latina, comum às mulheres latinas da série está o padrão de beleza baseado em cabelos compridos escuros, seios e quadris volumosos e pernas longas (ou alongadas por saltos, usados inclusive nas cenas que se dedicam às atividades do lar). Os cartazes promocionais (vide Anexos) são exemplos de como esses traços foram explorados pela Lifetime. A sexualização dos corpos sensuais das mulheres latinas, tal como aludido em nossa fundamentação, ocorre tanto pelo figurino das personagens quanto pela exposição de seus corpos em determinadas cenas. No primeiro caso, as cenas envolvem principalmente Flora Hernandez e Rosie Falta, ao passo que o figurino é proposto como vetor de representação da sensualidade de Valentina e Carmen Luna.

Sem entrarmos em detalhes sobre todas as cenas sensuais da primeira temporada, faremos algumas observações acerca de eventos narrativos que se voltam para a sensualização e sexualização da mulher latina. A personagem Flora Hernandez, assassinada no primeiro episódio da série, é presença recorrente nos sonhos de Adrian Powell, seu patrão, e quem alegava ter se apaixonado pela empregada. No primeiro desses momentos, no episódio 03, a jovem aparece em um cômodo escuro com uma única fonte de luz superior, ao som de uma música latina sensual e, remove as peças de seu uniforme de trabalho, ficando apenas de roupas íntimas e salto alto. A música cantada por uma mulher de voz suave traz o verso “pela passión que me devora”, cresce em volume e sugere volúpia à medida que a personagem se despe.

Fonte: autoria própria (2017).

O segundo momento, no episódio 12, ambos, patrão e empregada trajam blacktie, na sala da mansão dos Powell, iluminada com cores quentes à meia luz, sugerindo intimidade e ao mesmo tempo emoções intensas; Flora está de cabelos soltos e vestido longo tomara-que-caia, e ao som de uma música lenta, dança passos clássicos do bolero com seu patrão. Durante a dança, além da aproximação dos corpos, há troca de olhares e Adrian Powell parece encantado por Flora, cujos gestos e olhares sugerem uma intenção sedutora.

O jogo de olhares entre as personagens que dançam não convida diretamente o telespectador, distinguindo-se da sequência da anterior, quando há busca do telespectador no processo de sedução proposto pelo strip tease da empregada. Com isso, a Lifetime usa o sonho de sedução de Adrian Powell para tornar Flora desejável pelo telespectador a partir da apresentação gradual de sua sensualidade potencial de sedução.

Quadro 9 Cena de sensualização de Flora, episódio 12

Fonte: autoria própria (2017).

Os sonhos de Adrian Powell com sua empregada ficam longe do platonismo. Usando o dinheiro como atrativo principal, Adrian Powell convence sua empregada a participar do esquema de prostituição que mantinha às escondidas. Nesse papel, Flora seduzia os amigos do patrão, que filmava todas as atividades sexuais para usá-las como material de chantagem. O próprio Adrian se dizia encantado pela personalidade da jovem, que provavelmente buscou o envolvimento com o patrão por interesses financeiros.

A outra mulher latina que aparece em cenas sensuais/ sexuais é Rosie Falta. Rosie é mais discreta em seu figurino, porém os decotes são marca dessa empregada que apesar dos valores religiosos, cede às investidas amorosas do patrão. As cenas de intimidade física com Spence Westmore produzem novas formas de sensualizar a forma física da mulher latina, não somente pelo ato sexual,

mas pelo jogo de imagens mais e menos explícitas, com luzes quentes e trilha sonora diferenciada.

Após resistir brevemente às investidas de Spence Westmore, com cenas de beijos furtivos e certa dose cômica, Rosie aceita se dedicar a um relacionamento com o patrão. Na primeira cena de alusão à atividade sexual, durante o episódio 06, não há exibição explícita das personagens, porém, quando Spence propõe um encontro rápido há uma sequência de maior exposição, como pode ser visto no quadro abaixo:

Quadro 10 Cena sensual de Rosie, episódio 06

Fonte: autoria própria (2017).

A cena é filmada à meia luz, em plano médio e fechado (buscando tornar o telespectador cúmplice e criar empatia com as sensações de prazer) e as imagens se sucedem com maior velocidade, no efeito coerente com um encontro de curta

duração. A própria música que acompanha a cena (uma R&B mais agitada) alude ao jogo de gato e rato das personagens trazendo, na letra, uma insistência por parte do homem para que a mulher concorde em dançar com ele. Nessa sequência, a Lifetime projeta a mulher latina como volúvel e sensual, menos atenta às obrigações profissionais, quando existe a possibilidade de se envolver com um homem americano rico. De outro modo, há referência também do poder desse homem sobre a mulher latina em função da assimetria de poder da relação patrão-empregada: Rosie busca não se opor a Spence, talvez por medo de ser demitida por ele.

No que diz respeito ao figurino, Valentina transiciona de roupas casuais para o uniforme e, quando deixa de trabalhar na residência, para vestidos coloridos, acessórios de cabelo e maquiagem forte. Uma das cenas mais relevantes no quesito da exposição do corpo da mulher latina para essa personagem ocorre já no primeiro episódio, quando Valentina troca de roupa na cozinha da patroa (sendo filmada de roupa íntima) para vestir algo mais sensual e servir chá para Remi. Em outra cena deste primeiro episódio, Valentina usa seus dotes de costureira para customizar o vestido comprado por sua mãe, tornando-o mais sensual. Em episódios sequentes, o uniforme de mãe e filha deixa de ser o vestido amarelo canário e passa a ser um vestido azul marinho com avental branco.

Quadro 11 Valentina troca de figurino, episódio 01

A mudança de figurino de Valentina dentro de seu local de trabalho diz respeitos a sua intenção amorosa com o filho da patroa. Uma vez que ele não percebe como ela se sente, a jovem começa por atrair o olhar de Remi para seu corpo e somente com o desenvolver da trama, revela como se sente. Nesse sentido, podemos interpretar que uma jovem latina em posição socialmente inferior pode recorrer às curvas e decotes para conquistar um homem americano.

Quadro 12 Valentina customiza o uniforme de trabalho, episódio 01

Fonte: autoria própria (2017).

Carmen Luna também aparece em vestidos ou camisolas decotadas e curtas durante a temporada. Ainda que em alguns momentos, o uso de camisolas esteja ligado ao momento de repouso da aspirante a cantora, as cenas de nudez de Carmen são frequentemente desenvolvidas ao redor de Sam, o mordomo da residência apaixonado por ela. No segundo episódio, por exemplo, Carmen descobre que ficará sem supervisão de Odessa ou de seu patrão, e se despe gradualmente em direção à piscina. Não há imagens explícitas de seu corpo (apenas costas e ombros), porém o efeito cumulativo junto à cena de Valentina no episódio anterior propõe a liberdade e facilidade das mulheres latinas em exibirem o próprio corpo.

Para Carmen, usar o corpo para conseguir algo adquire um caráter menos romântico e mais prático: ainda no segundo episódio, ela beija o mordomo para ganhar 15 minutos com as amigas na beira da piscina e, depois, aparece tocando piano trajando apenas uma toalha de banho. Ao final da cena, todavia, a toalha é descartada e a empregada aparece encolhida, escondida no piano de cauda de seu patrão – o horário de transmissão do seriado dificilmente permitira cenas explícitas.

Quadro 13 Carmen e a exibição do corpo, episódio 02

Fonte: autoria própria (2017).

Outro exemplo de como a sensualidade da mulher latina é personificada em Carmen, no quarto episódio, quando vai à festa de seu patrão como convidada, em um vestido decotado, justo e curto. Dessa vez, a sensualidade não serve à troca de favores cotidianos, mas à promoção da imagem de Carmen dentre os demais convidados, isto é, tornar seu corpo desejável para os homens com poder é uma forma que ela encontra de ter acesso àquele poder. Além da exposição do corpo há a retomada de aspectos do exótico tropical da mulher latina, naturalmente uma

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