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Da oralidade à cloud computing e a Sociedade da Informação

CLOUD COMPUTING E DIREITO DAS SUCESSÕES

2.1. Da oralidade à cloud computing e a Sociedade da Informação

A denominação Cloud Computing (Computação nas Nuvens) foi empregada, pioneiramente, por Eric Schmidt, CEO da Google, no ano de 2006, como a possibilidade de armazenamento de documentos ou conteúdos, em servidores remotos, permitindo amplo acesso por redes ou usuários, em qualquer lugar do mundo (Schmidt e Cohen, 2013). Trata-se um novo paradigma, na medida em que não são mais necessários grandes investimentos em máquinas, equipamentos ou programas por licença, tornando o armazenamento de dados um serviço por demanda, com a utilização de hardwares e softwares de terceiros (Carrau, 2011).

A Cloud Computing resulta da busca do ser humano em armazenar, acessar e transmitir dados, como aprimoramento do processo comunicacional. Importa

destacar que, antes mesmo das primeiras letras, as informações já eram armazenadas e transmitidas, contando com a colaboração dos ancestrais, que preservavam a memória e a inteligência da coletividade do grupo, através da tradição oral (Azambuja, 2012) Com o surgimento da escrita, passa o alfabeto a dar “memória ao pensamento”, aperfeiçoando consideravelmente os registros (Macluhan, 1964, p.103). A propogação da informação através do correio, usando cavalos e postos de trocas, durante a antiguidade, foi técnica desenvolvida tanto pela China, como pelo Império Romano, agilizando o fluxo de dados (Lévy, 2008). É digno de nota que, na Idade Média, os feudos, espaços marcados pela autossustentabilidade, observavam o ritmo natural das estações (Thompson, 1995).

Pela segunda metade do século XV, já no Medievo tardio, implementou-se a imprensa, como modalidade de armazenamento e comunicação mediada por irradiação, no sentido de que os emissores das mensagens se voltavam a receptores desconhecidos (Marcondes Filho, 2013). Vivia-se a “Galáxia de Gutenberg” (Macluhan, 2011, p.278), tratando-se de uma “interface privilegiada de comunicação” (Azambuja, 2012, p. 499), em que as informações eram transmitidas a inúmeras pessoas, diante da possibilidade de replicar os textos.

Com as grandes invenções, especialmente, nos meios de transporte, como motores, seja a vapor como elétrico ou de combustão, redes de estradas de ferro e embarcações longas, houve a propulsão da comunicação, obrigando a adoção de horário estandardizado, baseado no meridiano de Greenwich (Bauman, May 2010). No século XIX, com a invenção do telégrafo (1830) e, após três décadas, do telefone (1860), a mensagem passou a viajar mais depressa, e, inclusive, neste último caso, ouvindo-a através da voz do emitente. Mais adiante, com o advento do rádio e, a posteriori, da televisão, os hábitos das pessoas se modificaram, através de uma informação mais imediata e compartilhada, seja através das notícias em tempo real ou da imagem em mosaico (Macluhan, 1964). Dessa forma, pode-se depreender que o século XVIII consagrou-se pelos sistemas de mecanização, decorrentes da revolução industrial; o século XIX, as máquinas a vapor; e, no século XX, a velocidade, o processamento e a distribuição de informações (Delpiazzo e Viega, 2004).

Em 1945, foram criados os primeiros computadores, na Inglaterra e nos Estados Unidos, que se tratavam de “calculadoras programáveis capazes de armazenar programas”, servindo, em um primeiro momento, aos militares (Levy, 2008, p.8). Sendo assim, em 1969, foi criada a Internet, quando a Advanced Research Projects Agency (ARPA), idealizada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, buscava alcançar uma superioridade militar tecnológica em relação à União Soviética (Castells, 2003) Em 1990, o governo dos Estados Unidos transferiu a administração da Internet à National Science Foundation (NSF), libertando-a do ”seu ambiente militar”, tendo-a privatizado. Desde então, os provedores de Internet criaram as suas redes, lançando portais, com base comercial, aumentando progressivamente o número de usuários (Castells, 2003). José de Oliveira Ascensão, de forma objetiva, descreve o histórico da Internet: “Nascida militar, metamorfoseada em científica, massificada a seguir, a Internet foi aceleradamente transformada num veículo comercial” (Ascensão, 2001, p. 18). No ano de 1994, pela primeira vez, o Netscape Navigator é lançado como navegador comercial e, em 1995, surgiu o Internet Explorer,

juntamente com o Windows 95 (Castells, 2003). Diante das inovações descritas, desenha-se o ambiente adequado para o surgimento da Cloud Computing.

É importante salientar que, originalmente, o armazenamento de informações ocorria em Mainframes, ou seja, grandes computadores, com “núcleo quente e denso” (Chee, 2013, p.30) e, com o passar do tempo, evoluiu-se para a computação em grade, decorrente da generosidade de alguns usuários, que, durante o tempo de ócio de seus computadores, cediam “ciclos de CPU não utilizados” para a realização de pesquisas (Chee, 2013, p. 31). Com a evolução da Web 1.0, em que o usuário era um mero receptor passivo de informações, para a Web 2.0, em que o receptor também passa a ser produtor de conteúdos, o ambiente se tornou favorável ao surgimento da Computação nas Nuvens (Chee, 2013) As nuvens, nesta acepção, estão presentes em diversos serviços por demanda, tais como: DropBox; Facebook; Gmail; Google Drive; Hotmail; Pinterest; Twitter, entre outros (Thompson, 2014). Existem múltiplas funcionalidades, em se tratando de Cloud Computing, tais como: blogs, redes sociais, troca de mensagens de texto, serviços de armazenamento de fotos, documentos, correio eletrônico, entre outras formas (Radfahrer, 2012). É nesse contexto, que surge e se desenvolve a Sociedade da Informação, que, nas palavras de José de Oliveira Ascensão: “Encontramos assim – um objeto: os produtos multimédia; - um veículo: as auto-estradas da informação; - um resultado: a sociedade da informação” (Ascensão, 2001, p. 70). Nessa linha, a Sociedade da Informação, promovendo os avanços tecnológicos, introduz uma nova noção de espaço: o ciberespaço (Santaella, 2011), trazendo, de igual forma, efeitos no tempo e na memória (Azambuja, 2012).

O espaço se redefine, ou mesmo se reconceitualiza, tendo em vista que informações cruzam mares, continentes, hemisférios, alcançando pessoas em qualquer lugar do globo (Santaella, 2011). Com a desterritorialização, as informações passam a ser ubíquas, e, em intervalos de tempo, cada vez menores, conectam emissores e receptores (Azambuja, 2012). A redefinição do espaço reflete no fator tempo. Por sua vez, a memória torna-se inesgotável, sem limites, “exponencial”, dada a possibilidade de conexão com outros servidores (Lévy, 2008 p. 34). Por outro lado, traços são deixados de forma indelével, permanecendo os registros de informações na rede mundial de computadores, passando a se discutir, inclusive, sobre o direito de apaga-los, erigindo o direito ao esquecimento (Rodotà, 1997). Sem dúvida, que, diante dessa nova realidade, ora virtual, surgem questionamentos acerca dos limites de intervenção do Direito, nas relações virtuais. Será o ciberespaço um a-local de não- intervenção, em que a autopoeise (Rossello, 2010) deva prevalecer, deixando à sorte da Lex Informatica? (Lessig, 2006) Ou, ainda, deve o Direito se apropriar deste espaço, na medida em que o físico migra para o virtual? Negar a atuação nesta realidade virtual não seria o mesmo que regredir em suas dimensões?