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4. O MODELO GERENCIAL TEÓRICO

4.1 Da prática instrumental à teoria social

Concomitantemente com nossos comentários sobre a importância do saber gerencial apresentados no Capítulo 3 e com o esquema que mostraremos neste capítulo, avançamos para uma análise dos negócios menores com vistas a assimilar as diferenças e as semelhanças que existem em termos de conhecimentos práticos e teóricos. Primeiramente, ainda para introduzir o assunto, apresentamos os resultados de algumas pesquisas, embasando o assunto com inúmeras citações de autores nacionais e internacionais.

Do ponto de vista desse histórico, o diagnóstico apontado sinaliza, por um lado, que a inoperância do relacionamento vigente carece de soluções novas. Por outro, o desenvolvimento e prosperidade das pequenas organizações implica que a evolução do comportamento dos empreendedores seja fundamentada e ilustrada a partir do conhecimento de teorias acadêmicas, de metodologias e de ferramentas técnicas de apoio. “Finalmente, os dirigentes de empresa, na maioria das vezes, repelem iniciativas fundamentadas em conhecimentos apenas teóricos” (Padula, 1996, p. 31).

De modo geral, as pesquisas citadas clarificam nossas três premissas básicas. A primeira: é demasiadamente alto o percentual de mortalidade das micro e pequenas empresas; a segunda: é muito difícil o crescimento das empresas de pequeno tamanho que não faliram; a última: fatores de geração de riqueza e renda para tantos, a relevância destes micronegócios é indiscutível no contexto econômico e social brasileiro.

Com base no estudo sobre a demografia de empresas no Brasil, analisado por porte e por outros critérios, relativo ao ano 2005, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2007, p. 17), fazemos a seguinte referência:

A participação percentual do número de empresas, segundo classes de idade, definidas pelo número de anos transcorridos desde o ano de fundação das empresas [...] mostra que 62,5% das empresas brasileiras estão estabelecidas no mercado há menos de 10 anos e a maior parcela, 42,1% das empresas foram criadas há menos de 5 anos. Apenas 2,9% das empresas foram criadas há 30 anos ou mais.

Outra constatação instigante da pesquisa é que a maioria das empresas que saem do mercado opera a menos tempo, indicando que são as de menor porte.

Não bastassem estes estudos, julgamos pertinente fazer menção ao texto de Zouain, Oliveira e Barone (2007, p. 797) quando afirmam que “56,20% dos empreendedores iniciais são jovens” e a maioria pequenos empreendedores.

Os mesmos autores (2007, p. 798) registram que, na investigação, é evidenciado o perfil do jovem empreendedor cuja pesquisa foi desenvolvida para o fim de conhecer as “dificuldades enfrentadas na gestão de seus empreendimentos e, por último, das expectativas em relação aos seus negócios para o futuro”.

A respeito do grande número de empresas constituídas a cada ano nos Estados Unidos da América, a afirmação trazida por Baron e Shane (2007, p. 10) nos traz mais uma contribuição valiosa: “Essas estatísticas indicam que as atividades dos empreendedores realmente provocam grande impacto nas economias de suas sociedades.” Continuam os autores afirmando que em decorrência destes resultados, “o papel dos empreendedores assumiu uma aura bastante positiva e atraente”.

Extremamente sensitiva a quaisquer modificações ocorridas no macro ambiente econômico em que atua, com a globalização dos mercados, a economia de escala, a partir da instalação da crise econômica mundial a situação piorou ainda mais.

Por conseguinte, as derrotas desestimulam aqueles que se dispõem a investir em novas empresas, em especial a juventude, que, desencorajada a empreender, normalmente fogem dessa raia, representando certamente uma barreira para o crescimento econômico do Brasil.

Trata-se, pois, do retrato fiel de uma séria enfermidade econômica que necessita ser curada. O grande desafio que nos é imposto, então, é como melhorar os indicadores apontados pelas pesquisas recentes?

A quantidade de pequenos negócios que nascem é elevada, o número de estabelecimentos que sobrevivem é baixo e a quantidade de pequenas empresas que prosperam é alarmantemente próxima da nulidade. São fatores que desanima quem pretende investir.

Cerca de 33% [dos jovens empresários] consideram que o fator mais vantajoso é o controle dos gastos da empresa. Esta última percepção é bastante relevante quando atentamos para a melhoria da gestão contábil-financeira dos pequenos e novos negócios. Sabemos que um dos principais motivos da mortalidade das empresas é justamente a falta de controle das contas, fator fortemente alardeado nas pesquisas do Sebrae (Zouain, Oliveira e Barone, 2007, P. 806).

Então, nossas referências bibliográficas acerca do conhecimento científico e prático começam a ser edificadas em Santos, Brandão e Vianna (2001, p. 19), que afirmam:

Uma das grandes tarefas nossas [os pensadores] é aquilo que eu chamo de ´sociologia das ausências`, é procurar o que falta no presente, naquilo que existe. A negatividade do presente não é

o que lhe falta, é o que no presente bloqueia aquilo que nos faz falta e a que temos direito. [...] O papel da teoria na atividade prática é orientar o que deve e o que não deve ser feito.

Uma observação lateral de Whittington (2002, p. 11), ao analisar a importância da questão, também segue no mesmo ponto.

As teorias são importantes. Elas contêm pressupostos básicos sobre relacionamentos vitais na vida das empresas. As teorias dizem o que se deve procurar, quais devem ser os primeiros passos e que resultados esperar. Elas são atalhos para as ações, livrando-nos de ter de voltar aos princípios básicos em cada estágio.

Na outra ponta do mesmo fio, continuamos focalizando o exame do saber prático e teórico. Para compreender a exata dimensão do problema, nossa fundamentação também está assentada em Demo (1995, p. 100). “Prática é condição de historicidade. Teoria é maneira de ver, não de ser. Nem por isso uma é inferior à outra. Cada uma tem seu devido lugar. Para as ciências sociais [administração é uma ciência social], uma teoria desligada da prática não chega a ser teoria, pois não diz respeito à realidade histórica.”

Desse jeito, também é possível lincar a relevância destas características distintivas com a posição manifestada a seguir:

Na distinção que faz entre teorias científicas e teorias das atividades práticas, Hirst (1966) diz que as teorias, nas ciências, são o produto final da atividade científica, enquanto nas atividades práticas são construídas para orientar a ação. O papel da teoria na atividade prática é orientar sobre o que deve e o que não deve ser feito (Vergara, 1990, p. 19).

Demo (1995, p. 101) esboça de maneira simples e direta a seguinte afirmativa: “a teoria social necessita da prática”. Ele acentua ainda que a característica desta última é o seu “traço concreto, ao contrário da teoria, que é generalizante”. Contrastando com isso, o mesmo autor (p. 102) não hesita: “Toda prática apequena a teoria, pois não ultrapassa a condição histórica de uma versão dela. É nesse sentido que a prática sempre trai a teoria. Na prática, a teoria é outra.”

Ademais, isoladamente, a formação prática é importante, mas não esgota o conhecimento, uma vez que o técnico detém apenas uma pequena parte do conhecimento gerencial. Limitar-se aos parâmetros da seqüência de repetições práticas não basta.

Na outra extremidade, quem detém só a formação teórica conhece com profundidade o assunto, mas, na maioria das vezes, não consegue e nem sempre está preparado para melhorar a execução de qualquer tarefa. Sintetizando, esse cabedal de conceitos acadêmicos isoladamente também não resolve o problema.

Atirando no escuro invariavelmente as chances de acertar são baixas. Quando o negócio desanda, quase sempre com naturalidade, o gestor despreparado pode não antever a repercussão nem dar-se conta, pois, como resume Chér (2008, p. 40), “a realidade é pródiga em exemplificar a nítida relação entre fracasso e falta de experiência anterior no ramo”.

Qualquer que seja a diferença, neste quesito, uma conclusão definitiva que os autores destacam é que a sustentação teórica nos remete de volta à essencialidade da experiência prática. Sumariamente, como foco direcionando à conclusão do assunto, “Sem prática ninguém entra na história. Não acontece” (Demo, 1995, p. 101).

Nesta visão, a questão crucial é aliar as duas habilidades essenciais: base teórica sólida e experiência técnica consolidada. Em suma, práticas consideradas de excelência e formação teórica são duas partes que se somam. Trata-se de compreender que as atividades práticas comportam uma contribuição dentre as várias formas do conhecimento. Por sua vez, a partir da experiência técnica, será possível definir o nível mínimo de conhecimento teórico necessário por parte do corpo microdiretivo para a condução do dia-a-dia financeiro e dos recursos humanos da corporação de pequena monta.

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