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2. Coping no trabalho

2.2. O coping e a saúde no trabalho

2.2.2. Dados empíricos

Sugere a literatura que, no trabalho, as pessoas usam predominantemente estratégias de coping voltadas para a resolução dos problemas, uma vez que as circunstâncias são mais controláveis que em outras situações de vida, como uma doença crónica (não podendo alterar essa circunstância, o coping mais indicado parece ser a autorregulação emocional) (Dewe, O’Driscoll & Cooper, 2010; Skodol, 1998). Isto mesmo havia sido já constatado por Folkman & Lazarus (1980, p. 219), quando concluíram que “os contextos de trabalho favorecem o coping focado nos problemas, e os contextos de saúde favorecem o coping focado nas emoções”. De uma maneira geral, a literatura indica que o coping mais “produtivo” no trabalho é o focado nos problemas, sobretudo quando algo pode ser feito ou a situação é controlável. Esta possibi- lidade de controlo, aliás, é o elemento que acaba por definir a “regra” com que as pessoas parecem lidar com o stresse no trabalho. Assim, quando há possibilidade de controlo (1) um

coping ativo associa-se a maior bem-estar psicológico e maior satisfação no trabalho e (2) um coping de evitamento revela-se mais prejudicial.

Nomura, Nakao, Sato, Ishikawa & Yano (2007) investigaram a relação entre o stresse ocupacional (exigências do trabalho, controlo, e tensão [strain]), o coping (coping ativo, esca- pe, busca de apoio, reconciliação e supressão emocional) e os sintomas físicos (os mais comuns foram fadiga, rigidez muscular nos ombros e perturbações do sono) em 185 trabalha- dores de escritório japoneses de uma mesma empresa. Os autores verificaram que apenas o

coping ativo se associava significativamente com o número de sintomas somáticos. As análises

estatísticas efetuadas demonstraram que o número de sintomas diminuía à medida que o uso de coping ativo aumentava. Torkelson & Muhonen (2004) verificaram que o coping de busca de apoio social emocional se associava com menores sintomas (dores de cabeça, distúrbios de sono, sentimentos de desesperança, nervosismo, preocupação, tonturas, desmaios, palpita- ções cardíacas), e não o de resolução de problemas, como inicialmente as autores esperavam, ao passo que a focalização nas emoções e o desligamento pelo uso de substâncias se associa- vam com maior número de sintomas, num estudo com 279 comerciais de uma companhia telefónica sueca. O coping positivo (focado nos problemas) relaciona-se com níveis mais baixos de ansiedade e depressão e com níveis mais elevados de satisfação no trabalho em 307 aca- démicos e administrativos universitários ingleses; estes dois indicadores não apresentam dife- renças significativas comparáveis com uma amostra de 120 sujeitos trabalhadores exteriores ao meio universitário, ainda que os universitários tenham registado índices mais elevados de depressão e ansiedade (Mark & Smith, 2012a). David & Quintão (2012) estudaram a relação do

burnout com traços de personalidade, afetividade, estratégias de coping e satisfação com a

vida em 440 professores portugueses do primeiro ciclo ao ensino universitário, e verificaram que aqueles que usavam estratégias focadas nas emoções (sobretudo, descarga emocional) registavam níveis mais elevados de burnout, enquanto aqueles que optavam por estratégias focadas nos problemas declaravam maior realização pessoal. As autoras atestam a consistên-

cia dos seus resultados e conclusões com a literatura precedente. Cento e vinte e nove enfer- meiros australianos forneceram indicadores de stresse (causas), coping, uso do humor enquanto resposta de coping, satisfação profissional e estado de espírito (humor, disposição), e os resultados mostraram que o coping de evitamento (que foi a estratégia menos usada) é preditor de distúrbios de humor. O coping de resolução de problemas (foi a estratégia mais usada pelos enfermeiros) não apresentou poder preditor e o coping pelo humor não revelou efeito atenuador sobre a disposição do humor. Infelizmente, Healy & McKay (2000) não testa- ram as relações entre o coping e a satisfação profissional. Healy & McKay consideram que os resultados do seu estudo apoiam o modelo transacional de stresse, uma vez que a perceção de stresse e o coping foram influenciados pelos fatores situacionais.

No geral, o impacto do tipo de coping sobre a saúde no trabalho parece não depender grandemente de diferenças culturais, ainda que se observem variações parciais e especificida- des idiossincráticas. Mache (2012) comparou o stresse percecionado e o coping em 310 médi- cos alemães e 256 médicos australianos, e verificou existirem semelhanças e diferenças nas estratégias de coping entre os dois grupos. Este resultado geral alerta para a necessidade de estudos transculturais sobre o coping no trabalho e para a observação de possíveis diferenças a esse nível no desenho de intervenções de promoção da saúde ocupacional. Quer os médicos alemães quer os médicos australianos relataram usar várias estratégias de coping, sendo as mais comuns o planeamento, o coping ativo e a reinterpretação positiva. Comparativamente, os médicos alemães usam mais o apoio instrumental e o planeamento que os seus colegas australianos, ao passo que estes recorrem mas à religião, humor e aceitação que os germâni- cos. No que se refere aos três tipos de coping, os alemães usam mais o coping focado nos pro- blemas, enquanto os australianos usam mais o coping focado nas emoções; não se verificaram diferenças ao nível do coping disfuncional. Schreuder et al. (2012) estudaram o coping, a saúde e o ambiente psicossocial do trabalho de 1428 enfermeiros noruegueses e 386 enfermeiros holandeses e verificaram que em ambos o uso de coping passivo se associava a fraca saúde geral e a fraca saúde mental. O coping de resolução de problemas associava-se à saúde mas apenas na amostra norueguesa. Os autores justificaram esta diferença (e outras encontradas no estudo) às especificidades ocupacionais de cada amostra (por ex., enfermeiras norueguesas com mais controlo e suporte no trabalho, as enfermeiras holandesas trabalham mais horas por semana). Chen, Siu, Lu, Cooper & Phillips (2009) estudaram 843 chineses trabalhando em empresas nacionais ou multinacionais, e avaliaram causas e consequências do stresse ocupa- cional, apoio social, quatro estratégias de coping (coping ativo, “empanturramento”/bebida excessiva, passividade e distanciamento) e depressão. O estudo revelou que a passividade contribuiu para os sintomas depressivos (resultado que reforça as indicações prévias da litera- tura) e que o distanciamento desempenhou uma função moderadora, atenuando a relação entre causas de stresse e depressão (a relação é mais fraca quando o distanciamento é usado). Os autores discutem este último dado em termos culturais, associando o distanciamento à filosofia tradicional chinesa do taoismo, nomeadamente aos princípios que advogam deixar os acontecimentos seguir o seu caminho (dao) e abdicar de intervir (wwwei), no sentido de não se envolver em esforços irrealistas para alcançar o sucesso rapidamente.

Mark & Smith (2012b) avaliaram as exigências do trabalho, o apoio social, o controlo (autoridade de decisão e discriminação de competência), esforço, sobrecompromisso e recompensas, estratégias de coping, e ansiedade e depressão em 870 enfermeiros ingleses. No

que respeita ao coping, verificaram que as estratégias positivas (resolução de problemas, pla- neamento, procura de ajuda…) se associavam negativamente com a ansiedade e a depressão, enquanto as estratégias de coping negativo (autoculpabilização, escape/evitamento, ideação fantasiosa…) se relacionavam positivamente com sintomas ansiosos e depressivos. As diferen- ças individuais ao nível do coping faziam variar os índices de ansiedade e depressão mais do que os fatores das exigências do trabalho-controlo-apoio e do esforço-recompensa isolada- mente. Os autores salientam ainda (p. 517) que

os dados mostraram que os comportamentos de coping negativo eram geralmente mais importantes pelos pesos dos betas estandardizados nas regressões que os comportamentos de coping positivo, sugerindo que uma ausência de comportamentos de coping negativo pode de facto estar mais associada a resultados positivos de saúde mental que a presença de com- portamentos de coping positivo.

Será que a sugestão de Mark & Smith (2012b) se verifica não apenas com indicadores de saúde individual, mas também com variáveis dependentes ocupacionais, como por exemplo a satisfação profissional, o absentismo, o presentismo, o turnover e o rendimento? Welbourne, Eggerth, Hartley, Andrew & Sanchez (2007) verificaram que as estratégias de coping de resolu- ção de problemas, reestruturação cognitiva e procura de apoio se associam a uma maior satis- fação no trabalho, por oposição ao coping de evitamento, num estudo sobre o papel mediador do coping na relação entre o estilo atribucional e a satisfação no trabalho em 190 enfermeiros norte-americanos. Schreuder et al. (2011) analisaram a relação entre o coping e o absentismo, um tema relativamente pouco investigado. Os resultados verificados encontravam-se em linha com as sugestões empíricas anteriores. A equipa de investigadores estudou o estatuto de saú- de, o coping e o absentismo por doença em 386 enfermeiras holandesas. Os autores assumi- ram três tipos de coping: resolução de problemas, social (busca de apoio) e paliati- vo/evitamento (busca de distração e evitamento de problemas); neste último caso, juntaram duas escalas para uma mesma medida. O absentismo foi avaliado a partir dos registos hospita- lares, e foram considerados dois tipos: o curto, até sete dias, e o longo, superior a sete dias de ausência do trabalho. Os resultados revelaram associações negativas entre o coping de resolu- ção de problemas e o número de episódios longos de absentismo, e entre o coping social e o número de episódios de absentismo, tanto curtos como longos. As associações entre o coping e o absentismo por doença, porém, perderam significado após controlo do estatuto de saúde, o que sugere uma forte correlação entre coping e saúde. Não se registaram associações signifi- cativas entre o coping paliativo/evitante e o absentismo, talvez porque a combinação das duas escalas tenha anulado os efeitos teóricos previsíveis de cada uma delas, opostos entre si: evi- dências anteriores sugeriam que o coping paliativo fazia diminuir a probabilidade de absentis- mo, enquanto o coping de evitamento a aumentava. O estudo da relação do coping com o presentismo é ainda mais escasso, praticamente inexistente na literatura. Coelho (2013) estu- dou 58 colaboradores portugueses de uma empresa da indústria automóvel, e os seus resulta- dos parecem sugerir que as estratégias de coping mais adaptativas (coping ativo, planeamento e reinterpretação positiva) se associam a menor presentismo. A autora verificou que os indiví- duos que recorrem mais ao apoio instrumental dos outros, ao humor e ao uso de substâncias reportam menores perdas de produtividade relacionadas com o presentismo. Estes dados devem ser interpretados com cautela, seja pelas características da amostra (reduzida dimen-

são, baixos níveis de presentismo, utilização geral de boas estratégias de coping, elevada satis- fação, boa autoperceção de saúde no trabalho), seja porque a análise dos resultados incluiu sujeitos sem presentismo declarado. A literatura indica que o coping pode influenciar outro importante indicador organizacional de stresse, o turnover. Lee (2004) sugere que um nível elevado de estratégias de coping enfraquece a relação entre stresse ocupacional e intenção de

turnover, fazendo com que o stresse percecionado deixe de possuir poder preditivo sobre a

intenção de turnover. Lewin & Sager (2010) verificaram que a autoeficácia e o coping focado nos problemas faziam reduzir a intenção de turnover em vendedores norte-americanos, e que esse efeito era maior que o da autoeficácia considerada isoladamente. Estes autores conferi- ram ainda que a combinação do locus de controlo externo e de coping focado nas emoções fazia aumentar a intenção de turnover. Neste caso, e ao contrário do anterior, o coping focado nas emoções não fazia aumentar a intenção de turnover para além da prevista isoladamente pela externalidade do controlo. O turnover não é apenas um indicador de mal-estar ocupacio- nal, uma vez que ele pode ser considerado uma estratégia positiva de ajustamento e desen- volvimento da carreira, quando o trabalho atual não oferece essa experiência ou oportunida- de. Wright & Bonnet (1991) estudaram o turnover nesta aceção, e verificaram que o coping de crescimento (subescala do WCC) se associava positivamente com o turnover em 113 funcioná- rios judiciais norte-americanos, num estudo longitudinal que avaliou não a intenção de turno-

ver, mas o turnover efetivo. Os autores dividiram a amostra em três grupos, um que não regis-

tou turnover, outro de indivíduos que mudaram de departamento na mesma organização ou para uma ocupação similar (turnover intraorganizacional), e um terceiro, composto por casos de sujeitos que mudaram para outra organização ou ocupação exterior à área da justiça (inte- rorganizacional); avaliou-se a satisfação profissional, o coping de crescimento e o turnover. Os resultados mostraram que a informação relativa à satisfação profissional e ao coping previa o

turnover efetivo em 66.4% dos sujeitos. Ou seja, os indivíduos que usavam elevado coping de

crescimento aproveitavam o turnover para aumentar a sua satisfação profissional. O estudo de Wright & Bonnet é um dos pioneiros na análise da influência do coping sobre indicadores organizacionais, e os seus resultados levaram mesmo os autores a sugerir que investigações futuras sobre os comportamentos organizacionais (como o turnover, absentismo ou desempe- nho) incluíssem a consideração dos modos de coping dos empregados. Lu, Kao, Siu & Lu (2010) estudaram 380 empregados em três regiões chinesas (Pequim, Hong Kong e Taipé) para testar os efeitos dos stressores ocupacionais e das estratégias de coping (relaxamento/passatempos, busca de apoio social, ação ativa e adaptação passiva) no rendimento ocupacional (da tarefa [quantidade de trabalho, qualidade do trabalho] e contextual [conhecimento do trabalho, assiduidade e convívio com colegas]). Os autores constataram a existência de efeitos combina- dos das causas de stresse e das estratégias de coping sobre o rendimento. No que respeita às estratégias de coping, o coping positivo associava-se positivamente com o rendimento no tra- balho. Em concreto, a busca de apoio social relacionava-se positivamente com a quantidade de trabalho e o convívio, e o coping ativo relacionava-se positivamente com a assiduidade e o conhecimento. As estratégias de coping passivas relacionavam-se negativamente com o ren- dimento: quantidade de trabalho, qualidade do trabalho e convívio com colegas eram negati- vamente afetadas pela adaptação passiva. Estes resultados corroboram e alargam indicações empíricas anteriores sobre a relação do coping com a performance no trabalho.

Apesar da literatura indicar que o coping ativo é por norma mais benéfico em termos de saúde e rendimento, há lugar para questionar se o coping não ativo poderá contribuir para essas mesmas consequências positivas. Shimazu & Kosugi (2003) examinam os efeitos do

coping ativo (e.g., seguir um plano de ação) e não ativo (distanciamento, busca de apoio social,

resignação e restrição emocional), isoladamente e combinados, em 4487 homens japoneses trabalhando na investigação e desenvolvimento numa indústria automóvel, distribuídos por quatro grupos de situações stressoras (exigências cognitivas, sobrecarga, ambiguidade do papel e insuficiente autoridade). Foram avaliadas causas de stresse, coping e mal-estar psico- lógico, e três resultados importantes foram reportados. Em primeiro lugar, o coping ativo reve- lou-se eficaz na redução do mal-estar psicológico independentemente dos stressores conside- rados; com exceção do recurso ao apoio social, as restantes formas de coping não ativo aumentavam o mal-estar psicológico. Em segundo lugar, a eficácia do coping diminuía em situações que exigiam um coping mais “esforçado” (ambiguidade do papel e insuficiente auto- ridade). Em terceiro lugar, registaram-se interações entre o coping ativo e o não ativo, princi- palmente nas situações que requeriam mais esforço. Dois tipos de efeitos interativos foram observados: moderadores e reforçadores. Os efeitos moderadores registaram-se entre o

coping ativo e o distanciamento e a busca de apoio social, com o recurso a estes dois tipos de coping não ativo a suportar a eficácia do coping ativo entre indivíduos com elevado nível de coping ativo. Ou seja, para este tipo de indivíduos, distanciar-se da situação permite descansar

e recentrar-se, e a busca de apoio fornece suporte emocional, informativo e instrumental que favorece os seus esforços de coping. Os efeitos reforçadores verificaram-se sobretudo entre o

coping ativo e a restrição emocional, contribuindo esta para aumentar o mal-estar psicológico.

Shimazu & Kosugi explicam que os indivíduos com elevado coping ativo necessitam amiúde de aguardar para poder empreender os seus esforços de coping, e que essa espera, gerando mal- estar, suporia a expressão emocional do mesmo, e não a repressão da sua “libertação”. Em suma, o coping ativo diminui o mal-estar psicológico em situações mais controláveis, enquanto noutras mais exigentes parece ser vantajosa a participação de estratégias não ativas (distan- ciamento e uso de apoio social, bem como expressão de sentimentos). Dewe et al. (2010) citam estudos sobre coping com bullying no trabalho que revelam ser o evitamento a estraté- gia de coping mais usada, para evitar a escalada da violência. No entanto, os mesmos autores referem que num caso desses pode ser impossível que pessoas sozinhas resolvam o bullying de que são alvo, e que esse problema deveria ser resolvido pela organização. A uma mesma con- clusão chegou Conde (2009), através da análise de narrativas de 10 empregados por conta de outrem e funcionários públicos portugueses vítimas de bullying. A autora verificou que os sujeitos haviam recorrido tanto a estratégias de coping ativas como passivas: passividade, enfrentamento do perpetrador, tentativa de compreensão da situação e abandono da organi- zação. Já as testemunhas do bullying usavam apenas estratégias passivas (apoio moral à víti- ma, ostracização da vítima, incentivo ao perpetrador). Conde conclui que as vítimas de bullying pouco ou nada podem fazer, e que os seus esforços de coping se revelam predominantemente infrutíferos: “parece-nos quase impossível que uma vítima se oponha eficazmente a um perpe- trador mais poderoso que ela”, habitualmente o seu superior hierárquico, pelo que “só com a intervenção (…) dos Órgãos de Controlo da Empresa, é possível colocar um fim ao bullying” (p. 90). Ou seja, os efeitos benéficos da combinação de formas de coping não ativo com coping ativo e a aparente inviabilidade de estratégias de coping individual ativo em determinadas situações de stresse, faz-nos regressar à regra inicial: havendo possibilidades de controlo bem-

sucedido, as pessoas optam por confrontar as causas de stresse, caso contrário, optam por se distanciar e “desligar”.

Importa acrescentar que a pesquisa sobre o coping no trabalho não se esgota na utili- zação dos questionários habituais (na maioria, o WCC, Brief COPE e escalas de coping de ques- tionários gerais do stresse no trabalho), nem sequer em metodologias quantitativas (vide o exemplo de Conde [2009], atrás citado) nem ignora a consideração de stressores específicos ou de grupos profissionais particulares. Apoiando-se num modelo teórico de resolução de con- flitos, Tabak & Koprak (2007) estudaram a forma como 117 enfermeiros israelitas (dos quais 112 mulheres) lidam com o conflito interpessoal com médicos. Ou seja, estudaram o coping com uma situação específica, sem no entanto terem utilizado uma escala de coping para tal. Os autores avaliaram cinco táticas de resolução de conflitos (derivadas do modelo teórico de base: integração, dominação, compromisso, obediência e evitamento), em quatro cenários ocupacionais propostos, o stresse ocupacional e a satisfação profissional. Os resultados revela- ram que a escolha das táticas de abordagem dos conflitos se correlaciona com os níveis de stresse experimentados pelos enfermeiros. Os enfermeiros que optaram por táticas assertivas de integração e dominação apresentam menores níveis de stresse no trabalho, por compara- ção com os colegas que escolheram as de obediência e evitamento. O facto da população estudada ser constituída por enfermeiros séniores, com poder e estatuto, poderá, no entanto, limitar a extrapolação dos resultados à população geral de enfermeiros. Dewe et al. (2010) compilam resultados empíricos sobre o coping com stressores específicos, assunto em que a literatura é ainda esparsa. Aproveitamos a sua revisão relativa ao coping com as exigências do trabalho, o aborrecimento, a mudança organizacional, o conflito interpessoal e o bullying. O uso da gestão do tempo como forma de lidar com as exigências do trabalho contribui para aliviar os sintomas de stresse e relaciona-se positivamente com o bem-estar psicológico. No entanto, esta relação é parcialmente moderada por sentimentos de controlo; a gestão do tempo não é tão eficaz se a pessoa dispõe de reduzido controlo sobre as exigências ocupacio- nais, além de requerer um esforço adicional de autodisciplina e de focalização na concretiza- ção das tarefas. O envolvimento ativo no trabalho e a manutenção do foco na tarefa parecem ser as estratégias de coping indicadas para lidar com o aborrecimento no trabalho. Os compor- tamentos de coping mais adaptativos para lidar com a mudança organizacional (cujos efeitos sobre os indivíduos são moderados pela autoeficácia e o controlo) são manter-se ocupado, manter uma perspetiva positiva, fé e reavaliação de expectativas. O tipo de coping mais eficaz parece ser o focado nos problemas: resolução de problemas, busca de apoio social, reestrutu- ração cognitiva, distração ativa e uso de humor. O conflito interpessoal reduz o bem-estar subjetivo, causa mal-estar e aumenta o burnout quando o coping utilizado é de evitamento (evitar lidar com o outro), de forcing (gritar), de escape ou de desinvestimento. O coping que procura a integração ente os conflituantes associa-se a uma redução do stresse e a um aumen- to da satisfação no trabalho. Não obstante, as estratégias de coping ativo só são eficazes quando há controlo e o conflituante se disponibiliza para uma solução construtiva. Existe redu-