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CAPÍTULO 4 Metodologia

4.3. Caracterização dos participantes da investigação

4.3.4 Dados referentes às crianças com SXF pesquisadas em Portugal e no Brasil

Consideramos importante caracterizar o perfil dos alunos com SXF, porém não houve uma entrevista específica com os mesmos. Eles foram incluídos nos dados no que se refere a: acesso à Educação Infantil; Ensino Regular; idade do diagnóstico e necessidade de medicação.

Neste sentido os dados obtidos sobre a escolarização que os alunos tiveram foram constatados por meio das entrevistas com seus pais e professores. Estes dados são fundamentais para compreender o processo inclusivo.

a) Matrícula na Educação Infantil

Percebemos que, nos dois países, todos os alunos tiveram acesso a Educação Infantil, embora esta não fosse uma condição.

O acesso à Educação Infantil varia muito em relação à idade, inclusivamente dentro de cada país.

Tabela 8: Idade em que iniciou a Educação Infantil

Meses Anos Não sabe

País 04 06 07 01 1 e 06 m 02 03 04

Portugal 02 00 01 02 00 01 03 00 01

Brasil 02 01 00 01 02 00 03 01 00

c) Idade e que iniciou os estudos no Ensino Regular

Nos dois países, o acesso ao Ensino Regular ocorre por volta dos seis anos de idade.

Tabela 9: Idade em que iniciou o Ensino Regular

País 06 anos 07 anos 08 anos

Portugal 06 03 00

Brasil 06 01 02

Em Portugal, a legislação permite o adiamento da matrícula da Educação Infantil para o Ensino Regular. O pedido de adiamento de matrícula no primeiro ciclo do ensino básico está previsto no Decreto-Lei de Portugal n.º 3/2008, no Art. 19.º referente às adequações no processo de matrícula e declara que “as crianças com necessidades educativas especiais de carácter permanente podem, em situações excepcionais devidamente fundamentadas, beneficiar do adiamento da matrícula no 1.º ano de escolaridade obrigatória, por um ano, não renovável”.

No Brasil não existe legislação que ampare legalmente esta questão, mas muitas escolas, em consenso com as famílias, prorrogam a permanência do aluno por mais um ou dois anos na Educação Infantil. A equipa gestora precisa de discutir a fragilidade desta decisão e o impacto sobre a vida do aluno.

Em Portugal, as justificativas para o adiamento da matrícula são sugeridas pelos profissionais que trabalham com estes alunos, justificando a importância de mais um tempo de trabalho antes do Ensino Regular. Já no Brasil, as famílias das crianças relatam que os seus filhos apresentavam muitas dificuldades, mas os profissionais que com eles trabalhavam nem sempre sentiram esta necessidade. Apenas uma criança no Brasil mostrou necessitar de

permanecer na Educação Infantil por mais tempo, tendo sido encaminhada diretamente para uma Escola de Educação Especial. A outra criança que teve idade acima do esperado para a entrada no Ensino Fundamental foi devido a dificuldades significativas nos aspetos pedagógicos, o que fez com que permanecesse por mais tempo na Educação Infantil.

Entende-se por Educação Especial, a modalidade de ensino destinada a educandos portadores de Necessidades Educativas Especiais no campo da aprendizagem, originadas por deficiência física, sensorial, mental ou múltipla. No Brasil e de acordo com a Constituição da República Federativa Brasileira de 1988, a Educação Especial deve ser disponibilizada desde o início, na faixa etária dos zero aos seis anos.

O atendimento em Educação Especial deve respeitar as possibilidades e as capacidades dos alunos, garantindo o direito de acesso durante todos os níveis de ensino, preferencialmente dentro da rede regular de escolas (art. 208, III).

d) Idade do diagnóstico da SXF

O diagnóstico que identificou o SXF nos alunos sujeitos desta pesquisa ocorreu nas seguintes idades:

Tabela 10: Idade do diagnóstico

Portugal Brasil

01- pré-natal 01- 08 meses 01- 07 meses 01 - 01 ano 01 - 15 meses 02 - 2 anos 01 - 18 meses 01 - 2 anos e 07 meses

01 - 2 anos 01 - 6 anos 02 - 4 anos 03 - 7 anos 01 - 7 anos 01 - 17 anos 01 - 8 anos

Figura 10: Idade do diagnóstico

e) Uso de medicação

Durante as entrevistas, as famílias relataram que, em algum momento, os entrevistados necessitaram de usar medicação relacionada com questões comportamentais, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperatividade.

Tabela 11: Medicamentos País Medicamentos Portugal Ritalina - 02 crianças Resperdal Rubefen Respiridona Abilifianbiprazol Brasil Ritalina - 04 crianças Ansiolitico

Neoleptal - Respiridona e Fluoxetine Respiridona - Neoleptil e Carbamazepina

Neste aspeto foi possível perceber que no Brasil conforme os dados acima, existe uma maior incidência ao uso de um mesmo medicamento.

f) Escolarização atual dos entrevistados

Por ocasião da realização das entrevistas (2015) identificamos o ciclo de escolarização dos alunos, como é denominado em Portugal, ou em que ano de escolarização o aluno estava matriculado, como é denominado no Brasil:

Tabela 12: escolarização dos alunos com SXF no ano da investigação

Portugal Brasil Educação Infantil 1º ciclo - 01 aluno 3º ano - 01 aluno 4º ano - 01 aluno 5º ano - 01 aluno 6º ano - 01 aluno 7º ano - 01 aluno 8º ano - 01 aluno 10º ano - 01 aluno 12º ano - 01 aluno Educação Infantil 1º ano - 02 alunos 2º ano - 03 alunos 7º ano - 01 aluno 8º ano - 01 aluno 9º ano - 01 aluno Educação Especial - 01 aluno

Durante o processo de escolarização, alguns alunos apresentaram reprovações no Brasil. Em Portugal isso não ocorre, pois como os alunos têm acesso a currículo adaptado e Programa Específico Individual - PEI, a reprovação não é possível.

g) Acesso a Intervenção Precoce

Segundo os dados as entrevistas com os pais, em Portugal 08 alunos tiveram acesso a intervenção precoce, sendo realizada em domicílio, em sala de aula, em consultas pediátricas e nas terapias. Os dois casos em Portugal que não tiveram acesso foi devido à não necessidade por serem do sexo feminino. Já no Brasil como não temos equipas de intervenção precoce os pais procuraram terapias públicas ou privadas quando encontraram dificuldades específicas com seus filhos.

Ao longo deste capítulo apresentamos os dados sobre os participantes desta investigação e diante dos dados apresentados, podemos concluir que os pais encontravam-se na faixa etária entre trinta e três à cinquenta e cinco anos. O total de participações foi o de cinco casais, quatorze mães e uma tia que obtem a guarda do seu sobrinho devido ao falecimento da mãe.

As famílias tinham, na maioria dos casos, dois filhos, ou seja, dezesseis famílias. As demais famílias representam três famílias com apenas um filho e uma delas com quatro filhos. Em relação aos professores, encontram-se na faixa de entre vinte e seis e mais de quarenta e seis anos, evidenciando que em Portugal os professores apresentam maior idade que os professores brasileiros.

Quanto ao género, tivemos a participação do sexo feminino na totalidade no Brasil e em Portugal tivemos a participação de um professor do sexo masculino, sendo as demais participantes do sexo feminino.

Na formação académica, além do curso exigindo para trabalhar como professor, encontramos uma grande diversidade de professores com uma segunda graduação, sendo elas: Letras - português e inglês ou francês, História, Fonoaudiologia e Psicologia. Em relação às especializações a Educação Especial ficou em evidência. Em Portugal pode-se perceber ainda que os professores fazem mais de uma especialização. Outro fator constatado nesta investigação é que apenas em Portugal tivemos um professor com mestrado e doutorado.

Em relação ao tempo de atuação dos professores na Educação Especial, em Portugal variou entre 25 a 35 anos e no Brasil entre 7 a 25 anos.

Na formação contínua foi possível perceber que tanto em Portugal quanto no Brasil, os professores buscam formação além da oferecida pelo ministério ou Secretaria de Educação.

Quanto a experiência do professor em ter em sua sala de aula alunos incluídos, antes deste aluno investigado, encontramos em Portugal nove professores com alunos incluídos anteriormente e no Brasil oito professores, o que nos permite compreender que já tiveram em suas salas de aula, alunos incluídos.

Quando estamos analisando os dados sobre as salas de aulas, os dados obtidos nos fazem perceber que tanto no Brasil como em Portugal o número de alunos incluídos por sala de aula se equipara em ambos os países.

Nos dados obtidos em relação aos alunos por meio das entrevistas com os pais constatamos que cinco alunos iniciaram seus estudos na Educação Infantil entre 04 e 07

meses e treze alunos iniciaram entre 01 e 04 anos. Somente uma família não soube responder precisamente a idade de início de seu filho na Educação Infantil.

Ainda em relação a idade que iniciou os estudos, embora agora com ênfase no Ensino Regular, temos um total de 12 alunos com seis anos, quatro alunos com sete anos e dois alunos com oito anos. Vale resaltar que conforme já mencionado nesta investigação, o que ocorreu em Portugal foi o adiamento da matrícula e no Brasil foi a matrícula na Educação Especial com posteriormente inclusão no Ensino Regular.

Outro fator importante nesta investigação é a idade em que se obteve o diagnóstico, variando entre pré-natal em Portugal e aos dezassete anos no Brasil. Em relação a idade em meses tivemos um total de três crianças, em relação a um ano até os nove anos tivemos um total de dezasseis e uma com o diagnóstico aos dezassete anos.

Outro dado obtido foi em relação ao uso de medicamento. Neste aspecto vários medicamentos foram usados em algum momento da vida dos alunos investigados e para diferentes situações, embora evidenciou-se que no Brasil o número de medicamentos foi maior que em Portugal.

No ano em que ocorreu a investigação, a escolaridade atual dos entrevistados, variou entre a Educação Infantil com dois alunos, nos anos iniciais oito alunos, nove nos anos finais e um matriculado na Educação Especial.

No que se refere ao acesso a intervenção precoce, é um programa específico de Portugal. No Brasil, os pais buscam por terapias ao encontrar qualquer sinal de dificuldade com seus filhos. No entanto, os dados de Portugal nos esclarecem que oito alunos tiveram acesso e duas alunas só não tiveram acesso devido a não necessidade apresentada, o que nos faz recorrer a literatura e justificar que a SXF no sexo feminino se manifesta de maneira diferente.

Após caracterizarmos todos os participantes desta investigação, iremos apresentar e discutir os dados obtidos nas entrevistas.