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CAPÍTULO 4 Metodologia

4.2 Metodologia da investigação

4.2.3 Instrumento da pesquisa Entrevistas semi-estruturadas

Por tratar-se de uma investigação de natureza qualitativa, utilizamos entrevistas semi- estruturadas, por conter possibilidades de abrir espaço para novas buscas, a partir de determinada resposta do entrevistado.

A entrevista semi-estruturada é um instrumento que parte de algumas questões básicas, apoiadas em teorias e hipóteses que interessam ao pesquisador de acordo com Triviños (1987). Mediante determinada resposta do entrevistado, o pesquisador pode recorrer a outras interrogações, cujas respostas exigem novas hipóteses e, inclusive, novas teorias para interpretar as informações que recebe do sujeito, afirma Prudêncio (2014).

A elaboração dos guiões das entrevistas semi-estruturadas baseou-se na perspectiva da compreensão dos processos e das realidades em seus contextos. Para Flick (2009, p. 158), “a orientação para um guia de entrevista garante também que a entrevista não se perca em tópicos irrelevantes, permitindo ao especialista improvisar o seu tema e a sua opinião sobre as questões”.

A seleção dos pais participantes desta investigação se deu em decorrência da disponibilidade de participar da pesquisa, onde recorremos a um cadastro mundial de pais com filhos com a SXF. Este cadastro é aberto para todos que disponibilizam-se a participarem de pesquisas e estudos com vistas a melhor compreensão sobre a síndrome.

O instrumento semi-estruturado da entrevista com pais e professores foi composto por questões selecionadas com base na literatura referente ao tema, tendo também recorrido ao contributo de uma mãe que reside em Portugal e tem três filhos com SXF. O número de filhos com o diagnóstico da síndrome estudada foi o critério de seleção desta mãe, se revelando ser uma participante ativa e de relevante experiência. Inicialmente realizamos uma conversa

informal e, mais tarde, introduzimos algumas perguntas mais pontuais sobre o processo de inclusão escolar dos seus filhos no primeiro ciclo de escolarização. Esta mãe é portadora da SXF e, devido ao fator genético, os seus filhos também apresentam a síndrome. Como são três filhos, sendo dois do sexo masculino, foi possível considerar o que a literatura afirma sobre as características dos indivíduos com SXF, mais evidentes no sexo masculino do que no feminino.

Os conteúdos explorados nas entrevistas para os pais foram relacionados com os dados de identificação (contendo idade, género e número de filhos) caracterização da criança, escola, mutação, se teve acesso a intervenção precoce, características das crianças em relação aos aspetos de linguagem, comportamento, socialização e cognição e, na última parte, aspetos relacionados com a inclusão escolar: expectativas, impacto da escola, recetividade, acesso aos recursos, aprendizagem, reprovações, aspetos positivos e negativos sobre a inclusão e opinião da família sobre a inclusão, de forma abrangente.

Junto dos professores, foram abordados aspetos sobre os dados de caracterização contendo: idade, género, formação académica, formação contínua, experiência com alunos incluídos e processo de escolarização das crianças. Neste tópico foram questionadas as dificuldades sentidas ao trabalhar com os alunos com SXF, o impacto inicial, as adaptações curriculares, necessidade de apoios, como ocorreu a aprendizagem, articulação entre família e escola, necessidades de formação contínua e aspetos positivos e negativos da inclusão.

Os roteiros das entrevistas foram construídos com base na revisão da literatura e nas normas legais referentes à inclusão escolar em Portugal e no Brasil, sendo que, nas entrevistas aos professores, abordamos questões referentes à caracterização e escolarização das crianças com SXF5, e nas entrevistas aos pais abordamos os dados de identificação, as características da criança e a inclusão escolar6.

Os guiões foram validados por especialistas que estudam a SXF e trabalham na inclusão escolar de alunos com a síndrome. Um dos contatos foi feito via skype e outro via telefone. A confiabilidade garantiu-se através do uso do guião com base em informações de profissionais que apresentam conhecimentos sobre o referido estudo e também deram parecer técnico.

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A esse respeito, optamos pela garantia do anonimato dos especialistas, sendo este um “critério tradicional da ética que visa minimizar repercussões negativas para os participantes diante dos resultados do estudo”, para os autores Lankshear e Knobel (2008, p.100). As entrevistas foram traduzidas para o inglês afim de obter a opinião de uma das especialistas que estuda a SXF nos Estados Unidos.

As entrevistas semi-estruturadas valorizam a presença do investigador e, ao mesmo tempo, permitem ao entrevistado ter mais alternativas para expor a sua compreensão sobre o tema que está a ser investigado. Para Laville, essa estratégia permite “uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente numa ordem prevista, mas à qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento” segundo Laville (1999, p. 188).

Utilizamos a técnica da entrevista com o objetivo de compreender dados que, descritos pelos entrevistados, podem revelar a conceção dessas pessoas, sendo que, em certos momentos, foi necessário acrescentar questões pontuais para clarificar o que o entrevistado estava a tentar expor. Por exemplo, quando as pessoas estavam a relatar questões relacionadas com os seus filhos ou alunos e a afetividade tomava conta do discurso. Salientamos que os momentos em que a afetividade foi mais predominante, foram preservados nas transcrições, utilizando-se anotações específicas para isso.

O conteúdo das entrevistas fornecidas pelos pais e pelos professores foi transcrito pela investigadora, armazenada e identificada com um código, respeitando, sempre que possível, as marcas da oralidade e garantindo o anonimato dos participantes ou de locais que pudessem permitir a identificação dos mesmos.

As primeiras entrevistas foram realizadas com os professores dos alunos com o diagnóstico da SXF, pois era muito importante compreender o processo de inclusão escolar na perspectiva desses profissionais. Posteriormente foram realizadas as entrevistas com as famílias, realizadas inicialmente em Portugal e depois no Brasil.

As entrevistas foram realizadas nos meses de abril e maio de 2015 em Portugal e em agosto e setembro de 2015 no Brasil. Foi necessário estipular este limite temporal para que a recolha de dados da investigação correspondesse ao ano escolar dos alunos e ocorresse dentro de um espaço temporal próximo.

A duração das entrevistas variou de uma hora à uma hora e meia. Os pais não tiveram acesso as perguntas antes do dia e horário agendado, compreendendo que desta maneira eles não teriam respostas prontas às questões abordadas e iriam ter que responder com mais

naturalidade.

As entrevistas foram todas armazenadas em áudio, havendo aproximadamente 40 minutos de duração para cada entrevistado. “Qualquer pessoa que faça entrevistas conhece a riqueza desta fala, a sua singularidade individual, mas também a aparência por vezes tortuosa e contraditória”, para Bardin (2009, p. 90).

O caráter interpretativo, a observação e a participação nas entrevistas semi- estruturadas foram fundamentais, pois foi possível relacionar a literatura estudada com a prática, no contexto espaço-tempo da investigação, considerando a conceção e os objetivos da investigação.