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CAPÍTULO 2 Educação, Aprendizagem e Desenvolvimento do Aluno com a Síndrome

3.2 Políticas e práticas de inclusão no Brasil

A Constituição Federal de 1988 defende a educação escolar de pessoas com deficiência, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação, de acordo com o art. 3º, inciso IV. Ainda no

art.5º, afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade.

No seu art. 206, inciso I, a Constituição Federal prescreve que o ensino será ministrado com base nos princípios de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, prescrevendo a garantia a todos do direito à educação e ao seu acesso. A Constituição Federal legitima, no: art. 205º, que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, a sua preparação para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho. O art. 206º refere que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulger o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; e garantia de padrão de qualidade.

É dever do Estado, conforme o art. 208º, promover a educação mediante a garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

O capítulo IV da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB (Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996) trata da Educação Especial. O art. 58º entende por educação especial a modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente na rede regular de ensino, a educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Os serviços de apoio especializado deverão existir na escola regular, afim de atender às peculiaridades da clientela de educação especial.

Quanto ao atendimento educacional, deverá ser feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre em função das condições específicas dos alunos e a oferta de educação especial, a qual tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

O art. 59º declara que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender às suas necessidades; terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude das suas deficiências e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar, para os sobredotados; garantia

de professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade e acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais, suplementares, disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.

Outra base legal muito importante, que define as orientações pedagógicas, metodológicas e avaliativas, são as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.

O art. 3º declara que a educação especial é uma modalidade da educação escolar, entenda-se, um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica.

O parágrafo único do artigo acima referenciado explicita que os sistemas de ensino devem constituir e fazer funcionar um setor responsável pela educação especial, dotado de recursos humanos, materiais e financeiros que viabilizem e dêem sustentação ao processo de construção da educação inclusiva.

Do ponto de vista dos marcos legais, a legislação brasileira traz avanços significativos. Contudo, há que se considerar que o texto legal em si mesmo não instala uma prática, mas determina apenas as obrigações do poder público, o qual deve enfrentar o desafio de formulação de políticas educacionais inclusivas, que explicitem o respectivo orçamento financeiro necessário ao desenvolvimento dos programas. Daí a definição de políticas e orçamento enquanto tarefa específica dos sistemas de ensino (estadual ou municipal) na estruturação e organização escolar, quanto a questões pedagógicas e administrativas.

Convém mencionar as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial- Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009, dadas as suas especificidades no tocante à política de acesso, curricular e aos recursos de acessibilidade, como: a matrícula de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), disponível em salas de recursos

multifuncionais ou Centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública de função complementar ou suplementar; e atendimento em educação especial através da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras, para plena participação dos alunos na sociedade e desenvolvimento da sua aprendizagem.

Para tanto, as diretrizes consideram recursos de acessibilidade na educação àqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, espaços, mobiliários e equipamentos, sistemas de comunicação e informação, transportes e demais serviços.

Os artigos 3º e 4º desta mesma resolução definem o entendimento de que a Educação Especial se realiza a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, considerando-se público-alvo do AEE: I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial. II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com o autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade.

A ideia de educação inclusiva reafirma-se no art. 5º que prevê a realização do AEE, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em Centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, sob convénio com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios.

Entre as muitas questões a serem consideradas na elaboração de uma política de educação especial inclusiva, há uma que constitui um grande desafio: a formação inicial que habilite o professor para o exercício da docência em termos de formação específica para a Educação Especial, de modo a identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos

pedagógicos de acessibilidade e estratégias, considerando as necessidades específicas dos alunos alvo da Educação Especial. Tal desafio é revitalizado pela necessidade de especialização demandada para o atendimento às questões específicas inscritas no currículo (adaptações, metodologias e práticas avaliativas), mas também no eixo da participação no planeamento: executar o Plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos necessários.

O planeamento da Sala de Recursos Multifuncionais como espaço da escola pública de Educação Básica está organizado de modo a disponibilizar o Atendimento Educacional Especializado como apoio pedagógico complementar (ou suplementar) ao currículo escolar dos alunos com necessidades especiais. Isto requer conhecimentos mais elaborados, ou seja, uma especialização por parte do professor. A denominação multifuncional está vinculada à flexibilidade de sua constituição e deve promover diversas formas de acessibilidade ao currículo escolar através de estratégias de aprendizagem que favoreçam a construção de conhecimentos pelos educandos portadores de NEE, afim de desenvolverem a sua autonomia na vida prática.

Na década de 90, a Lei Federal nº 8.069 /1990, instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, como norma de proteção do direito das crianças e adolescentes do Brasil. O art. 53º declara que “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento da sua pessoa, assegurando-lhes a igualdade e as condições para o acesso e permanência na escola” e no art. 54º, alínea III, afirma que “é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente atendimento educacional e especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil (1990).

No Brasil, a aprovação do Plano Nacional de Educação- Lei nº 13.005 de 2014 suscitou uma discussão um tanto coflituosa entre educadores, sistemas de ensino, instituições de ensino superior e de pesquisa e o Ministério de Educação e Cultura, a respeito da Base Nacional Comum Curricular - BNCC, documento orientador dos conhecimentos e saberes a serem ensinados e aprendidos pelos alunos da educação básica em todo o território nacional, respeitando a diversidade cultural. Neste contexto, discutem-se os direitos das pessoas com deficiência, defendendo o princípio da igualdade de condições com as demais pessoas da comunidade onde vivem.

reconhecimento e valorização da diversidade humana, no sentido de enfatizar o direito dos estudantes com deficiência a participar ativamente do ambiente e da vida escolares, identificando respeito para com aqueles que são diferentes, reconhecendo as limitações de uso de outros sentidos, de modo acolhedor e respeitoso para com o aluno e sua família. É fundamental explorar mais a ideia de que o cuidado com o outro é um valor importante a ser cultivado pela escola, eliminando as barreiras decorrentes de atitudes discriminatórias. Os sistemas de ensino devem assegurar em todos os níveis, etapas e modalidades, a organização e oferta de medidas de apoio específicas para a promoção das condições de acessibilidade, participação e autonomia dos estudantes com NEE a situações pedagógicas de vivências significativas, que possam ampliar horizontes para realidades marcadas pela diversidade.

Os debates sobre a diversidade na Educação Especial foram também consagrados no Plano Nacional de Educação 2014-2024, especialmente na meta número quatro e nas dezanove estratégias que a compõem: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezassete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao Atendimento Educacional Especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, no contra turno das salas de recursos multifuncionais ou serviços especializados.

Os fundamentos pedagógicos e políticos dos marcos legais baseados na Lei de Diretrizes e Bases, Plano Nacional de Educação (2014-2024) e das Diretrizes Curriculares Nacionais preveem a organização dos sistemas de ensino, mas também asseguram a participação da comunidade escolar na elaboração do Projeto Político Pedagógico da Escola - PPP.

O Projeto Politico Pedagógico da Escola é o documento de cada instituição escolar que considera acessibilidade, comunicação, informação (comunicação oral, escrita e sinalizada), equipamentos e recursos de tecnologia assistidas tais como: materiais pedagógicos acessíveis, tradução e interpretação de Línguas, software e hardware que compreendam tais requisitos de comunicação alternativa, entre outros recursos e serviços. É no contexto do Projeto Político Pedagógico que a escola decide coletivamente as grandes linhas orientadoras da educação escolar, desde a concepção da educação inclusiva à política curricular.

Quando nos referimos aos alunos com SXF, não podemos esquecer que a escola é um espaço de construção da cidadania, com o exercício de direitos, sendo o primeiro deles a apropriação do conhecimento no âmbito de práticas educativas forjadas com base no respeito

pela diversidade, critério que deve ser observado na inclusão dos alunos com NEE. Do ponto de vista da cidadania como dimensão de política pública, há que reconhecer os avanços no Brasil, especialmente no Estado do Paraná, expressos na Lei nº 17.681 de 17 de Setembro de 2013, publicada no Diário Oficial nº. 9.045 de 17 de Setembro de 2013 e que institui a Política Estadual de Proteção dos Direitos da Pessoa com Síndrome do X Frágil.2

Para Cury (2008, p. 296) a educação escolar é um bem público, de caráter próprio, por ser gratuita e obrigatória na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Como se trata de um direito juridicamente protegido, em especial como direito público subjetivo no âmbito do ensino fundamental, é preciso que seja garantido e cercado de todas as condições.