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Capítulo 2 – FUNDAMENTOS DA EMOÇÃO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESIGN

2.1 Damásio e a integração entre emoção e cognição

Para uma melhor compreensão acerca dos fundamentos defendidos por Damásio, se faz necessário ressaltar a distinção feita pelo autor entre emoção e sentimentos. Damásio (1996) vê a emoção como um conjunto de reações corporais externas induzidas por uma infinidade de terminações nervosas, reguladas constantemente por um complexo sistema cerebral, tal como o seu sentido etimológico (emoção – “movimento para fora”). A emoção influencia o corpo propriamente dito, fazendo com que este elabore reações físicas características da emoção sentida, e também participa das alterações mentais resultante das mudanças nas reações físicas. Já o sentimento pode ser conceituado como uma associação entre a imagem definida pelo corpo através das emoções e alguma outra imagem visual ou auditiva etc. (a lembrança de um rosto ou de uma melodia), este se torna um processo mental ainda mais complexo que as emoções, pois pode ser um resultado destas ou não, como veremos mais adiante. A base dos estudos de Damásio constitui sua maior importância, portanto, na afirmação de que as emoções e os sentimentos fundamentam-se como um aspecto central na regulação biológica, “estabelecendo uma profunda ligação entre os processos racionais e não racionais, entre as estrutura corticais e subcorticais” (DAMÁSIO, 1996 p.157).

A natureza desenvolveu assim um sistema de raciocínio a partir do sistema de regulação biológica do ser humano, o que justifica a nossa imensa necessidade de racionalização das emoções sentidas, isso influencia não só na nossa relação com outras pessoas como também na orientação cognitiva da tomada de decisão, já que segundo James (1890 apud Damásio 1996) as nossas reações a determinadas situações podem ser filtradas por um processo de avaliação ponderada. A emoção faz parte do ser humano, e sabendo que ela interage junto com o lado racional, de acordo com Schlemmer (2012), podemos afirmar que esta faz parte da tomada de decisão, da escolha e da avaliação perante o produto.

Assim, as pessoas tomam decisões usando sempre o instinto, a experiência (pessoal e social) e a razão. Por esse motivo, os lados racional e emocional não decidem individualmente a tomada de decisão, mesmo assim, o sistema de recompensas anota tudo e avisa se algum equívoco acontecer (DAMÁSIO, 1996). Por conseguinte, todas essas escolhas ou experiências são registradas e catalogadas por uma região do cérebro, denominada como sistema de recompensas, que contém o nível do prazer e da frustração das pessoas.

Na vivência dessas emoções, de acordo com Damásio (1996), diversas partes do corpo podem ser levadas a um novo estado com mudanças significavas. Esse processo pode ser resumido da seguinte forma: Inicia-se o processo com uma avaliação cognitiva em relação a uma determinada pessoa, objeto ou situação e as consequências para si e para os outros, formando imagens verbais ou

38 não verbais. O substrato neural resultante dessas imagens é uma representação topograficamente organizada nos diversos córtices sensoriais iniciais. Inconscientemente as redes presentes no córtex pré-frontal reagem de forma automática e involuntária as imagens elaborada anteriormente. Essa reação corresponde a conhecimentos relativos a certas respostas emocionais vividas em suas experiências individuais (sendo estas totalmente adquiridas e não inatas). Também de forma automática, as reações pré-frontais individuais são assinaladas em diversas partes do corpo, ativando o sistema nervoso, motor, endócrino e peptídico, além dos núcleos neurotransmissores que liberam mensagens químicas para diversas regiões do cérebro, o que torna a maioria de nossas emoções externamente perceptíveis.

Damásio (1996) acredita que o nosso sentimento em relação a um objeto baseia-se principalmente na subjetividade de nossa percepção em relação a este, do nosso estado corporal criado por este e na percepção de estilo, estado e eficiência de pensamento desenvolvido durante todo esse processo. Damásio (1996) afirma que, com o estado corporal negativo, tem-se um raciocínio relativamente ineficaz, uma criação de imagem mais lenta, sendo sua diversidade um pouco menor. Já no estado corporal positivo esta criação de imagem passa a ser mais rápida, com uma diversidade bem mais ampla e o raciocínio passa a ser mais ágil, podendo, dependendo do organismo, ser eficiente ou não. São exatamente estes estados que influenciam na nossa relação com o mundo material que nos cerca. É, portanto, o estudo desse conjunto amplo de sinais químicos e neurais, racionais ou não, que deve nortear o estudo da relação emocional dos seres humanos e seus objetos. Objetivando sempre a rapidez na criação de imagens e raciocínio, propiciando um estado de sentimento positivo em relação ao objeto que se pretende desenvolver.

Grande parte dos estudos em Design e emoção tem se focado no desenvolvimento de modelos de descrição da interação emocional entre os indivíduos e seus produtos, o que contribui tanto para o desenvolvimento de projetos com base nas emoções, como para o desenvolvimento de ferramentas de auxilio (identificação, medição e etc.) ao processo de Design. Para este trabalho serão utilizadas as pesquisas de Norman (2008), que, com base nos níveis de processamento das informações no cérebro, aponta que a relação usuário-produto e atuação do designer na concepção de artefatos podem ser analisadas sob a ótica de três níveis de interação: visceral, comportamental e reflexivo. Ainda serão observados também os estudos de Person (2003) que ressalta a importância do contexto sócio cultural em que o indivíduo está inserido para concepção de produtos emocionalmente mais próximos de seus usuários, tomando como base a interação entre os cinco sentidos (tato, audição, visão, olfato e paladar), sua relação com os produtos e funcionalidade, como será observado a seguir.

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