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3.4 OS AGROTÓXICOS E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA E NO MEIO

3.4.1 Danos à saúde decorrentes de consumo de alimentos e da atividade

Os agrotóxicos, sabidamente, têm a capacidade de serem agressivos a saúde dos seres humanos e de impactar negativamente o meio ambiente natural. Com relação a saúde humana, diversos estudos têm sido feitos para avaliar os impactos que estes produtos causam no organismo. A presença destes produtos químicos no corpo humano está desde o sangue ao leite materno. (SIQUEIRA; KRUSE, 2008). Conforme Tereza Raquel Ribeiro Sena, Marlizete Maldonado Vargas e Cristiane Costa Cunha de Oliveira (p. 1754, 2013), “os efeitos deletérios à saúde humana são descritos por alterações nos sistemas nervoso, cardiovascular, respiratório, na pele, nos olhos, além de alterações hematológicas e reações alérgicas aos agrotóxicos”.

Segundo Organização Pan-Americana da Saúde, a OPAS (1996), sintomas genéricos que estão presentes em outras patologias também representam intoxicação por agrotóxicos, e devido aos sintomas serem comuns não se atribui a tais produtos. Estes sintomas são dor de cabeça, vertigem, falta de apetite, perda de força, nervosismo e dificuldade para dormir.

Exemplos de agentes agressivos são os do grupo dos organofosforados e dos organoclorados. Os organofosforados, de acordo com Maria J. Cavalieri et al (p. 268, 1996), “atuam inibindo as colinesterases, principalmente a acetilcolinesterase [...], aumentando o nível de acetilcolina nas sinapses. Em mamíferos, estes efeitos caracterizam-se principalmente por lacrimejamento, salivação, sudorese, diarréia, tremores e distúrbios cardiorrespiratórios.”. Alguns produtos organofosforados são a parationa metílica, clorpirifós, o acefato, entre outros.

Agrotóxicos como os do grupo do organoclorados são de alta toxicidade e também de alta persistência no organismo e no meio ambiente. Produtos como

endosulfan, DDT - este sendo proibido pela lei nº 11.936, de 14 de maio de 2009 -, foram utilizados em larga escala no Brasil, mas hoje sendo proibidos. Porém muitos estudos ainda são feitos analisando os impactos destes por serem considerados POPs, Poluentes Orgânicos Persistentes. (CARNEIRO et al, 2015).

Conforme Geraldo Stachetti Rodrigues (p. 218-219, 2003):

Estes produtos, contudo, apresentam extrema longevidade no ambiente, portanto ainda constituem importantes contaminantes, o que justifica a atenção a eles dedicada, mesmo nas avaliações mais recentes. Ademais, há indicações de que vários produtos organoclorados continuam sendo empregados e liberados no ambiente (Tavares et al., 1999), a despeito das restrições impostas ao seu uso.

Às intoxicações por agrotóxicos podem ser classificados como aguda, subaguda e crônica. Às intoxicações agudas são às causadas por exposição breve, mas em grandes doses, aos agroquímicos. Os efeitos causados “variam de intensidade leve a grave, e caracterizam-se por náusea, vômito, cefaleia, tontura, salivação, sudorese, desorientação, parestesias, irritação da pele e das mucosas, cólicas abdominais, fraqueza, fasciculação muscular, dificuldade respiratória, arritmias cardíacas, hemorragia, convulsões, coma e morte (CARGNIN; ECHER; SILVA, p. 470, 2017)”.

As intoxicações subagudas são causadas pela exposição leve ou moderada a produtos que podem ter sua toxicidade alta ou mediana, e têm seus efeitos aparecendo mais lentamente. Os sintomas são mais vagos como dor de cabeça, mal estar, sonolência, entre outros de característica genérica a outras doenças (OPAS, 1996).

Às intoxicações crônicas têm suas causas baseadas e doses leves ou moderadas de agrotóxicos ao decorrer de longos períodos, como meses, ou anos. Seus danos são maiores e de alta gravidade. Segundo Aline do Monte Gugel (p. 51, 2017):

Diversos outros efeitos crônicos podem ser associados à exposição a agrotóxicos de diferentes grupos químicos, tais como a toxicidade sobre o sistema reprodutivo, teratogênese/malformação congênita, desordens neurodegenerativas é neurotoxicidade do desenvolvimento, toxicidade sobre o sistema hormonal ou desregulação endócrina, desordens do sistema imune é nervoso, transtorno do espectro autista, alergias e asma, agravando a situação de saúde de grupos populacionais expostos. As intoxicações crônicas são “silenciosas” e há uma grande dificuldade em associar os quadros clínicos às exposições pregressas, muitas vezes ocorridas após um significativo lapso temporal. Elas podem ser decorrentes

das exposições crônicas a baixas doses, a múltiplos tóxicos, por diferentes vias (oral, inalatória, dérmica) e podem acontecer em situações e locais diversos, afetando a população como um todo. A exposição constante a essas substâncias pode estar relacionada ao surgimento de graves problemas de saúde como cânceres, mutações genéticas, distúrbios e problemas sobre o sistema reprodutivo, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e outros, com importantes repercussões sobre o perfil de morbidade e mortalidade das populações é incalculável custo social.

Às intoxicações por contato com agrotóxicos não são apenas ocupacionais, a intoxicação de gêneros alimentícios é um dos problemas decorrentes da utilização desses produtos. No ano de 2017, o Greenpeace Brasil, em sua “Campanha De Agricultura e Alimentação do Greenpeace Brasil”, promoveu testes toxicológicos em alimentos, como frutas e verduras. Dos alimentos testados, 60% continham resíduos de agrotóxicos e 36% continham alguma irregularidade, sendo que alguns tinham resíduos de mais de um agrotóxico. Às irregularidades existentes iam de agrotóxicos indevidos para o uso no tipo alimentício, resíduos acima do limite válido e resíduos de produto proibido no Brasil. (GREENPEACE BRASIL, 2017).

Os resíduos de agrotóxicos que permanecem possuem um limite máximo. O “Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) expõe sobre esse assunto tratando da ingestão diária aceitável, também conhecida como IDA:

“A IDA é calculada com base em estudos experimentais, realizados com animais de laboratório e, em geral, expostos por via oral, nos quais é encontrado o Noael (maior dose em que não foi observado efeito adverso) para um determinado desfecho de toxicidade. Mediante esse valor, faz-se uma abstração matemática e esse número é extrapolado para os humanos. Da mesma maneira, em um estudo experimental podem-se calcular os níveis considerados “seguros” a partir da exposição dérmica ou inalatória (CARNEIRO et al, p. 77, 2015).”

Mães e crianças ainda em fase de amamentação correm riscos também pelo consumo de agrotóxicos. O leite materno tem alta concentração de gordura podendo ser um meio de transmissão de resíduos de agroquímicos lipossolúveis que estão presentes nas mães para os bebês. (MENCK; COSSELLA, OLIVEIRA, 2015). A ingestão pelos recém-nascidos podem causar danos futuros, devido à fragilidade do organismo destes. (CARNEIRO et al, 2015).

Os danos ocupacionais são outro fator grave. Os agricultores, principal classe que sofre com esses danos, têm contato direto com, normalmente, mais de um destes produtos causando intoxicações sérias, que podem ser agudas, subagudas e, essencialmente, crônicas. Esses envenenamentos são relacionados ao manuseio sem a devida utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). O uso de EPIs quando corretamente utilizados para o ambiente de trabalho específico evitam a absorção por via oral, respiratória e dérmica pelos agricultores. Às intoxicações por via dérmica são as mais comuns de ocorrerem. (CARGNIN; ECHER; SILVA, 2017; VEIGA; MELO, 2016).

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