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Outro desdobramento das limitações do poder de tributar, que segue o princípio constitucional da intervenção do Estado na economia, se dá por meio do princípio seletividade tributária. Tal princípio corresponde à noção de extrafiscalidade. A extrafiscalidade é um meio interventivo do Estado de causar estímulo, ou desestímulo, de atividades ou mercadorias. A seletividade também está atrelada ao Princípio da Capacidade Contributiva, que está presente na Constituição Federal, em seu artigo 145, § 1o, com seu texto dizendo (BRASIL, 1988):

Art. 145 [...]

§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

De maneira simples, a ideia que o parágrafo transmite é que a tributação deve ser adequada ao poder contributivo do indivíduo. Não deve exceder ou impor valores que sejam superiores ao que o contribuinte pode colaborar. Isso faz com que a haja uma graduação tributária, tendo em mente a realidade e a capacidade econômica do indivíduo ou ente a ser tributado. (REGO, 2018).

Ricardo Alexandre (p. 147-148, 2017) discorre sobre o princípio da seguinte forma:

A aplicação aos impostos "sempre que possível" decorre do entendimento de que todos os impostos incidem sobre alguma manifestação de riqueza do contribuinte (auferir renda, ser proprietário, importar, transmitir. bens). Manifestada riqueza, aparece a solidariedade social compulsoriamente imposta: o Estado, por lei, obriga o particular a entregar-lhe parte da riqueza, parte esta que será redistribuída para toda a sociedade por meio das atividades estatais. Por conseguinte, considera-se justo que cada pessoa seja solidária na medida de suas possibilidades, visto que quem mais tem renda, quem mais possui, quem mais importa, quem, enfim, mais manifesta riqueza, tem uma possibilidade maior de contribuir com a sociedade sem comprometer sua subsistência (capacidade contributiva).

A partir desse entendimento sobre capacidade contributiva pode-se então trabalhar a seletividade. Segundo a doutrina de Claudio Carneiro (2016), a seletividade tributária é uma diferenciação na alíquota de tributos, mais especificamente para este trabalho, o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Essa diferenciação de alíquota se baseia na essencialidade do produto ou serviço. A essencialidade seria a importância do produto, fazendo com que quanto mais essencial menor a alíquota, e quanto menos essencial (mais supérfluo) maior a alíquota.

Como dito, o IPI e o ICMS gozam da seletividade. Porém a diferença desta entre ambos os impostos é que o IPI será seletivo, e o ICMS poderá ser seletivo. Isso se identifica nos artigos 153, § 3o, inciso I, e 155, § 2o, inciso III, da Constituição Federal de 1988.

O Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI, como o próprio nome já diz, atua sobre os produtos que foram submetidos à industrialização. É um imposto de competência federal. Segundo Leandro Paulsen e José Eduardo Soares de Melo (p. 103, 2018), o IPI “alcança o negócio jurídico (operação) que tenha por objeto qualquer bem (produto) decorrente de processo de industrialização realizado por um dos contratantes (industrializado).”

O artigo 153, § 3o, inciso I, da Constituição Federal que trata da seletividade do IPI dispõe que (BRASIL, 1988):

Art. 153. [...]

§ 3º O imposto previsto no inciso IV:

Ricardo Alexandre (p. 665, 2017) afirma:

O objetivo final do princípio é conseguir, de maneira indireta, graduar a carga tributária do imposto de acordo com a capacidade contributiva dos consumidores, uma vez que os produtos essenciais são consumidos por todas as classes sociais, devendo, justamente por isso, estar sujeitos a uma suave ou inexistente carga tributária. Já os gêneros supérfluos são presumidamente consumidos apenas (ou, ao menos, principalmente) pelas pessoas das classes sociais mais privilegiadas, devendo ser tributados de uma maneira mais gravosa.

Paulsen e Melo (2018) complementam a ideia da maior alíquota ao produto supérfluo ao citarem de exemplo o cigarro. Tal produto possui uma alíquota de 300%, demonstrando o caráter extrafiscal da medida. O percentual tão alto se justifica pelo fato de que o produto é altamente danoso à saúde, e tendo seu valor elevado de maneira considerável haverá assim a uma redução no consumo de cigarros.

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS, é um imposto de competência estadual. Ele incide sobre a circulação de mercadorias, o serviço de transporte intermunicipal e interestadual e serviços de comunicação. Sendo assim, de maneira geral, ele incide sobre mercadorias transportadas no geral, um exemplo são os combustíveis, transporte de pessoas, energia elétrica, serviços de telecomunicações, como por exemplo internet. (HARADA, 2018).

O artigo 155, § 2o, inciso III, da Constituição Federal que trata da seletividade do ICMS diz que (BRASIL, 1988):

Art. 155 [...]

§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: [...]

III - poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços;

Leandro Paulsen e José Eduardo Soares de Melo (p. 325, 2018), afirmam que:

A essencialidade consiste na distinção entre cargas tributárias, em razão de diferentes mercadorias e serviços, traduzidos basicamente em reduções de base de cálculo, distinções de alíquotas, créditos outorgados e demais incentivos fiscais.

[...]

Embora a facultatividade constitua o elemento impulsionador da edição do ICMS seletivo, não poderá haver mero critério de conveniência e oportunidade, porque impõe-se obediência a inúmeros postulados constitucionais. Não podem ser cometidas arbitrariedades, como é o caso de serem estabelecidas alíquotas mais elevadas com o propósito precípuo de incrementar a arrecadação do ICMS, concernente a mercadorias que sejam de primeira necessidade.

Dada às informações apresentadas, indica-se que o principal fator para que haja a isenção ou redução de alíquotas de IPI e de ICMS é a essencialidade do produto ou serviço. É ela que define qual produto poderá obter redução ou majoração. Independente de dever ou faculdade, em seu imposto específico, a essencialidade permeia como o fator preponderante no momento de adequação da alíquota do produto, fazendo jus a capacidade contributiva do consumidor.

4.4 A SELETIVIDADE TRIBUTÁRIA E A QUESTÃO DA ESSENCIALIDADE NOS

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