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1.2 O Poder Executivo no âmbito Municipal

1.2.2 Das Funções (atribuições)

Considerando a complexidade do cargo e as inúmeras funções ao mesmo atribuídas, é necessária uma breve explanação apenas a respeito das funções que tem ligação direta com a temática do presente trabalho.

Conforme Meirelles (2008, p. 735), as atribuições dos prefeitos podem ser divididas em dois grandes grupos: atribuições políticas (ou de governo) e atribuições administrativas.

As atribuições políticas consubstanciam-se em atos de governo, inerentes às funções de comando do Executivo, e se expressam na condução dos negócios públicos locais; no planejamento das atividades, obras e serviços municipais; na apresentação de proposições e projetos de lei à Câmara de Vereadores; na sanção, promulgação e veto de projetos de lei; na elaboração da proposta orçamentária; na expedição de decretos regulamentares e demais atuações de caráter governamental. No desempenho dessas atividades de governo, o prefeito age com natural discricionariedade para o atendimento do interesse público e promoção do desenvolvimento integral do Município.

As atribuições administrativas concretizam-se na execução das leis em geral e na realização de atividades materiais locais, traduzidas em atos administrativos (despachos em geral) e em fatos administrativos (obras e serviços). Tais atribuições expressam-se em instrumentos formais, unilaterais ou bilaterais (atos e contratos), e em execução de projetos, devidamente aprovados pelos órgãos técnicos competentes. No exercício dessas atribuições o prefeito age, nas atividades vinculadas, segundos as explícitas imposições da lei, e nas atividades discricionárias com certa liberdade de atuação nos aspectos permitidos pelo Direito. Em qualquer caso, porém, seus atos sujeitam-se a anulação pelo poder Judiciário se ilegais e lesivos de direito individual ou do patrimônio público.

1.2.2.1 Das funções administrativas

A função administrativa coloca em prática o que a lei determina, fazendo com que a máquina pública, no plano municipal, funcione, assim como diz o doutrinador Marcello Caetano (2011, p. 13):

O Estado promove e assegura a execução de leis sem esperar que do choque de interesse resultem conflitos em que duas ou mais partes reivindiquem a proteção jurídica na convicção de lhes ser devida. O Estado tem órgãos que tomam a iniciativa da realização dos comandos legais, diretamente ou mediante a orientação da conduta dos particulares. E nesses casos os órgãos do Estado procedem como se fossem eles próprios os titulares dos interesses que a lei quer ver em ação, agindo como partes nas relações com os particulares, isto é, com parcialidade. O Estado não espera que venham pedir que intervenha para executar a lei: aproveita faculdades legais, usa os poderes, cumpre os seus deveres, escolhendo quando lhe seja possível as oportunidades de intervenção e determinando-se nela por motivos de conveniência. Assim, as decisões ou operações de vontade predominam sobre os julgamentos ou operações de inteligência. E o Estado, na medida em que proponha realizar os seus interesses, pode entrar em conflito com outros interessados.

A respeito desta função, a administrativa, é importante salientar que seus atos podem ser delegáveis nos casos concretos do cotidiano, com o intuito de obter um desempenho mais célere, eficiente e descentralizado dos trabalhos do executivo municipal.

O Poder Executivo, por meio de seu chefe, o prefeito municipal, ou de seus secretários possui importantes funções administrativas, dentre as principais: execução de obras e serviços, administração do patrimônio municipal e arrecadação e aplicação de receita municipal.

1.2.2.1.1 Execução de obras e serviços

Tal atribuição está intimamente ligada à ideia sintetizada por Meirelles (2008), a qual prega que o Município é, por excelência, uma entidade prestadora de serviços públicos aos munícipes, sendo que tais serviços devem satisfazer as necessidades da população como um todo, e não interesses particulares.

A respeito de tal função, pertinente ressaltar algumas peculiaridades, conforme dito por Nelson Nery Costa (2014, p. 112-113):

A execução de obras e serviços é competência privativa do Prefeito, sem interferência direta da Câmara. Pode ser feita por órgãos da Administração direta ou indireta, mas sempre a fiscalização e a responsabilidade são daquele, razão pela qual pode utilizar todo o poder que lhe foi conferido para concretizar o que se idealizou.

Quando a execução das obras e serviços públicos é conferida para terceiro, deve ser precedida de licitação, nas modalidades de concorrência, tomada de preço ou convite, previstas na Lei Federal nº 8.666, de 21.06.1993 e em suas modificações posteriores.

Não há como citar uma só atribuição como a principal do poder executivo municipal, até porque a este são atribuídas várias funções importantes. Contudo, com certeza, a execução de obras e serviços é uma das funções mais visíveis à população e, consequentemente, uma das mais exigidas e questionadas pelos munícipes, pois estes são afetados diretamente pela ação ou omissão do poder público em efetuar as obras e serviços.

1.2.2.1.2 Administração do patrimônio municipal

O patrimônio público municipal pode ser corpóreo ou incorpóreo, de valores econômicos, históricos, científicos, artísticos e culturais, restando esclarecer apenas que compete ao Executivo Municipal e seus secretários administrar e zelar os bens pertencentes ao município.

Os bens públicos municipais podem ser classificados em relação a diversos aspectos:

quanto a sua natureza, formação, titulares, destinação e aspectos geográficos. (MELLO, 2009).

Sendo assim, “a administração deste patrimônio é de responsabilidade do Prefeito, devendo este zelar pela conservação e utilização regular dos bens públicos locais, assim como daqueles que tenham valor histórico, artístico ou cultural” (MEIRELLES, 2008, p. 112).

1.2.2.1.3 Arrecadação e aplicação de receita municipal

Inicialmente, é importante salientar a diferença entre receita e renda. Enquanto a primeira é o conjunto de recursos que o Estado recebe de todas as suas fontes produtivas, para fazer face às despesas públicas, a segunda, conforme ensinamento de Hely Lopes Meirelles (2006, p. 762), são os recursos oriundos da arrecadação dos tributos e da exploração dos bens

patrimoniais da entidade pública. Assim, o conceito de receita é mais amplo que o de renda, abrangendo a totalidade de recursos que passam a integrar o patrimônio público.

Deve-se destacar que a arrecadação de tributos tem como base o princípio da legalidade, pelo qual ninguém deverá ser privado de pagar tributos, sem lei anterior que discrimine tal isenção, sob pena de crime responsabilidade (art.11 da Lei Complementar nº 101/2000 - LRF). Deste modo evita-se que os gestores possam vir a favorecer ou desfavorecer grupos ou pessoas determinadas.

Pode-se citar como tributos de competência municipal os impostos, as taxas e a contribuição de melhoria (artigo 145, I, II e III da CF). Quanto aos impostos municipais, existem o Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU (artigo 156, I da CF), o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis – ITBI (artigo 156, II da CF) e por fim, o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS (artigo 156, III da CF).

A aplicação das rendas e receitas também compete ao Prefeito, conforme ensinado por Hely Lopes Meirelles (2008, p. 762):

O prefeito administra não só as rendas municipais como os demais recursos que compõe a receita local, quer provenham de fontes próprias, quer de origem estranha ao Município, tais como os auxílios financeiros da União e do Estado-membro. A aplicação da receita compete igualmente ao Prefeito, em estrita observância do disposto no orçamento. Toda verba pública tem destinação orçamentária certa, e não poderá ser empregada em qualquer outro pagamento sem que seu responsável incorra no crime de desvio de verba. Toda vez que o prefeito desejar utilizar verbas específicas em fins diversos dos indicados no orçamento terá que obter prévia autorização da câmara.

Por fim, é sabido que existem várias outras funções administrativas exercidas pelo Poder Executivo Municipal, como as desapropriações, despachos e emissão de certidões, ou até mesmo a delegação de autoridade, pela qual o chefe do executivo delega funções a algum secretário ou funcionário.

1.2.2.2 Das funções de governo (políticas)

No que tange às funções governamentais,Castro diz (2006, p. 171)“é preciso salientar que são atos indelegáveis por parte do chefe do executivo municipal que ostenta competência exclusiva para discorrer ou decidir sobre questões de governo local‟‟.

Tal função do Poder Executivo Municipal caracteriza-se por ser altamente discricionária. Através dela surgem, por exemplo, a elaboração de programas sociais e a proposição de projetos de leis no âmbito municipal. Bandeira de Mello, (2009, p. 401) diz que:

Ao agir discricionariamente, o agente estará, quando a lei lhe outorgar tal faculdade (que é simultaneamente um dever), cumprindo a determinação normativa de ajuizar sobre o melhor meio de dar satisfação ao interesse público por força da indeterminação quanto ao comportamento adequado à satisfação do interesse público no caso concreto.

Conclui-se, portanto, que, por mais discricionárias que sejam as funções de governo, as mesmas não deixam de ser deveres, não havendo motivo para confundir discricionariedade com arbitrariedade.

Por fim, importante citar também que as funções políticas também estão relacionadas à representação do município em questões diplomáticas e também a sanções, promulgações e veto de leis.