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Levando-se em conta todas as funções atribuídas ao executivo municipal, surge para o mesmo, o dever de prestar contas de todos os atos praticados por ele no decorrer de todos os exercícios, e do mandato no todo.

O dever de prestar contas tem relação com o conceito de Responsabilidade Fiscal, o qual ganhou ênfase no Brasil por conta da Lei Complementar nº 101 de 04 de maio de 2000, intitulada “Lei de Responsabilidade Fiscal”. Tal lei tem o propósito de regulamentar o artigo 70 da Constituição Federal no que diz respeito a tributação e orçamento.

A Constituição Federal no parágrafo único do art. 70 diz que “prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencia ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária”.

Além disso, o artigo 84, XXIV, da Constituição Federal dispõe que “compete privativamente ao Presidente da República prestar, anualmente, ao Congresso Nacional,

dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior”.

Esta última, embora esteja citando o Presidente da República, é aplicada ao Prefeito por simetria, utilizando-se, para isto, de uma análise conjunta do inciso citado com o artigo 75 da Constituição Federal, o qual diz que: “As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios”.

Do mais, importante ressaltar que, por conta desta simetria, o dever de prestar contas inserido no presente artigo da Constituição Federal se estende ao chefe do Poder Executivo Estadual Municipal, na pessoa do Prefeito, de forma que não possa qualquer outra pessoa prestar contas em seu nome, uma vez que se trata de ato personalíssimo por parte do mesmo.

Neste sentido:

Tratando-se do dever de prestar contas anuais, cabe, inicialmente, verificar como tal obrigação está preceituada no ordenamento jurídico. Diz o artigo 84, XXIV, da Constituição Federal que "compete privativamente ao Presidente da República prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior. Por simetria, tal obrigação estende-se ao Governador do Estado (Constituição Estadual, artigos 51, I, e 64, XIV) e aos Prefeitos Municipais (Constituição Estadual, artigos 151, § 1º, e 158, IX). Portanto, quem presta contas é o Presidente da República, o Governador do Estado, o Prefeito Municipal, e não, a União, o Estado ou o Município.

(FURTADO,2003)

Tais normas, sendo constitucionais, revelam a importância e a grande abrangência do dever de prestar contas, em consonância com o árduo combate à corrupção e com a preocupação com a manutenção da probidade administrativa existentes no país. É sabido que os crimes de corrupção praticados no Brasil são de difícil comprovação, devido à falta de fiscalização e a assustadora especialização que os criminosos têm adquirido para executar atos fraudulentos, tornando-se verdadeiros “profissionais do crime”.

Conforme Hely Lopes Meirelles (2008, p. 770):

O prefeito tem o dever de prestar contas de sua gestão financeira e orçamentária anual à Câmara, bem como de relatar sua administração ao término de cada exercício e ao final de seu mandato.

A prestação de contas evidenciará o desempenho da arrecadação em relação à previsão, destacando as providências adotadas no âmbito da fiscalização das receitas e combate à sonegação, as ações de recuperação de créditos nas instâncias administrativas e judicial, bem como as demais medidas para incremento das receitas tributárias e de contribuições (art. 58 da Lei Complementar 101 de 2000 – LRF).

Deste modo, percebe-se que é necessária e obrigatória a prestação de contas de todos os atos do executivo municipal.

1.3.1 Da consequência da não prestação de contas pelo prefeito

Com o desenvolvimento do raciocínio ao longo deste trabalho, percebe-se que, indubitavelmente, o prefeito tem o dever de prestar contas. Contudo, ainda não foi citada nenhuma consequência que a falta de prestação de contas acarretaria. E é sobre isso que será tratado agora.

Sobre isto, primeiramente, é imprescindível a citação do decreto de Lei 201/67, o qual versou sobre a responsabilidade dos prefeitos em seu artigo 1º, como segue:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:

[…]

VI – deixar de prestar contas anuais da administração financeira do Município a Câmara de Vereadores, ou ao órgão que a Constituição do Estado indicar, nos prazos e condições estabelecidos;

VII – Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer título;

Além de ser considerado crime de responsabilidade, também constitui ato de improbidade administrativa, conforme os artigos seguintes da Lei 8429/90:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

Com a leitura das referidas normas, percebe-se a gravidade da falta de prestação de contas. O legislador não só obrigou o prefeito a prestar contas como forma de manter a

moralidade e a publicidade administrativas, mas também atribui à ausência desta prestação consequências bastante significativas, como por exemplo a suspensão dos direitos políticos e a perda do cargo.