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lhes a pele corrupta can uma tesoura, fican do em carne viva, cousa lastimosa de ver e lavando- lhes aquela corrupção con água quen te, con o que, pela bondade do Senhor sara ram ... . 0 qual, cano lhe cortamos con uma tesoura, toda aquela corrupção dos pês e os deixamos esfolados, logo coneçou a se dar bem e cobrou a saúde ... .Os nativos, ataca dos pela 'peste de bexigas*, atemorizados , desnorteados, faziam vimas covas longas à ma neira de sepultura, e depois de bem quentes con muito fogo deixavam-as cheias de bra sas, e, atravessando paus por cima e muitas ervas, se estendiam ali tão cobertos de ar e tão vestidos cano eles andam, e se assavam, os quais commente depois morriam e suas car nes, assim cano aquele fogo exterior cano o interior da febre, pareciam assadas. Tfês destes, que achei, revolvendo as casas cano sempre fazia, que se ccmeçavam a assar, e, levantando-se por força do fogo, os sangrei e sararam pela vontade de Deus"(92) _

Sinais e sintomas da varíola, segundo as anotações

A varíola, segundo os físicos e cirurgiões exercen tes no Brasil herdeiros do saber científico portugués: A va ríola ou "mal de bexigas" no Tratado Onico das Bexigas, e Sarampo, Lisboa> 1683, de Simão Pinheiro Mourão, médico re sidente em Recife, é causada por "influência dos astros, ou pelo ar corrupto, podem vir também naturalmente por usarem dos jesuítas:

"Cubre-se todo el cuerpo, de pies a cabeça, de uma lepra mortal que parece cuero r de caçon y ocupa luego la garganta por dentro, y la lengua, de manera que can mucha dificul dade se puede confesar, y en tres o quatro dias muerre. ... Quebra-se les la carne, pe daço a pedalo can tanta podredumbre • de materia que sale dellos un terrible hedor , de manera que acundele las moscas, can • a carne muerta y podrida y sobre ellos y les

sino les socorriessem vivos

(92) SANTOS FILHO, L. Op. cit. p. 122. (93) Idem, p, 157.

as criaturas de muitos e contínuos banhos, e-'por fazerem também grandes exercícios " . Como terapêutica para apa gar os sinais ou cicatrizes das bexigas usavam "banha que as parteiras acham nas crianças, quando nascem ... sebo dos rins do bode, ou com os tutanos dele, misturados, e amassa

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dos com pos de aristolõquia rotunda" . Dò século XVI ao século XIX, físicos e cirurgiões utilizaram "purgas, san grias e clisteres até o momento da rebentação das pústulas. No mais, aguardente, vinho e outros estimulantes, água de rosas, drogas e infusões as mais diversas, além de unções das pústulas com vinagre, azeite e óleos" . Como dieta era prescrito caldo de galinha e de marmelada, dieta esta que também era utilizada em outras doenças. Os variolosos comiam também arroz, feijão e farinha.

Em 1798, é introduzida pelo Cirurgião-Mor Francisco Mendes Ribeiro, outra medida de combate a varíola, no Bra sil, que ê a vacina anti-variõlica. A nova técnica terapêu tica difundiu-se lentamente e com muita desconfiança por parte da população. E, apesar das medidas de obrigatorieda de da imunização, aplicadas por alguns governadores em 1805, os surtos continuaram intensos até 1900, quando a doença junto com a febre amarela custaram a vida de milha res de brasileiros, principalmente na cidade do Rio de Ja neiro.

Decodificando a descrição dos tratamentos empregados e a compreensão da etiologia da doença, bem como o processo

(94) Ibidem, p. 159. (95) Ibidem, p. 159. (96) Ibidem, p. 162.

decisorio de escolha de um ou outro método terapêutico de^ taco os seguintes elementos:

- n ã o hã diferença de estatuto científico entre as técnicas empregadas pelos jesuítas e pelos físicos e cirurgiões; - o conhecimento místico e metafísico ê o norte da compreen

são do processo saüde-doença e a escolha por um ou outro procedimento técnico dã-se em bases empíricas, isto ê, foi a experimentação que determinou a utilização desta ou daquela solução emoliente para untar as feridas. A objet_i vidade do conhecimento e da pesquisa tem como rudimento as anotações dos jesuítas e dos profissionais sobre a te rapêutica empregada e os resultados obtidos. Não eram em pregados quaisquer metodologias de pesquisa ou investiga ção sistematizada. A técnica terapêutica empregada pelos jesuítas, físicos e cirurgiões diferenciava-se da emprega da pelos indígenas, nesta patologia por ser menos mutilante mas não representava uma ruptura no que diz respeito ao estatuto de ciência subjacente a uma e outra prática;

- a primeira ruptura é a introdução da vacina, que represen ta o resultado da aplicação do método científico positi. vista, objetivo e racional, qualitativamente diferente do conhecimento metafísico.

b) O tétano, segundo um cirurgião do Brasil Colônia, Manoel Fernandez Nabuco, Cirurgião-mor de regimentos portu

gueses no Brasil (no período de 1762-1817), formado possi velmente em Londres, deixa anotações de sua prática clínica que estão registradas em "Um Médico do Brasil Colônia"

1986, o que permite caracterizar o tratamento empregado em pacientes acometidos pelo tétano, a metodologia utilizada

e a fundamentação do conhecimento da época. Nabuco, receben do um paciente, segundo ele, acometido de "enfarte carcino matoso", teve necessidade de submetê-lo a uma amputação. Na buco anotava diariamente a evolução do paciente e as medí. das empreendidas. Nelas estava descrito que quando o procès so de cicatrização já estava bastante avançado, o paciente:

"Se queixou de não ter livre a deglutição, e que sentia alguma dor nas circunvizinhanças da garganta. O pulso, suposto que ligeiro, não se levantava quase nada febril, antes on algumas pulsações se abatia. Contudo eu este va tão possuído da completa cura que observa va, que nem ao menos me ocorreu que seria princípio do que se veio efetuar depois, bem visível a todos. E só me ocorreu que fosse alguma pequena inflamação, e por isso lhe ad ministrei alguns remédios antiflogísticos .

... .No dia seguinte ... o queixo estava imo vel e contraído ou apertado contra o supe rior queixo, dor contrativa na região dorsal e dor firme pelo esterno ... e juntamente o repuxo contrativo opistõtono, o qual fazia cair a cabeça, puxando-a para tráz tão forte mente, que quase o estrangulava, e, anterior mente, ao contrário, pois a dor e a estrangu lação que o oprimiam, eram excitadas - pela forte extensão con que eram estendida, e pu xadas tanto as fibras dos músculos quanto os mesmos músculos do hiõideo osso e os do esô fago, da traquiartëria, os da faringe, os da laringe, os da respiração, etc. já se pode saber ... que eu tinha para tratar de uma convulsão universal ... e que poria em prãti ca os remédios inculcados pelos autores, nos seus livros ... . Mas o sucesso era escas so ... e poucas ou nenhuma vez felizes. Con tudo, estabeleci deste enfermo o seu método curatõrio nesta maneira. Ordenei fosse san grado pelo pé e que bebesse cozimento de ce vada e cabeças de papoulas brancas, pevides maiores, e flores de violas; e que deste oo zimento se coasse a porção de libra e meia, para tonar â tarde desse mesmo dia seis on ças, adoçando con um pouco de xarope de pa poulas branças, e que o mesmo se fizesse às onze horas da noite, e que na manhã do dia terceiro tomasse a beber o mesmo cozimento con leite de vaca. No dia terceiro, na visi_ ta da manhã, me foi informado que tudo se tinha feito à risca, mas que o enfermo se achava, além do mesmo estado do dia antece dente, em tudo mais tinha adiantado, a saber,

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