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4 0 SABER E O TRABALHO OE SAÚDE NO BRASIL COM A COLONIZAÇÃO ATÉ A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA

MEDICINA

Neste capítulo me d e t e r ei niais especificamente no sa ber — u. - ' -- e na prática de saúde existente no Brasil Co lônia, antes do fenômeno que caracterizo no quinto capítu lo como a institucionalização da medicina. As interrelações que medeiam a análise da realidade brasileira são os refe renciais da historia da civilização ocidental porque acre dito que os grandes marcos de transformação da historia dos homens, ocorridos no mundo ocidental influenciaram decisiva mente nos países colonizados.

Esta afirmação não significa que entendo ser a histõ ria dos países colonizados como um simples minetismo ou transposição, colonizadores/colonizados, pois cada situação real tem uma determinação multifacetária e, encerra em sí, a sua própria historicidade, daí a necessidade de uma anãl_i se em especial de cada realidade.

0 primeiro grande marco de mudança na estrutura da sociedade indígena brasileira, organizada sob o modo de pro dução comunal deu-se com a vinda dos colonizadores portugue

ses que instituirán* a propriedade fundiária da terra e a ad ministração colonial.

No campo da saúde, a mudança se dá, do saber e da prática de saúde dos indígenas, para o saber e a prática de saúde semelhante a encontrada na Idade Média Européia, sem que os grandes progressos teóricos e práticos desenvolvidos pelos clássicos grego-romanos tenham tido qualquer corres pondência no campo da saúde, no Brasil Colonial.

4.1 - A Prática dos Exercentes das Ações de Saúde no Brasil com a Colonização:

Com a colonização feita pelo homem branco, predomi nantemente português, mas que também contou com a participa ção dos espanhóis e dos holandeses no nordeste, a vida no Brasil modificou-se substancialmente. Da relação branco-ín dio nasceram os mamelucos, os mestiços e os caribocas. Trans mitiram-se doenças antes desconhecidas e os índios foram es cravizados e dizimados pela força ou pelos surtos epidêm_i cos.

0 modo de produção comunal, sem comércio, sem pro priedade privada, sem produção de excedente, foi radicalmen te transformado, instituindo-se a propriedade fundiária da terra, onde faixas extensas de terra foram doadas pela div_i são do território brasileiro em capitânias hereditárias, nu ma relação de extração das riquezas naturais da colônia en viadas para enriquecimento da metrópole monárquica.

Para a extração das riquezas naturais os colonizado res usaram o trabalho escravo. Inicialmente tentaram a es

cravização dos índios que por suas características cultu rais e físicas adaptadas para vida livre e nómade na flore^ ta sofreram duramente com o sarampo, com a variola, com os grandes surtos epidêmicos e com o desânimo e a depressão. Morreram aos milhares e foram substituídos pelo trabalho do escravos negros, que eram capturados e trazidos da Africa para o Brasil.

A colonização mudou completamente o quadro nosolõgi co no Brasil. Do contato com o branco apareceram, além da varíola e do sarampo, a tuberculose, a escarlatina, a lepra, as doenças venéreas e parasitoses como a sarna, dentre ou tras. E, atribui-se ao contato com o negro o surgimento "da filariose, da dranculose ou bicho da costa, a febre amarela (?) o tracoma, maculo, o ainhum ou mal perfurante plantar, o gundu ou exostose paranasal, a ancilostomíase e outras

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A assistência à saúde que entre os indígenas era prestada pelos pajés, com a colonização ganha novos executo res: são os físicos, os cirurgiões, os cirurgiões barbeiros, os barbeiros, os algebristas, os curiosos, os boticários, os anatômicos, os curandeiros, os entendidos e outros.

Praticamente, até 1920, não existiu no Brasil um õr gão institucional responsável pela normatização ou defini ção de uma política de saúde para o país. Durante os primei, ros trezentos anos após o descobrimento, até o início do sé culo XIX, a assistência â saúde era prestada por homens de ofício que eram licenciados em Portugal e vieram para o Bra

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sil com as expedições exploradoras e colonizadoras/ eram predominantemente os físicos e os cirurgiões-barbeiros.

Os físicos ou licenciados eram os médicos da época, praticavam a clínica, a medicina interna, eram formados ñas escolas européias de Portugal e Espanha, assumindo no Bra sil "quase todos os cargos de físicos da Coroa, do Senado da Câmara, do 'partido', da tropa" . Eram em número redu zido, viviam nas principais cidades e vilas, nas sedes das capitanias. Praticavam o exercício liberal da medicina, is to é, atendiam no domicílio ou nas suas próprias residen cias, os que podiam pagar, que era a aristocracia rural e os administradores, recebiam, também, por seu cargo na admi nistração colonial. Os físicos contavam com maior statús, seu saber era estruturado nas mesmas bases que os seus pa res na Europa, sendo que os que vinham para o Brasil não eram os mais destacados no ofício, pois estes ficavam na me trópole não se submetendo aos disabores da vida da colônia.

Os cirurgiões-barbeiros, representavam grande parce la dos exercentes da medicina. Formados ou licenciados na metrópole e também no Brasil, "após exame perante as autcri. dades sanitárias, deveriam exercer unicamente a cirurgia, em verdade praticavam toda a medicina, dada a escassez de

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físicos" . Os barbeiros eram examinados elicenciados para atos específicos como: sangria, sarjação, aplicação de ven tosas e arrancamento de dentes, sem formação teórica, desen volviam atividades práticas, eram em maior quantidade, esta

(61) Ibidem, p. 63. (62) Ibidem, p. 63.

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