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No Capítulo anterior foram apresentadas as vivências que impulsionaram a menina a transformar-se em professora maluquinha, perpassando o papel de criança, mulher, esposa, mãe e o caminho trilhado que a levou a se tornar professora. Neste Capítulo serão explicitados os fundamentos teóricos que possibilitaram embasar a reflexão acerca da pergunta de pesquisa: Como o livro infantil, uma experiência com a literatura (contar histórias), pode contribuir para a formação da criança quanto aos aspectos social, afetivo, cognitivo e cultural, desenvolvido nesta pesquisa?

“A literatura infantil é antes de tudo literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra” (COELHO, 2000, p. 27).

Assim é a literatura: arte que, por meio da palavra, representa, cria e recria, permitindo sonhar com o imaginário e o real, que nos leva a mundos distantes. Dessa forma, as crianças apreciam a “história” por ter esse desejo de dramatizar a realidade, de visualizar, mesmo que sem consciência, suas angústias e alegrias, revivendo a própria história.

Este momento de leitura e contação de histórias foi evoluindo. Percebo, pela minha trajetória, suas diversas formas, perpassadas pelos momentos em sala de aula.

Começo retratando, em um primeiro momento, à contação de histórias por intermédio de uma “televisão” (construída de papelão e colagens). São folhas de ofício coladas uma a uma com fita durex ou cola, reprodução de livros, histórias inventadas, desenhos feitos à mão para serem contados e folhas que rodavam em cabos de vassoura, dando asas à imaginação, à criatividade, ao ser ouvinte e também ao contador.

Em um segundo momento foram as histórias de livros que a todos encantam, com a entonação de voz presente para prender o leitor e dar ênfase aos momentos marcantes da história. Os livros infantis oferecem uma viagem sem fim pelo País da Imaginação, alfabetizam, educam, transmitem valores morais, momentos de prazer, em doses generosas e sempre surpreendentes.

Hoje, no mundo da informação, agregando-se aos livros encontramos as Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs), a Informática na Educação e os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), que propiciam a comunicação e a interação. Temos a necessidade de estar interligados às tecnologias, ou seja, ter como recurso elementos midiáticos na contação de histórias para se multiplicarem as possibilidades, sendo este o terceiro momento. Assim, o prazer de contar e recontar aumenta, facilitando o momento de escrever e elaborar os próprios contos e histórias.

1º Momento 2º Momento

Coelho (1991, p. 261), no início da década de 90, já chamava a atenção para esta novidade:

Talvez a maior novidade, que começa a preocupar os observadores, seja a “revolução da informática” e suas conquistas mais recentes: videogames, videocassetes e, principalmente, os microcomputadores, que começam a fazer parte do nosso cotidiano e cuja manipulação já é acessível não só aos adultos leigos, mas até às crianças. Isso indica que já entramos na era-do- computador e que uma revolução da mente acompanhará a revolução da informática.

Além da modernização dos recursos didáticos e da forma de contar histórias, precisamos refletir e voltar um pouco na história para observar esta transformação que a infância e a literatura infantil passaram. Antes as crianças eram vistas como adultos em miniatura, como tratamos no capítulo anterior, e não se diferenciavam dos adultos nem pelo trabalho nem pela roupa ou ações e palavras.

A infância deixa de ocupar seu lugar como resíduo da vida comunitária, como arte de um grande corpo coletivo (GÉLIS, 1986). Agora a criança começa a ser percebida como um ser inacabado, carente e, portanto, individualizado, produto de um recorte que reconhece nela necessidade de resguardo e proteção (NARODOWSKY, 2001, p. 27).

Isso levou a mudanças no conceito de infância. Estas foram precedidas por mudanças nas condições econômicas, surgindo a industrialização/as fábricas, deixando de existir apenas o trabalho artesanal realizado pelo “grande” e pelo “pequeno artesão”, e a relação da criança com o trabalho também mudou. O trabalho do homem muda radicalmente; o operário passa a ter o auxílio das máquinas, transformando seus conceitos e ações; em coerência com as condições

sociais. O poder não está mais na hierarquia da família, passado de pai para filho.

Surge, assim, um novo modelo de família, um novo conceito de infância. Nesta fase os infantes deixam de ser “adultos em miniaturas” e passam a ser observados e assistidos por suas próprias características. As mudanças, nos aspectos culturais, vêm acopladas com os avanços tecnológicos e, com isso, presenciamos a modernização da imprensa, transformando o livro em objeto acessível. Narodowsky (2001, p. 26) nos leva a refletir sobre a história da infância iniciada por Ariès, que aponta para várias questões relativas tanto à situação concreta quanto ao surgimento do “sentimento da infância”.

Segundo Narodowsky (2001, p. 29),

A partir dos séculos XV e XVII se vislumbra uma mudança nas responsabilidades atribuídas aos mais pequenos: são altamente diferenciadas em virtude da proteção oferecida pelos adultos, pela família. Outro sentimento em relação à infância surge na época: o amor, sentimento normalmente projetado na atividade docente feminina, condensado em grande medida nas funções de mestra e mãe. Surgindo o mecanismo de aliança entre a escola e a família moderna.

Cunha (1985, p. 19) salienta que

No início do século XVIII, quando a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que preparasse para a vida adulta.

Ao analisar o pensamento rousseauniano, Narodowsky (2001) concorda com o autor, afirmando que os limites da infância são próprios da infância, naturais de seu ser, cada um com suas particularidades, especificidades...

A humanidade tem seu lugar na ordem das coisas; a infância tem o seu na ordem da vida humana; é preciso considerar o homem e a infância na infância. Designar a cada uma seu lugar e fixá-la, ordenar as paixões humanas segundo a constituição do homem, é tudo o que nós podemos fazer por seu bem-estar. O resto depende de causas estranhas que não dependem de nosso poder (ROUSSEAU, 1966 apud NARODOWSKY, 2001, p. 93).

Neste ponto de vista há que se compreender/entender o significado do adulto, o que é próprio do homem, como também o que é próprio do universo infantil, cada um em suas particularidades. O grande desafio é como fazer isso; fazer com que em sala de aula a criança seja vista em seu todo, e não como anteriormente, como um adulto em miniatura, criança esta que tem opinião, vez e voz.

Coelho (1991, p. 138) resume bem o processo que culminou na nossa concepção de infância:

[...] como é natural em todo fenômeno de transformação cultural, essa descoberta da infância não se fez de chofre. A criança começa por ser encarada como um adulto em miniatura, cujo período infantil deveria ser encurtado o mais depressa possível para que ela pudesse superá-lo e alcançar o estado adulto, ideal. A descoberta da qualidade específica do ser criança ou do ser adolescente (como estados biológicos e psicológicos valiosos, no desenvolvimento do ser) será feita em nosso século XX.

Esta infância tem necessidade de mostrar que não está atrás de adultos, e traz a literatura como experiência humana, a reviver histórias, crenças, valores, medos, angústias, alegrias, e essas histórias oportunizam às crianças construir suas representações, seu amadurecimento cognitivo e psicológico. Segundo Coelho (2000, p. 43), a literatura

(...) tem sido a mediadora ideal entre as mentes imaturas com sua precária capacidade de percepção intelectiva e o amadurecimento da inteligência reflexiva (a que preside ao desenvolvimento do pensamento lógico-abstrato, característico da mente culta).

A literatura surgiu como um aporte pedagógico, mas tem em si consistência além de pedagógico; tem o ar da arte, da ajuda, da abnegação. Ajuda a criança a defrontar- se com seus medos, suas ousadias, suas angústias, levando a momentos de alegrias e tristezas, partindo de opostos, talvez a extremos, quando pode demonstrar e comparar os sentimentos que a incomodam. As histórias auxiliam a enfrentar tais sentimentos nos seus variados momentos, e são essenciais à humanidade.

Retomo Coelho (1991, p. 14), que afirma que

A literatura, e em especial a Infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir, nesta sociedade-em-transformação: a de servir como agente de transformação, seja no espontâneo convívio leitor/livro; seja no “diálogo” leitor/texto [...].

Com o passar do tempo, a literatura começou a contribuir para a formação de valores e para a transmissão de conhecimentos, ainda sem pensar em despertar o interesse da criança pela arte em si, o ler, o viajar, o apreciar a obra literária. Ao surgir os primeiros contos algumas mudanças foram ocorrendo. Segundo Zilberman (1981, p. 23),

[...] a literatura infantil atinge o estatuto de arte literária e se distancia de sua origem comprometida com a pedagogia, quando apresenta textos de valor artístico a seus pequenos leitores. E não é porque estes ainda não alcançaram o status de adultos que merecem uma produção literária menor. A literatura representa contextos de sua época, adequando-se a momentos históricos da humanidade, representando a história do próprio homem. Para Coelho (2000, p. 27-28),

Literatura é uma linguagem específica que, como toda linguagem, expressa uma determinada experiência humana, e dificilmente poderá ser definida com exatidão. Cada época compreendeu e produziu a literatura a seu modo. Conhecer esse “modo” é, sem dúvida, conhecer a singularidade de cada momento da longa marcha da humanidade em sua constante

evolução. Conhecer a literatura que cada época destinou as suas crianças é conhecer os ideais e valores ou desvalores sobre os quais cada sociedade se fundamentou (e se fundamenta...).

Sobre o assunto, Coelho (1991, p. 13) ainda escreve:

[...] com relação à gênese da Literatura Popular/Infantil ocidental, sabe-se que está naquelas longínquas narrativas primordiais, cujas origens remontam a fontes orientais bastante heterogêneas e cuja difusão, no ocidente europeu se deu durante a Idade Média, através da transmissão oral.

Dessas narrativas primordiais orientais nascem, pois, as narrativas medievais arcaicas, que acabam se popularizando [...] e transformando em literatura folclórica [...] ou em literatura infantil.

Assim, vamos percebendo a relação da literatura com a vida de uma criança e, posteriormente, com a de adulto, que, por intermédio da leitura, além de aventurar-se por mundos distantes, também encontra o aporte pedagógico, dando embasamento e ênfase aos mais diversos assuntos.

Histórias são essenciais na formação. Gregorin Filho (2009, p. 9) destaca: “Pensar nas crianças e na sua relação com os livros de literatura é pensar no futuro, e pensar no futuro é ter responsabilidade de construir um mundo com menos espaço para a opressão das diferenças”.

As crianças se identificam por meio das histórias, dos personagens, pois “ela

é a linguagem de representação, linguagem imagística” (...) “é o meio ideal não só

para auxiliá-las a desenvolver suas potencialidades naturais, como também para auxiliá-las nas várias etapas de amadurecimento que medeiam entre a infância e a idade adulta” (COELHO, 2000, p. 43).

As histórias têm grande relevância para a construção da aprendizagem da criança. Atualmente percebe-se um movimento e um interesse em pesquisar sobre a literatura infantil e como ela é inserida na vida da criança sendo, na maioria das vezes, por intermédio da escola. Segundo Karnopp (2006, p. 101),

(...) destacamos a literatura infantil que está presente em diferentes contextos sociais, sendo a escola um espaço privilegiado da leitura desses materiais. Nos últimos anos, essa literatura tem sido foco de pesquisas na área da educação justamente por sua inserção e disseminação nas escolas, entre professores e alunos, tanto como material de instrução como de lazer. Sisto (2005, p. 32) destaca “o prazer de ser transportado de forma benevolente e cuidadosa, ao universo das palavras que possuem corpo, das histórias que se tornam tangíveis, daquilo que nos humaniza”, ao contar histórias.

Jolibert et al. (1994, p. 14) enfatizam que é lendo que nos tornamos leitores e não aprendendo primeiro para poder ler depois: não é legítimo instaurar uma defasagem, nem no tempo, nem na natureza da atividade, entre “aprender a ler e ler”. Ler é entender o significado das coisas, por isso entende o outro. Quem lê se transforma mediante o sentido que as palavras produzem.

É por meio desta dinâmica que se observa desde os primórdios a importância da contação de histórias que encantam crianças e adultos, que empolgam os ouvintes. Muitas histórias contadas se multiplicaram por intermédio das magias, encantos e fantasias que as narrativas proporcionam, tanto para quem conta quanto para quem ouve. Nos mais diferentes e longínquos espaços, mesmo perpassando através dos tempos, as histórias, com seus personagens, continuam presentes, recontadas por alguns para familiares, amigos, colegas de aula, filhos. Ressalta-se o próprio momento em que os pais colocam seus filhos na cama e sentam-se ao seu lado para ler ou contar uma história, quando o olhar, o prazer do momento, vão transformando-se no prazer e gosto de ler.

O incentivo à leitura não deve vir após ordens para ler, porque a relação com a leitura é uma relação amorosa, não deve ser porque alguém mandou. Deve-se ter o gosto, criar o prazer, e este somente acontece com muita leitura, ou seja, lendo. “A leitura, como o andar, só pode ser denominada depois de um longo processo de crescimento e aprendizado” (BACHA, 1975, p. 39).

Segundo Carneiro (2010), que reverencia as palavras de Abramovich (1993), a contação de histórias é o primeiro contato da criança com um texto, e é onde também se inicia a possibilidade de sentir emoções. Nesse sentido, a autora relembra que:

Ah, como é importante para a formação de qualquer leitor ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...] (ABRAMOVICH, 1993, p. 16).

Frantz (1997) vem reforçar estas falas ao afirmar que, mediante a literatura infantil, podemos abrir o portal mágico, pois temos a chave mestra, nos dando o livre-acesso ao mundo fantástico da leitura e a todo o encantamento que vem com ela, para nos proporcionar momentos únicos, de alegrias, euforias, discórdias, livros que encantam e também desencantam. Lembro que estas crianças e a literatura infantil estão unidas, ou seja, caminham juntas, associam-se, ambas são lúdicas, mágicas e questionadoras.

De acordo com Corso e Corso (2006, p. 303), “histórias não garantem a felicidade nem o sucesso na vida, mas ajudam. Elas são como exemplos, metáforas que ilustram diferentes modos de pensar e ver a realidade [...]”.

Ambas as citações refletem a importância que a literatura tem tanto para o infante quanto para o adulto. Por meio delas nos reportamos ao mundo imaginário, do faz de conta, quando tudo fica mais aprazível e fácil de entender, encantador.

A contação de história no contexto escolar é um dos recursos que o professor tem disponível para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura. E, quando tal acontece, poderão experienciar novos saberes, pois as experiências vividas e sentidas pelo leitor não se encerram ao final da história. Elas ficam lá “volteando pelos meandros do ser humano” (SISTO, 2005, p. 70).

Entre o livro e o leitor/leitura há necessidade de ter o mediador, alguém/uma pessoa apaixonada pela leitura, para focar as vivências práticas, a fim de possibilitar que a criança se torne sujeito pesquisador/leitor ante aos desafios do processo de ensino/aprendizagem, aplicando os diferentes saberes em contextos do cotidiano.

Nesse sentido, a literatura é o fator desencadeador, favorecendo o processo de alfabetização/letramento, despertando a curiosidade e criando inúmeras expectativas nas crianças, possibilitando a elas explorarem os conceitos nas diferentes áreas do conhecimento.

São, também, esclarecedoras as palavras de Sisto (2005, p. 20), que nos impulsionam a refletir sobre esta história a ser contada, o papel que o contador tem e a importância do mesmo para cada ser ouvinte. A escolha do livro é um momento de extrema importância antes de a história ser lida ou contada.

“O que vale mais é sentir a liberdade de ser coautor da história narrada e poder receber a experiência viva e criada na imaginação, o cenário, as roupas, as caras dos personagens [...]”. Como um colecionador, que conhece a fundo cada peça de sua coleção, o contador de histórias há de reconhecer cada parte da estrutura de uma história que ele conta.

Para Belinki (2007), “um mesmo livro é quantos leitores ele tiver. [...] Um bom livro não tem começo nem fim, é infinito”. Mesmo procurando encantar e viajar pelo mundo da imaginação, contando e recontando histórias, incertezas surgem. Alunos que não gostam de ler aparecem e novos desafios passam a existir. O que fazer para se encantarem pelo mundo das letras e viajarem por terras distantes sem saírem dos seus lugares?

Em um destes momentos de contação de histórias, deparei-me com uma turma de 3º ano do Ensino Fundamental na qual poucos alunos liam... Poucos mesmos! Iam para a biblioteca fazer a troca de livros somente no dia marcado. Na semana posterior alguns esqueciam e assim renovavam para não pagar a multa e não ficar sem ir até a “biblioteca”. Outros diziam não ter dado tempo de terminar a leitura renovavam-no. Os dias iam passando e os alunos pegavam os livros e carregavam na mochila. Porque eles não gostam de ler? O que faltava? Interesse, motivação, foco, curiosidade...

Não desejava que fossem leitores assíduos, que “engolissem” os livros no sentido figurado da palavra, mas que tivessem o hábito, a vontade de se direcionar até a biblioteca e lá procurar, folhear os livros, trocando informações e nomes com os colegas, descobrindo títulos, autores. O leitor não se forma do dia para a noite; aprender a ler é um processo que se desenvolve ao longo de toda a escolaridade e de toda a vida (ZILBERMAN, 1988, p. 13).

No mundo do Era uma vez... a minha história passou a não ter continuidade. O que estava acontecendo? Como dar sequência a ela? Onde estavam os personagens, o roteiro, a aventura, a emoção da história?

Chegou o momento de parar, questionar qual o meu verdadeiro papel enquanto educadora. Precisava intervir, fazer algo, não poderia deixar o tempo passar sem nada fazer. Questionava-me que, sendo apaixonada por palavras, como meus alunos não liam, não gostavam de ler e não sentiam essa necessidade/prazer?

Segundo Ferreiro (1993, p. 25), “Conhecer quais são esses processos de compreensão infantil dota o alfabetizador de um valioso instrumento para identificar momentos propícios de intervenção nesse processo (…)”. Assim, procurei intervir e aguçar o gosto pela leitura por meio da curiosidade e do exemplo: parei, estudei, busquei autores para me ajudarem...

Nesse sentido, quando me perguntam o que se pode fazer para estimular a criança a ler, que é uma questão muito recorrente, costumo responder com duas palavras: curiosidade e exemplo. O que se faz necessário é despertar a curiosidade da criança, e isso acontece quando se fala do livro, mostrando coisas. Também é possível contribuir para desenvolver o gosto pela leitura por meio de uma coisa

muito simples: servindo de exemplo [...] essa interação de exemplo e curiosidade, é a melhor maneira, ao alcance dos adultos, de ajudar a criança a ler (MACHADO; ROCHA, 2011, p. 89).

Comecei partindo do exemplo. Organizamos na sala uma gibiteca, mas faltava algo, não bastava. Queria mais... Comecei a contar diversas histórias, aleatoriamente escolhidas, sem a preocupação de estarem ou não interligadas ao conteúdo trabalhado em sala de aula; história pela história. Isto ocorria em tempos e espaços diferenciados, durante a tarde.

Em um destes momentos escolhi um dos livros da Fadinha Pérola, de Wendy Harmer (Editora Fundamento, 2005).

Todos os livros desta coleção são rosa pink. De cara já observo narizes se torcendo, olhares desgostosos... Não me deixei intimidar e prossegui, e, assim, comecei falando:

– Todo mundo já ouviu falar das fadas que vivem no jardim. Mas você sabia que elas também vivem na cidade? Mas é claro que sim!

Em alguns brilham os olhos e eles prestam atenção; outros nem se mexem, fazem de conta que não é com eles; outros rabiscam no caderno sem ao menos levantar a cabeça...

E assim vou dando sequência à história; abro o livro e vou contando, fazendo entonações de voz, aumentando e diminuindo a intensidade da mesma. Vou folheando as páginas e mostrando seu colorido (que, por sinal, é muito lindo e intenso). A cada página um novo adepto a prestar atenção surge. A empolgação ao ver seus olhares aumenta e a história vai tendo vida/sentido, e vamos todos embarcando nesta aventura. Ao chegar ao final da história, sinto uma felicidade imensa, pois todos os alunos estão prestando atenção, mesmo aqueles que não demonstraram prazer algum ao ver o livro, estavam observando-o.

Logo escuto o comentário, partindo de um dos meninos:

– Professora, que livro legal, ele tem aventura, não tem só fadinhas. Nem parece ser um livro de menina.

– Mas, professora,

Pergunto:

– Quem gostou da

Neste momento todos

Então, desafio a todos

temos na biblioteca e embarcarmos

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