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De volta as terras baixas do litoral do Norte

Rafael e David mantiveram-se ocupados destilando durante quase toda a primavera, o verão e entrando o outono. Não pôde acompanhá-los cada vez a destilar por causa da distância, pois desde onde me encontrava fica a umas duas horas de viagem por carro, mas quando foi possível eu fui visitá-los e juntei-me as suas atividades, bem seja destilando, consertando o telhado da antiga casa onde estavam os alambiques e a natureza de compra do cliente de rum. Em meados de novembro, quando as festas de natal estavam perto lhe comprei David uns 5 galões de pitorro de Graviola curados para levá- los para algumas festas às quais fui convidado. Já para a segunda vez que destilamos em agosto me tinha integrado às atividades, os assisti ao picar a lenha, na fogueira e ir recolhendo o rum de acordo como saia pela serpentina. Aproximou-se a hora zera das eleições e as conversações inevitavelmente giravam em torno da corrida dos candidatos para o gabinete do governador. Igual que com os outros destiladores e os bairros onde vivem, a carreira política tornou todas as pesquisas mais complicadas, pois se um vizinho descobria as atividades e era de um partido de oposição poderia ter problemas com chamadas anônimas para a polícia. Além disso, a atividade político partidária fervia por todas as partes com enormes comboios de veículos poderia pegar uma hora no trânsito. Toda a preparação e o processo de destilação tinha que realizar-se com o segredo final e de alguma forma, as eleições interferiram um pouco com as atividades da destilação e com a possibilidade de estar em mais ocasiões com eles. Da mesma forma para o interior montanhoso, as atividades políticas locais de cada aldeia estavam aquecidas enquanto se aproximava a data da consulta eleitoral, se iam aquartelando os membros de cada partido, sem dúvida alguma os destiladores tinham suas preferências políticas, mas os manteve afastados desde que se aproximava o feriado de Natal que é quando entram no seu período máximo de vendas .

Já acostumado com a rotina em derredor do alambique e o processo de destilação, eu observei e aprendi a cuidar do fogo, neste caso foram dois alambiques simultâneos, além disso, aprendi a manter mina distância e permitir que eles façam seu trabalho, eu aprendi a observar com alguma distância e prudência. Durante esta segunda ocasião

tivemos um acidente grave, desde que uma das placas da bobina de um dos alambiques se soltou e começou uma fuga de vapor de álcool, houve que ser reparado imediatamente, porque não só se perdeu rum nesse vazamento mas se chegar às chamas pela sua alta concentração existe um risco um risco de explosão perigo adicional a que estão expostos os destiladores No momento, sai de casa e me manteve afastado e deixei que os peritos trabalhassem na emergência. Rafael lhe retirou a lenha ao segundo alambique fazendo com que diminuísse a pressão dos gases de escape, logo se colocou uns óculos e luvas de segurança e pegou suas ferramentas e apertou a junta do cabeçote com a serpentina e em uns segundos já tinha sido corrigido o vazamento de vapor alcoólico, foi um momento crítico pois o perigo de ser queimado por uma explosão é real, não nego o medo que senti ao ver o metal do queimador deformar-se com a pressão causada pelo calor e como disse o Rafael, "a qualidade do barril de metal utilizado não era a melhor, pelo menos tanto rum não foi perdido," os destiladores muitas vezes trabalham com os materiais disponíveis no momento. Esse dia depois de coletar os 6 galões destilados, os depositamos em um grande recipiente onde s prossegue-se a misturar o primeiro galão chamado de cabeçalho, que é o mais forte, com o rum dos outros galões destilados lentamente. Enquanto se vai misturando diferentes galões de álcool, é observado pela

perla, que é um sistema de controle de qualidade, que interpreta a viscosidade do álcool

através da quantidade de tempo de duração das bolhas de ar em desaparecer a partir do álcool. Logo se vai adicionando mais rum do segundo e terceiro galão e vai-se homogeneizando alcoolicamente todos o rum daquele dia e então eles alcançam aproximadamente a mesma qualidade, tudo é feito testando e observando, usando os cinco sentidos.

Essa mistura de álcoois é feita já no final da sessão de destilação. Se esvazia em galões individuais e esta pronto para ser entregue. Naquele dia conversamos Rafael e eu, e ele me explicou o que lhes aconteceu no dia em que os demitiram da farmacêutica; "Eu nunca vi tantos homens chorando juntos, fomos reunidos em uma sala de estar e a todos nos deram a notícia, a maioria foi embora para suas casas no mesmo dia como David, e eu fiquei uns meses mais enquanto se terminava de desmontar toda a estrutura dos edifícios principais e eu pude trabalhar um pouco mais, em seguida, quando terminou eu caí em uma depressão profunda, não falava, não saia da cama com dívidas e aí

começamos a procurar ajuda, porque não queriam me dar minha pensão, porque não tinha certo número de anos trabalhados, não me queriam dar nada e aí caí pior, minha esposa me acompanhava aos compromissos (com o psicólogo), não conseguia nem falar eu começava a chorar ". Entretanto, Rafael começa a aprender a destilar com seu irmão e gradualmente consegue resolver algumas coisas de sua situação, porque é difícil de destilar somente em grande escala sem serem descobertos, talvez, isso limite a quantidade de rum produzido. Rafael e outros funcionários foram capazes de reivindicar certos direitos e receber compensação econômica após vários anos de luta.