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4 A APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE JULGAMENTO MONOCRÁTICO DO

4.7 Decisões de provimento monocrático de recursos (art 557, §1º-A)

Conforme se colhe do §1º-A, do art. 557 do CPC, o provimento de

recursos via julgamento monocrático somente é possível acaso demonstrada a

contrariedade da decisão com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo

Tribunal Federal ou de Tribunal Superior.

Em parte das decisões analisadas, no entanto, foi dado provimento a

recurso sem que sequer se invocassem súmula ou jurisprudência dominante do

Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior.

Em certos casos, deu-se provimento com referência apenas a

jurisprudência local. Noutros, chegou-se a referir apenas jurisprudência de Tribunais

de Justiça de outros estados da federação e mesmo de Tribunais Regionais

Federais.

Observe-se, a propósito, o julgamento das apelações cíveis autuadas sob

o n. 0000256-33.213.8.10.0098 (inteiro teor no Diário da Justiça Eletrônico n,

165/2014, disponibilizado em 04/09/2014, publicado em 05/09/2014, p. 217-219).

telefonia móvel pleiteando indenização por danos morais em razão de alegada

paralisação dos serviços de telefonia em seu município.

O pleito foi julgado procedente em primeiro grau de jurisdição, tendo

ambas as partes interposto recursos de apelação contra a sentença (no caso da

operadora de telefone, para que fosse julgado improcedente o pedido e, no caso do

consumidor, para que fosse majorado o valor da indenização por danos morais).

O desembargador relator houve por bem julgar monocraticamente os

recursos, dando provimento ao da operadora e negando provimento ao do

consumidor.

No entanto, ao fundamentar o provimento à apelação da operadora de

telefonia, o relator não demonstrou a contrariedade da sentença recorrida a

jurisprudência dominante ou súmula do STF ou de tribunal superior. Em vez disso,

invocou apenas jurisprudência do próprio TJMA, em inobservância à previsão do

§1º-A do art. 557 do CPC.

Eis a passagem representativa da fundamentação da decisão, em que se

refere apenas jurisprudência do TJMA para concluir-se que não ocorre dano moral

em hipóteses como as tratadas nos autos:

O tema central do recurso consiste em se definir se a prestadora de serviços de telefonia causou danos morais à apelante e por consequência tem obrigação de indenizá-la.

Pois bem, na petição inicial a autora diz que sofreu dano moral em razão da má prestação dos serviços de telefonia móvel no município de Matões/MA, especialmente no que diz respeito a falha e ausência de sinal, destacando que o serviço de telefonia móvel é um serviço imprescindível, assim quando ocorre falha na prestação dos serviços o abalo moral é perfeitamente presumível.

O juiz de base julgou parcialmente procedente os pedidos formulados na inicial para condenar a requerida ora 1ª Apelante a pagar a importância de R$ 3.000,00 (três mil reais) e ainda a arcar com as custas processuais e honorários advocatícios no importe de 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação.

Contudo, após a análise detida dos autos, entendo que a sentença de base merece reforma, visto que não há nos autos sequer prova de que a autor ora 2ª Apelante é consumidora dos serviços da empresa requerida, eis colacionou a inicial apenas a procuração ad judicia, carteira de motorista e comprovante de endereço, como se vê às fls.13/13.

Do mesmo modo, não há qualquer comprovação de que seja a titular da linha telefônica nº [...], ou que tenha feito qualquer recarga para o referido terminal, o que retiraria seu interesse de agir.

De outro lado, também inexiste nos autos, qualquer demonstração de falha na prestação de serviços hábil a ensejar reparação a título de danos morais. Assim, o autor se desincumbiu do ônus de provar o fato constitutivo de seu direito, nos termos do disposto no art. 333, inciso I, do CPC.

Nesse sentido, cito julgados deste Egrégio Tribunal, em casos análogos ao dos autos, in verbis:

CONSUMIDOR. SERVIÇO DE TELEFONIA MÓVEL. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. SINAL TELEFÔNICO INDISPONÍVEL. AUSÊNCIA DE PROVA DE FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DA AUTORA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO.

1. O conjunto probatório não confere verossimilhança às alegações da parte autora. Observa-se que a parte autora não logrou êxito em comprovar a suposta ausência de sinal telefônico em sua região. Assim, não havendo, no caso, violação aos direitos de personalidade, não há configuração do dano extrapatrimonial.

2. Indenizável é o dano moral sério, aquele capaz de, em uma pessoa normal, provocar uma grave perturbação nas relações psíquicas, na tranqüilidade, nos sentimentose nos afetos. Na situação retratada, por maiores que tenham sido os aborrecimentos gerados à autora, estes não podem ser elevados à categoria de abalo moral.

3.Os casos de mal funcionamento de telefones celulares no Município de Matões/MA, bem como em outras cidades maranhenses são recorrentes. Tal circunstância demonstra que a solução não pode ser individual, havendo a necessidade de atuação coletiva para melhoria do serviço de telefonia celular nessas localidades.

4. 1ª Apelação conhecida e improvida. 2ª apelação conhecida e provida. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 16546/2014 - MATÕES.Sessão do dia 24 de julho de 2014.RELATOR Jamil de Miranda Gedeon Neto) Apelação conhecida e improvida. 2ª apelação conhecida e provida.). Grifei.

PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONSUMIDOR. TELEFONIA MÓVEL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. NÃO APLICAÇÃO. CONDUTA ILÍCITA. INOCORRÊNCIA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE PROVA. INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR. 1º APELO IMPROVIDO E 2º APELO PROVIDO.

I - Para a caracterização do dever de indenizar, faz-se necessária a verificação dos pressupostos da responsabilidade civil, quais sejam, a conduta ilícita, o dano e o nexo de causalidade. A inexistência da ocorrência de um deles torna descabida a pretensão do Apelante em ser indenizado por alegados danos morais.

II - Para que a norma de inversão do ônus da prova seja aplicada, é necessário haver verossimilhança das alegações e hipossuficiência do consumidor, ou seja, a inversão não ocorre automaticamente, não constitui princípio absoluto e nem depende da simples invocação da condição de consumidor. Precedentes STJ e TJMA.

III - No presente caso, o autor da ação não juntou aos autos qualquer documento que comprovasse o dano moral sofrido, apresentando aos autos apenas documentos pessoais

IV - 1º Apelo improvido e 2º Apelo provido. (APELAÇÃO CÍVEL n.º 15.058/2014 - Matões. Sessão do dia 04 de agosto de 2014. RELATORA: DESA. MARIA DAS GRAÇAS DE CASTRO DUARTE MENDES). Grifei. APELAÇÃO CÍVEL. SERVIÇO DE TELEFONIA MÓVEL. MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. SINAL TELEFÔNICO INDISPONÍVEL. AUSÊNCIA DE PROVA DE FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DO AUTOR. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO.

1.Inexistindo qualquer elemento de prova da alegada interrupção do serviço de telefonia móvel, não há que se falar em configuração do dano extra patrimonial.

2. É cediço na doutrina que indenizável é o dano moral sério, aquele capaz de provocar grave perturbação nas relações psíquicas, nos sentimentos e nos afetos do homem de senso médio. No presente caso, por maiores que tenham sido os aborrecimentos gerados ao autor, estes não podem ser elevados à categoria de abalo moral.

3. Apelação conhecida e improvida 4. Unanimidade.(APELAÇÃO CÍVEL N.º 1195-32.2013.8.10.0027 (57354/2013) - Barra do Corda. Relator. Des. Ricardo Dualibe. Julgado no dia 24 de fevereiro de 2014.) Grifei.

Destarte, situação apresentada nos autos não é suficiente para caracterizar a ocorrência de dano moral indenizável. (BRASIL, 2014h, grifo nosso)

Emblemático é também o julgamento da apelação cível n. 0000244-

72.2008.8.10.0137 (inteiro teor no Diário da Justiça Eletrônico n. 166/2014,

disponibilizado em 05/09/2014, publicado em 09/09/2014, p. 60-61).

Naquele caso, pessoa física promoveu ação em face de município,

visando a que fossem realizados recolhimentos previdenciários de seu interesse.

A apelação foi interposta pelo autor contra sentença que extinguiu o feito,

sem resolução de mérito, sob o entendimento de que no polo ativo deveria figurar o

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

O desembargador relator, monocraticamente, deu provimento ao recurso,

invocando a previsão do §1º-A do art. 557 do CPC, reconhecendo que a relação

litigiosa, no caso, era entre o autor (apelante) e o município, de modo que seria

correto que aquele figurasse no polo ativo e este no polo passivo.

No entanto, na fundamentação recursal, malgrado tenha afirmado que a

sentença recorrida ia de encontro a súmula ou jurisprudência do STF ou de tribunal

superior, ao demonstrar o entendimento invocou apenas uma ementa de julgado do

Tribunal Regional Federal da 5ª Região, fugindo às hipóteses do aludido §1º-A.

Veja-se:

Verifica-se que o Juízo de base julgou extinto o processo sem resolução de mérito, alegando que "ninguém pode pleitear direito alheio, em nome próprio", justificando que a parte legítima para figurar no pólo ativo da ação deveria ser o Instituto Nacional de Seguridade Social.

Verifico que a sentença merece reparo, pois não é o município quem figura no pólo ativo da ação e sim no pólo passivo, não podendo ser aplicado o fundamento do art. 6º do Código de Processo Civil, o qual apenas se aplica a quem está na condição de Autor na demanda, e ainda assim o Apelante provou documentalmente nos autos, sua condição de parte legítima para propor a presente demanda.

Ademais, deve reconhecer a legitimidade do Município em figurar no pólo passivo da ação, pois o Apelante comprovou documentalmente às fls. 10/14, através de seu CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais o não repasse de sua contribuição ao órgão previdenciário, pois nele não consta, nenhuma contribuição previdenciária referente ao período laborado pelo Apelante.

A jurisprudência, em casos análogos, seguiu o entendimento adotado, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO CONTRATUAL COM MUNICÍPIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. FALTA DE REPASSE DOS VALORES RECOLHIDOS.

INSS. ILEGITIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM". 1. Caso em que fora ajuizada ação ordinária de cobrança contra o Município de Pesqueira/PE

em que a autora objetiva o pagamento de verbas pecuniárias decorrentes de prestação de serviço, bem como a condenação do INSS no reconhecimento do seu tempo na condição de segurada. 2. Observando-se que o objeto da demanda volta-se ao reconhecimento da relação contratual de prestação de serviço, a falta de repasse pelo Município da contribuição previdenciária devida ao INSS não implica na legitimidade da autarquia para figurar na ação. 3. Não há qualquer relação litigiosa entre a autora e o INSS uma vez que a obrigação do repasse e a computação do tempo de serviço deve ser suportada pelo Município, se vencido na ação. 4. Agravo de instrumento improvido. (TRF-5 - AG: 11436720134059999 , Relator:

Desembargador Federal Manuel Maia, Data de Julgamento: 03/10/2013, Terceira Turma, Data de Publicação: 08/10/2013)

Assim, a Administração Pública contratante é a responsável tributária pelo recolhimento das contribuições previdenciárias obrigatórias retidas dos rendimentos dos prestadores de serviço temporariamente contratados sob o regime geral da previdência social, logo não demonstrado que o Poder Público repassou as contribuições ao órgão previdenciário, INSS, o argumento da legitimidade do município para figurar no pólo da ação merece acolhimento, com a reforma da sentença de base.

De acordo com o disposto no art. 557, §1º-A, do Código de Processo Civil, o relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.

Ante o exposto, com fundamento no art. 557, §1º-A do Código de Processo Civil e de acordo com o parecer da Procuradoria Geral de Justiça, conheço e dou provimento ao recurso para anular a sentença de base, e determinar a devolução dos autos ao Juízo a quo, a fim de proceder ao regular processamento do feito, nos termos da fundamentação supra. (BRASIL, 2014g, grifo nosso)

Com essas constatações, pode-se verificar, também nas decisões objeto

deste tópico, evidente prejuízo à qualidade da prestação jurisdicional, já que lhes

faltou requisito básico de estrutura, que seria a necessária invocação de súmula ou

jurisprudência dominante de tribunal superior para a prolação de decisões

monocráticas de provimento recursal.

Também a efetividade da prestação jurisdicional foi atingida. Não se pode

aferir a efetiva realização de justiça no caso concreto quando a solução a este

apresentada baseia-se em jurisprudência de tribunal superior cuja existência não é

comprovada. Impossível, nessas condições, aferir se a fundamentação da suposta

jurisprudência guarda pertinência com caso concreto e se sua aplicação revela-se

apta a equacionar justamente esse caso.

Ademais, restou prejudicada a celeridade processual, em razão do

reduzido poder de convencimento das decisões no tocante à existência de

jurisprudência de tribunal superior que as respalde, o que incentiva, potencialmente,

a interposição de agravos internos.

insuficiente a fundamentação, inclusive no tocante ao cabimento do julgamento

monocrático na hipótese do art. 557, §1º-A (provimento a recurso quando a decisão

recorrida encontre-se em confronto com súmula ou jurisprudência dominante de

tribunal superior).

Enfim, também nessas decisões não se verificou a valorização de

precedentes jurisprudenciais, uma vez que chegaram a ser dispensadas nas

decisões as modalidades de precedentes a que deveriam necessariamente se

remeter (oriundos de tribunais superiores).

A mesma característica de provimento monocrático a recurso sem

referência a súmula ou jurisprudência dominante de tribunal superior foi observada

nas decisões listadas no Anexo I, no total de 45 (quarenta e cinco).

4.8 Decisões nas quais foi invocada jurisprudência inadequada (genérica ou