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6. DETERMINAÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO BRASILEIRA CONSISTENTE COM O EQUILÍBRIO DO BALANÇO DE

6.5. Decomposição do crescimento

A tabela 22 apresenta a evolução dos resultados ao longo do tempo para os três procedimentos utilizados nesse trabalho com a evolução das estimativas decompostas por períodos de análise, para realizar esse exercício foram mantidas constantes as elasticidades-renda da demanda por importações em todos os períodos de análise.

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Entre 1962 e 1967, o Brasil apresenta números muito reduzidos em relação às exportações, com um acumulado para o período de US$9 bilhões, o equivalente às exportações somente do ano de 1975. Esses números estavam praticamente estáveis nos 20 anos que antecederam o início de uma estratégia de abertura da economia brasileira para o resto do mundo em 1968.

Antes de 1968, o sistema cambial adotado pelo Brasil consistia em desvalorizações abruptas da taxa de câmbio em grandes intervalos de tempo, o que gerava um grande risco para o exportador por não saber o tamanho e quanto tempo levaria para a próxima desvalorização. Os problemas relacionados com a remuneração das exportações com uma taxa cambial valorizada e a inexistência de incentivos fiscais formataram uma pressão sobre a conta corrente do balanço de pagamentos, o que reduzia a capacidade de exportar, apresentando, nesse período, restrições ao crescimento pela demanda.

A formulação de uma política de desenvolvimento baseado nas exportações a partir de 1968, através de uma política de minidesvalorizações cambiais e uma série de políticas de incentivos fiscais e creditícias27 processou-se de forma extremamente favorável até 1973.

A crise do petróleo, iniciada em 1974, interrompeu uma situação extremamente favorável ao crescimento da economia brasileira. No entanto, as exportações mantiveram crescentes e aumentaram bastante aliadas à opção brasileira de continuar mantendo um ritmo razoável de crescimento do produto interno fundamentado nas facilidades de captação de recursos externos, sob a forma de empréstimos, diante de uma excessiva liquidez do sistema financeiro internacional e, consequentemente, com taxas de juros reduzidas.

A partir de 1981, o Brasil enfrentou uma grande crise associada às contas externas, em função do crescimento da dívida externa a taxas aceleradas. A redução do fluxo de empréstimos para a economia brasileira e o crescimento do serviço da dívida restringiram as contas externas do país. Os níveis de crescimento do PIB, das exportações e do crescimento compatível com o

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Principalmente o crédito fiscal do IPI e do ICM, maior assistência financeira e isenção do imposto de renda nas vendas ao exterior.

equilíbrio do balanço de pagamentos caíram drasticamente em relação aos períodos anteriores. A existência de uma margem de crescimento, evidenciada nos resultados para o período entre 1981 e 1990, ocorre em função de algumas medidas de política como a maxidesvalorização do cruzeiro em 1983 que manteve os fatores indutores das exportações, e a redução dos salários reais ocorrida nesse período que restringiu a demanda interna. Entre 1984 e 1985, o país observa uma retomada do crescimento em função do processo de ajustamento e crescimento da economia americana que permitiu o crescimento do produto sem comprometer o equilíbrio em transações correntes.

As exportações cresceram entre 1991 e 1993, em relação ao período anterior, mas não ainda muito abaixo dos níveis de crescimento observados na década de 1970, principalmente por um processo de abertura comercial iniciado em 1990, através de uma política de comércio exterior em que a tarifa aduaneira e a taxa cambial passaram a representar os instrumentos de proteção à produção doméstica.

Com a implantação do plano real a partir de 1994, há uma redução na taxa de crescimento das exportações e uma restrição ao crescimento do produto imposta pelo equilíbrio em transações correntes, resultado esse que se repete entre 1999 e 2002, mesmo com a adoção do câmbio flutuante a partir de 1999. Observou-se, nesse período, uma forte queda nos preços das commodities que o Brasil exportava, uma recessão asiática, a recessão na Argentina, pressões para redução dos preços em dólares por parte dos importadores, o que deteriorava as relações de troca, e mudanças estruturais que ocorreram na economia brasileira que, em períodos recentes, tinha o processo produtivo mais intensivo em bens intermediários importados com o objetivo de alcançar maior competitividade.

A partir de 2002, o país apresenta um alto superávit comercial, com a consequente redução do déficit em conta corrente, e o ritmo da atividade econômica supera o esperado, acompanhando a expansão da economia mundial a partir desse ano. O que permite uma maior capacidade de crescimento em relação às restrições do balanço de pagamento entre 2003 e 2009.

Tabela 22 – Decomposição das estimativas por períodos de análise (%a.a.)

Ya

Observado Exportações EG Johansen Painel EG Johansen Painel

Ybp Ybp Ybp

Período

Var. Média Var. Média

π=2.25 π=1.74 π=2.52 Ya-Ybp Ya-Ybp Ya-Ybp

1962-1967 4.02 3.29 1.46 1.89 1.31 2.55 2.13 2.71 1968-1973 11.12 25.65 11.40 14.74 10.18 -0.28 -3.62 0.94 1974-1980 7.07 18.67 8.30 10.73 7.41 -1.23 -3.66 -0.34 1981-1990 1.68 5.56 2.47 3.20 2.21 -0.79 -1.52 -0.53 1991-1993 1.80 7.19 3.20 4.13 2.85 -1.39 -2.33 -1.05 1994-1998 3.13 5.98 2.66 3.44 2.37 0.48 -0.30 0.76 1999-2002 2.15 4.50 2.00 2.58 1.78 0.15 -0.43 0.37 2003-2009 3.57 15.61 6.94 8.97 6.20 -3.37 -5.40 -2.62 1962-2009 4.41 11.22 4.99 6.45 4.45 -0.58 -2.04 -0.04

Fonte: Dados da pesquisa

Como esperado, a maioria dos períodos analisados apresentou a possibilidade de expansão da economia brasileira sem ser restrita pelo desequilíbrio da conta corrente. Esse resultado indica que, para o caso brasileiro, o setor externo pode representar um fator fundamental para a expansão do PIB numa perspectiva de longo prazo, tendo em vista que existe um limite intransponível da capacidade que esse país tem de financiar um déficit em conta corrente, resultante da expansão da demanda interna. No entanto, observaram-se, ao longo do período analisado, alguns sub-períodos em que esse limite fora ultrapassado, como entre 1962 e 1967 para os três métodos utilizados, e entre 1994 e 2002 para dois dos métodos utilizados (Engle-Granger e Painel), principalmente em função do fraco desempenho das exportações nesses períodos.

Cabe destacar que, entre os anos de 2003 e 2009, as exportações da economia brasileira apresentaram um grande avanço e que, pelos parâmetros estimados por um modelo cuja abordagem parte de uma situação de equilíbrio da conta corrente, a taxa de crescimento do país poderia ter sido ainda maior sem que ela afetasse as contas externas.

De outra forma, pode-se dizer que as importações brasileiras precisam pautar-se por modelos de crescimento impulsionado pelas exportações e, na grande maioria dos sub-períodos, analisados não se observou uma evidente

restrição da demanda externa e, portanto, do desempenho em termos de crescimento a partir da limitação imposta pelo balanço de pagamentos.

Ao analisar os dados contidos na Tabela 22, deve ser dado um destaque especial ao crescimento das exportações observadas no período entre 2003 e 2009. O Brasil apresentou outros períodos em que o crescimento das exportações foi significativo, como entre 1968 e 1980, mas entre 2003 e 2009, o nível de crescimento permitido pelo equilíbrio da conta corrente do balanço de pagamentos foi muito maior que o crescimento observado para esses anos, o que indica um grande potencial de crescimento não explorado que foi promovido pelas condições do equilíbrio externo do país nesse período mais recente.

De forma ilustrativa, analisando o período entre 2003 e 2009, a diferença entre as taxas observada e do equilíbrio da conta corrente do balanço de pagamento apresentaram-se entre -2,62%a.a. e -5,40%a.a., de acordo com os métodos utilizados, o que garantiria, aos níveis de equilíbrio do balanço de pagamentos, um crescimento potencial para a economia brasileira entre 6%a.a. e 9%a.a.. Comparadas à taxa média de crescimento de 3,57%a.a. para o PIB Real no período, pode-se observar claramente que existiu um grande descompasso entre o crescimento realizado e o crescimento potencial frente aos parâmetros estimados pelos modelos. Como demonstra os resultados, apesar da dependência da importação de alguns insumos e produtos pelo Brasil, os desequilíbrios comerciais ocorridos em alguns anos da série analisada para a economia brasileira não se constituíram em restrições ao crescimento do país. No entanto, a economia do país poderia ter explorado mais seus recursos disponíveis, físicos e humanos, a fim de convergir para o nível de crescimento potencial proporcionado pelas exportações observadas entre 1962 e 2009.

Os sub-períodos em que as taxas de crescimento observadas foram maiores que a taxa de crescimento em equilíbrio com a conta corrente do balanço de pagamentos (y>yBp) coincidiram, de modo geral, com saldos deficitários da

balança comercial28, enquanto os momentos em que (y<yBp), com exceção do

período de 2003 a 2009, coincidiram com etapas de políticas macroeconômicas

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restritivas e recessões econômicas nacionais ou mundiais. Assim, os resultados empíricos revelaram que a Lei de Thirlwall (1979) apresenta uma boa capacidade explicativa para a evolução da economia brasileira durante o período que vai de 1962 a 2009.

A implicação desses resultados para o Brasil é que o país poderia ter crescido a taxas mais elevadas em função da suspensão da limitação do balanço de pagamentos sobre a demanda interna em grande parte dos períodos analisados. É importante que o país apresente condições de manter esse cenário e até ampliar o potencial de crescimento para que não sofra no futuro oscilações reversas de crescimento por problemas no saldo da conta corrente do balanço de pagamentos. De acordo com Santos-Paulino e Thirlwall (2004), somente a liberalização do comércio enquanto ferramenta para estimular as exportações pode ser insuficiente, uma vez que as importações também podem aumentar rapidamente como resultado desse mesmo processo, piorando o balanço de pagamentos. A alternativa seria a depreciação da moeda no intuito de estimular as exportações gerando mais competitividade para seus bens comercializáveis, mas, nesse caso, o único fator que seria levado em consideração seriam os preços relativos. O país deve, também, se preocupar com a expansão das exportações por intermédio de outros meios, tais como: melhoria da qualidade, diversificação da pauta, incrementar o padrão tecnológico dos produtos, rever a legislação local e a política tributária, dentre outros. Além disso, o Brasil poderia conceber uma política comercial que contemplasse controles à importação para aumentar sua margem de crescimento. Contudo, com os devidos cuidados para que essa opção de política não gerasse uma condição de ineficiência extrema. Conforme afirma Thirlwall (2002), com exceção do Reino Unido, jamais um país se industrializou sem uma ou outra forma de proteção. Países como Japão e Coréia do Sul conseguiram conciliar a promoção das exportações e a substituição das importações no pós-guerra, mostrando que essas condições não são incompatíveis.

Para financiar um possível crescimento das importações além das exportações, o país também poderia incentivar o aumento de entradas de capital.

O investimento estrangeiro é benéfico à economia do país, mas pode apresentar problemas relacionados com a natureza dos bens produzidos, as técnicas de produção utilizadas e a remessa de lucros.

No longo prazo, a solução segura encontrada para continuar a elevar a taxa de crescimento do Brasil, em consonância com o equilíbrio do balanço de pagamentos da conta corrente, é a promoção de mudanças na pauta de exportações de forma a elevar a elasticidade renda das exportações em ritmo mais acelerado do que o crescimento da elasticidade renda das importações. Além do fato de que a demanda doméstica deve ser estimulada a fim de aproveitar melhor o potencial de crescimento apoiado por essas políticas. Nesse sentido, a próxima seção busca analisar a forma pela qual as mudanças na renda e preços afetam as exportações, buscando discriminar pelos setores exportadores as respectivas contribuições para o processo de crescimento brasileiro.