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5. RELACIONAMENTO ENTRE EXPORTAÇÕES E O CRESCIMENTO ECONÔMICO

5.3. Exportações e crescimento econômico

A partir da análise da causalidade de curto prazo entre as exportações e o crescimento do PIB real brasileiro foram realizados testes econométricos22 com as variáveis visando explicar o crescimento econômico brasileiro e a contribuição dos perfis de composição, diversificação e tradicionalidade das exportações brasileiras. Para explicar o crescimento agregado do produto brasileiro foram utilizadas as séries do crescimento mundial e da flutuação da taxa de câmbio real como variáveis explicativas, seguindo o procedimento proposto por Piñeres e Ferrantino (2000).

Os resultados mostraram que o crescimento econômico brasileiro se apresentou negativamente correlacionado com a variação da taxa de câmbio real, o que sugere um possível direcionamento da taxa de câmbio real pela oferta de divisas. Um resultado semelhante foi encontrado na pesquisa realizada por López

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As avaliações estatísticas e os testes de autocorrelação, heterocedasticidade e normalidade dos resíduos são apresentados no apêndice B.

e Cruz (1999) analisando o período entre 1965 a 1996. Nesse caso, os autores alegaram que a valorização cambial trouxe alguns benefícios para a economia brasileira principalmente no que diz respeito ao controle dos preços pela concorrência de produtos nacionais com produtos estrangeiros, ao fomento facilitado de equipamentos e insumos da indústria de transformação, promoção do turismo, modernização do parque industrial do país, mas, incontestavelmente, representam maiores estímulos às importações do que às exportações. Na busca de efeitos marginais adicionais da estrutura das variáveis foram estimadas23:

d(ln PIB Real)=-0.36+1.15d(ln PIB Mundial)-0.06d(ln RXR)-0.28d(SPECL) (42)

(-1.52) (3.41) (2.60) (-1.97) R2= 0.53 DW=1.98

d(ln PIB Real)=0.18 +1.20 d(ln PIB Mundial)-0.08 d(ln RXR)-0.19CSX (43) (1.08) (2.01) (2.30) (1.57)

R2=0.47 DW=2.01

Pode-se observar um relacionamento positivo e significativo entre o crescimento do PIB Real brasileiro com o PIB Mundial, o que confirma aquele resultado indicado também na Tabela 1 em que se observa um estrito relacionamento entre essas variáveis. Nesse caso, pode-se ainda apresentar que dada a existência de influências do PIB Mundial no crescimento econômico brasileiro e da alta dependência da renda mundial por parte das exportações, parte do movimento do PIB brasileiro que causa as exportações pode provir do comportamento do PIB Mundial, indicando uma estreita relação entre o crescimento da renda mundial, da renda doméstica e, consequentemente, das exportações.

Como pode ser observado (equação 42), o crescimento brasileiro é negativamente correlacionado com a especialização ao nível de 5% de significância, esse resultado chama a atenção de que os movimentos a favor da diversificação das exportações do país coincidiram geralmente com períodos de

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performances macroeconômicas favoráveis. A diversificação das exportações pode representar uma forma de contornar uma restrição ao crescimento associada com dificuldades na comercialização da cesta de bens de exportação corrente. Caso a variável de especialização apresentasse um sinal positivo na equação (42), esse resultado poderia evidenciar um possível custo de ajustamento.

Mesmo com um resultado não significativo para a composição das exportações (CSX), apresentado na equação (43), o sinal negativo desta variável reforça este resultado, quando o crescimento da economia brasileira não esteve correlacionado com a estabilidade da cesta de bens de exportação em relação ao ano anterior. A variável que representa uma mudança estrutural em médio prazo, a TRAD5, apresentou-se como não correlacionada com o crescimento econômico em primeira diferença ou em nível, por esse motivo foi excluída da análise em relação ao crescimento do PIB real.

Pelas equações (44) e (45) pode-se observar que o crescimento das exportações brasileiras apresentou-se positivamente correlacionado e significativo com o crescimento do PIB Mundial e com a taxa de câmbio real, assim como era realmente esperado:

d(ln Exportações)=-0.06+4.50d(ln PIB Mundial)+0.21d(ln RXR)-0.55d(SPECL) (44) (-1.51) (3.23) (1.50) (-3.14)

R2= 0.82 DW=2.09

d(ln Exportações)=-0.02+3.22d(ln PIB Mundial)+0.27d(ln RXR)-30.9d(TRAD5) (45) (-0.59) (2.09) (1.85) (-2.04)

R2=0.87 DW=2.12

Nas equações acima, pode-se observar o significativo relacionamento positivo das exportações brasileiras com o crescimento da renda no resto do mundo, como de fato, já havia sido apresentado em resultados anteriores como aqueles contidos na Tabela 1. Cabe observar que os resultados não significativos da taxa de câmbio real na equação (44) e significativo somente ao nível de 10% na equação (45) não serão aqui interpretados como um contra-senso à teoria

econômica, mas sim pela provável dominância de outros fatores institucionais ou estruturais na determinação das exportações brasileiras. Entretanto, os resultados apresentam que a manutenção de um nível de taxa real de câmbio capaz de preservar a rentabilidade ou competitividade das exportações brasileiras é condição necessária, porém não suficiente para a expansão dessas ao longo do tempo.

Autores como Iglesias (2001) encontraram resultados semelhantes ao justificar o baixo dinamismo das exportações de produtos industrializados nas décadas de 1980 e 1990, indicando as restrições impostas à expansão da capacidade produtiva da indústria como determinantes da capacidade exportadora do país. O autor apresenta a necessidade de considerar um ambiente econômico e institucional mais amplo. Nesse sentido, as discussões sobre o impacto das recentes desvalorizações cambiais, ocorridas após 1999, sobre o desempenho exportador e a própria sustentabilidade das contas externas, apoiadas no incremento das receitas em moeda estrangeira provenientes das exportações, devem ser acompanhadas da discussão sobre o ambiente institucional subjacente ao comércio exterior brasileiro e da expansão da capacidade produtiva da indústria.

Como visto, para que os incentivos promovidos pela desvalorização da taxa de câmbio real traduzam-se na efetivação do crescimento das exportações brasileiras ao longo do tempo é necessário que se adotem medidas de políticas que visem fortalecer e facilitar as relações comerciais internacionais além de promover a produtividade e competitividade da indústria brasileira.

O resultado para o índice de especialização na equação (44) confirma o que foi apresentado no crescimento do PIB real brasileiro na equação (42), reforçando o resultado de que a diversificação das exportações brasileiras em termos do crescimento do PIB real operou a favor do crescimento do volume das exportações. O índice TRAD5 apresentou-se significativo e correlacionado com o crescimento das exportações, indicando, na equação (45), uma relação negativa entre uma mudança estrutural a médio prazo na cesta dos bens exportados e o

crescimento das exportações. A variável CSX não se apresentou correlacionada com o crescimento das exportações em primeira diferença ou em nível.