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Defeitos na teoria do governo moral

No documento Misael Nascimento e Ivonete Porto (páginas 94-97)

10 Defeitos do “Jesus” inventado

10.4 Defeitos na teoria do governo moral

Tudo isso nos conduz à teoria do governo moral, formulada por Hugo Grotius, um teólogo arminiano condenado à masmorra pelo Sínodo de Dort.246 Horton chama a atenção para

um detalhe importante da visão de Grotius:

Essa visão pressupõe uma forte versão do voluntarismo: Isto é, a prioridade da von- tade de Deus sobre a natureza de Deus. Portanto, o principal motivo para a obra de 244 OLSON, 2001, p. 495.

245 PLITT, H. Zinzendorf Theologie. Gotha: F. A. Perthes, 1869-74, I. 291; II, 194 et seq. 3 vol. em 1, apud BA- VINCK, 2012, p. 350-351. É interessante que, tanto nos solas da Reforma, quanto nos cinco pontos da TULIP, a pessoa e obra do Espírito Santo são implícitas. Se os movimentos missionários pós-Zinzendorf, o pentecosta- lismo e o neopentecostalismo enfatizam Atos 1.8, o movimento reformado enfatiza João 1.1-5, 10-14, 17-18; 16.7-15 e Hebreus 1.1-4; o Espírito Santo dá destaque à pessoa e obra de Cristo, de modo que iluminação, novo nascimento, justificação, santificação, poder para o serviço e glorificação são atos do Espírito Santo, con- cedendo aos eleitos os benefícios assegurados por Cristo. Ao fixar a atenção em sola Scriptura, solus Christus, sola

gratia, sola fide e soli Deo gloria, os pais reformados combateram, de uma só vez, tanto Roma (com sua doutrina

de novas revelações por meio da sucessão apostólica e magistério eclesiástico) quanto os entusiastas ou reforma- dores radicais (com sua doutrina de novas revelações por meio de um link direto com o Espírito Santo). Dito de outro modo, longe de lançar quaisquer bases para desdobramentos pneumocêntricos, a Reforma Protestante foi um movimento cristocêntrico da Palavra (logicamente, resgatada, iluminada e aplicada pelo Espírito). A bandei- ra da igreja avançando com poder sinais e maravilhas pode ser baseada em textos da Bíblia, mas não procede de boa interpretação bíblica. Pode até ser hasteada por grupos provenientes da Reforma, mas sempre serão grupos que, em seu desenvolvimento, renegam a proposta reformada original.

82 A doutrina da salvação: Eleição e redenção

Cristo não é que essa é a única maneira pela qual Deus poderia ser fiel tanto ao seu amor quanto à sua justiça, mas que ela fornece a base geral sobre a qual Deus pode oferecer os termos da salvação para os pecadores. Assim, a morte de Cristo não preci- sa ser considerada como pagamento real de uma dívida, mas meramente como a base sobre a qual o governo justo de Deus é demonstrado.247

Um autor que escreveu um teologia sistemática em torno da teoria do governo moral foi Charles G. Finney (1792—1895). Para este avivalista, “se ele [Cristo] tivesse obedecido a lei como nosso substituto, então, porque deveria ser insistido em nosso retorno à obedi- ência pessoal como um sine qua non de nossa salvação”?248 Em outro lugar ele diz que “é

verdade que a expiação, em si mesma, não assegura a salvação de ninguém”.249 Não custa

lembrar que Finney é o líder evangélico que, no Segundo Grande Despertamento nos Es- tados Unidos, chuta para longe o calvinismo e cria o sistema de cultos evangelísticos com apelos

e bancos de decisões. Tudo isso negando a doutrina bíblica e reformada da expiação. Horton

expõe a ferida, ao esclarecer que:

Por si mesma, essa teoria assume que Deus não requer satisfação de sua justiça, nem a recebe da obra de Cristo. A importância real da cruz de Cristo está na transformação moral que ela provoca em nós em vez de em qualquer mudança legal na nossa condi- ção de pecadores diante de um Deus santo.250

Não fica difícil de entender porque muitos pensam na salvação com categorias que remetem mais à moralidade do que à graça ou favor imerecido.

Outro pormenor é que a teoria governamental ensina que, como “a lei é mero produto da vontade [e não da natureza] de Deus, [...] ele pode alterá-la [...] como lhe aprouver”.251

Deus pode por a lei “de lado, e isso sem estrita satisfação”.252 Berkhof critica que esta teoria

“se apoia em princípios falsos” e “oferece uma indigna descrição de Deus”.253

e

Daí

?

Além dos mencionados, há outros rascunhos defeituosos sobre a pessoa e obra de Cristo. Heresias dos primeiros dias do cristianismo e ideias esquisitas que às vezes se estabelecem como seitas na cultura contemporânea. De fato, por causa de nosso pecado e limitações, tais defeitos são virtualmente infindos até a volta de Cristo.

Isso sublinha a necessidade de cada cristão apegar-se ao evangelho bíblico derraman- do-se em gratidão, como bem expressou o autor de um documento antigo:

Quando, pois, se consumou a nossa injustiça e se manifestou perfeitamente que o salário dela era o castigo e a morte, chegou o tempo por Deus predestinado para [...] revelar finalmente a sua bondade e a sua força; e como [...] por excesso de amor, de caridade aos homens [...] não nos odiou, nem rejeitou [...].

Que poderia ocultar nossos pecados senão a sua justiça? Como poderíamos nós, 247 HORTON, op. cit., p. 534. Grifo do autor.

248 FINNEY, Charles G. Systematic Theology, 206, apud HORTON, op. cit., p. 535. 249 FINNEY, op. cit., 209, apud ibid., loc. cit.

250 Ibid., loc. cit.

251 BERKHOF, op. cit., p. 356. 252 Ibid., loc. cit.

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Defeitos do “Jesus” inventado

transgressores e ímpios, justificar-nos, a não ser no Filho de Deus? Ó doce permuta, ó criação insondável, ó inesperados benefícios! Que a injustiça de muitos se oculte em um só justo, a justiça de um só justifique a muitos transgressores!254

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tiviDaDes

1. Marque a resposta certa. Pensando em desfigurações doutrinárias, todas seguem o mesmo padrão: ( ) Uma verdade bíblica é isolada das demais para, em seguida, ser negada por uma ou mais ideias

que constam na Bíblia.

( ) Uma verdade bíblica é isolada das demais para, em seguida, ser misturada a uma ou mais ideias que não constam na Bíblia.

( ) Uma verdade bíblica é isolada das demais para, em seguida, ser misturada a uma ou mais ideias que constam na Bíblia.

2. Complete a frase: Ainda que as teorias clássica (do resgate) e do Christus Victor tenham muito a contri- buir com nossa compreensão da expiação, seus desenvolvimentos ______________________ devem ser rejeitados.

3. Marque Verdadeiro ou Falso. Os reformadores assumiram algumas das ideias de Anselmo, mas, em lugar do seu pensamento de que o pecado ultrajava a majestade de Deus, substituíram a ideia afir- mando ser o pecado uma quebra de sua lei.

___ VERDADEIRO ___ FALSO.

4. Complete a frase: Percebamos a sutileza do defeito doutrinário. Fausto Socino prega, de todo cora- ção, que Jesus é Salvador (uma verdade). O detalhe é que ele diz que Jesus nos salva por seu exem- plo (outra verdade) e por seu poder (terceira verdade) — não por sua morte na cruz (aqui está a ________________ defeituosa).

5 Marque Verdadeiro ou Falso. Finney, que abraçava a teoria do governo moral, ensinava que é verda- de que a expiação, em si mesma, não assegura a salvação de ninguém.

___ VERDADEIRO ___ FALSO.

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No documento Misael Nascimento e Ivonete Porto (páginas 94-97)