• Nenhum resultado encontrado

Misael Nascimento e Ivonete Porto

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Misael Nascimento e Ivonete Porto"

Copied!
117
0
0

Texto

(1)

2

Volume

da salvação

A doutrina

Série discipulado maduro e reprodutivo

REDENÇÃO

ELEIÇÃO

(2)

M

isael

N

asciMeNto e

i

voNete

P

orto

A doutrina da salvação:

Eleição e redenção

(Série discipulado maduro e reprodutivo)

(3)

© 2018 Misael Nascimento e Ivonete Porto.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou trans-mitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fo-tocópia, gravação ou qualquer tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação,

sem prévia autorização, por escrito, dos autores. Editor: Misael Nascimento

Revisão: Ivonete Porto e Alain Paul Laurent Rocchi Capa, projeto gráfico e diagramação: Misael Nascimento

Conversão para e-Book: Misael Nascimento Web site com recursos didáticos adicionais:

http://www.misaelbn.com/livros/

Dados para contato: Fone: 55-017-98149-4342 E-mail: misaelbn@me.com

1ª edição – 2018

NASCIMENTO, Misael Batista. PORTO, Ivonete Silva.

A doutrina da salvação: Eleição e redenção. Misael Nascimento e Ivonete Porto. São José do Rio Preto: Misael Nascimento, 2018. (Série discipulado maduro e reprodutivo), v. 2.

ISBN [Registrar]

1. Religião 2. Gênero humano — liberdade; predestinação; eleição; pecado 3. Doutrina da salvação (soteriologia) — teologia do pacto; os cinco pontos do Calvinismo ou TULIP I. Título

(4)

Dedicamos estes estudos a Deus, benfeitor supremo, que nos escolheu desde antes da fundação do mundo, para que desfrutássemos de sua redenção graciosa por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

(5)
(6)

v

Sumário

Apresentação do curso vii

Introdução aos estudos ix

1ª Parte: Escolhidos para a salvação 1

1 Os cristãos são escolhidos 3

2 A “solução” que não soluciona 10

3 Pactos, antítese, linhagens e eleição 18

4 Diferentes eleições e a aplicação da redenção na história 25

5 A eleição é incondicional, generosa e justa 34

6 A consolação e as evidências da eleição 43

2ª Parte: O que Cristo realizou 53

7 Expiação, redenção e graça 55

8 Cristo é sacrifício e mediador 59

9 Teorias da expiação 64

10 Defeitos do “Jesus” inventado 73

11 A redenção alcança os eleitos 84

12 Não podia ser de outro jeito 88

13 Para lembrar da eleição e da redenção 91

Respostas e soluções das atividades 94

(7)
(8)

vii

Apresentação do curso

Muito obrigado por adquirir um livro da série DisciPulaDoMaDuroereProDutivo! Este material tem sido utilizado desde 2004 por cristãos interessados em conhecer mais e melhor a Palavra de Deus.

Esforçamo-nos por produzir um material fiel aos ensinos da Bíblia, agradável de ler e fácil de entender. Cada edição é aprimorada a partir das sugestões dos usuários das edições anteriores.

Por que estes estudos são especiais

A série DisciPulaDo MaDuroe reProDutivo pode ser utilizada em diversas mídias. Você pode acessar os estudos em seu dispositivo de mão, notebook ou computador de mesa, ou até mesmo na tela de sua TV. Há versões para diferentes aplicativos de leitura, além de uma versão para impressão, em formato PDF.

Exercícios de fixação e recursos on-line

Todos os estudos terminam com um exercício de fixação do conteúdo. É possível ainda conferir as respostas no apêndice antes das referências bibliográficas. Adicionamos links para vídeos e outros recursos úteis.

Conteúdo modular

A série DisciPulaDo MaDuro e reProDutivo possui um formato diferenciado, que lhe permite acessar os cursos que você julgar mais interessantes e necessários. Cada volume contém 13 estudos, permitindo que o material seja usado em classes trimestrais da escola dominical, bem como em grupos pequenos (células, encontros informais de edificação ou grupos familiares).

O modo como cada volume é escrito permite que você o estude separado dos demais. Por exemplo, o primeiro volume do curso A Doutrina da Salvação trata da Criação e Queda, o segundo, de Eleição e Redenção, e o terceiro, do Chamado Irrecusável, também conhecido como Graça Irresistível e a Fé Que Nunca Morre ou Perseverança dos Santos. Se sua dúvida ou interesse for sobre a questão da graça irresistível ou perseverança dos santos, basta adquirir o terceiro volume e utilizá-lo como um curso em separado. Mesmo assim, você será bene-ficiado em adquirir e estudar os três volumes, pois cada um oferece os alicerces do que será abordado no volume seguinte.

Sobre os autores

O Rev. Misael Nascimento é pastor presbiteriano, graduado pela Faculdade Teológica Ba-tista de Brasília e Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ele possui especialização em Te-ologia Prática pela Faculdade Teológica Batista de Brasília e é Doutor em Ministério pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo, em parceria com o Reformed Theological Seminary, em Jackson, Mississipi, e mestrando em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Trabalhou

(9)

viii A doutrina da salvação: Eleição e redenção

como evangelista por sete anos, na implantação da Igreja Presbiteriana de Valparaíso de Goiás. Pastoreou por treze anos a Igreja Presbiteriana Central do Gama, no Distrito Fede-ral e desde 2010 é pastor da Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto (IPB Rio Preto). É casado com Mirian, pai de Ana Carolina e Bruna, sogro do Jônathas e amigão do Bento (um yorkshire simpático).

Ivonete Silva Porto é educadora cristã, graduada em Teologia pela Faculdade Teológi-ca Batista de Brasília e em Pedagogia pelo Grupo Fortium, em Brasília. É especialista em Teologia Filosófica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo. É casada com o Rev. Allen Ribeiro Porto (pastor na equipe de ministério da IPB Rio Preto) e mãe do Matias e da Lúcia.

(10)

ix

Introdução aos estudos

Deus abandonou a humanidade decaída? Esta é a pergunta respondida nestes estudos. A Bíblia revela que Deus quis salvar livremente, unicamente por amor. Assim como ele realizou a primeira criação, providenciou também a salvação ou nova criação.

Logo após a queda, o Senhor prometeu aos nossos primeiros pais um Redentor que

esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15). Nos momentos dramáticos que se seguiram à

desobediência de Adão, Deus estabeleceu o pacto da redenção.

Eleição e redenção

Estudaremos as doutrinas da eleição e redenção. Na eleição, antes da fundação do mundo, Deus escolhe alguns dentre a humanidade decaída para serem salvos. Na redenção, Deus Pai envia Deus Filho, Jesus Cristo, no poder de Deus Espírito Santo, para reconciliar os eleitos consigo mesmo.

Tais doutrinas são o coração do evangelho. Todos os dias, devem ser não apenas lem-bradas, mas oradas e aplicadas na vida de cada seguidor de Jesus Cristo.

Doutrinas impopulares

Estes ensinos são atacados. O homem contemporâneo se sente ofendido diante dessas afir-mações. Líderes ditos cristãos se desviam desses tópicos. Pregadores populares confundem esse ensino com determinismo fatalista.

O resultado dessa má doutrinação é visível. Igrejas crescem rapidamente em torno de versões defeituosas do evangelho, mas a geração que se levanta demonstra convicções fir-madas sobre alicerces fracos. Evangélicos correm o risco de se portarem de modo infantil diante das tribulações, confundir autoridade espiritual com prepotência e serem conduzi-dos como gado, por líderes personalistas e inconsequentes.

O discipulado bíblico é caracterizado por firmeza de caráter, humildade e prática fer-vorosa e inteligente da Palavra de Deus. Isso exige a consciência de que fomos eleitos e comprados pelo sangue do Cordeiro.

Um resumo e explicação da doutrina da salvação

Nestes estudos seguimos um roteiro seguro. Estas exposições são baseadas em uma for-mulação doutrinária produzida tempos atrás. Em uma reunião realizada no século 17, na cidade de Dordrecht (Holanda), alguns cristãos escreveram um documento sobre o evan-gelho — um material fiel à Bíblia e, ao mesmo tempo, compreensível, fácil de memorizar e explicar. O evangelho foi resumido em cinco declarações:

1 Deus criou tudo perfeito, mas o homem voluntariamente decaiu de seu estado ori-ginal — total depravação.

2 Deus escolheu, dentre a massa de pecadores, alguns para serem salvos — uma

esco-lha incondicional.

(11)

x A doutrina da salvação: Eleição e redenção

4 Os eleitos são chamados pelo Espírito Santo, por meio do ensino do evangelho —

irresistível chamado.

5 Os eleitos são santificados, preservados e glorificados — perseverança dos santos. Para fixar o ensino utilizou-se a tulipa, uma flor muito apreciada pelos holandeses. O acróstico TULIP (tulipa, em inglês) sintetiza as principais declarações da doutrina:

Total depravação.

Uma escolha incondicional. Limitada expiação.

Irresistível chamado. Perseverança dos santos.

Em cada etapa da salvação, Deus é quem toma a iniciativa de salvar, enquanto nós somos os beneficiários de sua obra poderosa e eficaz. Ao organizar o ensino desse modo, aqueles irmãos de Dordrecht responderam a um erro de doutrina que ganhava espaço, uma tentativa de estabelecer o homem como centro do processo de salvação. Hoje, muito do que se proclama como “mensagem de salvação” possui uma ênfase semelhante. O cristia-nismo sofre nova ameaça de corrupção de sua mensagem central. Por isso este curso é atual e necessário.

O evangelho do reino e o Deus do pacto

O evangelho não focaliza apenas a salvação do indivíduo, mas constitui-se nas boas novas do reino, que abrange o universo visível e invisível criado e governado por Deus.1 Estes

estudos são desenvolvidos a partir da perspectiva pactual — a teologia das alianças. Os au-tores são convictos de que esta abordagem possibilita que o estudante obtenha uma visão mais fiel do conteúdo bíblico ao mesmo tempo em que prepara o terreno para todos os desenvolvimentos necessários ao amadurecimento cristão.

Sendo assim, neste curso, cada estudo tem relação com o evangelho do reino. Não se trata de nenhuma novidade didática, mas da simples prática apostólica. Não havia sequer um problema ou questão da vida prática que os cristãos primitivos tentassem resolver à parte do evangelho. A revelação do amor de Deus em Cristo é o rico e inesgotável tesouro que supre todas as necessidades do cristão individual, da igreja e do mundo. Essa é a certeza que norteia a redação destes estudos.

O discipulado começa com o conhecimento da salvação

Este é o segundo volume do curso A Doutrina da Salvação, da série DisciPulaDoMaDuro e reProDutivo. Estes estudos foram escritos para nutrir, desafiar, transformar, fortalecer e promover o seu crescimento para uma vida com Deus firmada na Bíblia, movida por amor e cheia de bons frutos. Nos termos das palavras do apóstolo:

Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sa-bedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno

conheci-1 “O cosmos é o reino; especificamente, o reino cósmico” (VAN GRONINGEN, Gerard. Criação e Consumação:

(12)

xi

mento de Deus; sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz (Cl 1.9-12).

O termo discipulado é entendido, em muitos contextos, como os estudos iniciais da vida do cristão, normalmente como a preparação para o batismo e profissão de fé. Esse não é o sentido da palavra nessa série. Aqui, discipulado é a totalidade da existência do servo de Cristo, da conversão até a glorificação.

Isso é assim porque a vida com Deus é aprendizado e aperfeiçoamento, todos os dias e para sempre. Na conversão, inicia-se a caminhada; várias décadas depois, ainda estamos sendo moldados graciosamente pelo Espírito que nos dispensa graça através da Palavra, dos sacramentos, da oração e do convívio com os irmãos. E, enquanto prosseguimos amadure-cemos e reproduzimos o discipulado em outras pessoas. Somos sal e luz, preservamos, da-mos sabor e iluminada-mos, amada-mos e servida-mos a Deus. Pertenceda-mos a ele, foda-mos chamados para dar fruto (Mt 5.13-16; Jo 15.16).

Algumas características deste curso

Este material fornece subsídios diferenciados para professores e alunos. Um professor (ou professora) é aquele que usa os estudos para ensinar outras pessoas. O aluno (ou aluna) é a pessoa disposta a estudar a Palavra de Deus. Há, ainda, a possibilidade de estudo individu-al, comparando suas respostas no apêndice antes das referências bibliográficas.

Objetivos de estudo

Os principais objetivos do ensino são mostrados no início das principais divisões do livro. Textos bíblicos

Os textos bíblicos que comprovam as afirmações dos estudos são transcritos da Bíblia Sa-grada, segunda edição da versão revista e atualizada no Brasil, tradução de João Ferreira de Almeida. O objetivo é auxiliar o aluno a fixar as bases bíblicas de cada ensino, além de ganhar proficiência no manuseio da Escritura.

Símbolos de fé

Ligamos os conteúdos com os símbolos de fé de Westminster – a Confissão de Fé, o

Catecis-mo Maior e o CatecisCatecis-mo Menor ou Breve CatecisCatecis-mo. Estes documentos foram produzidos no

século 17 por mais de uma centena de teólogos, em uma reunião denominada Assembleia de Westminster. Além disso, mencionamos os Cânones de Dort, a Confissão holandesa que trata dos cinco pontos resumidos no acróstico TULIP. Pretende-se despertar o interes-se para tais documentos que são aceitos por todas as igrejas de linha teológica reformada como sumário adequado da doutrina bíblica.

Definições de termos e de abreviações

ARA. Bíblia Sagrada, Tradução de Almeida, revista e atualizada. A21. Bíblia Sagrada, Tradução de Almeida, século 21.

ARC. Bíblia Sagrada, Tradução de Almeida, revista e corrigida. BCW. Breve Catecismo ou Catecismo Menor de Westminster.

(13)

xii A doutrina da salvação: Eleição e redenção

BEG1. Bíblia de Estudo de Genebra. Primeira edição de 1999.

BEG2. Bíblia de Estudo de Genebra. Segunda edição de 2009.

BJ. Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. CB. Confissão Belga.

CDT. Os Cânones de Dort. Cf. Confira em.

CFW. Confissão de Fé de Westminster. CH. Catecismo de Heidelberg.

CMW. Catecismo Maior de Westminster. E.g. Do latim exempli gratia, por exemplo.

Mandato. Preceito ou ordem de superior para inferior. Uma ordem ou incumbência

divina que deve ser seguida, obedecida e realizada pelo homem.

NTLH. Bíblia Sagrada, nova tradução na linguagem de hoje. NVI. Bíblia Sagrada, nova versão internacional.

V. Versículo; versículos.

Caminhe devagar

Estude com calma lendo cada referência, esmiuçando conceitos e realizando as atividades sugeridas. É claro que tudo pode ser feito mais rapidamente, mas é importante é que os conteúdos sejam bem digeridos. Estamos estudando o evangelho, centro de nossa vida espiritual.

Agradecimentos

Os autores agradecem pelo apoio e compreensão de seus cônjuges e familiares. O Rev. Mi-sael é grato a sua esposa Mirian, suas filhas Ana Carolina e Bruna e seu genro Jônathas As-sunção. Ivonete louva a Deus por Jael, sua mãe, pelo Rev. Allen Porto, seu querido esposo e por Matias, o menino mais bonito de São Luís, pronto para arrebatar corações em São José do Rio Preto. As orações, a paciência, o incentivo e o apoio de vocês foram fundamentais para a realização deste trabalho.

Tudo foi escrito para a honra de Deus, nosso bondoso Pai, Redentor e Consolador.

Para quem são estes estudos

Estes estudos beneficiarão aos cristãos de todas as denominações evangélicas. Propomos disseminar a verdade que produz vida. Esperamos que cada leitor obtenha uma compreen-são límpida da sã doutrina e se sinta motivado a continuar crescendo na graça e conheci-mento do Senhor (2Pe 3.18). Se você absorver essas verdades ao ponto de poder ensiná-las a outros, estará capacitado para fazer discípulos.

Oramos para que o Espírito Santo o conduza. Que Deus seja glorificado, sua fé seja fortalecida e os discípulos sejam multiplicados.

(14)

1ª Parte

Escolhidos para a salvação

TULIP. Uma escolha incondicional.

Objetivos para o professor

• Agradecer a Deus pela salvação assegurada pelo decreto divino da eleição. • Dar glória unicamente a Deus pela salvação.

• Reconhecer que sua existência é governada pela “boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

• Na dependência do Espírito Santo, transmitir estas verdades aos alunos.

Objetivos para o aluno

• Compreender os principais conceitos relacionados à doutrina bíblica da eleição. • Os mesmos três primeiros objetivos do professor.

• Repassar as verdades aprendidas, multiplicando o alcance do discipulado.

Introdução ao ensino da Bíblia sobre eleição

O homem foi criado conforme a imagem e semelhança de Deus, mas decaiu de sua condi-ção original. Por causa disso, nascemos separados de Deus e escravos da carne, do mundo e do diabo.

Chegou o momento de compreender o que a Bíblia ensina sobre a eleição para a sal-vação. No acróstico TULIP, esse assunto é apontado na segunda afirmação, “uma escolha incondicional”.

(15)
(16)

3

1 Os cristãos são escolhidos

Joventino decidiu ler o NT presenteado por um amigo. Ficou maravilhado com os Evan-gelhos. Considerou a pessoa, obras e ensino de Jesus Cristo inigualáveis. Em seguida, em Atos, encantou-se com a simplicidade e amor da igreja primitiva. Daí aventurou-se para as cartas apostólicas.

Uma questão o intrigou acima das demais: O que Jesus quis dizer ao chamar os seus seguidores de “eleitos”, em Mateus 24.24? E por que ele afirmou, em Marcos 4.10-12, que ensinava por parábolas para que “os de fora” vissem sem perceber e ouvissem sem entender, de modo que não se convertessem e fossem perdoados? Para complicar, qual o significado de sua declaração, “ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido”, em João 6.65? Em Atos, Joventino leu sobre o “desígnio e presciência de Deus” (At 2.23) e que Herodes, Pilatos e o povo de Israel fizeram tudo o que a “mão” e o “propósito” de Deus “de-terminaram” (At 4.28). Ademais, depois da pregação de Paulo e Barnabé, em Atos 13.48, “creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. Enquanto Lídia ouviu o evangelho, “o Senhor lhe abriu o coração para atender as coisas que Paulo dizia” (At 16.14). E em Romanos, ficou boquiaberto ao ler que os cristãos são “predestinados” (Rm 8.29-30), que, enquanto Jacó foi “amado”, Esaú foi “rejeitado” por Deus, e isso independentemente de suas “obras” (Rm 9.11-13) e que existe “um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm 11.5). E no fim das contas, Deus não pode ser considerado injusto ao proceder desse modo, pelo contrário, devemos louvá-lo por sua soberania e sabedoria inalcançável (Rm 9.14-29; 11.33-36).

Nesse ponto Joventino interrompeu a leitura. Que Deus é esse? Que cristianismo é esse? Ele tinha de se encontrar com seu amigo cristão, que lhe dera o NT. Precisava de al-guém que o ajudasse com suas dúvidas.

1.1 Como a Bíblia denomina os cristãos

No volume anterior desta série, aprendemos que Deus criou tudo perfeito, mas o homem voluntariamente decaiu de seu estado original. Desde então, o ser humano perdeu toda capacidade para compreender, desejar ou escolher Deus e a salvação. Essa verdade bíblica é intitulada total depravação (a letra “t” do acróstico TULIP).2 Agora olharemos para outra

verdade do evangelho: Dentre os pecadores, Deus escolheu alguns para serem salvos, ou seja, ele fez uma escolha incondicional (a letra “u” do acróstico TULIP).

A Bíblia ensina que Deus intervém em nossa história a fim de salvar. Ele estabelece de antemão tanto as condições quanto os beneficiários desta salvação. Quanto às condições da salvação, o NT revela que o sangue de Cristo, provido para nosso resgate (como aprende-remos na segunda parte deste livro), foi “conhecido” desde antes de haver mundo.

Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como

2 Cf. NASCIMENTO, Misael; PORTO, Ivonete. A Doutrina da Salvação: Criação e Queda. São José do Rio Pre-to: Misael Nascimento, 2018. (Série Discipulado Maduro e Reprodutivo).

(17)

4 A doutrina da salvação: Eleição e redenção

prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido,3 com efeito, antes da fundação

do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus (1Pe 1.17-21).

Quanto aos beneficiários da salvação, Deus os escolheu e predestinou previamente e de acordo com sua boa vontade. “A eleição torna a salvação certa e a obra redentora de Cristo a assegura”.4 Daí o louvor do apóstolo:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele,5 antes da fundação do mundo, para sermos

santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (Ef 1.3-5).

Como lemos na introdução deste capítulo, a Escritura também se refere a um “propó-sito de Deus quanto à eleição” e a “um remanescente segundo a eleição da graça”. Os que creem em Cristo como único Senhor e Salvador de suas vidas, são identificados na Escritu-ra como predestinados, escolhidos ou eleitos de Deus.

Com quem foi feito o pacto da graça? O pacto da graça foi feito com Cristo, como o segundo Adão; e, nele, com todos os eleitos, como sua semente.6

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou (Rm 8.29-30).

Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça (Rm 11.5).

Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade (Ef 1.11).

Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade (Tt 1.1).

Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1Pe 1.1).

3 O vocábulo grego proginōskō, traduzido como “conhecido”, indica não apenas conhecimento, mas uma

“esco-lha prévia” (LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene Albert. Greek-English Lexicon of the New Testament: Based on Semantic Domains. New York: United Bible Societies, 1996, #28.6, p. 334; grifo nosso). A mesma ideia é

en-contrada em Atos 2.23 (neste último caso, “presciência” ou “pré-conhecimento” traduzem prognōsis). 4 HORTON, Michael. Doutrinas da Fé Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 602.

5 A expressão “nos escolheu nele” é interpretada de diferentes maneiras. Retornaremos a esta passagem na seção 4.1, a fim de descobrir a melhor interpretação.

(18)

5

Os cristãos são escolhidos Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de

propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1Pe 2.9).

Cristãos que levam a Bíblia a sério reconhecem que estes textos apontam para a pre-destinação e eleição. O que existe são modos diferentes de compreender e explicar, tanto a predestinação quanto a eleição. Essas diferenças decorrem de pontos de vista distintos sobre a sabedoria, vontade, liberdade e justiça de Deus e do homem.

1.2 Sabedoria, vontade, liberdade e justiça (de Deus e do homem)

Deus é absolutamente sábio, livre e justo em todos os seus decretos e ações? Seria correto Deus planejar e executar uma salvação apenas para algumas pessoas, rejeitando outras? O homem é um agente livre ou uma marionete em um cenário fatalista? Sem ser feito “nova criação” pelo poder de Deus, o homem pode compreender, escolher ou rejeitar o evangelho? Nossa compreensão dessas coisas determina nosso entendimento da predestinação e eleição (figura 01). Sabedoria, vo nta de , lib erd ad e e ju stiç a de De us » Sa bed oria , vo nt ad e, li be rd ade e ju stiça human a | Predestinação Eleição

Figura 01: Nossa compreensão da sabedoria, vontade, liberdade e justiça de Deus e do homem determina nosso entendimento das doutrinas da predestinação e eleição.

Cristãos de diferentes denominações afirmam que Deus é sábio, soberano e livre — o rei supremo (sabedoria, vontade e liberdade). Ele também é absolutamente santo e, por conseguinte, bom e justo em tudo o que planeja e faz (justiça).

As ideias divergem a partir daqui.

Para alguns, mesmo depois da queda, o homem possui capacidade de discernimento (sabedoria) e aptidão para desejar, bem como poder para decidir-se por Deus e seu reino (vontade e liberdade). Isso equivale a dizer que, mesmo depois do pecado de Adão e Eva, o homem é hábil para escolher e fazer o bem (justiça). As explicações sobre como isso acon-tece variam, indo de um extremo, em que a salvação depende quase que exclusivamente da vontade humana — a heresia de Pelágio (360—420), combatida por Agostinho, conhecida como pelagianismo — para uma posição menos radical, mas ainda assim antibíblica, em

(19)

6 A doutrina da salvação: Eleição e redenção

que a salvação depende tanto da graça de Deus, quanto da escolha do homem, conhecida como semipelagianismo. No frigir dos ovos, esta é a conclusão a que se chega: O homem

é quem decide se aceita ou rejeita Deus.7

Um dos proponentes deste ponto de vista, Erasmo de Roterdã, ensinava que “embora a livre escolha tenha sido prejudicada pelo pecado, ela, não obstante não foi extinguida por

ele”.8 Outro escritor diz que as decisões e ações de Deus sobre a predestinação e eleição

podem ser compreendidas por uma “razão biblicamente fundamentada”,9 ou seja, parado-xos bíblicos não são admitidos.10 Se por um lado, a Escritura é Palavra de Deus, por outro,

qualquer interpretação que não se encaixe na razão humana é rejeitada como falsa.11

Esse entendimento é popular porque combina com a descrição de “vontade” na Filo-sofia: “Ter vontade consiste em poder desejar um resultado e ter o objetivo de realizá-lo”.12

Isso se harmoniza também com a Psicologia: “Vontade é a capacidade ou faculdade pela qual um ser humano é capaz de fazer escolhas e determinar seus próprios comportamentos a despeito de influências externas à pessoa”.13

Abraçam este ponto de vista, com variações, os “catolicismos” romano e ortodoxo grego e uma parcela de evangélicos, em um sistema intitulado arminianismo, derivado de Jacó Armínio (1560—1609) professor de teologia na Universidade de Leiden.14 Armínio

reverbera Erasmo e outros semipelagianos, crendo ser o homem não completamente deca-ído. Portanto, para Armínio, a vontade humana continua livre para se decidir por Cristo.

Para outros, o arminianismo contraria o ensino da Bíblia sobre a total depravação. Sob esta ótica, afirmar que Deus é absolutamente sábio, soberano e livre equivale a dizer que ele faz

o que quer, quando quer, como quer e com quem quer (sabedoria, vontade e liberdade). E ele faz

isso de modo absolutamente santo, ou seja, ele é bom e reto em tudo o que planeja e empre-ende (justiça). Ainda que suas decisões e ações produzam desconforto e não possam ser totalmente

compreendidas (mesmo a mente do crente não consegue penetrar nos decretos de Deus).

Esta perspectiva admite que a Escritura revela o suficiente para nossa salvação, san-tificação e consolação, mas há aspectos desta revelação que devem ser ensinados, mesmo parecendo paradoxais. As afirmações da Bíblia que parecem contraditórias são, de fato, suprarracionais, quer dizer, vão além de nosso entendimento (tabela 01):

7 Cf. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 4. ed. Reimp. 2015. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 429-430. 8 ROTERDÃ, Erasmo. Livre Arbítrio e Salvação. São Paulo: Editora Reflexão, 2014, p. 84. Grifo nosso.

9 SMITH, Chuck. Prefácio de BRYSON, George. O Lado Negro do Calvinismo: A Visão Calvinista da Eleição. São Paulo: Editora Reflexão, 2016, p. 7.

10 Paradoxo é usado aqui com o sentido de “oposição recíproca” e o que “parece contrário ao comum; contrassen-so, absurdo” ou “disparate”; cf. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Antinomia; Paradoxo. In: Dicionário

Aurélio Eletrônico 7.0. Curitiba: Editora Positivo, 2009a. CD-ROM. Todos os que estudam este tema acolhem

paradoxos. Os que rejeitam os paradoxos verdadeiramente bíblicos, acolhem contradições antibíblicas. 11 Como demonstraremos, os opositores da doutrina bíblica da predestinação, que afirmam valorizar tanto o uso

da razão, terminam assumindo opiniões absolutamente ilógicas.

12 BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1997, p. 407. Grifo nosso. 13 VANDERBOS, Gary R, (Org.). Dicionário de Psicologia da APA (American Psychological Association). Porto

Alegre: Artmed, 2010, p. 1021. Grifos nossos.

14 WRIGHT, R. K. McGregor. A Soberania Banida: Redenção Para a Cultura Pós-Moderna. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 30.

(20)

7

Os cristãos são escolhidos Declarações aparentemente paradoxais

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”

(Mt 11.28)

“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer [...]” (Jo 6.44)

Devemos ir até Cristo Não podemos ir até Cristo se não formos levados pelo Pai

As duas declarações são verdadeiras e devem ser ensinadas

É impossível compreender exaustivamente a relação entre elas porque são verdades divinas suprarracionais

Tabela 01: O paradoxo aparente de algumas declarações bíblicas.

Resumindo, depois da queda o homem está espiritualmente morto; não consegue en-tender (corrupção da sabedoria), nem desejar ou se decidir por Deus e seu reino (corrupção e escravidão da vontade), de modo que só pode ser salva a pessoa que Deus desejar salvar.

Os autores destes estudos entendem que este último ponto de vista, historicamente identificado como calvinismo, (por causa de João Calvino, 1509—1564), é mais fiel às Sagradas Escrituras. O calvinismo é consistente com o ensino da Bíblia sobre a criação e a queda15 e, como veremos, com aquilo que a Palavra de Deus diz sobre eleição e redenção.

1.3 Conceitos de predestinação e eleição

Isso nos conduz aos conceitos de predestinação e eleição. Predestinar “significa determinar algo acerca de coisas antes de ocorrerem e dirigi-las a um determinado fim”.16

Nos âmbitos da salvação e condenação das criaturas morais, a predestinação corres-ponde aos atos da soberania divina de “salvar alguns do pecado (eleição)” e “condenar o restante pelo seu pecado (reprovação)”.17 Apesar de alguns argumentarem que a eleição

de Deus não implica em rejeição, o verbo “escolher” significa “fazer seleção de; joeirar”.18

Escolher alguém ou alguma coisa implica em rejeitar outras.

Quando você escolhe uma coisa qualquer, você rejeita tudo o mais. [...] Todos os atos são uma irrevogável exclusão por seleção. [...] quando você toma um caminho de ação desiste de todos os outros caminhos.19

Daí a propriedade do dito de Calvino:

Chamamos predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem deter-minar o que acerca de cada homem quis que acontecesse. Pois ele não quis criar a

to-dos em igual condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condena-ção eterna. Portanto, como cada um foi criado para um ou outro desses dois destinos,

assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou para a morte.20

15 Cf. NASCIMENTO; PORTO, op. cit., passim.

16 TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 430. v. 1. Grifos nossos. 17 BEG2, quadro Predestinação e Presciência: As Pessoas São Predestinadas ao Céu ou ao Inferno?, p. 1488. Isso é chamado

de “dupla predestinação”.

18 Escolher. In: FERREIRA, op. cit.

19 CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p. 67. Grifo nosso.

(21)

8 A doutrina da salvação: Eleição e redenção

Grudem afirma que eleição é “o ato divino antes da criação no qual ele [Deus] escolhe algumas pessoas para serem salvas, não com base em qualquer mérito previsto nelas, mas

so-mente por causa de seu beneplácito soberano”.21

Lemos sobre isso nos Cânones de Dort:

Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído, por sua própria culpa, de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, mas envolvidos na mesma miséria. São escolhidos, porém, em Cristo, a quem Deus constituiu, desde a eternidade, Mediador e Cabeça de todos os eleitos

e fundamento da salvação.22

Nos próximos capítulos, à moda bereana, analisaremos as Escrituras “para ver se as coisas são, de fato, assim” (At 17.11).

e

Daí

?

Cristãos que declaram que a Bíblia é Palavra de Deus, podem acolher crenças e entendi-mentos diferentes sobre a predestinação e a eleição. Até quem prioriza a evangelização e não considera estas doutrinas centrais, pode ter de responder perguntas de pessoas que, ao ler as Escrituras, precisam de ajuda para saber o significado das passagens mencionadas neste capítulo. É importante conhecer este assunto, como parte fundamental da doutrina da salvação.

a

tiviDaDes

1. Na terceira estrofe do Hino 260, “Amor Que Vence”, do hinário Novo Cântico, falando do amor de Deus, o poeta escreve “amor que tudo me perdoas, amor que até mesmo abençoas um réu de quem tu te afeiçoas!”.23 Considerando o que estudamos até aqui, estas palavras do hino devem significar que (marque as respostas certas):

( ) Por causa do nosso pecado, somos réus diante de Deus (merecemos condenação). Deus, po-rém, livre e bondosamente, nos amou.

( ) Apesar da queda, que nos tornou réus diante de Deus, ainda temos muitas qualidades que nos torna amáveis para Deus. Correspondendo à nossa fé, Deus também nos ama.

( ) O ato divino, de entre os pecadores escolher alguns para a salvação, é denominado eleição. O hino fala do amor perdoador e abençoador de Deus, que abraça o pecador que não merece ser amado. 2. Complete a lacuna com uma palavra retirada do estudo: Quanto aos beneficiários da salvação, Deus

os escolheu e __________________________ previamente e de acordo com sua boa vontade. 3. Marque Verdadeiro ou Falso. Depois da queda o homem está espiritualmente morto; não consegue

entender, nem desejar ou decidir-se por Deus e seu reino, de modo que só pode ser salva a pessoa que Deus desejar salvar.

___ VERDADEIRO ___ FALSO.

21 GRUDEM, Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs: Teologia Sistemática ao Alcance de Todos. São Paulo: Editora Vida, 2005, p. 308. Grifos nossos.

22 CDT, cap. 1, artigo 7, p. 22-23. Grifos nossos.

23 MATHESON, G.; WRIGHT, H. M. Amor Que Vence. In: MARRA, Cláudio. (Ed.). Novo Cântico. 16. ed. Reimp. 2015. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 201-202.

(22)

9

Os cristãos são escolhidos 4. Complete a lacuna com uma palavra retirada do estudo: De acordo com Turretini, predestinar

“significa ________________ algo acerca de coisas antes de ocorrerem e dirigi-las a um determi-nado fim”.

5. Complete a lacuna com palavras retiradas do estudo: De acordo com Grudem, eleição é “o ato divino antes da criação no qual ele [Deus] escolhe algumas pessoas para _____________________, não com base em qualquer mérito previsto nelas, mas somente por causa de seu beneplácito soberano”.

(23)

10

2 A “solução” que não soluciona

Gregorius ouviu as dúvidas de Joventino. Ele não imaginava que após iniciar a leitura do NT, aquele rapazinho faria tantas perguntas, ainda mais sobre predestinação e eleição. Gre-gorius já estudara o assunto razoavelmente, e respondeu baseando-se em alguns livros e na doutrinação recebida de seu pastor (Jacoá Rimínio, apóstolo do Ministério Internacional dos Servos Livres e Determinantes).

— O pastor Jacoá me disse que há uma solução para o problema da eleição: Cristo é o eleito de Deus. E os crentes individuais são eleitos em Cristo.

CAUSA DA ELEIÇÃO

Cristo e seu mérito

Cristo é o primeiro eleito de Deus e os crentes são eleitos nele [Cristo como causa da eleição]

Joventino não teve como contradizer esta proposição (apesar de querer saber o signifi-cado da expressão “em Cristo”). E Gregorius prosseguiu:

— Deus Pai elegeu individual e especificamente apenas a Cristo, como redentor dos crentes. Estes últimos são eleitos corporativa e organicamente (como membros de seu corpo).

— Como assim? O que quer dizer “eleição corporativa ou orgânica”?

— Deus decidiu criar uma corporação ou organismo, mas não decretou de antemão, quem comporia essa agremiação.24 Em outras palavras, Deus Pai elegeu Jesus Cristo como

redentor, mas não elegeu o Gregorius, nem o Joventino, individual e especificamente. — Mas Gregorius, na prática, como eu e você somos incluídos nesta eleição “em Cristo”? — Vamos lá — Gregorius ajeitou a postura, como quem tinha algo importante a dizer — Deus elege com base nos merecimentos de Jesus Cristo (a eleição é “elaborada em vir-tude de Cristo e em retribuição de seu mérito”).25 Uma forma de afirmar isso é declarando

que Jesus é a “causa impulsiva e meritória da eleição”.26

— Agora complicou de vez — suspirou Joventino.

— Calma, veja como é: Deus Pai elege Deus Filho como redentor porque Cristo reali-za uma obra perfeita e completa com a finalidade de tornar disponível uma “graça univer-sal”, para salvação de todos os homens.27

— Ah, entendi. Então Cristo morreu para publicar uma “graça universal”. Quer dizer que todas as pessoas estão incluídas nesta eleição de Jesus Cristo? Todas serão salvas?28

24 Esta é a tese central de SHANK, Robert. Eleitos no Filho: Um Estudo da Doutrina da Eleição. São Paulo: Editora Reflexão, 2015.

25 TURRETINI, op. cit., p. 452.

26 Ibid., p. 453. Esta é a posição abraçada por luteranos, arminianos e “alguns de nossos doutores que defendem a graça universal” (ibid., loc. cit.).

27 Turretini explica (ibidem) que “sob o pretexto de enaltecer a glória de Cristo, seu objetivo é estabelecer a graça

universal e destruir a eleição absoluta de Deus segundo seu beneplácito” (grifo nosso).

28 O raciocínio de Joventino é exato. Como veremos, Karl Barth chega a esta última consequência, de afirmar que todas as pessoas, crentes ou não, são eleitas em Cristo.

(24)

11

A “solução” que não soluciona

— Há quem entenda assim, mas não nós, que seguimos o ungidíssimo apóstolo Jacoá Rimínio, do Ministério Internacional dos Servos Livres e Determinantes.

Joventino não gostou nada de já ser considerado seguidor do tal Jacoá Rimínio; além disso, ele jamais visitara o “ministério”, mencionado por Gregorius.

— Se Cristo traz uma “graça universal”, visando salvar toda a humanidade, por que nem toda a humanidade é salva?

— Perceba, meu caro Joventino, que é possível discernir uma segunda causa da eleição: São eleitos os que decidem crer em Jesus. Nesse caso, Deus conhece de antemão a fé e boas obras daqueles que acolherão o evangelho e, daí os nomeia como escolhidos ou eleitos. Elei-tos, nesse caso, seriam os que Deus previu que creriam em Jesus em algum momento da his-tória — e citou as palavras de Pedro: “Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1Pe 1.2).29

CAUSA DA ELEIÇÃO

Fé e obras dos crentes

Deus prevê quem crerá em Cristo. Os eleitos são os crentes previstos [Fé e obras previstas como causa da eleição].30

— Veja só Joventino, esta solução preserva, de uma só vez, a soberania de Deus (autor da salvação), a supremacia de Cristo (redentor dos salvos) e a liberdade de escolha do ho-mem (que pode tanto dizer sim, quanto rejeitar ao chamado do evangelho).

Joventino ouviu com atenção, mas ainda não se sentiu confortável com esta “solução”.31

Percebeu que a “solução” simples proposta por Gregorius, não era tão simples assim.

— Mas Gregorius, se Deus todo-poderoso e soberano decide salvar uma pessoa, esta decisão pode ser anulada, caso esta pessoa rejeite a Cristo? A vontade de um homem, quando este decide não crer, pode impedir a realização da vontade de Deus, de salvar este homem?

— Não é bem assim Joventino — arguiu Gregorius. Deus decidiu agir respeitando

nossas decisões. Eu sei que isso não é fácil de entender, mas olhe só: Há crentes que aceitam

que o exercício da vontade humana influencia os decretos de Deus. Esses são chamados de

arminianos.32 E há outros que dizem que, pelo contrário, é o decreto de Deus que

influen-cia o exercício da vontade humana. Esses são chamados de calvinistas.33 Mas hoje está se

abrindo caminho para uma terceira via, os “calminianos”, que sugerem um ponto de vista

intermediário entre arminianos e calvinistas. Por exemplo, olhe o que diz um estudioso

chamado Marvin Pate:

29 Nós olharemos para 1Pedro 1.12 mais de perto, no capítulo 5.

30 Quem expõe essas propostas muito bem é Turretini (op. cit., p. 452-457).

31 Para começar, causa desconforto aos biblicamente atentos, a ideia da eleição como “problema a ser resolvido”, ao invés de verdade bíblica a ser conhecida e recebida.

32 O arminianismo deve sua designação ao teólogo holandês Jacó Armínio (1560—1609). Mais informação sobre a vida e obra de Armínio pode ser consultada em OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 18-21; LETHAM, R. W. A. Arminianismo. In: FERGUSON, Sinclair B. (Ed.).

Novo Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 91-94.

33 O calvinismo deve sua designação a João Calvino (1509—1564). Mais informação sobre o calvinismo pode ser consultada em REID, W. S. Calvinismo. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da

Igre-ja Cristã. São Paulo: Vida Nova,1988, p. 225-228. v. 1 A — D; WALLACE, R. S. João Calvino. In:

(25)

12 A doutrina da salvação: Eleição e redenção

De acordo com essa designação [...], Deus escolhe soberanamente o destino de cada indivíduo, mas, de modo paradoxal, os seres humanos têm o poder e a responsabilida-de responsabilida-de escolher Cristo por sua própria conta.34

A conversa não teve como prosseguir por causa da hora avançada e Joventino despe-diu-se de Gregorius, agradecendo pela atenção. Algo, porém, ainda o incomodava. De uma forma que ele não conseguia explicar, ele ainda estava insatisfeito; alguma coisa parecia não bater com aquelas passagens lidas do seu NT. No dia seguinte Joventino compraria uma Bíblia completa e começaria a estudar mais sobre esse assunto.

2.1 Leituras incorretas da doutrina bíblica da eleição

“Soluções” semelhantes, ainda que com variações, são sugeridas por Robert Shank e, antes dele, Karl Barth e outros arminianos e proponentes da graça universal.

A fim de eliminar qualquer suspeita de sua convicção sobre a soberania divina, Shank diz que acredita que “a história, por determinação divina, é teológica, e toda a abrangência dos eventos humanos, sejam quais forem o som e a fúria, move-se em direção ao final

de-terminado”.35 Em seguida ele propõe uma interpretação de Efésios 1.3-14 que, segundo ele,

no que diz respeito à doutrina da eleição, “é a passagem fundamental”.36 Daí, referindo-se

a Efésios 1.4 — “assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo” — Shank sugere que “na realização do propósito do reino de Deus, a eleição é primeiro de Cristo e

depois dos homens em Cristo”.37

Esta simples proposição de ordem das eleições (primeiro a de Cristo, depois e dos homens nele) é incorreta, por colocar Cristo como fundamento da eleição dos crentes. Isso pode parecer mero jogo de palavras, mas não é. O leitor verificará que, na argumentação de Gregorius (mencionada acima), “Cristo é o fundamento da eleição, e [...] a fé prevista é sua causa (ou pelo menos, a condição precedente)”.38 Turretini esclarece a questão: “Cristo

en-trou no decreto [da eleição] antecedentemente como a causa impulsiva e meritória, em vir-tude da qual ela [a eleição] nos foi destinada? Isso os adversários desejam; nós negamos”.39

O ponto de negação é que, se aceitarmos esta ordem, a eleição dos crentes dependeria da obra de Cristo ou da fé prevista em Cristo.

34 PATE, C. Marvin. Romanos. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 194. (Série Comentário Expositivo). Grifos nossos. 35 SHANK, op. cit., p. 19. Grifos nossos.

36 Ibid., p. 25.

37 Ibid., p. 29. Cf. SCHREINER, Thomas R. Teologia de Paulo: O Apóstolo da Glória de Deus em Cristo. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 221: “Alguns concluíram a partir disso que Deus escolheu Cristo como o eleito e aqueles que escolhem estar em Cristo são salvos. A causa última da salvação, segundo essa leitura, é a escolha humana. A leitura mais natural do texto é violada por essa interpretação, porque Paulo não diz que Deus escolheu a Cristo, mas que ele ‘nos’ (hēmas) escolheu. Fazemos uma leitura errônea do texto se nos detivermos na escolha de Cris-to por Deus quando, na verdade, Paulo se refere à escolha dos crentes por Deus” (grifos nossos).

38 TURRETINI, op. cit., p. 452. 39 Ibid., loc. cit. Grifo nosso.

(26)

13

A “solução” que não soluciona ORDEM ERRADA DOS DECRETOS

1. Eleição de Cristo como Redentor 2. Eleição dos crentes

[A eleição dos crentes dependeria da obra de Cristo ou da fé prevista em Cristo].

De acordo com Efésios 1.5, 9, a causa única da predestinação é o “beneplácito” de Deus (figura 05). O vocábulo (eudokia) nos ajuda a entender que Deus nos predestinou “de acordo com o que lhe agrada”.40 Daí a NVI: “Em amor nos predestinou [...] conforme

o bom propósito da sua vontade”. É o apóstolo Paulo dizendo que Deus nos predestinou

como quis, “em amor” (Ef 1.4b). Resumindo, na doutrina bíblica da salvação, Jesus Cristo

não é a causa da salvação, e sim o meio. A causa da salvação é o “beneplácito” ou, utilizando outro termo, a decisão divina de amar.

O efeito da eleição não pode ser chamado por sua causa. Antes, Cristo é um efeito da

elei-ção, visto ser ele o próprio eleito e preordenado para ser o Mediador (Is 42.1; 1Pe 1.20;

Jo 3.16, em que o amor de Deus pelo mundo precede a missão do Filho como sua causa).41 Nisto consiste o amor: Não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados (1Jo 4.10).

Sendo assim, pela ordem:

A intenção do fim deve preceder a destinação dos meios. Ora, a salvação é o fim; Cristo é o meio. Portanto, a destinação da salvação aos eleitos deve ter sido concebida antes da destinação de Cristo para obtenção do fim. Justamente como a intenção da cura do enfermo deve preceder o exame físico e a aplicação da medicação, assim tam-bém é necessário que nutramos a ideia de que a eleição dos que ele destinou à salva-ção estava na mente de Deus antes do pensamento sobre a eleisalva-ção do Salvador para lhes granjear a salvação. De outro modo, Cristo teria de vir com um fim indefinido e teria sido designado Mediador antes de algo ter sido determinado por Deus acerca daqueles que tinham de ser realmente redimidos.42

Ou como afirma Berkhof:

O decreto da eleição é [...] uma expressão da vontade soberana de Deus, do beneplá-cito divino. Significa, entre outras coisas, que Cristo como Mediador não é a causa motriz ou meritória da eleição. [...] Isso é impossível, visto que ele mesmo é objeto da

predestinação e eleição, e porque, quando se incumbiu da obra meritória no Conselho

da Redenção, já fora fixado o número dos que lhe foram dados.43

ORDEM CORRETA DOS DECRETOS 1. Eleição dos crentes

2. Eleição de Cristo como Redentor [A eleição dos crentes depende

exclusivamente do beneplácito (amor imerecido) de Deus].

40 LOUW; NIDA, op. cit., #25.88, p. 298. 41 TURRETINI, op. cit., p. 454. Grifos nossos. 42 Ibid., loc. cit.

(27)

14 A doutrina da salvação: Eleição e redenção

Eis a doutrina exposta com precisão: “Embora Cristo seja o fundamento da salvação, ele não pode com isso ser chamado o fundamento da eleição”.44

Retornando a Shank, mesmo admitindo que “o organismo corporativo de eleitos é com-preendido de indivíduos” ele propõe que “a eleição é primariamente corporativa, e secundaria-mente particular”.45 Para ele, “a eleição para salvação é corporativa e abrange homens

indivi-dualmente apenas em identificação e associação com o corpo eleito”.46 Por fim:

A certeza da eleição e a perseverança são com respeito, não a indivíduos particulares

incondicionalmente, mas sim à ekklesia, o corpo corporativo de todos os que, através

da fé viva, estão em união com Cristo, o verdadeiro Eleito e a Viva Aliança entre Deus e todos os que confiam no seu justo servo.47

Guardadas as devidas proporções, o ensino de Shank reverbera Karl Barth, que aceita-va a dupla predestinação, mas dizia que ela se resolve na eleição de Jesus Cristo.48 Na

eterni-dade passada, Jesus foi escolhido para salvação (reconciliação dos pecadores com Deus) e, ao mesmo tempo, condenação (ser condenado para efetivar a redenção). “A predestinação é, pois, uma decisão eterna feita por Deus, significando que os homens — todos os homens — são eleitos, enquanto Deus, na forma do Filho, toma sobre si mesmo a condenação”.49

Esta proposição de Barth é universalista (toda a humanidade é eleita para a salvação). Como explica Ferreira, “a única diferença entre aqueles que estão na igreja e aqueles que estão fora é que a igreja sabe da sua eleição e o mundo não”.50 Sendo assim, não há necessidade, segundo

Barth, de uma eleição individual dos crentes:

A versão reformada da doutrina da predestinação é [...] mitologizante [...] no sentido de ter correlacionado eleição e condenação à unidade psicológica do indivíduo, a quantidade de “eleitos” e de “condenados”. Paulo não tem essa opinião e nem poderia

tê-la tido.51

Algumas das chamadas “soluções” para o “problema” da eleição misturam tudo isso e um pouco mais.

44 Ibid., p. 455. Infelizmente Hendriksen, notável por sua fidelidade, como intérprete reformado, comenta Efésios 1.4 declarando Cristo como fundamento tanto da salvação, quanto da eleição. HENDRIKSEN, William. Efésios

e Filipenses. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 90-91. (Comentários do Novo Testamento). Nesse ponto, o

querido e mui sábio exegeta se equivocou. 45 SHANK, op. cit., p. 45. Grifo nosso. 46 Ibid., p. 48.

47 Ibid., p. 49. Grifo nosso. A fala de Shank é atrativa e cheia de vocabulário bíblico, mas teologicamente incorre-ta.

48 Cf. ALLEN, R. Michael. Karl Barth´s Church Dogmatics: An Introduction and Reader. New York: Bloomsbury T&T Clark: 2012. e-Book Kindle, posição 1510-1827.

49 FERREIRA, Franklin. Karl Barth: Uma Introdução à Sua Carreira e aos Principais Temas de Sua Teologia. In:

Fides Reformata, v. VIII, n. 1 (jan./jun. 2003), p. 56.

50 FERREIRA, op. cit., loc. cit.

51 BARTH, Karl. A Carta aos Romanos: Segunda Versão. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2016, p. 353. Grifos nossos. Berkhof (op. cit., p. 104-105) diz que “Barth voltou a dirigir a atenção à doutrina da predestinação, mas sua elaboração nem de longe se relaciona com a de Agostinho e Calvino. [...] [Barth] não vê na predestinação uma predeterminada separação feita entre os homens, e não entende a eleição como uma eleição particular, como a entendia Calvino”.

(28)

15

A “solução” que não soluciona

2.2 Sentidos diferentes para “soberania de Deus”

Dois cristãos podem usar a expressão “soberania de Deus” em uma conversa, com signifi-cados diferentes. Todos os que leem a Bíblia seriamente afirmam que “Deus é soberano na eleição”, mas para alguns, “Deus é soberano” quer dizer que Deus decidiu e decretou duas coisas:

1. Escolher Cristo como Redentor (e assim oportunizar a salvação).

2. Dar espaço para o homem exercer seu livre arbítrio (escolher ou rejeitar Cristo). Eis o arminianismo resumido! Para John Owen, o livre arbítrio é o ídolo pelagiano do arminianismo.52 O pelagianismo, heresia53 baseada em Pelágio (360—420), insiste na

“suficiência da natureza humana, não enfraquecida essencialmente pela queda”,54 ou seja, o pelagianismo nega a doutrina da depravação total. Os que abraçam esta leitura doutrinária

terminam subscrevendo um dito muito popular no Brasil: “Faça sua parte e eu te ajudarei”. No frigir dos ovos, esta “solução” corresponde a sinergismo, uma heresia que defen-de que a salvação defen-dependefen-de defen-de uma cooperação entre o homem e Deus. De acordo com o professor Helm, o sinergismo é “uma tentativa de mediar entre os conceitos agostiniano e pelagiano da vontade enfatizando a ideia de cooperação [...] entre a vontade divina e humana”.55

Nós já explicamos que Pelágio ensinava que a natureza humana não foi “enfraquecida essencialmente pela queda”. Agostinho, pelo contrário, expôs a doutrina bíblica da predes-tinação, afirmando que “o Senhor é Deus das vontades humanas”.56

Para Helm o sinergismo é uma impossibilidade lógica, que sempre resulta em monergismo: [...] se trata de proposta inerentemente insustentável, que acaba resultando em

moner-gismo, tanto da vontade humana como da divina. Não fica claro como,

metafisica-mente, tal cooperação possa ser efetuada, nem é fácil considerar como tal visão possa

fazer jus ao ensino bíblico.57

Vamos entender melhor. Monergismo é a doutrina que afirma que há somente um

salvador. Nesse sentido, a Bíblia é monergista:

Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador (Is 43.11).

52 OWEN, John. Contra o Arminianismo e Seu Ídolo Pelagiano, o Livre Arbítrio. [s. loc.]: O Estandarte de Cristo (William Teixeira), 2016, e-Book Kindle.

53 Grosso modo, “heresia” significa o oposto de ortodoxia, ou seja, crença incorreta (cf. PACKER, J. I. Ortodoxia. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova,1990, p. 70. v. 3 N — Z). O termo evoca as ideias de “erro”, “equívoco”, “falácia”, “falibilidade”, “errância”, “defectibili-dade”, “imperfeição”, “inexatidão”, “construção errônea”, “conclusão manca” e exposição viciosa” (AZEVEDO, Francisco Ferreira dos Santos. Dicionário Analógico da Língua Portuguesa: Ideias Afins / Thesaurus. 2. ed. Atuali-zada e revista. Rio de Janeiro: Lexicon, 2010, #495, p. 209-210). A heresia é também chamada de heterodoxia (AZEVEDO, op. cit., #984, p. 482). Para Chesterton, heresia significa “estar errado” e ortodoxia quer dizer “estar certo” (CHESTERTON, G. K. Hereges. 3. ed. Campinas: Centro de Desenvolvimento Profissional e Tec-nológico Ltda. (CEDET), 2014, p. 37-38).

54 WRIGHT, D. F. Pelagianismo. In: FERGUSON, op. cit., p. 783. 55 HELM, R. B. Vontade. In: FERGUSON, op. cit., p. 1199.

56 AGOSTINHO, Bispo de Hipona. A Graça (II): A Graça e a Liberdade. A Correção Fraterna. A Predestinação dos

Santos. O Dom da Esperança. São Paulo: Paulus, 2014, e-Book Kindle, posição 2783. (Patrística).

(29)

16 A doutrina da salvação: Eleição e redenção

Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que votei pagarei. Ao Senhor pertence a salvação! (Jn 2.9).

Se isso é assim, por que Helm sugere que todo sinergismo “acaba resultando em monergismo”?

No sinergismo, parte do mérito pela salvação é dado ao homem. A salvação é proposta

por Deus, mas depende, em parte, da aquiescência do homem, uma vez que, citando

nova-mente Pate, “os seres humanos têm o poder [...] de escolher Cristo por sua própria conta”. “Soberania de Deus”, nesse caso, seria a capacidade de Deus planejar e ajustar sua ação

limitado pelas decisões humanas. Eleição seria o ato de Deus registrar em uma lista, como

escolhidos, aqueles que ele sabe que crerão no evangelho, sem, de fato, decidir

especificamen-te quem são eles. No fim das contas, Deus não realizaria nenhuma escolha real; esta caberia

somente aos homens. O definidor último da salvação do homem é o próprio homem; o

siner-gismo se torna monersiner-gismo!58

Um cristão com tal convicção louvaria a Deus assim: “Obrigado por mandar Jesus para me salvar e por respeitar minha capacidade de escolha. Eu acolho teu amor ó Deus!” Mas esse tipo de louvor seria dirigido a Deus com uma pitada de justiça própria (“minha capacidade”). Isso equivaleria a uma glória compartilhada pela salvação, muito distante das asserções da Escritura:

Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro (Is 45.6).

Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem (Is 48.11). Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor (1Co 1.30-31).

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.8-9).

Se isso não bastasse, é antibíblica a ideia de que o decreto divino pode ser frustrado pela recusa humana; a vontade do homem pode colocar obstáculo à execução do desejo de Deus. Olson afirma que um dos postulados do arminianismo é que a graça “não é irresistível”.59

Em uma declaração tipicamente semipelagiana, ele propõe que “as pessoas devem aceitar (ao não resistir) esta graça de Cristo no intuito de se beneficiarem plenamente dela”.60 Levada às

últimas consequências, a conjectura de que a vontade do homem pode impedir a realização da vontade de Deus conduz a outra heresia, denominada teísmo aberto.61

58 Teólogos contemporâneos afirmarão que exageramos aqui, pois o arminianismo clássico se esforça por manter em equilíbrio a soberania de Deus e a responsabilidade ou contribuição humana na salvação. Olson, por exemplo, diz que “alguns calvinistas adotaram a prática de chamar de semipelagiana toda teologia que não atendesse às exigên-cias do calvinismo rígido (TULIP). Tal noção, entretanto é incorreta” (OLSON, op. cit., p. 39; grifo nosso). Os que abraçam a doutrina da salvação resumida nos Cânones de Dort são chamados de “calvinistas rígidos”. 59 Ibid., p. 41.

60 Ibid., p. 43.

61 Não há espaço aqui para abordar o teísmo aberto. Para mais informações, cf. LOPES, Augustus N. Teologia

Re-lacional: Suas Origens, Seu Ensino, Suas Consequências. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [20--?];

WARE, Bruce A. Teísmo Aberto: A Teologia de um Deus Limitado. São Paulo: Vida Nova, 2010. Um dos influen-ciadores do teísmo aberto é Clark Pinnock; cf. FERREIRA, Franklin. Teísmo Aberto. In: Revista Teologia

(30)

17

A “solução” que não soluciona Tudo isso contraria o que o Senhor nos fala por meio de Isaías:

Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? (Is 43.13).

Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei (Is 46.9-11).

Uma das possibilidades trágicas de negar a depravação total e a eleição incondicional, é assumir uma religião mágica e antropocêntrica: Se o homem não decidir, não agir e não disser as palavras certas, Deus, por sua vez, mesmo que queira, não agirá. Uma solução falsa que, em seu âmago, não passa de idolatria do homem, com nova roupagem.

Se queremos compreender a eleição temos de olhar mais de perto para a Bíblia. É o que faremos a partir do próximo capítulo.

e

Daí

?

Diante de propostas de “soluções” que nem sempre solucionam nada, temos de pedir a Deus sabedoria e iluminação. O estudo da eleição e redenção exige dependência do Espíri-to SanEspíri-to e completa subordinação à sua Palavra. Que possamos prosseguir com humildade e boa disposição. E que o fruto do estudo seja uma devoção maior e mais sincera a nosso Senhor Jesus Cristo.

a

tiviDaDes

1. Marque a única alternativa correta. Os calvinistas ensinam que:

( ) A causa única da eleição (o que move Deus a escolher o homem) é seu beneplácito (“em amor”).

( ) Deus escolhe o homem por causa dos méritos de Cristo.

2. Marque Verdadeiro ou Falso. O dito popular — “faça sua parte e eu te ajudarei” — é correto e bíbli-co quando aplicado na doutrina da salvação.

___ VERDADEIRO __ FALSO.

3. Complete a frase: Embora Cristo seja o fundamento da salvação, ele não pode com isso ser chamado o fundamento da _________________.

4. Marque Verdadeiro ou Falso. Deus Pai elegeu Jesus Cristo como redentor, mas não elegeu o João, nem a Maria, individual e especificamente.

___ VERDADEIRO __ FALSO.

5. Marque Verdadeiro ou Falso. A ideia de que a vontade do homem pode impedir a realização da von-tade de Deus é um erro que abre espaço para outra heresia, denominada teísmo aberto.

___ VERDADEIRO __ FALSO.

2017. Não é sem razão que Pinnock participou de uma discussão sobre a predestinação, sugerindo que “Deus

limita seu conhecimento”; cf. FEINBERG, John; GEISLER, Norman; REICHENBACH, Bruce; PINNOCK,

(31)

18

3 Pactos, antítese, linhagens e eleição

A Bíblia é comparada a um instrumento cirúrgico capaz de dividir o indivisível:

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4.12).

Cirurgiões experientes sabem que o modo de se achegar à parte do corpo a ser opera-da é importante — eles têm mais chances de ser bem-sucedidos quando obtêm o melhor ângulo de aproximação para incisão. Semelhantemente, a delicada operação da Palavra de Deus na alma exige aproximação cuidadosa — e na medida do possível, exata. A ausência desse cuidado abre espaço para resultados desastrosos, quando não a morte. Especialmente quando estudamos a predestinação e eleição.

Este capítulo propõe uma abordagem apropriada. A doutrina da eleição é melhor compreendida no contexto dos pactos da criação, das obras, da redenção e da graça, bem como da antítese estabelecida por Deus em Gênesis 3.15. Além disso, é proveitoso observar como estes temas se desdobram em Gênesis, Malaquias e no NT.

3.1 Uma breve recapitulação da criação e da queda

Em Criação e Queda, explicamos que a Bíblia revela Deus firmando pactos ou alianças (da

criação, das obras, da redenção e da graça). No primeiro pacto, o homem foi criado para

ter comunhão com Deus em amor e obediência (mandato espiritual).62 Como vice-gerente

do Criador, ele tinha de cuidar do mundo e transformá-lo (mandato cultural), além de viver em família e interagir em sociedade (mandato social).63 A fim de saber que não é

Deus e amadurecer em fé e obediência, o homem foi submetido a um teste-prova, também conhecido como pacto das obras64 e, no fim das contas, desobedeceu a Deus, caindo em

estado de total depravação.65

No protoevangelho66 de Gênesis 3.15, graciosamente Deus prometeu a vinda de Jesus

como redentor que seria ferido na cruz, mas venceria a serpente definitivamente.67 Deus

mesmo estabeleceu-se uma “inimizade” (antítese) entre a linhagem da serpente e a de Je-sus. Esta promessa desdobra um pacto entre Deus Pai e Deus Filho, denominado pacto

da redenção (pois assegura a redenção do homem e da criação).68 Um detalhe importante

deste pacto da redenção, é que ele foi “estabelecido na eternidade passada”.69 A partir dele,

62 NASCIMENTO; PORTO, op. cit., p. 9-10, 16-18. Os textos bíblicos que servem de base para todas as afirma-ções desta seção podem ser conferidas em ibid., passim.

63 Ibid., p. 19-21. 64 Ibid., p. 22-23. 65 Ibid., 26-34.

66 “Proto” significa “primitivo” ou “primeiro”, e evangelho quer dizer “boas notícias”. Protoevangelho tem o senti-do de primeiras boas novas; cf. ibid., p. 36.

67 Ibid., p. 36-37. 68 Ibid., p. 36-43.

Referências

Documentos relacionados

Há uma grande expectativa entre os cientistas de que, nesta próxima década, novos resultados de observações cosmológicas, aliados aos resultados dos grandes aceleradores como o

Na região de temperatura de medida este parâmetro é aproximadamente constante e independente da temperatura (figura 6). A partir dos parâmetros intragranulares pode- se estimar,

Este trabalho teve como objetivo investigar quais os fatores motivacionais são considerados mais importantes para a prática da Educação Física no Ensino Médio A maioria dos

O recurso à nação como narração enfatiza a insistência do poder político e a autoridade cultural naquilo que Derrida descreve “o excesso irredutível do sintático sobre

Quando alguém entra em contato com as revelações da Verdade Absoluta, sejam trazidas por Krishna, Buda, Jesus, Paulo, ou por quaisquer outros profetas ou mensageiros,

As especificações técnicas apresentadas correspondem nas informações standard no momento da impressão e estão sujeitas a modificações sem aviso prévio.. Os parâmetros

O trabalho teve como objetivos o estudo da evapotranspiração e necessidades hídricas do tomateiro em condições de campo, utilizando-se dois sistemas de condução da cultura; Estudar

c) Na data de cassação de licença para uso e porte de armas ou sua detenção, ou quando for aplicada ao segurado pena acessória de interdição de detenção, uso e porte de armas,