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RP DE IDOSOS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA, NÃO USUÁRIOS DE APARELHOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Caroline Gil de Oliveira1; Débora Lüders2

RESUMO: Introdução: A deficiência auditiva pode impactar negativamente na comunicação e na qualidade de vida dos idosos, levando-os a limitar as conversas com amigos e familiares. Objetivo: Revisar publicações científicas que abordam a RP de idosos, não usuários de aparelhos de amplificação sonora individual. Metodologia: Foram pesquisados estudos dos últimos cinco anos, em periódicos nacionais e internacionais, nas bases de dados LILACS E MEDLINE, com os seguintes critérios de inclusão: artigos originais, nos idiomas português, espanhol e inglês, e de exclusão: artigos repetidos, resenhas, anais, artigos de opinião, editoriais, teses, dissertações e artigos que não abordaram diretamente o tema proposto. Resultados: Foram encontrados 99 estudos. Após aplicados os critérios de inclusão e exclusão, sete artigos foram selecionados para análise. Os idosos possuem idade média de 74,5 anos, maioria do mulheres, perda auditiva de grau moderado e grau de RP variando de leve a significativo. Somente dois artigos abordaram o estado civil, sendo que a maioria tem companheiro, e somente três artigos abordaram a escolaridade, sendo que a maioria tem ensino fundamental completo. Conclusão: Idosos que não utilizam aparelhos de amplificação sonora apresentam maior RP à medida que a idade e o grau de perda auditiva aumentam. Não foi possível verificar se há relação entre estado civil, escolaridade e RP, havendo, portanto, necessidade de mais estudos sobre essa relação. Os questionários Hearing RP Inventory for Elderly (HHIE) e sua versão reduzida (HHIE-S) são instrumentos sensíveis para medir a RP de idosos.

Palavras-chave: Perda Auditiva; Idoso; Inquéritos e Questionários; Fonoaudiologia.

1 Universidade Tuiuti do Paraná – Graduação em Fonoaudiologia / gilcarol39@hotmail.com

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Introdução

A transição demográfica global tem ocorrido rapidamente. Projeções mostram que em 2060, o Brasil deve contar com 33,7% de idosos, contrastando com 28,3% de crianças e jovens. Segundo Veras (2009), a cada ano, 650 mil idosos são incorporados à população brasileira.

A diminuição da audição, resultante do processo natural de envelhecimento, caracteriza-se como sendo lentamente progressiva, com piora da sensibilidade auditiva, principalmente para sons de alta frequência, e dificuldade para a compreensão de fala, que piora em ambientes mais ruidosos (RUSSO, 2004). Com isso, os idosos acabam relatando dificuldade em participar de conversas ou de falar ao telefone, em localizar uma fonte sonora, em ouvir alarmes, telefone e campainha da porta tocando, veículos se aproximando e referem necessidade de aumentar o volume da televisão

ou rádio (DAWES et al., 2015; AMARAL & SENA, 2004; SONCINE, COSTA, OLIVEIRA, 2004;

CALAIS et al. 2008).

De acordo com Levassuer et al. (2010), a participação social é entendida como o envolvimento

de uma pessoa em atividades que proporcionam interação com outras pessoas na sociedade ou na comunidade, sendo um fator determinante para o envelhecimento bem-sucedido e saudável, e um importante objetivo de intervenção para os profissionais de saúde.

Entre os idosos, a participação social é um indicador confiável da sua condição de saúde, bem-estar, engajamento em atividades sociais e produtivas e está associada a resultados positivos em diversos indicadores de saúde (HAYWOOD, GARRATT E FITZPATRICK, 2005; MENDES DE LEON,

GLASS E BERKMAN, 2003; POLLACK & VON DEM KNESEBECK, 2004; WANG et al., 2002).

O aparelho de amplificação sonora individual (AASI) tem eficiência comprovada para a maioria das deficiências auditivas neurossensoriais. No Brasil estes dispositivos são oferecidos gratuitamente

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Porém, são altas as taxas de abandono ou uso descontinuado do AASI, em função do desempenho aquém das expectativas do usuário, sobretudo em ambientes ruidosos (BLASCA,

2015; SCHARLACH et al.,2015).

Além da incapacidade auditiva resultante do grau de perda auditiva, é necessário considerar-se, no processo de reabilitação do idoso, a restrição de participação (RP) por ele percebida (handicap auditivo).

A RP é definida como uma desvantagem imposta pela perda auditiva, que envolve mais do que o grau e tipo da perda, sendo considerada como uma percepção do próprio individuo a respeito da sua limitação auditiva. São manifestações sociais e psicológicas decorrentes da perda, que podem afetar as interações interpessoais, privando o individuo de relações sociais e assim comprometendo a qualidade de vida. Contudo, pode não haver uma relação direta entre o grau de perda auditiva e o grau de RP. Sujeitos podem ter uma perda auditiva significante, mas uma RP mínima, bem como possuírem uma perda mínima, mas terem uma RP significativa (FARIA e IORIO, 2004).

Frente a este cenário, o presente estudo teve como objetivo revisar publicações científicas na literatura que abordam a RP de idosos, não usuários de aparelhos de amplificação sonora individual.

Metodologia

Trata-se de uma Revisão Integrativa de Literatura, que permite o levantamento e análise de pesquisas anteriores publicadas em bases de dados virtuais. Primeiramente foi constituída a pergunta norteadora da pesquisa: Idosos com deficiência auditiva que não fazem uso de aparelho

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A seleção dos descritores foi elaborada por meio da consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e os mesmos foram combinados entre si com a utilização dos operadores booleanos AND e OR. Foram utilizados os seguintes descritores em Português, Inglês e Espanhol: “Perda Auditiva” (“Hearing Loss” e “Pérdida Auditiva”), “Idoso” (“Aging” OR “Elderly” e “Anciano”

OR Envejecimiento”), “Handicap Auditivo” OR “Restrição de participação” (“Hearing Handicap”

e “Restricion de Participación” OR “Descapacidad Auditiva”) nas bases de dados LILACS E MEDLINE.

Foram utilizados a seguinte ordem de descritores:

• Em inglês: Aging OR Elderly AND “Hearing Loss” AND “Hearing Handicap”;

• Em espanhol: Anciano OR Envejecimiento AND “Restricción de Participación” OR “Discapacidad Auditivo”;

• Em português: Idoso OR Envelhecimento AND “Perda Auditiva” AND “Restrição de

Participação” OR “Handicap Auditivo”.

Os critérios de inclusão foram: artigos originais, disponíveis gratuitamente no formato completo, publicados em português, espanhol e inglês, entre 2014 e 2019. Os critérios de exclusão foram: artigos repetidos, resenhas, anais de congresso, artigos de opinião, artigos de reflexão, editoriais, teses, dissertações, boletins epidemiológicos, artigos que não abordaram diretamente o tema deste estudo.

Inicialmente, os estudos foram selecionados com base na leitura dos títulos e resumos. Em segundo momento, foram lidos na íntegra e selecionados segundo o tema proposto. O protocolo de análise dos artigos constou de objetivo da pesquisa, métodos e as variáveis analisadas por cada instrumento. Após análise dos artigos, buscou-se verificar, quando possível, a relação existente

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Resultados e discussão

No resultado da busca, foram encontrados 99 estudos nas bases de dados pesquisadas. Desses estudos, um foi excluído por ser repetido, sendo considerada apenas a primeira ocorrência. Com base nos critérios de inclusão, foram selecionados 40 artigos. Após a aplicação dos critérios de exclusão, foram selecionados 33 estudos para leitura na íntegra. Destes, 25 foram excluídos por não responderem à pergunta norteadora do estudo e um foi excluído por não apresentar os resultados da aplicação de instrumentos para avaliar a restrição à participação. Ao final, sete artigos foram selecionados para a revisão.

Autor (ano) País Objetivo de estudo

1 Carniel et al. 2017 Brasil Avaliar, por meio de questionários padronizados, a qualidade de vida de idosos com deficiência auditiva diagnosticada que utilizam ou não a prótese auditiva (AASI) e de idosos sem queixa auditiva.

2 Luz, Ghiringhelli e Iório, 2017. Brasil Estudar a restrição de participação em atividades diárias e processos cognitivos em idosos, novos usuários de próteses auditivas.

3 Moser, Luxemberger e Freldl, 2017. Áustria Explorar a influência dos problemas auditivos, as diversas estratégias de enfrentamento e o suporte social percebido por idosos na qualidade de vida.

4 Eckert, Matthews e Dubno, 2017. EUA Investigar a relação entre a auto percepção de restrição de participação e medidas de reconhecimento de fala no ruído.

5 Liu, Han e Yang, 2016 China Investigar o efeito da perda auditiva na qualidade de vida de pessoas com mais de 80 anos na China e comparar os resultados da versão chinesa do HHIE e do HHIE-S. 6 Shresta et al. 2014 Nepal Iidentificar o impacto da perda auditiva na vida social de idosos.

7 Barbosa, et al. 2015 Brasil Avaliar o impacto das próteses auditivas em idosos por meio do Inventário de Handicap Auditivo para Idosos (HHIE).

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Na análise dos artigos selecionados verificou-se que:

• Em todos eles foram utilizados os questionários HHIE ou HHIE-S para verificar a restrição de participação dos idosos.

• O grau de restrição de participação variou de leve a significativo.

• O grau de perda auditiva predominante entre os idosos foi grau moderado. • Em relação à idade, a média foi de 74,5

• A maioria dos idosos que participou da pesquisa eram do sexo feminino.

• Em relação ao estado civil, somente dois artigos abordaram essa variável sendo que a maioria tem companheiro.

• Em relação à escolaridade, somente três artigos abordaram essa variável sendo que a maioria tem o ensino fundamental completo.

• A maioria dos estudos foram realizados em hospitais.

Ao analisar os artigos selecionados, percebe-se que existe uma forte ligação entre o grau de perda auditiva e RP, pois quanto maior a perda auditiva dos idosos maior prejuízo social ele percebe ter. A mesma relação foi percebida em relação a idade dos idosos e o grau de RP. O sexo não apresentou relação com a RP (1,2,6).

Quanto à escolaridade, somente três artigos (1, 3 e 4) discutiram essa variável: o artigo 1 mostrou que o grupo sem aparelho auditivo tem menos escolaridade, porém o artigo não comparou com a RP e sim com a qualidade de vida, ou seja, quem tem menor escolaridade tem uma menor qualidade de vida. Já no artigo 3, 70,3% dos sujeitos tem ensino fundamental, porém a escolaridade não foi

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fizeram relação entre a escolaridade e a RP. Sobre o estado civil, somente dois artigos abordaram essa variável, porém não relacionaram com a RP. O artigo 1 refere 43,3% dos sujeitos sem companheiro e o artigo 3, 70,3% com companheiro.

Os quatro artigos (1,2,3,7) que compararam idosos usuários e não usuários de AASI concluíram que a RP é maior entre aqueles que não utilizam, mostrando, assim, o benefício oferecido pelo dispositivo.