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2.5 CENTROS CULTURAIS E DE EVENTOS

2.5.1 Definição

Segundo Alves (2013), a arquitetura se compõe de duas facetas: a parte física e a parte subjetiva. Como parte física, entende-se todos os elementos objetivos da disciplina, como os cálculos, desenhos e representações de um edifício. Já a parte subjetiva é caracterizada pelo papel da arquitetura no meio em que está inserida, como elemento urbano e sociocultural. A experiência do espaço proporcionada pela disciplina agrega, tanto ao objeto arquitetônico como ao usuário, uma troca de sensações e informações que modificam a relação do ser humano com o local onde vive. “Dessa forma, as interpretações requalificam os espaços e as relações humanas e sociais se reconstroem, enriquecendo e tornando ainda mais complexo o habitar do homem no mundo.” (ALVES, 2013, p. 47, grifo do autor). Alves continua ainda, afirmando que os edifícios, além de cumprir sua função de abrigo, também representam a cultura de uma época. Portanto, os museus e centros culturais não escapam à essa conclusão.

Até a Idade Média, o colecionismo de obras de arte estava diretamente ligado à acumulação de riquezas pelos mais abastados. A partir do renascimento, as obras de arte começam a ganhar um novo caráter – estético e histórico (figura 07). Ainda no século XVIII, as grandes coleções de obras de arte permaneciam inacessíveis ao público em geral; apenas em ocasiões especiais eram realizadas exposições em privado. Com o advento da Revolução Francesa e seus novos ideais, finalmente as obras de arte são consideradas patrimônios nacionais – como nos casos de 1753, no British Museum de Londres; 1760 na Galeria de Kassel e 1793, no Louvre. Entretanto,

apenas no século XIX os museus passam a receber o público em geral, sem discriminações de classe (LEON, 1995).

Figura 7 - O Arquiduque Leopoldo Guillermo em sua galeria de pinturas em Bruxelas, de David Teniers II (1651). Fonte: (Wikipedia).

Através das mudanças que a sociedade enfrentava, seja no campo econômico ou político, o público dos museus também sofreu alterações. O homem passou a substituir seus ídolos e mitos por outros palpáveis, compreensíveis à sua capacidade. Segundo Leon (1995, p. 56, grifo do autor, tradução nossa):

“[...] a tradicional utilitas vitruviana começou a ser entendida como ‘funcionalidade’ (na arquitetura de museus Le Corbusier, Victor Horta, Moholy-Nagy, Wright,..., definiram as bases racionalistas e funcionais do museu moderno)”.

Com a mudança de seu público, os museus também precisaram mudar: passaram da “era da aquisição” para a “era da utilização”. A partir dos anos 1970, técnicas de informática e eletrônica chegam aos museus, marcando uma nova fase das instituições culturais. Os museus passam a abrigar as mais diversas expressões

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culturais, também se preocupando com a região onde são implantados e seu caráter dinâmico de projeto (LEON, 1995).

Nesse contexto, surgem os centros culturais – desmembramento dos museus, considerados “versões atualizadas e aprimoradas das Maisons de la Culture” (GROSSMANN, 2011, p. 206). O mais famoso deles, o Centro Nacional de Arte e Cultura Georges Pompidou (figura 08) em Paris, é considerado uma “obra aberta”, onde o público é convidado a participar. Sua arquitetura inovadora para a época (1977), de planta aberta e estrutura de tubos visíveis, atrai o público, exercendo sua função social, além de incitar o debate e a crítica (LEON, 1995).

Figura 8 - Centro Nacional de Arte e Cultura Georges Pompidou (Paris). Fonte: (Pinterest).

Sendo assim, pode-se concluir que entre os anos de 1960 e 1970, houve a transição de um internacionalismo artístico (fundamentado na criação e manutenção dos museus de arte moderna) para um globalismo cultural (que busca a relação entre as novas formas de estrutura de exposição e produção cultural – como os museus, centros culturais, bienais, feiras de arte, com a nova tecnologia de informação e comunicação virtuais atuais) (GROSSMANN, 2011). Essa diferenciação tipológica do edifício cultural se mostra importante devido às demandas da cidade contemporânea e de seus usuários. Os centros culturais abrigam diversas funções, além daquelas características do museu tradicional, voltadas à cultura e ao público visitante.

Restaurantes, cafés, lojas, livrarias, bibliotecas, teatros, entre outros espaços passam a integrar os centros culturais, gerando um novo consumo cultural e espaços de lazer(TAVARES).

Gomes (2004) conta como a definição de lazer mudou no decorrer dos anos. Na primeira metade do século XX, lazer era considerado o espaço de tempo entre duas jornadas de trabalho, uma mera conquista trabalhista incluindo férias remuneradas. Entretanto, essa definição foi estudada e contestada por diversos autores ao longo dos anos, que ao invés de separarem os âmbitos do trabalho e do lazer, os aproximaram cada vez mais. Assim, Gomes define o lazer como:

[...]uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações, especialmente com o trabalho produtivo. (GOMES, 2004, p. 125)

Segundo Pellegrin (2004), espaço de lazer pode ser definido como um local onde são desenvolvidas atividades, ações, projetos e programas de lazer; esse local abrange desde lugares específicos, um determinado equipamento, até espaços potenciais, como vazios urbanos e áreas verdes de uma cidade. De uma maneira mais ampla, o espaço de lazer também pode ser definido através de diversas áreas de conhecimento, como a geografia, a sociologia e a arquitetura.

Para Le Corbusier (1993), os espaços de lazer são áreas livres que costumavam “acolher as atividades coletivas da juventude, propiciar um espaço favorável às distrações, aos passeios ou aos jogos das horas de lazer”, mas que com o avanço das cidades e de suas construções, tornaram-se escassos e foram substituídos por espaços cercados e não conectados.

Tomaram forma como espaços de lazer construídos, além dos centros culturais já comentados, teatros, cinemas, clubes, entre outros. Esses espaços foram construídos ou adaptados a partir das necessidades que suas atividades demandavam, além das condições econômicas dos sócios. Assim, os clubes surgiram em distintas modalidades, como espaços destinados aos esportes, aos encontros sociais, sindicais ou militares, e aos estrangeiros. Essa última categoria destina-se ao acolhimento de pessoas de uma mesma nacionalidade, onde sua reunião visa a superação da distância de sua terra natal e o inicial estranhamento com o país onde

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agora vivem, além da aproximação entre estrangeiros e brasileiros, afim de disseminar a cultura do país no Brasil. Com isso, são estabelecidos espaços onde os associados se encontram com o objetivo de confraternizar, realizar festas e recepções oficiais, ademais de celebrar a cultura de seu país nativo (BIERRENBACH, 2016).

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