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2.5 CENTROS CULTURAIS E DE EVENTOS

2.5.2 Relação com o espaço público

Segundo Alomá (2013), espaço público pode ser considerado “[...]o lugar da cidade de propriedade e domínio da administração pública, o qual responsabiliza ao Estado com seu cuidado e garantia do direito universal da cidadania e a seu uso e usufruto.” Sua origem se deu através do processo de apropriação elitista e privada da cidade pelos burgueses, que dividiam a cidade, limitada apenas por eixos viários. Com o passar da história, mudanças econômicas e sociais proporcionaram um processo de democratização urbana. Borja (2006) comenta:

Eu recordo que em Barcelona foi quase uma revolução cultural quando a finais da década de sessenta ou a princípios da de setenta, os coletivos organizados nos bairros reclamavam, entre outras coisas, uma praça. [...]Propunha-se que não bastava com que houvesse um ônibus ou um centro de assistência sanitária retirado do lugar de residência, agora se necessitava

também uma praça, um centro cívico de encontro, um equipamento cultural, etc.

O espaço público ainda pode ser interpretado como um espaço qualificante, onde o usuário, em um processo de conquista social, se sente parte integrante da cidade, como os demais moradores da urbe (BORJA, 2006).

Para Alomá (2013), o espaço público contém inúmeras facetas objetivas: seu sistema viário, seu mobiliário urbano, seus edifícios e serviços públicos, entre outros. Também devem ser observadas as conotações subjetivas que o espaço público oferece – advinda do relacionamento e uso realizados neste (como por exemplo manifestações populares, acontecimentos históricos, relatos pessoais, etc.). Somados às características objetivas e subjetivas, ainda existe no espaço público a função primordial de conexão entre lugares e pessoas no perímetro da cidade, tornando-o assim democrático – em nacionalidade, espaço, idade e gênero.

Gehl (2013) analisa como o planejamento urbano vem esquecendo a dimensão humana nas cidades, deixando de lado o espaço público voltado aos pedestres, ao

passo que outros aspectos têm sido reafirmados como modelos, como por exemplo o acelerado aumento do tráfego de automóveis - pensamento influenciado principalmente pelo modernismo. A partir da virada do século, a população global passou a ser majoritariamente urbana; as cidades cresceram e se desenvolveram. Com o horizonte de contínuo crescimento, deve-se garantir que a urbe atenda às necessidades das pessoas que usufruem dela, fortalecendo seu desenvolvimento sustentável e reforçando sua função social. O planejamento e as estruturas da cidade induzem o comportamento humano e o funcionamento das cidades; portanto, é primordial que seja ofertado um espaço público de qualidade para os usuários.

Influenciado diretamente pelo uso das edificações em seu entorno, o espaço público sofre muitas vezes com seu uso inadequado. A falta de atenção e controle com esse espaço gera inúmeras problemáticas para a cidade, como insegurança, criminalização, ocupações, entre outros. Um exemplo prático é a monofuncionalidade de determinadas regiões da cidade, como a presença constante de comércio e serviços, e a quase completa ausência de residências; seus usos se restringem à um certo período de tempo, onde o bairro permanece saturado; e no restante do dia, sem o funcionamento dessas edificações, a região se torna isolada e solitária, gerando insegurança. Nesse cenário, os espaços públicos se tornam de especial relevância para estudos e projetos de recuperação urbana, uma vez que apresentam diversos conflitos e ainda mais potencialidades para a cidade. (ALOMÁ, 2013).

Guimaraens (2001) aponta que, a despeito das ideias protecionistas e preservacionistas por trás do movimento de revitalização de centros urbanos, essa causa permite que as cidades cresçam economicamente através de investimentos públicos e privados. Esses investimentos acontecem, principalmente, por meio da criação e manutenção do chamado “espaço cultural”, que engloba museus, teatros, salas de concerto, entre outros edifícios de cunho cultural. A presença desses novos edifícios retoma a antiga função do centro da cidade como praça de comércio, onde mercado de arte e cultura se desenvolviam, assegurando a sobrevivência de artistas e do espaço.

Um exemplo muito conhecido de revitalização de centros urbanos através de um edifício cultural é o caso da cidade de Bilbao (figura 09), capital do País Basco (Espanha). Localizada às margens do rio Nervión e dividida por ele, a cidade possuía a maior parte de suas atividades econômicas ali situadas. Configurada como uma

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cidade praticamente linear, sua ocupação era prioritariamente de grandes depósitos, galpões, indústria pesada e vias de transporte rodoviário e ferroviário, que criavam uma barreira entre a cidade e o rio.

Na década de 1960, Bilbao se consolida como polo siderúrgico e de construção naval. Entretanto, com o declínio da atividade industrial, a capital basca passa por um processo de decadência. Após a redemocratização da Espanha (1977) e o eminente risco ao patrimônio histórico do Centro Antigo (causado por inundações), a cidade começa a reverter sua situação desfavorável, através da elaboração de um Plano de Revitalização (1989).

O Plano trazia como objetivos a melhoria das infraestruturas e a recuperação urbana, a partir do centro e irradiando-se para os bairros, além da implantação de grandes equipamentos culturais e de serviços – nos terrenos livres na margem do rio desocupados devido ao fechamento dos antigos complexos industriais. Foram intervenções de infraestrutura levadas a cabo a reforma do sistema de transporte público, incluindo a instalação de metrô – cujas principais estações foram projetadas pelo arquiteto Norman Foster; a construção do novo aeroporto da cidade, projetado pelo arquiteto-engenheiro Santiago Calatrava; a modernização e ampliação do porto; e a execução de um plano de saneamento e recuperação ambiental do rio Nervión (FALCÂO, 2003).

Figura 9 - Foto aérea de Abandoibarra antes da construção do museu (Bilbao) Fonte: (FALCÃO, 2003).

Na década de 1980, a fundação Guggenheim iniciava um programa de ampliação de suas áreas de exposição, começado em Nova Iorque e levado à Europa. A fim de não rivalizar com os grandes museus europeus, a fundação escolhe se instalar em cidades fora dos grandes circuitos artísticos, como Salzburg (Áustria) e Bilbao. A cidade espanhola buscava formas de consolidar seu Plano de Revitalização, que mesmo com obras de arquitetos renomados (Foster e Calatrava), encontrava barreiras econômicas. Assim surge a associação entre Bilbao e Fundação Guggenheim, onde a cidade arcaria com os custos da construção do museu, enquanto que a Fundação seria responsável por sua operação.

Frank Gehry, ainda sem ser escolhido arquiteto do novo projeto, sugere o local onde hoje o museu se encontra, próximo ao centro, nas margens do rio e na confluência de duas vias principais (figura 10). Apesar das dificuldades que o terreno impunha, Gehry foi bem sucedido resolvendo a implantação do novo museu, solucionando o fluxo de veículos e pedestres, ademais da inserção na paisagem urbana – integrando o Museu, a cidade e o rio (FALCÃO, 2003). O museu representou, como explicado, uma grande parcela da eficácia do Plano de Revitalização de Bilbao, seja por ajudar a consolidá-lo quando nem mesmo outras obras de arquitetos importantes conseguiram fazê-lo, seja pela importância que hoje representa como polo atrativo de turismo – em seus dois primeiros anos de funcionamento, 2,5 milhões de visitantes conheceram a cidade (BORDOLON, 1999).

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3 ESTUDOS DE CASO

Esse capítulo tem por objetivo analisar projetos de relevância, nos âmbitos de função, plástica, estrutura, contexto e ambiente, a fim de propiciar embasamento projetual ao futuro projeto a ser desenvolvido. Foram escolhidos três edifícios que atendem, em algum aspecto, às características buscadas para a nova sede do Centro Espanhol do Paraná.

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