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A memória celebrada de um povo: a nova sede do Centro Espanhol do Paraná de Beneficência e Cultura

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Academic year: 2021

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CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ROBERTA VANESSA DIAS MATSUKURA

A MEMÓRIA CELEBRADA DE UM POVO: A NOVA SEDE DO CENTRO ESPANHOL DO PARANÁ DE BENEFICÊNCIA E CULTURA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2018

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ROBERTA VANESSA DIAS MATSUKURA

A MEMÓRIA CELEBRADA DE UM POVO: A NOVA SEDE DO CENTRO ESPANHOL DO PARANÁ DE BENEFICÊNCIA E CULTURA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo do

Departamento Acadêmico de

Arquitetura e Urbanismo (DEAAU), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Msc. Thais Saboia Martins.

CURITIBA 2018

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TERMO DE APROVAÇÃO

A memoria celebrada de um povo: A nova sede do Centro Espanhol do Paraná de Beneficência e Cultura

Por

ROBERTA VANESSA DIAS MATSUKURA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 11 de Junho de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Rodolfo Sastre UNIVERSIDADE POSITIVO - PR

Prof. Isabel Borba UTFPR

Prof. Rogerio Shibata UTFPR

Prof. Thais Saboia Martins (orientadora) UTFPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR

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Aos meus pais, Terezinha e Roberto, por me apoiarem, me ouvirem e darem seus conselhos que me fizeram chegar até aqui.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente à Deus, por, mesmo sem eu saber, me dar forças para que eu pudesse finalizar esse trabalho. Em segundo lugar, gostaria de agradecer aos meu pais, as pessoas mais importantes da minha vida, que me apoiaram e me ouviram falar sobre esse trabalho durante um semestre inteiro. Também gostaria de agradecer aos meus amigos acadêmicos, os que me acompanharam ou não nessa primeira caminhada ao diploma de Arquiteto e Urbanista, por sentirem as mesmas angústias e incertezas desse processo. Aos meus amigos de fora da universidade, que me viram ainda menos que o de costume, mas que continuaram me mandando apoio mesmo de longe. À minha orientadora, que me guiou até este momento com conhecimento, paciência e dedicação. E aos demais que, de uma forma ou de outra, me ajudaram durante esta etapa; muito obrigada.

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“Tenías la pasión que da el cielo de España.”

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RESUMO

MATSUKURA, Roberta Vanessa Dias. A memória celebrada de um povo: a nova sede do Centro Espanhol do Paraná de Beneficência e Cultura. 2017. 99 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso – Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

O presente trabalho tem como objetivo elaborar as bases para o projeto arquitetônico de uma nova sede para o Centro Espanhol do Paraná de Beneficência e Cultura. O Centro Espanhol do Paraná é, há 44 anos, referência para espanhóis, descendentes e simpatizantes da cultura espanhola na cidade de Curitiba, e tem como principal propósito a celebração da cultura espanhola, através de suas mais variadas manifestações – como a dança e a gastronomia. O terreno onde está localizado há quase meio século não comporta as atividades atualmente realizadas no Centro, e suas instalações carecem de infraestrutura adequada. Afim de alcançar o objetivo deste trabalho, foram realizadas pesquisas teóricas fundamentando os conceitos de cultura, manifestações culturais, história da Espanha e sua imigração no Brasil, centros culturais e sua relação com o espaço público. Foram analisados também estudos correlatos nacionais e internacionais. Por fim, foi estudada a atual situação do Centro, e estabelecidas diretrizes projetuais para o futuro projeto.

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RESUMEN

MATSUKURA, Roberta Vanessa Dias. La memoria celebrada de un Pueblo: la nueva sede del Centro Español de Paraná de Beneficencia y Cultura. 2017. 99 hojas. Trabajo fin de grado – Grado en Arquitectura y Urbanismo, Universidade Tecnológica do Paraná. Curitiba, 2017.

El presente trabajo tiene como objetivo la elaboración de bases para el proyecto arquitetónico de una nueva sede para el Centro Español de Paraná de Beneficencia y Cultura. El Centro Espanhol de Paraná es, hace 44 años, referencia para españoles, descendientes y simpatizantes de la cultura española en la ciudad de Curitiba, y tiene como principal propósito la celebración de la cultura española, por medio de muchas de sus manifestaciones – como el baile y la gastronomía. El terreno dónde está hubicado hace casi medio século no comporta las atividades atualmente realizadas en el Centro, y sus instalaciones carecen de infraestrutura adecuada. Con la finalidad de alcanzar el objetivo del trabajo, fueran realizadas pesquisas teóricas fundamentando los conceptos de cultura, manifestaciones culturales, história de España y su imigración hacia Brasil, centros culturales y su relación con el espacio público. Fueron analisados también estudios correlatos nacionales e internacionales. Por fín, fue estudiada la atual situación del Centro, y estabelecidas diretrizes proyectuales para el futuro proyecto.

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ABSTRACT

MATSUKURA, Roberta Vanessa Dias. A people celebrated memory: Paraná's Spanish Center's new headquarters for Benefit and Culture. 2017. 99 pages. Undergraduate Thesis – Bachelor's degree in Architecture and Urbanism, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

This undergraduate thesis aims to elaborate on the basis for the architectural project for new the headquarters of Paraná's Spanish Center for Benefit and Culture. Paraná's Spanish Center has been, for 44 years, a reference to Spanish people, descendants and sympathizers of the Spanish culture in the city of Curitiba and has as a main purpose the celebration of the Spanish culture through its many manifestations – such as dance and gastronomy. The ground where it is located for almost half a century no longer can hold the activities currently in course and its installations lack adequate infrastructure. In order to reach this project's objectives, theoretical research was conducted about concepts of culture, cultural manifestations, Spanish culture and its immigration do Brazil, and culture centers and their relationship with the public space. Furthermore, national and international studies were analyzed. Lastly, the Center's current condition was studied in order to establish guidelines for a future project.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Comunidades Autônomas da Espanha. Fonte: (Gobierno de España, 2017) ... 23 Figura 2- Aqueduto de Segóvia (séc. I). Fonte: (Arquitetura Clássica, 2015). ... 24 Figura 3 - Apresentação de flamenco em Córdoba (Espanha). Fonte: (Glauco Damas, 2016). ... 26 Figura 4 - Filmes de Pedro Almodóvar. Fonte: (MacGuffin007, 2012). ... 27 Figura 5 - Mare de Déu de la Salut, Algemesí. Fonte: (Generalitat Valenciana, 2015). ... 28 Figura 6 - Mapa da Província do Guairá. Fonte: (BAPTISTA, 2011, p. 79). ... 33 Figura 7 - O Arquiduque Leopoldo Guillermo em sua galeria de pinturas em Bruxelas, de David Teniers II (1651). Fonte: (Wikipedia). ... 36 Figura 8 - Centro Nacional de Arte e Cultura Georges Pompidou (Paris). Fonte: (Pinterest). ... 37 Figura 9 - Foto aérea de Abandoibarra antes da construção do museu (Bilbao) Fonte: (FALCÃO, 2003). ... 41 Figura 10 - Museu Guggenheim em Bilbao. Fonte: (Archdaily, 2016) ... 42 Figura 11 - Sede Social do Jóquei Clube de Goiás. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 43 Figura 12 - Localização da Sede Social do Jóquei Clube de Goiás. Fonte: Google Maps (com complementações da autora). ... 44 Figura 13 - Croqui de implantação e corte. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 126). ... 45 Figura 14 - Planta do 1º pavimento. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 127) com complementações da autora. ... 46 Figura 15 - Planta do 2º pavimento. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 128) com complementações da autora. ... 46 Figura 16 - Planta do 3º pavimento. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 129) com complementações da autora. ... 47 Figura 17 - Corte mostrando iluminação zenital e vestiários. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 129) com complementações da autora. ... 47 Figura 18 - Aberturas para iluminação e ventilação dos vestiários. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 48 Figura 19 - Sistema construtivo. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 48 Figura 20 - Centro de Tradições Lo Barnechea. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 50

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Figura 21 - Localização do Centro de Tradições Lo Barnechea. Fonte: Google Maps (com complementações da autora). ... 51 Figura 22 - Relação com o espaço público. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 51 Figura 23 - Escadaria de acesso. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 52 Figura 24 - Planta Subsolo 2. Fonte: (Archdaily, 2014), com complementações da autora. ... 52 Figura 25 - Planta Subsolo 1. Fonte: (Archdaily, 2014), com complementações da autora. ... 53 Figura 26 - Planta primeiro pavimento. Fonte: (Archdaily, 2014), com complementações da autora. ... 53 Figura 27 - Planta segundo pavimento. Fonte: (Archdaily, 2014), com complementações da autora. ... 54 Figura 28 - Corte mostrando acessos por escadas. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 54 Figura 29 - Elevação norte indicando entradas de iluminação zenital. Fonte: (Archdaily, 2014), com complementações da autora. ... 55 Figura 30 - Pilares adentrando a edificação. Fonte: (Archdaily, 2014). ... 55 Figura 31 - Centro Cultural Arauco. Fonte: (Elton Léniz). ... 57 Figura 32 - Localização do Centro Cultural Arauco. Fonte: (Plataforma Arquitectura, 2017). ... 58 Figura 33 - Planta pavimento térreo. Fonte: (Plataforma Arquitectura, 2017), com complementações da autora. ... 59 Figura 34 - Planta primeiro pavimento. Fonte: (Plataforma Arquitectura, 2017) com complementações da autora. ... 60 Figura 35 - Brises de madeira na biblioteca. Fonte: (Plataforma Arquitectura, 2017). ... 61 Figura 36 - Elementos em madeira no projeto. Fonte: (Ambientes Digital). ... 62 Figura 37 - Aspectos plásticos do projeto. Fonte: (Plataforma Arquitectura, 2017). .. 63 Figura 38 - Localização dos espaços dedicados à cultura espanhola em Curitiba. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 66 Figura 39 - Praça da Espanha. Fonte: (Gazeta do Povo, 2017)... 68 Figura 40 - Casa de Leitura Miguel de Cervantes. Fonte: (Gazeta do Povo, 2017). . 69 Figura 41 - Localização e equipamentos do bairro Prado Velho. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 70

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Figura 42 - Festa em homenagem ao Dia Nacional da Espanha (01/10/2017). Fonte:

(AUTORA, 2017). ... 71

Figura 43 - Apresentação da Companhia de Dança Flamenca no Centro Espanhol do Paraná (01/10/2017). Fonte: (AUTORA, 2017). ... 72

Figura 44 - Localização do Centro Espanhol do Paraná. Fonte: Google Earth (com complementações da autora). ... 73

Figura 45 - Fachada atual do Centro Espanhol do Paraná. Fonte: Google Maps. .... 73

Figura 46 - Croqui da organização espacial do Centro Espanhol do Paraná. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 74

Figura 47 - Restaurante Los Toros. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 75

Figura 48 - Sala de jogos. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 75

Figura 49 - Salão nobre. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 75

Figura 50 - Ginásio. Fonte: (AUTORA, 2017)... 76

Figura 51 - Situação atual do ginásio. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 77

Figura 52 - Situação atual da cozinha. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 77

Figura 53 - Masterplan da região. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 81

Figura 54 - Mapa Síntese do terreno. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 82

Figura 55 - Esquema de realocação das casas para manutenção do recuo obrigatório ao rio e aumento do terreno do Centro Espanhol do Paraná. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 83

Figura 56 - Situação atual das casas a serem realocadas. Fonte: Google Maps... 84

Figura 57 - Situação atual das casas a serem realocadas. Fonte: Google Maps... 84

Figura 58 - Organograma e fluxograma do projeto. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 88

Figura 59 - Perspectiva da fachada (fonte: AUTORA, 2018)... 89

Figura 60 - Esquema de ocupação do terreno. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 90

Figura 61 - Implantação (fonte: AUTORA, 2018). ... 91

Figura 62 - Planta Térreo (fonte: AUTORA, 2018). ... 92

Figura 63 - Planta Primeiro Pavimento (fonte: AUTORA, 2018). ... 93

Figura 64 - Corte passando pelo auditório e detalhe (fonte: AUTORA, 2018). ... 94

Figura 65 - Esquemas sobre estrutura (fonte: AUTORA, 2018). ... 94

Figura 66 - Esquemas de acessos, setorização e materialidade (fonte: AUTORA, 2018). ... 95

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Percentual de áreas para cada setor dos estudos de caso. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 65 Gráfico 2 - Proporção do programa de necessidades por setores. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 87

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Imigração para o Brasil, 1880-1900. Fonte: (KLEIN, 1994, p. 31). ... 29 Tabela 2 - Principais Grupos de imigrantes estrangeiros para o Brasil, 1820-1972. Fonte: (KLEIN, 1994, p. 36)... 31 Tabela 3 - Análise comparativa de áreas dos estudos de caso. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 64 Tabela 4 - Dados da Guia Amarela do terreno. Fonte: Guia Amarela do terreno, 2017. ... 79 Tabela 5 - Cálculo das áreas realocadas. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 84 Tabela 6 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 86 Tabela 7 - Transformação dos dados da Guia Amarela em valores correspondentes ao terreno. Fonte: (AUTORA, 2017). ... 87

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 17 1.1 PROBLEMA ... 19 1.2 HIPÓTESE ... 19 1.3 JUSTIFICATIVAS ... 19 1.4 OBJETIVO GERAL ... 20 1.5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 20 1.6 METODOLOGIA ... 20 2 CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA ... 21 2.1 CULTURA ... 21 2.2 CULTURA ESPANHOLA ... 23

2.2.1 Espanha: dados gerais ... 23

2.2.2 Manifestações culturais espanholas ... 25

2.3 IMIGRAÇÃO ESPANHOLA ... 28

2.3.1 Imigração espanhola no Brasil ... 28

2.3.2 Imigração espanhola no Paraná ... 32

2.4 INFLUÊNCIA ESPANHOLA NO BRASIL ... 34

2.5 CENTROS CULTURAIS E DE EVENTOS ... 35

2.5.1 Definição ... 35

2.5.2 Relação com o espaço público ... 39

3 ESTUDOS DE CASO ... 43

3.1 SEDE SOCIAL DO JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS ... 43

3.1.1 Aspectos contextuais... 44

3.1.2 Aspectos funcionais ... 45

3.1.3 Aspectos ambientais ... 47

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3.1.5 Aspectos plásticos ... 49

3.2 CENTRO DE TRADIÇÕES LO BARNECHEA ... 49

3.2.1 Aspectos contextuais... 50

3.2.2 Aspectos funcionais ... 51

3.2.3 Aspectos ambientais ... 54

3.2.4 Aspectos construtivos... 55

3.2.5 Aspectos plásticos ... 56

3.3 CENTRO CULTURAL ARAUCO ... 56

3.3.1 Aspectos contextuais... 57

3.3.2 Aspectos funcionais ... 58

3.3.3 Aspectos ambientais ... 60

3.3.4 Aspectos construtivos... 61

3.3.5 Aspectos plásticos ... 62

3.4 ANÁLISE COMPARATIVA DOS ESTUDOS DE CASO ... 63

4 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ... 66

4.1 ESPAÇOS DEDICADOS À CULTURA ESPANHOLA EM CURITIBA ... 66

4.2 ATUAL SEDE DO CENTRO ESPANHOL DO PARANÁ ... 69

4.2.1 Caracterização do bairro Prado Velho... 69

4.2.2 Atividades realizadas no Centro Espanhol do Paraná ... 70

4.2.3 Espaço físico do Centro Espanhol do Paraná ... 72

5 DIRETRIZES GERAIS DO PROJETO ... 79

5.1 DEFINIÇÃO DO TERRENO ... 79

5.2 PROPOSTA PROJETUAL ... 82

6 RESULTADOS ... 89

6. 1 CONCEITOS E PARTIDO ADOTADOS ... 89

6.2 ORGANIZAÇÃO ESPACIAL ... 90

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 96

8 REFERÊNCIAS ... 97

9 ANEXOS ... 103

ANEXO A ... 103

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1 INTRODUÇÃO

O Brasil é conhecidamente um país de diferentes nacionalidades, credos e culturas, graças aos imigrantes que aqui desembarcam há mais de quinhentos anos. Logo após portugueses e italianos, os espanhóis são o terceiro maior contingente de imigrantes que o Brasil já recebeu – informação alheia à muitos brasileiros. Iniciando sua vinda no século XVI junto aos portugueses, os espanhóis desembarcaram no continente americano em maior número durante os séculos XIX e XX.

Sem documentação extensa à respeito da imigração espanhola no Brasil, o que se sabe sobre esses imigrantes é que saíram de sua terra natal fugindo das péssimas condições de vida ali presentes, com baixos salários e falta de terra para plantio. Sendo um dos grupos mais desfavorecidos ao chegarem no país, demonstraram facilidade em se misturar com o povo nativo – o que pode explicar a ausência de “bairros espanhóis” pelas cidades brasileiras. Acompanhados de suas famílias, adotaram seus sobrenomes com a grafia do português (dificultando a contagem de seu número) e se instalaram principalmente nas regiões centro e sul.

No Paraná, a influência dos imigrantes espanhóis se iniciou em 1494, data em que se inicia o Tratado de Tordesilhas, que definia o território do estado quase totalmente pertencendo à Espanha. Sua ocupação, inicialmente no litoral – onde a atividade garimpeira atraía muitos exploradores – mais tarde se estendeu em direção à serra do mar. As planícies abertas propiciaram a criação de animais e a criação de vilarejos – sendo a primeira vila a futura cidade de Curitiba. Segundo o Arquivo Público do estado do Paraná, os imigrantes que chegaram tardiamente (após 1890) provinham em sua maioria das províncias andaluzes (como Málaga, Cádiz e Granada) e se instalaram no norte do estado. Entre 1950 e 1960 uma nova onda imigratória chegou ao país, fugindo da crise política, sendo catalães, galegos e andaluzes.

Atualmente, entre 10 e 15 milhões de espanhóis e descendentes vivem no Brasil. Acredita-se que a falta de números e dados mais precisos em relação à esse contingente de imigrantes possui algumas razões: os primeiros imigrantes que aqui desembarcaram eram pobres e possuíam muito pouca qualificação (não representando uma posição de destaque na época); depois que se estabeleceram no novo país, os espanhóis tenderam a casar-se com brasileiros, aparentando estarem muito mais inseridos à cultura brasileira do que outros grupos imigratórios.

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Entretanto, essas razões não excluem o fato dessa faixa da população imigrante e descendente cultivar ainda suas raízes e manifestações culturais – como a linguagem, a culinária e a dança – com o objetivo de se manter, ainda que afastados territorialmente, próximos à sua terra natal. Buscando esse objetivo, o Centro Espanhol do Paraná foi fundando por imigrantes espanhóis na cidade de Curitiba em 1973. O espaço abriga hoje quatro grupos de dança folclórica e organiza festas tradicionais espanholas para imigrantes, descendentes e simpatizantes dos costumes ibéricos. Funcionando como referência para a cultura espanhola na cidade, que não conta com nenhum espaço similar, o Centro Espanhol do Paraná está localizado no bairro Prado Velho, em um terreno que não comporta as atividades atualmente ali realizadas. Sua infraestrutura, com quase meio século, passou por algumas reformas esporádicas que não foram capazes de oferecer qualidade funcional e ambiental para o edifício.

Chegou-se à conclusão da necessidade de uma nova sede para esse espaço tão importante para a comunidade espanhola em Curitiba. Para tanto, foi realizada uma pesquisa teórica de embasamento ao tema proposto neste trabalho, a respeito do termo cultura, em especial sobre a cultura espanhola e suas manifestações, sua influência no Brasil, a definição de centros culturais e de eventos e sua relação com o espaço público.

Posteriormente, foram realizados estudos de caso correlatos ao tema deste trabalho, a fim de auxiliar na elaboração do futuro projeto. Não foi encontrado nenhum projeto com as exatas características do Centro Espanhol; desse modo, foram escolhidos casos – distintos em seus usos - com características consideradas relevantes a serem estudadas para serem tomados como base para futuras definições projetuais. Também foi realizada uma análise comparativa de áreas entre os casos.

Então, foi feito um mapeamento dos locais destinados à cultura espanhola na cidade de Curitiba, demonstrando a centralidade desses espaços, ademais de suas características distintas aos do Centro Espanhol. Também foram coletadas informações relacionadas à atual sede do Centro Espanhol do Paraná, com objetivo de demonstrar os espaços físicos onde são realizadas as atividades do Centro, e sua atual condição de funcionamento.

Finalmente, respaldada pelos estudos anteriores, são desenvolvidas as diretrizes projetuais da nova sede do Centro, no terreno onde se encontra atualmente.

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1.1 PROBLEMA

Ponto de encontro dos imigrantes espanhóis na cidade de Curitiba, e que atrai familiares e simpatizantes da cultura espanhola, o Centro Espanhol do Paraná, hoje localizado no bairro Prado Velho, tem sua sede datada de 1973. Com a contribuição dos sócios, e a arrecadação nas festas realizadas, o Centro realiza obras pontuais na edificação, que sente os efeitos do tempo. Poderia essa construção ser reformulada a fim de atender as novas necessidades de seus usuários? E seria viável que essa nova sede fosse trasladada a um novo bairro, mais central e com maior presença de espanhóis na cidade?

1.2 HIPÓTESE

Com o passar dos anos, os usuários do Centro Espanhol e suas necessidades foram mudando, porém o edifício que o abriga não acompanhou essas mudanças. Uma nova sede para o Centro poderia, além de atender as novas demandas, atrair um maior público de simpatizantes da cultura espanhola – fato que já ocorre – contribuindo para a disseminação da cultura ibérica e consequente arrecadação para a manutenção do Centro.

1.3 JUSTIFICATIVAS

Segundo Requixa (1980), equipamentos de lazer podem ser divididos em três categorias, do menor para o maior tamanho: microequipamento especializado (com pequenas dimensões e pequeno número de ususários); equipamento médio de polivalência (com dimensões médias e interesses mais variados); e o macroequipamento polivalente (de grandes dimensões, atendendo a um público maior durante os fins de semana, e localizado em um ponto estratégico da cidade por ser um dos poucos com essa função). Podem ser definidos como equipamentos de lazer “clubes, ginásios, Centros Culturais, piscinas, cinemas, parques, bibliotecas, centros esportivos, quadras, teatros, museus, entre outros“ (PINTO et al, 2012).

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A atual sede do Centro Espanhol do Paraná se localiza num bairro predominantemente residencial e de serviços, aparentemente pouco contextualizado no cenário imigratório da cidade de Curitiba – entretanto com um largo histórico na região. O terreno do Centro comporta apenas as edificações, sem espaços abertos ou conexão com o espaço público, fechando-se em si mesmo. Portanto cabe a proposta de uma nova sede, com edificações que sejam projetadas especificamente para os eventos realizados no Centro e que tragam uma conexão com o espaço do entorno, convidando novos usuários para o local.

1.4 OBJETIVO GERAL

Projetar uma nova sede a fim de proporcionar uma experiência mais produtiva e rica da cultura espanhola para a comunidade de espanhóis e simpatizantes da cultura, através dos eventos realizados pelo Centro.

1.5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Compreender como aconteceu a imigração espanhola no Brasil, em especial no estado do Paraná, e na cidade de Curitiba;

• Entender o conceito e como funciona um Centro Cultural de um povo; • Entender como o espaço da atual sede é utilizado;

• Identificar os problemas da atual sede;

• Elaborar um programa de necessidades que permitam um melhor aproveitamento do Centro.

1.6 METODOLOGIA

• Pesquisa exploratória: com o objetivo de conhecer mais a fundo o tema. • Pesquisa bibliográfica: com o objetivo de fundamentar a base teórica.

• Pesquisa analítica: com o objetivo de mensurar e analisar os dados referentes à atual sede e um possível terreno para uma nova sede.

• Pesquisa descritiva: com o objetivo de descrever as características que devem existir no projeto.

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2 CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

2.1 CULTURA

Segundo o antropólogo britânico Edward Tylor (1871, cap. 1,p. 1 apud LARAIA, 2001, p. 25), a palavra cultura “tomada em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Complementando seu significado, o dicionário da língua portuguesa Michaelis (2017) ainda define a cultura como o “conjunto de conhecimentos adquiridos, como experiências e instrução, que levam ao desenvolvimento intelectual e ao aprimoramento espiritual”.

Entretanto, antes dessas definições serem criadas, numerosos autores tentaram entender a cultura através de meios biológicos e físicos. Segundo o determinismo biológico, determinadas características estão presentes em grupos específicos, herdadas de pai para filho. Por exemplo: determinada raça é superior a outra quanto sua inteligência; pessoas nascidas em tal país são mais trabalhadoras; ou que pessoas oriundas de determinado país possuem maior tendência à preguiça. Por sua vez, o determinismo geográfico justifica a diversidade cultural através das influências que o meio físico exerce numa determinada sociedade (LARAIA, 2001). Entretanto, mais tarde foi provado cientificamente por diversos estudiosos da antropologia que esses determinismos não eram válidos.

Para a UNESCO (1950), o nível de aptidões mentais entre os seres humanos é praticamente igual, não podendo ser diferenciados pela biologia. Kessing (1961) refuta a ideia de o meio físico determinar as características dos seres humanos, e ainda exemplifica que diferentes sociedades podem conviver em um mesmo espaço: no pólo norte, duas sociedades vivem de maneiras opostas – os esquimós e os lapões. Os esquimós dedicam-se à caça de mamíferos e habitam casas feitas com blocos de gelo, de rápida montagem e facilmente descartáveis. Por outro lado, os lapões são conhecidos pela criação de renas, e suas habitações, feitas de pele de rena, são complexas e requerem tempo de montagem e desmontagem.

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Portanto, não é o ambiente físico ou os genes herdados por uma determinada sociedade que determina ou influencia o comportamento humano; é a cultura que o faz. Para Laraia (2001), o que diferencia o homem dos demais seres vivos é o fato de sermos os únicos seres culturais da natureza; e o que nos permite essa diferenciação são a comunicação oral, a fabricação de instrumentos e a forma como satisfazemos nossas necessidades. A comunicação oral permite que o ser humano receba um aprendizado acumulado durante um longo processo histórico, o que o influenciará mais tarde em suas atitudes e formas de se expressar, assim como a capacidade de fabricar instrumentos. Todos os seres vivos possuem necessidades vitais, como respirar, comer e dormir; entretanto a forma como essas necessidades são sanadas variam de cultura para cultura, o “que faz com que o homem seja considerado um ser predominantemente cultural”.

Franz Boas (1896, v.4 apud LARAIA, 2001, p. 36) define em seu “particularismo histórico” que “cada cultura segue os seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou”, ou seja, a cultura é influenciada diretamente pela história de determinada sociedade, o que a faz ser distinta em cada lugar. Por sua vez, o indivíduo herda dessa sociedade toda sua bagagem cultural, acumulando conhecimentos antecessores que se tornarão meios para o desenvolvimento de técnicas e inovações futuras.

A UNESCO divide o patrimônio mundial em Patrimônio Cultural, Patrimônio Natural e Patrimônio Imaterial. O Patrimônio Cultural é representado em todo o mundo por monumentos, sítios históricos e paisagens naturais. O Patrimônio Natural abrange toda paisagem considerada de grandíssima importância em relação à sua diversidade biológica. E o Patrimônio Imaterial registra a cultura de uma sociedade através de suas tradições, crenças, folclore, linguagem, conhecimentos e demais aspectos que caracterizem sua herança cultural. Por meio da Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular (1989), a Organização promove a identificação, preservação e continuidade desse patrimônio, entendendo que apenas dessa maneira poderá salvaguardar essas culturas.

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2.2 CULTURA ESPANHOLA

2.2.1 Espanha: dados gerais

O Estado Espanhol é hoje uma Monarquia Parlamentarista, instituída a partir da Constituição de 1978, conhecida como “Constituição do Consenso”. O território espanhol é formado por 17 comunidades autônomas, como exemplificado na figura 01 (Andalucía, Cataluña, Comunidad de Madrid, Comunidad Valenciana, Galicia, Castilla y León, Pais Vasco, Canárias, Castilla – La Mancha, Región de Murcia, Aragón, Islas Baleares, Extremadura, Asturias, Navarra, Cantabria e La Rioja) e 2 cidades autônomas (Ceuta e Melilla); essas comunidades possuem o direito de autonomia de suas nacionalidades garantido pela Constituição, que redistribui o poder político e administrativo entre as estâncias centrais e autônomas, tornando a Espanha um dos países mais descentralizados da Europa. A maior parte do território espanhol se localiza, junto a Portugal e Andorra, na Península Ibérica, situada no extremo sul ocidental da Europa; também fazem parte do território os arquipélagos de Canárias e Baleares, ilhas menores e as cidades de Ceuta e Melilla, localizadas no norte do continente africano. A língua oficial é o castelhano e outras línguas originárias das comunidades autônomas são consideradas co-oficiais, como o catalão, o euskera e o galego (LA MONCLOA, 2017). Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estadística, 2016) a população espanhola é de 46.468.102 habitantes, sendo 4.396.871 estrangeiros.

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A história conta sobre as raízes da aparição dos primeiros seres humanos na Península Ibérica durante o período Paleolítico Inferior, a partir de vestígios encontrados no sítio arqueológico de Atapuerca (atual Burgos). Os primeiros povos colonizadores da Península foram os Fenícios (1000 a. C.), seguidos pelos Iberos (500 a. C.), os Celtas (500 a. C) e mais tarde os Romanos (19 a. C.), povo que permaneceu por quase 2400 anos no atual território espanhol, deixando muitas marcas pelas cidades espanholas (figura 02).

Figura 2- Aqueduto de Segóvia (séc. I). Fonte: (Arquitetura Clássica, 2015).

Com o enfraquecimento do Império Romano, povos bárbaros vindos do restante da Europa invadem a Península e dominam o território. Durante o século VIII uma nova invasão sucede, através de muçulmanos vindos de diferentes países árabes; os espanhóis são obrigados a recuar para o norte, e apenas sete séculos depois os cristãos logram reconquistar o território espanhol. Com a unificação do país, começam as viagens marítimas em busca de novas rotas comerciais, e em 1492 Cristóvão Colombo chega às Américas (TARAZONA, 1888). Durante 60 anos, Espanha e Portugal foram governados por um mesmo Rei, Filipe II, período que ficou conhecido como União Ibérica (1580-1640). Perdendo províncias na Europa, sua supremacia marítima, e enfraquecendo economicamente, a Espanha entrou em um grande declínio, causando grande instabilidade política. Após a proclamação de duas repúblicas (1873 e 1931) fracassadas, inicia-se a Guerra Civil Espanhola, que se encerra quando os rebeldes vitoriosos, liderados pelo general Francisco Franco,

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instauram um regime ditatorial, encerrado apenas após a morte de Franco (1975). A monarquia parlamentar é instaurada em 1975 após a coroação de Juan Carlos de Bourbon (BAPTISTA, 2011).

2.2.2 Manifestações culturais espanholas

Como visto anteriormente, a história da Península Ibérica é marcada pela passagem de diversos povos durante mais de 3 milênios, o que possibilitou o encontro de distintas culturas, criando um rico e variado patrimônio cultural espanhol. Atualmente a Espanha é o segundo país europeu com maior número de bens declarados patrimônio cultural imaterial pela UNESCO, com 16 ao todo.

A culinária espanhola é uma das principais manifestações culturais do país. A dieta mediterrânea, presente em mais 6 países (Espanha, Chipre, Croácia, Grécia, Itália, Marrocos e Portugal), é considerada, desde 2013, patrimônio cultural imaterial da humanidade. Esse conjunto de conhecimentos acerca do cultivo, pesca, criação de animais, conservação, cozimento e consumo dos alimentos nas comunidades mediterrâneas é considerado um espaço onde as tradições e rituais são ensinados de geração em geração, pelas mulheres. O momento da refeição é caracterizado pelos ensinamentos de civilidade, respeito à diversidade, comunicação e reafirmação dos laços familiares.

Outro bem imaterial espanhol é o flamenco (figura 03), expressão artística que engloba a música (cantada e tocada) e a dança, incluído na lista da UNESCO em 2010. De raízes provenientes de Murcia e Extremadura, porém mais conhecido na Andalucía, o flamenco é interpretado em ocasiões especiais, como festas religiosas, cerimônias sacramentais e rituais, sempre carregado de muita emoção - seja no toque dos instrumentos (como o violão flamenco, as castanholas, as palmas e os “taconazos”), na voz do intérprete (geralmente um homem ou mulher) ou na coreografia dos dançarinos (os homens dançam com movimentos de força, movendo principalmente os pés; e as mulheres executam a dança com movimentos mais sensuais). Outras danças típicas do país são a Jota Aragonesa (proveniente de Aragón), a Sardana (da Catalunha), a Muñeira (típica das províncias da Galícia e Asturias), a Zambra (dança árabe adaptada à cultura espanhola), o Bolero, o Fandango e o Paso Doble (ENFOREX, 2017).

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Figura 3 - Apresentação de flamenco em Córdoba (Espanha). Fonte: (Glauco Damas, 2016).

O cinema espanhol, conhecido internacionalmente, pode ser dividido em duas fases: uma durante o período do franquismo, e outra após a queda da ditadura. Até 1976, os cinemas espanhóis só podiam exibir filmes previamente permitidos pelo governo de Francisco Franco, que se recusava a transmitir conteúdos demasiados eróticos ou de oposição ao governo. Com a liberação da censura, cineastas espanhóis começaram a se libertar das antigas amarras e o principal nome desse movimento foi Pedro Almodóvar (GALLINA, 2010). Junto de Luis Buñel e Carlos Saura, Almodóvar (figura 04) é um dos cineastas mais importantes da Espanha. Sua temática homossexual, transgressora, grotesca, que chocava àquela sociedade que outrora vivia na escuridão da falta de liberdade, buscava despertar a reflexão sobre gênero, sexualidade e diversidade. Através dela, Almodóvar deu caminho para uma nova geração de artistas espanhóis e ibero-americanos (PAIVA, 2006).

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Figura 4 - Filmes de Pedro Almodóvar. Fonte: (MacGuffin007, 2012).

A Espanha é um dos países com maior número de católicos do mundo. O catolicismo é a religião mais praticada na Espanha, sendo quase 70% de sua população adepta (CASTRO, 2017). Seus ritos e liturgias sofreram poucas mudanças no decorrer dos séculos, assim como as comemorações realizadas durante a Semana Santa e demais festividades, sempre pomposas e solenes (BAPTISTA, 2011). A festa de “Mare de Déu de la Salut” (Nossa Senhora da Saúde) é, desde 2011, patrimônio cultural imaterial reconhecido pela UNESCO (figura 05); se celebra em Algemesí, município de Valencia. Entre os dias 7 e 8 de setembro, 1400 pessoas participam de representações teatrais, concertos de música, espetáculos de dança e procissões nos quatro bairros históricos da cidade. Outra festa católica inscrita na lista da UNESCO é a “Patum de Berga”, manifestação popular que remonta às festividades de Corpus Christi durante a Idade Média, tradicionalmente celebrada na cidade de Berga, município da Catalunha. Seu diferencial consiste na riqueza e diversidade, mesclando raízes profanas e religiosas, permanecendo o teatro de rua medieval. Essas celebrações mostram a importância que a religião ainda hoje representa para o povo espanhol.

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Figura 5 - Mare de Déu de la Salut, Algemesí. Fonte: (Generalitat Valenciana, 2015).

2.3 IMIGRAÇÃO ESPANHOLA

2.3.1 Imigração espanhola no Brasil

A imigração espanhola no Brasil se deu principalmente entre os anos de 1820 e 1960, quando mais de 750 mil espanhóis deixaram a península ibérica rumo ao maior país da América do Sul. O terceiro maior contingente de imigrantes no Brasil (tabela 01) – atrás apenas de italianos e portugueses – envolveu-se principalmente na expansão da indústria cafeeira brasileira e na construção de uma importante economia agrícola e urbana no país.

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Tabela 1 - Imigração para o Brasil, 1880-1900. Fonte: (KLEIN, 1994, p. 31).

São poucos os dados documentados a respeito da vinda desses imigrantes, responsabilidade que Espanha e Brasil pouco tiveram; entretanto o que se sabe é que os espanhóis recém-chegados tendiam a ser menos favorecidos economicamente e com menos estudos formais, quando comparados às demais nacionalidades de imigrantes. Vinham, em sua maioria, acompanhados de suas famílias; comumente, adotaram seus nomes com a grafia do português, e se mostraram habilidosos em se misturar com a população local; embora dados confirmem sua tendência à casamentos endogâmicos no início do período de imigração.

O mercado de trabalho para os espanhóis no Brasil se restringiu às regiões centro e sul, devido à falta de competição com trabalhadores nativos e pelas oportunidades financeiras oferecidas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No período anterior à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o fator mais atrativo aos espanhóis à imigração para o Brasil era o subsídio do transporte através do Estado, além dos salários comparativamente maiores no país e a possibilidade real de compra de terras. Por

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sua vez, fortes fatores impulsionaram os espanhóis para fora da Europa: a crescente pressão da população sobre a terra e sobre os salários europeus. O grande excedente de mão-de-obra nas faixas etárias em idade de trabalhar ocasionado pelo crescimento demográfico nas regiões rurais da Europa também era muito visado pelos empregadores brasileiros.

Durante a primeira metade do século XIX, vigorava a política imperial de povoamento das regiões fronteiriças do Brasil com o objetivo de frear os avanços hispano-americanos no país; para isso, iniciou-se o processo de vinda de imigrantes de diversas nacionalidades europeias, ainda de pouca intensidade. A partir do início da segunda metade do século XIX, com a perspectiva evidente da abolição do tráfico de escravos, a mão-de-obra europeia começa a ser pensada como alternativa, iniciando-se em 1880 a política de imigração subsidiada1.

O sistema de colonato, como era chamado, apresentava vantagens aos imigrantes, uma vez que não precisavam pagar suas passagens de vinda (os governos federal e estadual eram responsáveis pelo transporte) e tampouco suas acomodações nas fazendas, estas oferecidas pelos fazendeiros; entretanto, não tardou a apresentar falhas, quando muitas vezes não se era cumprido o prometido por parte dos empregadores, resultando em conflitos com os espanhóis imigrantes.

Em março de 1896, fazendeiros brasileiros assinaram um contrato a pedido do Estado (que tentava controlar a origem dos imigrantes), que estabelecia um máximo de 10 mil imigrantes espanhóis, sendo estes somente das regiões das províncias bascas, Navarra, Galícia e Ilhas Canárias; todavia, após 1900, as restrições foram canceladas e a partir de então espanhóis de todas as províncias começaram a chegar ao país. Em 1872, os imigrantes já representavam 3,8% da população que vivia no Brasil; em 1900 passaram a ser 7%, sendo 21% deles em São Paulo, 12% no Paraná e Rio Grande do Sul, 10% no Espírito Santo e 9% em Santa Catarina. Pouco antes de 1914, os espanhóis ultrapassaram temporariamente os italianos em número de imigrantes que chegavam ao Brasil (tabela 02), representando 22% do total de imigrantes nesse período.

1 “Facilitação ou concessão de auxílio em dinheiro para compra de passagens de imigrantes e para sua instalação inicial no país. Aprovada em 1871, (...) foi, inicialmente, uma iniciativa de fazendeiros. No decorrer do tempo, entretanto, a participação destes foi sendo transferida cada vez mais para os governos, provinciais e imperial, até 1889, e posteriormente estaduais e federal.” (IBGE).

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Tabela 2 - Principais Grupos de imigrantes estrangeiros para o Brasil, 1820-1972. Fonte: (KLEIN, 1994, p. 36).

No período de 1920, o acesso à terra aos imigrantes espanhóis havia melhorado consideravelmente; o valor de suas fazendas chegava a ser maior do que qualquer outro grupo de imigrantes, inclusive dos fazendeiros nativos. Com a crise gerada pela Primeira Guerra Mundial e o fim dos subsídios (ocorrido em 1910, devido aos altos salários pagos pelo novo mercado, mais complexo, industrializado e urbano), a imigração espanhola se viu gravemente afetada; por conseguinte, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Civil espanhola ocasionaram a suspensão provisória da imigração até os anos de 1950. Entretanto, com o contínuo empobrecimento da Espanha no pós-guerra e fim do bloqueio contra o general Franco permitiram que uma nova onda de imigração surgisse.

O Brasil entrava em uma nova era de desenvolvimento industrial durante o governo do então presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960); novas indústrias automobilísticas eram implantadas no país, crescendo a necessidade de mão-de-obra qualificada, uma nova oportunidade para imigrantes espanhóis desembarcarem no país. Aproximadamente 120 mil espanhóis foram contratados, vindos como voluntários ou subsidiados pelos governos europeus.

Ao final do século XX, constata-se que a comunidade espanhola foi facilmente absorvida pela cultura brasileira, como se pode ver na ausência de bairros típicos espanhóis (ao contrário do que os italianos faziam). Os mais de um milhão de

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imigrantes espanhóis e filhos nascidos no Brasil hoje fazem parte da história do país (KLEIN, 1994).

2.3.2 Imigração espanhola no Paraná

O atual território do Paraná certa vez já foi considerado pertencente à Espanha; seu domínio durou 250 anos, entre 1500 e 1750, quando o chamado Tratado de Madri fez retornar às mãos portuguesas as terras paranaenses. Segundo Westphalen (1996, p. 3-10), merece ser estudada “a ocupação de uma parte do Brasil que, pelo Tratado de Tordesilhas, não deveria pertencer a Portugal e sim à Espanha, ou seja, praticamente todo o território paranaense, no Brasil Meridional.”

Núcleos de espanhóis e portugueses vindos em caravelas aportaram na faixa marítima da Cananéia, ainda sem formarem povoações. Fundaram, ademais da vila de Cananéia, Itanhaém, Iguape e Superagui (figura 06), junto das aldeias indígenas. Navegaram em canoas pela baía de Paranaguá, chamada pelos índios de Parnagoá, comandados pelos castelhanos Ruy Mosquera e Domingos Gonçalves. Por fim, entre os anos 1560 e 1570, fundam o primeiro povoado no estado, a vila de Nossa Senhora das Mercês da Cotinga, situada no litoral, às margens do rio Taguaré – atual Itiberê. A região ficou conhecida após exploradores encontrarem ouro, atraindo garimpeiros. Um deles foi Gabriel de Lara, filho do nobre espanhol Diego Ordóñez de Lara; em conjunto com outros garimpeiros, de Lara fundou a Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá.

Após anos de exploração, os filões de ouro se esgotaram e os mineradores viram a necessidade de procurar novas terras; chegaram numa planície aberta logo após a Serra do Mar, onde ocuparam, construindo suas moradias e criando animais. Essa vila era o começo da futura cidade de Curitiba, abençoada por Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Seus primeiros moradores tinham muitas vezes sangue espanhol, como Baltazar Carrasco dos Reis e Matheus Martins Leme, este neto do castelhano Francisco Martins Bonilha e da sevilhana Antonia Gonçalves. Em 1693, a vila foi oficialmente considerada Vila de Curitiba, e Matheus Leme foi designada capitão-povoador da nova vila. Até o final do século XVII, Curitiba seguiu abrigando espanhóis em sua extensão – do arraial do Atuba até o Barigui, da Borda do Campo até o arraial de Bom Jesus dos Perdões (atual São José dos Pinhais).

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Figura 6 - Mapa da Província do Guairá. Fonte: (BAPTISTA, 2011, p. 79).

O livro em que registra-se o movimento imigratório no Paraná, localizado no Arquivo Público do estado, data que em 1890 aproximadamente 81% dos espanhóis que chegaram ao estado ali permaneceram. Os imigrantes provinham em sua maioria das províncias de Málaga, Granada, Cádiz, Huelva, Badajoz e Almería; instalaram-se primeiramente no norte do estado, nos municípios de Jacarezinho, Santo Antônio da Platina e Wenceslau Braz. Como no cenário brasileiro, o Paraná recebeu o maior número de imigrantes entre os anos 1950 e 1960, espanhóis fugidos da crise política e civil que assolava a Espanha; galegos, andaluzes e catalães fizeram de Curitiba e Londrina suas novas moradas. Na atual capital do estado, a presença espanhola é identificada pelos trabalhos em pedra e granito que fazem parte dos edifícios do Palácio do Governo, Biblioteca Pública, Tribunal de Contas e Teatro Guaíra. Segundo o Centro Espanhol do Paraná, aproximadamente 10 mil espanhóis vivem atualmente no estado (BAPTISTA, 2011).

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2.4 INFLUÊNCIA ESPANHOLA NO BRASIL

Segundo Juan Arias (2014), entre 10 e 15 milhões de espanhóis e descendentes vivem atualmente no Brasil. Entretanto, como já citado anteriormente, poucos são os estudos aprofundados sobre a influência desses imigrantes no país em que desembarcaram, sua quantidade, entre outras informações. Esse vácuo de informação pode ser explicado pelas características dos imigrantes espanhóis que chegaram inicialmente – pobres, com pouca ou nenhuma qualificação, sem grande destaque na sociedade da época.

Ao contrário do que se verificou no início da imigração espanhola, com os anos esses imigrantes tenderam a casar-se com brasileiros: 64,7% dos homens casaram-se com brasileiras e 47,2% das mulheres casaram-casaram-se com brasileiros. Essa mistura de raças leva a crer que os espanhóis e seus filhos experimentaram e experimentam até hoje uma sensação de pertencimento ao novo país que habitam, partes integrantes da cultura brasileira. Em oposição à outras nacionalidades, como italianos e portugueses, os espanhóis aparentam estar muito mais inseridos ao cotidiano brasileiro, não estando presos ao passado, mas tampouco esquecendo-se de suas origens, o que pode explicar a ausência de maiores estudos a respeito desses imigrantes.

Segundo o Instituto Cervantes (2017), em 2017 mais de 477 milhões de pessoas no mundo possuem o espanhol como língua materna, sendo considerada a segunda língua com maior número de falantes (atrás apenas do mandarín chinês). Somando os usuários potenciais do espanhol – pessoas com domínio nativo, competência limitada e estudantes do espanhol como língua estrangeira – são mais de 572 milhões de pessoas, sendo aproximadamente 6 120 000 estando no Brasil.

A respeito da atual relação entre Brasil e Espanha, a economia é hoje a principal ligação entre os dois países; desde os anos 1990 os espanhóis têm aumentado seus investimentos em valores e em diversos setores, tornando o país o terceiro maior investidor estrangeiro no Brasil. Sua relação bilateral está sendo firmada ainda com o apoio da Espanha ao Acordo Mercosul – União Europeia. Outra vertente importante entre os dois países é a educação – inúmeros são os convênios entre universidades brasileiras e espanholas, intermediado pelo Programa Erasmus Mundus, além da concessão de bolsas pela Fundação Carolina, CAPES e Ciência

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Sem Fronteiras, por exemplo. Brasil e Espanha também possuem acordos para cooperação em defesa e técnica. A respeito da imigração brasileira na Espanha, aproximadamente 100 mil brasileiros residem no país europeu atualmente. O Brasil também é o país com o maior número de Institutos Cervantes no mundo, contando com 8 sedes brasileiras. Por outro lado, o interesse dos espanhóis pela língua portuguesa também vem aumentando; na Casa do Brasil de Madri, mais de mil alunos espanhóis são matriculados por ano (ITAMARATY).

2.5 CENTROS CULTURAIS E DE EVENTOS

2.5.1 Definição

Segundo Alves (2013), a arquitetura se compõe de duas facetas: a parte física e a parte subjetiva. Como parte física, entende-se todos os elementos objetivos da disciplina, como os cálculos, desenhos e representações de um edifício. Já a parte subjetiva é caracterizada pelo papel da arquitetura no meio em que está inserida, como elemento urbano e sociocultural. A experiência do espaço proporcionada pela disciplina agrega, tanto ao objeto arquitetônico como ao usuário, uma troca de sensações e informações que modificam a relação do ser humano com o local onde vive. “Dessa forma, as interpretações requalificam os espaços e as relações humanas e sociais se reconstroem, enriquecendo e tornando ainda mais complexo o habitar do homem no mundo.” (ALVES, 2013, p. 47, grifo do autor). Alves continua ainda, afirmando que os edifícios, além de cumprir sua função de abrigo, também representam a cultura de uma época. Portanto, os museus e centros culturais não escapam à essa conclusão.

Até a Idade Média, o colecionismo de obras de arte estava diretamente ligado à acumulação de riquezas pelos mais abastados. A partir do renascimento, as obras de arte começam a ganhar um novo caráter – estético e histórico (figura 07). Ainda no século XVIII, as grandes coleções de obras de arte permaneciam inacessíveis ao público em geral; apenas em ocasiões especiais eram realizadas exposições em privado. Com o advento da Revolução Francesa e seus novos ideais, finalmente as obras de arte são consideradas patrimônios nacionais – como nos casos de 1753, no British Museum de Londres; 1760 na Galeria de Kassel e 1793, no Louvre. Entretanto,

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apenas no século XIX os museus passam a receber o público em geral, sem discriminações de classe (LEON, 1995).

Figura 7 - O Arquiduque Leopoldo Guillermo em sua galeria de pinturas em Bruxelas, de David Teniers II (1651). Fonte: (Wikipedia).

Através das mudanças que a sociedade enfrentava, seja no campo econômico ou político, o público dos museus também sofreu alterações. O homem passou a substituir seus ídolos e mitos por outros palpáveis, compreensíveis à sua capacidade. Segundo Leon (1995, p. 56, grifo do autor, tradução nossa):

“[...] a tradicional utilitas vitruviana começou a ser entendida como ‘funcionalidade’ (na arquitetura de museus Le Corbusier, Victor Horta, Moholy-Nagy, Wright,..., definiram as bases racionalistas e funcionais do museu moderno)”.

Com a mudança de seu público, os museus também precisaram mudar: passaram da “era da aquisição” para a “era da utilização”. A partir dos anos 1970, técnicas de informática e eletrônica chegam aos museus, marcando uma nova fase das instituições culturais. Os museus passam a abrigar as mais diversas expressões

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culturais, também se preocupando com a região onde são implantados e seu caráter dinâmico de projeto (LEON, 1995).

Nesse contexto, surgem os centros culturais – desmembramento dos museus, considerados “versões atualizadas e aprimoradas das Maisons de la Culture” (GROSSMANN, 2011, p. 206). O mais famoso deles, o Centro Nacional de Arte e Cultura Georges Pompidou (figura 08) em Paris, é considerado uma “obra aberta”, onde o público é convidado a participar. Sua arquitetura inovadora para a época (1977), de planta aberta e estrutura de tubos visíveis, atrai o público, exercendo sua função social, além de incitar o debate e a crítica (LEON, 1995).

Figura 8 - Centro Nacional de Arte e Cultura Georges Pompidou (Paris). Fonte: (Pinterest).

Sendo assim, pode-se concluir que entre os anos de 1960 e 1970, houve a transição de um internacionalismo artístico (fundamentado na criação e manutenção dos museus de arte moderna) para um globalismo cultural (que busca a relação entre as novas formas de estrutura de exposição e produção cultural – como os museus, centros culturais, bienais, feiras de arte, com a nova tecnologia de informação e comunicação virtuais atuais) (GROSSMANN, 2011). Essa diferenciação tipológica do edifício cultural se mostra importante devido às demandas da cidade contemporânea e de seus usuários. Os centros culturais abrigam diversas funções, além daquelas características do museu tradicional, voltadas à cultura e ao público visitante.

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Restaurantes, cafés, lojas, livrarias, bibliotecas, teatros, entre outros espaços passam a integrar os centros culturais, gerando um novo consumo cultural e espaços de lazer(TAVARES).

Gomes (2004) conta como a definição de lazer mudou no decorrer dos anos. Na primeira metade do século XX, lazer era considerado o espaço de tempo entre duas jornadas de trabalho, uma mera conquista trabalhista incluindo férias remuneradas. Entretanto, essa definição foi estudada e contestada por diversos autores ao longo dos anos, que ao invés de separarem os âmbitos do trabalho e do lazer, os aproximaram cada vez mais. Assim, Gomes define o lazer como:

[...]uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações, especialmente com o trabalho produtivo. (GOMES, 2004, p. 125)

Segundo Pellegrin (2004), espaço de lazer pode ser definido como um local onde são desenvolvidas atividades, ações, projetos e programas de lazer; esse local abrange desde lugares específicos, um determinado equipamento, até espaços potenciais, como vazios urbanos e áreas verdes de uma cidade. De uma maneira mais ampla, o espaço de lazer também pode ser definido através de diversas áreas de conhecimento, como a geografia, a sociologia e a arquitetura.

Para Le Corbusier (1993), os espaços de lazer são áreas livres que costumavam “acolher as atividades coletivas da juventude, propiciar um espaço favorável às distrações, aos passeios ou aos jogos das horas de lazer”, mas que com o avanço das cidades e de suas construções, tornaram-se escassos e foram substituídos por espaços cercados e não conectados.

Tomaram forma como espaços de lazer construídos, além dos centros culturais já comentados, teatros, cinemas, clubes, entre outros. Esses espaços foram construídos ou adaptados a partir das necessidades que suas atividades demandavam, além das condições econômicas dos sócios. Assim, os clubes surgiram em distintas modalidades, como espaços destinados aos esportes, aos encontros sociais, sindicais ou militares, e aos estrangeiros. Essa última categoria destina-se ao acolhimento de pessoas de uma mesma nacionalidade, onde sua reunião visa a superação da distância de sua terra natal e o inicial estranhamento com o país onde

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agora vivem, além da aproximação entre estrangeiros e brasileiros, afim de disseminar a cultura do país no Brasil. Com isso, são estabelecidos espaços onde os associados se encontram com o objetivo de confraternizar, realizar festas e recepções oficiais, ademais de celebrar a cultura de seu país nativo (BIERRENBACH, 2016).

2.5.2 Relação com o espaço público

Segundo Alomá (2013), espaço público pode ser considerado “[...]o lugar da cidade de propriedade e domínio da administração pública, o qual responsabiliza ao Estado com seu cuidado e garantia do direito universal da cidadania e a seu uso e usufruto.” Sua origem se deu através do processo de apropriação elitista e privada da cidade pelos burgueses, que dividiam a cidade, limitada apenas por eixos viários. Com o passar da história, mudanças econômicas e sociais proporcionaram um processo de democratização urbana. Borja (2006) comenta:

Eu recordo que em Barcelona foi quase uma revolução cultural quando a finais da década de sessenta ou a princípios da de setenta, os coletivos organizados nos bairros reclamavam, entre outras coisas, uma praça. [...]Propunha-se que não bastava com que houvesse um ônibus ou um centro de assistência sanitária retirado do lugar de residência, agora se necessitava

também uma praça, um centro cívico de encontro, um equipamento cultural, etc.

O espaço público ainda pode ser interpretado como um espaço qualificante, onde o usuário, em um processo de conquista social, se sente parte integrante da cidade, como os demais moradores da urbe (BORJA, 2006).

Para Alomá (2013), o espaço público contém inúmeras facetas objetivas: seu sistema viário, seu mobiliário urbano, seus edifícios e serviços públicos, entre outros. Também devem ser observadas as conotações subjetivas que o espaço público oferece – advinda do relacionamento e uso realizados neste (como por exemplo manifestações populares, acontecimentos históricos, relatos pessoais, etc.). Somados às características objetivas e subjetivas, ainda existe no espaço público a função primordial de conexão entre lugares e pessoas no perímetro da cidade, tornando-o assim democrático – em nacionalidade, espaço, idade e gênero.

Gehl (2013) analisa como o planejamento urbano vem esquecendo a dimensão humana nas cidades, deixando de lado o espaço público voltado aos pedestres, ao

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passo que outros aspectos têm sido reafirmados como modelos, como por exemplo o acelerado aumento do tráfego de automóveis - pensamento influenciado principalmente pelo modernismo. A partir da virada do século, a população global passou a ser majoritariamente urbana; as cidades cresceram e se desenvolveram. Com o horizonte de contínuo crescimento, deve-se garantir que a urbe atenda às necessidades das pessoas que usufruem dela, fortalecendo seu desenvolvimento sustentável e reforçando sua função social. O planejamento e as estruturas da cidade induzem o comportamento humano e o funcionamento das cidades; portanto, é primordial que seja ofertado um espaço público de qualidade para os usuários.

Influenciado diretamente pelo uso das edificações em seu entorno, o espaço público sofre muitas vezes com seu uso inadequado. A falta de atenção e controle com esse espaço gera inúmeras problemáticas para a cidade, como insegurança, criminalização, ocupações, entre outros. Um exemplo prático é a monofuncionalidade de determinadas regiões da cidade, como a presença constante de comércio e serviços, e a quase completa ausência de residências; seus usos se restringem à um certo período de tempo, onde o bairro permanece saturado; e no restante do dia, sem o funcionamento dessas edificações, a região se torna isolada e solitária, gerando insegurança. Nesse cenário, os espaços públicos se tornam de especial relevância para estudos e projetos de recuperação urbana, uma vez que apresentam diversos conflitos e ainda mais potencialidades para a cidade. (ALOMÁ, 2013).

Guimaraens (2001) aponta que, a despeito das ideias protecionistas e preservacionistas por trás do movimento de revitalização de centros urbanos, essa causa permite que as cidades cresçam economicamente através de investimentos públicos e privados. Esses investimentos acontecem, principalmente, por meio da criação e manutenção do chamado “espaço cultural”, que engloba museus, teatros, salas de concerto, entre outros edifícios de cunho cultural. A presença desses novos edifícios retoma a antiga função do centro da cidade como praça de comércio, onde mercado de arte e cultura se desenvolviam, assegurando a sobrevivência de artistas e do espaço.

Um exemplo muito conhecido de revitalização de centros urbanos através de um edifício cultural é o caso da cidade de Bilbao (figura 09), capital do País Basco (Espanha). Localizada às margens do rio Nervión e dividida por ele, a cidade possuía a maior parte de suas atividades econômicas ali situadas. Configurada como uma

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cidade praticamente linear, sua ocupação era prioritariamente de grandes depósitos, galpões, indústria pesada e vias de transporte rodoviário e ferroviário, que criavam uma barreira entre a cidade e o rio.

Na década de 1960, Bilbao se consolida como polo siderúrgico e de construção naval. Entretanto, com o declínio da atividade industrial, a capital basca passa por um processo de decadência. Após a redemocratização da Espanha (1977) e o eminente risco ao patrimônio histórico do Centro Antigo (causado por inundações), a cidade começa a reverter sua situação desfavorável, através da elaboração de um Plano de Revitalização (1989).

O Plano trazia como objetivos a melhoria das infraestruturas e a recuperação urbana, a partir do centro e irradiando-se para os bairros, além da implantação de grandes equipamentos culturais e de serviços – nos terrenos livres na margem do rio desocupados devido ao fechamento dos antigos complexos industriais. Foram intervenções de infraestrutura levadas a cabo a reforma do sistema de transporte público, incluindo a instalação de metrô – cujas principais estações foram projetadas pelo arquiteto Norman Foster; a construção do novo aeroporto da cidade, projetado pelo arquiteto-engenheiro Santiago Calatrava; a modernização e ampliação do porto; e a execução de um plano de saneamento e recuperação ambiental do rio Nervión (FALCÂO, 2003).

Figura 9 - Foto aérea de Abandoibarra antes da construção do museu (Bilbao) Fonte: (FALCÃO, 2003).

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Na década de 1980, a fundação Guggenheim iniciava um programa de ampliação de suas áreas de exposição, começado em Nova Iorque e levado à Europa. A fim de não rivalizar com os grandes museus europeus, a fundação escolhe se instalar em cidades fora dos grandes circuitos artísticos, como Salzburg (Áustria) e Bilbao. A cidade espanhola buscava formas de consolidar seu Plano de Revitalização, que mesmo com obras de arquitetos renomados (Foster e Calatrava), encontrava barreiras econômicas. Assim surge a associação entre Bilbao e Fundação Guggenheim, onde a cidade arcaria com os custos da construção do museu, enquanto que a Fundação seria responsável por sua operação.

Frank Gehry, ainda sem ser escolhido arquiteto do novo projeto, sugere o local onde hoje o museu se encontra, próximo ao centro, nas margens do rio e na confluência de duas vias principais (figura 10). Apesar das dificuldades que o terreno impunha, Gehry foi bem sucedido resolvendo a implantação do novo museu, solucionando o fluxo de veículos e pedestres, ademais da inserção na paisagem urbana – integrando o Museu, a cidade e o rio (FALCÃO, 2003). O museu representou, como explicado, uma grande parcela da eficácia do Plano de Revitalização de Bilbao, seja por ajudar a consolidá-lo quando nem mesmo outras obras de arquitetos importantes conseguiram fazê-lo, seja pela importância que hoje representa como polo atrativo de turismo – em seus dois primeiros anos de funcionamento, 2,5 milhões de visitantes conheceram a cidade (BORDOLON, 1999).

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3 ESTUDOS DE CASO

Esse capítulo tem por objetivo analisar projetos de relevância, nos âmbitos de função, plástica, estrutura, contexto e ambiente, a fim de propiciar embasamento projetual ao futuro projeto a ser desenvolvido. Foram escolhidos três edifícios que atendem, em algum aspecto, às características buscadas para a nova sede do Centro Espanhol do Paraná.

3.1 SEDE SOCIAL DO JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS

Projeto de Paulo Mendes da Rocha (Pritzker 2006) e João Eduardo de Gennaro, a sede social do Jóquei Clube de Goiás (figura 11), localizado na capital, Goiânia, foi concebido em 1962 e inaugurado em 1975. São 11.500m² construídos, divididos em três pavimentos, que respeitam o gabarito do entorno, ao mesmo tempo que se torna um marco na região.

Esse projeto foi escolhido como estudo de caso por sua relevância histórica e pela importância do arquiteto que o assina. Também foram levados em conta as características projetuais que pretendem ser consideradas durante o projeto da nova sede do Centro Espanhol, como: espacialidade (ambientes amplos e configuração significativa); e programa de necessidades similar ao objetivo do trabalho, como espaços de lazer e convivência. Sabe-se, entretanto, que a área do projeto estudado é maior do que o pretendido para o objetivo do trabalho.

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3.1.1 Aspectos contextuais

A sede social do Jóquei Clube de Goiás está localizada na área central da cidade de Goiânia (figura 12), em um terreno de aproximadamente 22.000m² - onde antigamente, uma vasta cobertura vegetal nativa cobria parte do terreno. A edificação, situada na Avenida Anhanguera, foi resultado de um concurso fechado publicado na revista Acrópole. Logo após sua inauguração, a sede representava um marco na região onde fora construída, seja por sua forma imponente e diferenciada, seja pela posição de destaque que ocupava para a alta sociedade da época (CAIXETA). O acesso foi projetado através de uma rua privativa, aberta ao lado do terreno, evidenciando o clube do restante da quadra.

Figura 12 - Localização da Sede Social do Jóquei Clube de Goiás. Fonte: Google Maps (com complementações da autora).

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3.1.2 Aspectos funcionais

Figura 13 - Croqui de implantação e corte. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 126).

Pensado através de barras, o projeto se desenvolveu em uma grande caixa de concreto, que abrigaria as atividades internas do clube; ao seu lado, a área de piscinas, e do outro, as quadras e o parque (atualmente transformado em estacionamento), funcionando como elo de ligação entre elas – como demonstrado no croqui do arquiteto (figura 13).

A entrada do clube acontece pelo térreo, e as demais atividades se desenvolvem nos 3 pavimentos restantes. No primeiro deles (figura 14), grandes áreas tomam conta do espaço, como o jardim, o salão de festas e o restaurante, todos abertos, permitindo grande permeabilidade visual. O grande ginásio, com acesso diferenciado, pode ser incorporado ao salão de festas em ocasiões especiais. Ainda no primeiro pavimento, também estão os vestiários, e áreas para barbearia, sauna, salão de beleza e massagem.

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Figura 14 - Planta do 1º pavimento. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 127) com complementações da autora.

Na planta do segundo pavimento (figura 15) se dão os acessos para as piscinas e quadras de esporte. Também se encontram aqui restaurante, espaço de estar e brilhar. No último pavimento (figura 16) estão as atividades mais reservadas – como jogos e leitura, espaço “flutuante” sobre quatro pilares calculado pelo engenheiro Siguer Mitsutani.

Figura 15 - Planta do 2º pavimento. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 128) com complementações da autora.

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Figura 16 - Planta do 3º pavimento. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 129) com complementações da autora.

3.1.3 Aspectos ambientais

A sede social está configurada como uma caixa de concreto que flutua através de pilares, permitindo amplos espaços internos. Esses espaços, em sua maioria abertos, ventilam por meio de ventilação cruzada, uma vez que não possuem vedações laterais. Na laje, aberturas auxiliam a passagem de luz do sol e ventilação dos ambientes. Os vestiários, semienterrados, recebem ventilação e iluminação por entre aberturas zenitais localizadas no segundo pavimento (figuras 17 e 18).

Figura 17 - Corte mostrando iluminação zenital e vestiários. Fonte: (ARTIGAS, 2002, p. 129) com complementações da autora.

Referências

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