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Definição constitucional de meio ambiente

No documento Pedidos dessa obra: experteditora.com.br (páginas 151-156)

A Lei nº 6.938/81 em seu artigo 3º, I, define meio ambiente como o “conjunto de bens, influências e interações de ordem físicas, químicas e biológicas, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Esta definição legal de meio ambiente trata essencialmente do meio ambiente chamado Natural, que é composto pela atmosfera, águas (subterrâneas e superficiais, mar territorial), solo e subsolo, fauna e flora e o patrimônio genético.

Entretanto, hodiernamente, partindo-se de uma perspectiva an- tropológica, podemos dizer que existem ainda o meio ambiente cultu- ral, artificial e do trabalho.

Fiorillo ensina que a divisão do meio ambiente nos diversos as- pectos que o compõem tem por objetivo facilitar a identificação da

atividade degradante e do bem imediatamente agredido. Não se pode perder de vista que o direito ambiental tem como objeto maior tutelar a vida saudável, de modo que a classificação apenas identifica o as- pecto do meio ambiente em que os valores considerados mais impor- tantes pela sociedade foram agredidos. A Constituição Federal, no art. 225, parágrafo 1º, incisos I e VII e parágrafo 4º, expressamente dispôs sobre a tutela do meio ambiente natural212:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente eco- logicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon- do-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, in- cumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos es- senciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

[...]

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na for- ma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de es- pécies ou submetam os animais a crueldade. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos es- senciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas na for- ma da lei, as práticas que coloquem em ris- co sua função ecológica, provoque a extinção de espécies ou submetam animais à crueldade. [...]

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato- Grossense e a Zona Costeira são patrimônio 212 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso em: 10 out. 2020.

nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos re- cursos naturais.

O meio ambiente cultural é formado pelo patrimô- nio artístico, paisagístico, arqueológico, histórico e turístico213 e também é tutelado pela Constituição Federal, no art. 216, que assim prevê:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artís- tico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológi- co, ecológico e científico.

Já o meio ambiente artificial “é compreendido pelo espaço ur- bano construído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urba- no aberto)” 214, portanto, está intimamente relacionado com a urbani- zação. Todavia, podemos dizer as residências e benfeitorias produzi- das pelo homem nas zonas rurais também integram o Meio Ambiente Artificial.

Importante alertar que, assim como no caso do meio ambiente cultural, em relação ao Meio Ambiente Artificial veremos a tutela de bens produzidos pelo homem. O que os diferencia é justamente o va- lor histórico e cultural que a sociedade lhes dá.

213 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 4 ed. São Paulo: Saraiva Educação 2003.

214 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 4 ed. São Paulo: Saraiva Educação 2003, p. 300.

A tutela constitucional do meio ambiente artificial está prevista no artigo 225 da Constituição Federal, que trata especificamente do meio ambiente, mas também nos artigos 21, inciso XX e 182 (que trata da Política Urbana) da carta constitucional, dentre outros:

Art. 21. Compete à União:

XX - Instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos.

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei têm por objetivo or- denar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

Por fim, quando se fala em meio ambiente do trabalho, estamos nos referindo ao ambiente no qual as pessoas desenvolvem as suas atividades laborais, remuneradas ou não, “cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem” 215 .

Assim como nos demais “tipos” de meio ambiente, a Constitui- ção Federal também tutela o Meio Ambiente do Trabalho, no seu art. 200: “Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.

A Resolução CONAMA nº 306/2002, no Anexo I, Definições, inci- so XII, ao definir meio ambiente incluiu aspectos das diversas classi- ficações que o integram: “Meio Ambiente é o conjunto de condições, leis, influencia e interações de ordem física, química, biológica, so- cial, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.216

215 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 4 ed. São Paulo: Saraiva Educação 2003, p. 23.

216 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA 306/2002. Disponível em <http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=306>. Acesso em

No mesmo sentido, a ISO 14001/2004 assim conceitua meio am- biente: “circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo- -se ar, água, solo, recursos naturais, flora fauna, seres humanos e suas inter-relações”217.

Como visto, as definições de Meio Ambiente acima transcritas são bem mais completas e modernas que a definição legal trazida pela Lei nº 6.938/81 em seu artigo 3º, I, pois trazem nos respectivos concei- tos uma união de tipos de meio ambiente facilmente vislumbrada pelo leitor ou intérprete. Entretanto, cada um destes tipos são verdadeiros “universos”, muito amplos e muito distintos entre si, o que demonstra que a tarefa de conceituar ou definir Meio Ambiente não é simples.

A partir de uma interpretação teleológica e sistêmica do arca- bouço jurídico brasileiro, o conceito de Meio Ambiente, para fins ju- rídicos, deveria contemplar tanto aspectos naturais, como aspectos culturais, artificiais e sociais.

Todavia, frise-se, estes aspectos não devem e não podem ser con- siderados individualmente, de forma a ensejar vários e até divergentes conceitos de meio ambiente, o que levaria à insegurança jurídica e, eventualmente, até ao conflito de normas.

Portanto, juridicamente, ainda que em razão de seu caráter mul- tidimensional e multidisciplinar, não seria adequado constitucional- mente criar mais de um conceito de meio ambiente.

Porém, como se conclui de uma simples leitura do art. 225 da CF, o alcance do conceito jurídico da expressão meio ambiente vai muito além de sua dimensão natural (ar, água, solo, fauna e flora), pois o “meio ambiente equilibrado ecologicamente e essencial à qualidade de vida”, enquanto bem jurídico tutelado pelo direito, necessariamen- te, deverá contemplar, além da perspectiva natural, a perspectiva hu- mana (artificiais, culturais, sociais).

Sob os auspícios da moderna visão de meio ambiente trazida pelo legislador constituinte, foi aprovada e sancionada a Lei nº 9.605/98,

20 out. 2020.

217 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ISO 14001/2015. Sistemas de Gestão Ambiental – requisitos com orientação para uso. 2015. Disponível em <https:// www.ipen.br/biblioteca/slr/cel/N3127.pdf>. Acesso em 14 set. 2020.

conhecida com Lei de Crimes Ambientais, que, além regulamentar as formas de aplicação, os tipos de sanção e os regimes de cumprimento da pena no caso de ilícitos ambientais, inseriu no âmbito do Direito Pe- nal Ambiental não só a tutela dos bens jurídicos naturais, como fauna, flora, ar, solo e água, como, também, a tutela dos bens jurídicos “ar- tificiais”, quando, inseriu, no Capítulo IV – Dos crimes contra o meio ambiente, seções IV e V respectivamente, a tutela do ordenamento ur- bano e o patrimônio cultural e a tutela da Administração Ambiental.

Desta maneira, um conceito constitucionalmente adequado de meio ambiente deveria ser assim formulado: meio ambiente é o con- junto de elementos naturais e artificiais ou culturais, integrados de forma sistêmica e indivisível, de tal maneira que permitam a existên- cia e o desenvolvimento de todas as formas de vida no planeta Terra.

3. Normas penais ambientais em branco e a importância

No documento Pedidos dessa obra: experteditora.com.br (páginas 151-156)