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Definição de manual escolar

No documento Análise da imagem em manuais escolares (páginas 99-102)

5. O Livro e o manual escolar – enquadramento

5.1. Definição de manual escolar

No contexto português, a legitimidade de função educativa do manual escolar é atribuída, em primeira instância, pelos documentos oficiais. A actual Lei de Bases do Sistema Educativo, revista, no artº 44º-2 alínea a), confere-lhe o estatuto de “recurso educativo privilegiado, a exigir especial atenção”. O próprio Ministério da Educação, em informação disponibilizada pelo Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE), em relatório afecto à rede

Euridice 2006/200765, exprime textualmente a ideia: “Os manuais escolares são, entre outros instrumentos de trabalho utilizados pelo aluno e pelo professor, auxiliares indispensáveis e obrigatórios no processo ensino/aprendizagem “ (p. 21).

A lei nº 47/2006 de 28 de Agosto, actualmente em vigência e que define o regime de avaliação, certificação e adopção dos manuais escolares do ensino básico e do ensino secundário, define no seu capítulo 1º, artº 3º, alínea b) o “manual escolar” como:

O recurso didáctico-pedagógico relevante, ainda que não exclusivo, do processo de ensino e aprendizagem, concebido por ano ou ciclo, de apoio ao trabalho autónomo do aluno que visa contribuir para o desenvolvimento das competências e das aprendizagens definidas no currículo nacional para o ensino básico e para o ensino secundário, apresentando informação correspondente aos conteúdos nucleares dos programas em vigor, bem como propostas de actividades didácticas e de avaliação das aprendizagens, podendo incluir orientações de trabalho para o professor.

É interessante constatar a mudança que houve desde um anteprojecto66 a esta lei e em que se dava conta de três definições relativas a esta questão do manual, uma denominada genericamente de “Manual escolar”, outra de “Manual do aluno” e outra ainda de “Guia do professor”. A presente versão tem a particularidade de uma só definição ”Manual escolar” que unifica as duas primeiras definições e dando pouca relevância à definição das orientações para o professor. Tormenta (1996, p. 24) poderia resumir a este respeito que, na definitiva forma desta lei, o seu direccionamento para o professor eria apenas “implícito” enquanto que na forma do anteprojecto seria dirigido “explicitamente” para o professor. É, depois, visível uma mudança, ao referir-se na alínea c) do art. supracitado a “Outros recursos didáctico- pedagógicos” que define como:

recursos de apoio à acção do professor e à realização de aprendizagens dos alunos, independentemente da forma de que se revistam, do suporte em que são disponibilizados e dos fins para que foram concebidos, apresentados de forma inequivocamente autónoma em relação aos manuais escolares.

A nosso ver, houve uma adaptação às novas realidades nomeadamente ao uso de outras ferramentas de mediatização da informação e, ao mesmo tempo, fez-se aqui uma clarificação face à denunciada promiscuidade entre o manual e outros meios, que tendiam a acompanhar os manuais nomeadamente nos processos de venda algo “agressivos” até então praticados como forma de aliciamento e venda. É certo que pode até certo ponto, impedir a emergência ou o desenvolvimento de outras e híbridas formas de materialização do próprio suporte manual escolar o que, dada a forma como as tecnologias e comunicações evoluem, pode entender-se, como a APEL, que são directrizes castradoras mas o que é certo é que, para já,

65Consultado na World Wide Web a /05/02/ 2007, em:http://www.eurydice.org/ressources/eurydice/

pdf/04DN/041_PT_PT.pdf

66 Consultado a 5/12/2005 em: http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres/CD33A0D8-9459-42C9-A25D-

esta lei parece apostada em estabilizar um certo número de coisas, diríamos até em demasia, ao conhecer-mos que também define no seu artº 4º ponto 1, a vigência do manual para seis anos, em simultaneidade com os próprio programas, o que nunca aconteceu no período pós 25 de Abril.

Numa breve revisão recolhem-se a seguir várias definições representativas de manual escolar: “Por manual escolar entende-se toda a obra impressa não periódica concebida com a intenção, mais ou menos explícita ou manifesta consoante as épocas, de servir para o ensino” (Choppin, 1987). O mesmo autor acrescenta:

Os manuais escolares constituem um corpo homogéneo; apresentam um certo número de características específicas que exigem um método de recenseamento apropriado ... tratam geralmente de uma só disciplina, dirigem-se a um público determinado (alunos ou professores) e destinam-se a maior parte das vezes a um nível, ou seja um programa específico. (Choppin, ibid., p. 9).

Um outro autor importante, (Gérard & Roegiers, 1998, p. 19), refere que: “Um manual escolar pode ser definido como um instrumento impresso, intencionalmente estruturado para se inscrever num processo de aprendizagem, com o fim de melhorar a eficácia”. Loveridge, Cornelsen, & Lewis (1972), consideravam que um manual é um texto no qual se expõe sistematicamente um certo número de elementos sobre uma matéria dada, sob uma forma escrita correspondente a uma situação pedagógica determinada, com o propósito de fazê-los passíveis de assimilação pelos alunos. Ao longo dos tempos o conceito de manual e as funções que para ele se estipulam foram sendo modificadas. Nos finais do século XVIII, o manual “identifica-se com a escola como método, disciplina e enciclopédia”, no qual estão condensadas todas as matérias indispensáveis ao conhecimento. Apresentava-se ainda como “a principal porta de entrada na vida e na cultura” (Magalhães, 1999, p. 285). Com o advento da Escola Nova, cujos princípios pedagógicos valorizam uma pedagogia activa, o manual não é mais visto como enciclopédia, mas apresenta-se como “uma abertura de caminhos, com vista à remissão para outras leituras e outras fontes de informação e formação” (ibid.). Por fim com o advento do livro único e o regime do Estado Novo67 este constitui-se como “uma antropologia” uma visão total e organizada sobre o mundo. O mesmo autor anterior refere que ele assume ainda hoje o mesmo papel de “construir e substituir o olhar, o pensar e o dizer. O manual escolar mediatiza a interpretação da realidade... [incute] uma visão sobre o mundo e do mundo” – não é pois uma simples materialidade em papel com textos e imagens impressos... como algumas definições podem fazer crer. Ao percorrer a História (curiosamente, o sentido de História, é indissociável da escrita e dos seus suportes), verificamos que o manual passou de objecto raro, frágil, de difícil manuseamento e de utilização colectiva, a um objecto mais comum, de acesso progressivamente mais fácil, e de utilização individual (Castro 1995, p. 62). Como suporte de conhecimentos e veículo de valores, as suas funções sofreram, igualmente, alterações.

67 Introduzido pela Reforma de 1947, a chamada Reforma de Pires de Lima. Ao nível do Ensino Liceal o

Decreto-lei nº 36 508 estabelecia que “para o ensino de cada disciplina nos diferentes anos de um ciclo será

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