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4. O PRÉ-SAL: POSSIBILIDADES E LIMITES EM RAZÃO

4.1. ASPECTOS GERAIS DO PRÉ-SAL

4.1.1. Definição e características

As perfurações de poços na bacia de Santos remontam alguns anos anteriores à principal descoberta, ocorrida em 2006. Nesse ano, em uma das perfurações mais profundas realizadas no mundo até então, chegou-se a cerca de 7.600 metros a partir do nível do mar e finalmente foi encontrada uma grande jazida no pré-sal. A descoberta era composta basicamente de um grande acúmulo de gás e imensos reservatórios de condensado de petróleo – seu componente leve. Esse fato, por si só, demonstrava à época um grande avanço tecnológico devido à grande profundidade em que se estava operando. O mais impressionante, porém, ocorreria pouco tempo depois, em que perfurações realizadas na mesma Bacia de Santos alcançariam novas jazidas a cerca de 4.500 metros de profundidade230, porém dessa vez sendo encontrados indícios de óleo logo abaixo da camada de sal. Foram sete perfurações e todas

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MENDES, Tiago de Araújo; RODRIGUES FILHO, Saulo. Antes do pré-sal: emissões de gases de efeito estufa do setor de petróleo e gás do Brasil. Estudos

Avançados, São Paulo, v. 26, n. 74, pp.203-217, 2012, p.212.

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Apesar de a capacidade técnica de exploração de petróleo em águas profundas ser dominada por várias empresas do setor, é inegável o desafio do Estado brasileiro, por intermédio da Petrobras, em acessar tais reservas a mais de 4.500 metros de profundidade em ambiente oceânico. In: Ibid. p.205

bem sucedidas encontrando petróleo de qualidade superior231 (baixa acidez e teor de enxofre) em todas elas. Apenas no campo de Tupi, na

Bacia de Santos, a expectativa é de que as reservas alcancem 8 bilhões

de barris de petróleo, tornando-se a maior descoberta nas Américas nos últimos 30 anos232.

Situada cerca de seis mil metros sob a superfície marinha, a camada pré-sal é composta por uma formação rochosa porosa e localiza- se imediatamente após uma extensa camada de sal, de até dois mil metros de espessura. Nesse ambiente de altíssima pressão e temperatura – cerca de 100ºC, o petróleo e o gás ficam armazenados justamente nos poros das rochas. Ocorre que essas condições de extremo calor e alta pressão contribuem para um estado deformativo das rochas, tornando-as maleáveis e elásticas, dificultando a perfuração e manutenção do poço.

Essas recentes descobertas trouxeram um novo ânimo para a atividade no Brasil, porém este seria apenas o início de um grande trabalho de desenvolvimento de tecnologia, planos e projetos visando extrair o rico material da camada pré-sal, além da preocupação quanto aos riscos ambientais inerentes. Ao perfurar o solo marinho na atividade extrativista, em um ambiente inóspito e desconhecido, impõe-se uma atenção redobrada quanto a planos emergenciais de contingência em caso de acidentes, tal qual ocorrido na Deepwater Horizon.

Todos os materiais e equipamentos necessários a essa operação são concebidos de acordo com as condições adversas de extração, como as já citadas altas temperaturas e pressão, maleabilidade da formação rochosa e a feroz corrosão provocada pelo dióxido de enxofre presente na camada. Vale ressaltar uma vez mais que as perfurações e a extração

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“a qualidade do petróleo é medida pela escala API, desenvolvida pelo Instituto Americano de Petróleo (API, na sigla em inglês), segundo a qual um óleo com densidade maior que 30° API é classificado como leve, enquanto um óleo pesado tem menos de 19° e apresenta alta viscosidade e alta densidade. A referência internacional de alta qualidade é o petróleo com mais de 40° API, como é o petróleo árabe. No Brasil, o petróleo de melhor qualidade foi descoberto em 1987, em Urucu, na Amazônia, e possui 44° API.” In: GOUVEIA, Flávia. Tecnologia nacional para Extrair Petróleo e Gás no Pré-Sal.

Conhecimento & Inovação. 2010, v. 6, n. 1, pp. 30-35. Disponível em

<http://Inovacao.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984- 43952010000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 12 ago. 2011. 232

VALADÃO, Marcos; PORTO, Nara Galeb. Brazilian response to international financial crisis, the pre-salt discovery by Petrobras and the new free trade areas in the cities of Brazil. Law And Business Review Of The

são realizadas a centenas de quilômetros da costa233, apresentando-se como um entrave logístico diante da impossibilidade factual momentânea de serem construídos e instalados dutos para o transporte do petróleo até as zonas de processamento em terra.

É importante frisar que existem várias tecnologias atualmente sendo consideradas para permitir o transporte do gás recém-extraído do pré-sal.234 Uma delas indica a transformação do gás de estado gasoso para o estado líquido, ou GTL – gas to liquid – e Gás Natural Liquefeito – GNL, o que resolveria esse importante entrave logístico, pois permitiria o transporte do material líquido por longas distâncias. A transformação do gás em matéria líquida resolveria, também, um problema ambiental de grande vulto. Em plataformas de produção off- shore a queima do gás para sua transformação e posterior transporte é extremamente danosa ao ambiente. Por outro lado, os tubos que futuramente farão a vazão do petróleo precisam ser especialmente resistentes a ponto de evitar a extrema corrosão própria de ambientes salinos e leves o suficiente para permitir seu transporte até a plataforma de extração e posterior montagem da estrutura extrativista (rigs e pipes). A articulação para extração e comercialização do petróleo e gás no pré-sal definitivamente servirá como alavanca à busca de novas tecnologias e desenvolvimento do que se dispõe, hoje, em conhecimentos relativos a materiais e equipamentos. A construção das plataformas P-55 e P-56 e as centenas de embarcações, dentre petroleiros e barcos de apoio que serão encomendados pela Petrobrás, deverão movimentar o setor no país e gerar milhares de empregos diretos e indiretos, seja na construção naval ou treinamento e composição de novas tripulações.

Também se aguarda que a tecnologia deverá ser desenvolvida em outro importante aspecto relativo à extração do petróleo no pré-sal: a minimização dos impactos ambientais.235 Ao menos essa é a expectativa. A atividade está inserida em um ambiente extremamente

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As jazidas no pré-sal estão localizadas aproximadamente entre 200 e 400 km (aprox. de 50 a 100 milhas náuticas) da costa brasileira, entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo, nas bacias de Santos, Espírito Santo e Campos. 234

GNC - Gás Natural Comprimido; HGN – Hidrato de Gás Natural; GTW – Gas to Wire e GTL – Gas to Liquid. In: BAIOCO, Juliana Souza. et al. Custos

e Benefícios Econômicos de Tecnologias de Transporte de Gás Natural no Brasil. Campinas: ABGP, 2007, p. 1.

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PINHO, Cláudio A. Pré-Sal: História, Doutrina e Comentários às Leis. São Paulo: Legal, 2010, p.84.

frágil, porém de recursos naturais importantíssimos e de elevado risco de incidentes, tais como derramamento, vazamentos e blowups que podem se tornar catástrofes ecológicas irreparáveis ou de complicada reparação. Ainda, no pré-sal, esses níveis de poluição se elevariam a níveis gigantescos uma vez que a expectativa quanto ao volume de extração também é de grande monta.