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4. O PRÉ-SAL: POSSIBILIDADES E LIMITES EM RAZÃO

4.4. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

4.4.1. Legislação ambiental específica sobre a exploração

Uma relevante norma sobre a atividade de extração e transporte de óleo e gás natural é a Lei n. 9.966/2000293, denominada Lei do Óleo. Esse diploma possui conteúdo dispondo sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas nacionais. Trata-se de norma que visa estabelecer os princípios básicos a serem observados e executados na movimentação de óleo em portos, plataformas e navios em águas sob jurisdição nacional.

Embora tenha o efeito de norma suplementar - uma vez que é aplicada apenas quando ausentes os pressupostos para aplicação da MARPOL 73/78294 -, a Lei n. 9.966/2000 adquiriu grande importância à atividade petrolífera devido a previsão de sistemas próprios de prevenção, controle e combate à poluição. O art. 5º da Lei determina que

todo porto organizado, instalação portuária e plataforma, bem como suas instalações de apoio, disporá obrigatoriamente de instalações ou meios adequados para o recebimento e tratamento dos diversos tipos de resíduos e para o combate da poluição, observadas as normas e critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente. Um dos grandes avanços da norma é a inclusão do art. 21, dispondo que mesmo sendo lícita a conduta do causador do dano, isto não o isenta de repará-lo. A inclusão da responsabilidade objetiva em se tratando de dano ambiental por poluição por óleo era inédita na legislação brasileira. Assim prevê o art. 21 da Lei n. 9.966/2000:

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Regulamentada pelo Decreto n. 4.136, de 20 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às infrações e às regras de prevenção, controle e fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências.

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Aplicada às plataformas de extração, desde que em sua configuração móvel, sendo transportadas para ou de sua posição de operação.

as circunstâncias em que a descarga, em águas sob jurisdição nacional, de óleo e substâncias nocivas ou perigosas, ou misturas que os contenham, de água de lastro e de outros resíduos poluentes for autorizada não desobrigam o responsável de reparar os danos causados ao meio ambiente e de indenizar as atividades econômicas e o patrimônio público e privado pelos prejuízos decorrentes dessa descarga.

Quis o legislador, desta forma, que o operador portuário e marítimo operando em navios e plataformas tomasse todas as precauções para evitar o derramamento de óleo e substâncias nocivas e poluidoras, respondendo civilmente, de forma objetiva, mesmo se tratando de atividade autorizada pela autoridade marítima.

Lei n. 9.478/1997 – Lei do Petróleo

A Lei do petróleo instituiu poucos dispositivos versando sobre aspectos de proteção ambiental. A norma é extremamente lacônica ao tratar sobre as questões ligadas ao ambiente, sugerindo apenas uma política energética nacional visando proteger o ecossistema e promover a conservação de energia, além de “incrementar, em bases econômicas, sociais e ambientais, a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional” (Art. 1º, XII).

Sobre o tema destaca-se apenas a forma de partilha do valor do royalty que exceder a cinco por cento da produção e a destinação desse excedente, que também abrangerá ações de interesse ambiental: a lei prevê que quando a lavra do petróleo ocorre em área inserida na plataforma continental, o Ministério da Ciência e Tecnologia terá direito a uma fatia de vinte e cinco por cento desse valor, o qual será destinado a pesquisas científicas e ao desenvolvimento tecnológico da indústria do petróleo, “bem como para programas de mesma natureza que tenham por finalidade a prevenção e a recuperação de danos causados ao meio ambiente por essas indústrias” (art. 49, II, “f”).

O diploma também prevê o pagamento de uma participação especial295 em caso de grande volume de produção ou de grande rentabilidade (art. 50), aplicada sobre a receita bruta da produção, deduzidos royalties, investimentos na exploração, custos operacionais,

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depreciação e tributos. O art. 50,§ 2º, II, determina que 10 % dos recursos destinados à participação especial serão distribuídos para os seguintes fins de interesse ambiental:

(i) modelos e instrumentos de gestão, controle (fiscalização, monitoramento, licenciamento e instrumentos voluntários), planejamento e ordenamento do uso sustentável dos espaços e dos recursos naturais;

(ii) estudos e estratégias de conservação ambiental, uso sustentável dos recursos naturais e recuperação de danos ambientais;

(iii) novas práticas e tecnologias menos poluentes e otimização de sistemas de controle de poluição, incluindo eficiência energética e ações consorciadas para o tratamento de resíduos e rejeitos oleosos e outras substâncias nocivas e perigosas;

(iv) sistemas de contingência que incluam prevenção, controle e combate e resposta à poluição por óleo;

(v) mapeamento de áreas sensíveis a derramamentos de óleo nas águas jurisdicionais brasileiras; e

(vi) estudos e projetos de prevenção de emissões e redução de gases de efeito estufa para a atmosfera.

A forma de aplicação dos royalties da participação especial é, por assim dizer, extremamente ampla e genérica e de impreciso vínculo com projetos de pesquisa e proteção ambiental. Como a previsão de extração de óleo no pré-sal é de considerável monta, a parcela de participação especial destinada a projetos ambientais também será alta. Uma boa oportunidade para avançar o país em tecnologias de proteção do ambiente de uma forma geral e dos mares, em particular.

Lei n. 12.351/2010 - Lei do Pré-Sal

Na mesma linha da Lei do Petróleo, a Lei do Pré-Sal foi extremamente econômica ao tratar das questões ambientais, concentrando integralmente a matéria na criação do Fundo Social – FS, vinculado à Presidência da República, com a função de constituir fonte de recursos para o desenvolvimento social e regional, com programas de projetos em várias áreas, dentre elas a ambiental e de “mitigação e adaptação às mudanças climáticas”, o que quer que esse conceito represente ao legislador.

Para organizar a gestão do Fundo, foi criado o Conselho Deliberativo de Fundo Social – CDFS, cuja principal atribuição é propor ao Poder Executivo, após ouvidos os Ministérios afins, quais as prioridades para a destinação dos recursos recebidos pelo Fundo.

Os recursos do FS são provenientes dos próprios contratos de partilha celebrados pela União para a pesquisa e exploração do petróleo e gás natural na camada pré-sal, e são representados pelos valores correspondentes aos bônus de assinatura, parcela de royalties destinada à União e da comercialização de petróleo, gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos da União.

Falta, porém, ao Fundo Social, uma definição (ou regulamentação) mais específica de como estes recursos serão geridos e, em sendo um fundo social, a forma de emprego em um sistema de prevenção, contingenciamento e regimes de compensação por danos causados por derramamento de petróleo, blowouts e demais incidentes próprios da atividade petrolífera.

Resolução CONAMA 398/2008

Em vigor desde 2008, a norma veio a substituir a Resolução CONAMA 293/2001. A finalidade desse importante dispositivo é estabelecer o conteúdo mínimo de requisitos que deverão ser incluídos quando da construção do Plano de Emergência Individual - PEI, utilizado em situações de incidentes de poluição por óleo em águas sob jurisdição nacional. A resolução nomina as instalações que deverão obrigatoriamente possuir o PEI, sendo elas: portos organizados, instalações portuárias, terminais, dutos, sondas terrestres, plataformas e suas instalações de apoio, refinarias, estaleiros, marinas, clubes náuticos e instalações similares.

No caso das plataformas de petróleo, o Plano de Emergência Individual deverá ser apresentado por ocasião do licenciamento ambiental, pendendo de aprovação para então se submeter à Licença de Operação (LO), Licença Prévia de Perfuração (Lpper) e da Licença Prévia de Produção para Pesquisa (Lppro), quando couber. O Plano de Emergência Individual deverá estar apto a executar ações de resposta e atendimento em caso de incidentes ocorridos nas instalações, de forma rápida e efetiva, empregando recursos próprios de pessoal e material em um primeiro plano, podendo contar com o apoio de terceiros, desde que haja um acordo nesse sentido. O objetivo da resolução é justamente obrigar a observância do plano por parte dessas instalações, não permitindo que sejam apresentadas justificativas como “a dependência

do poder público”, por exemplo, para evitar um eventual dano resultante de um incidente de derramamento de óleo.

Em caso de ocorrência de incidentes existem certos procedimentos que deverão estar previstos no PEI, tais como sistemas de alerta de derramamento, comunicação do incidente, estrutura organizacional de resposta, materiais empregados, procedimentos para proteção de áreas vulneráveis, limpeza de áreas atingidas, dentre outros.

Uma importante ressalva se faz necessária, uma vez que há a previsão de um importante plano de contingenciamento, porém em nível nacional, denominado Plano Nacional de Contingência (PNC). O Brasil não possui esse plano aprovado até o momento, pois ainda está na fase de discussão do projeto inicial. A demora em se estabelecer um plano tão importante quanto este poderá trazer prejuízos incalculáveis em caso de algum incidente de grande porte na costa brasileira.